Heróis e Vilões - Um mundo de poderes escrita por Felipe Philliams


Capítulo 17
Deito numa maca


Notas iniciais do capítulo

Eeeeeeee
Aaaaeeeee, minha gente!
Não demorei tanto quanto antes, mas demorei. Sorry.
Mas ta aí outro capítulo... Qual é mesmo? Ah... Desculpem, é que eu n ligando muito pra a numeração dos capítulos, to só escrevendo.
Bem, aqui está uma novidade nas postagens: Vou colocar a data e hora em que atualizei cada postagem, mas isso começando a partir de agora. Assim, vão saber quando acontece alguma correção. Bem, chega de blablabla.



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Seu verdadeiro nome era estranho. As letras eram indistintas e ilegíveis. Nada mais que lembranças esquecidas. Sentia dificuldade para se lembrar tanto quanto para ler. Seria mais fácil ver, VER! Os desenhos. Eles eram melhores. Nada confusos, fáceis de desvendar. Palavras não; palavras doíam. Eram só usadas para dor. As letras eram pior, grandes símbolos vermelhos que flutuavam nas paredes, alcançando lugares impossíveis e até mesmo passando dos limites "Merecem uma surra!", pensou ela. A pior parte era que haviam muitas letras, por toda a parte. Nas paredes, no chão, nos cantos... Menos no teto. O teto era inalcançável. Um território inimigo. "O que você não puder alcançar, é seu inimigo", tinha lhe dito o Mestre. Levou um tempo para entender, mas, no final, compreendeu.

COM-PRE-EN-DER.

Essa palavra era grande demais. Tinha infinitas letras. Demorava para ser dita. Era ENORME! Mas mesmo sendo esse gigante, essa monstruosidade de palavra, era COMPREENSÍVEL. ENTENDÍVEL. Assim como os desenhos; eles eram também ENTENDÍVEIS.

"Não posso alcançar o teto, ele é inimigo", observou.

As palavras, as letras, na paredes começaram a voar de novo. Vieram em um espiral que a deixou tonta. Os olhos enevoaram. A cabeça deslizou para o lado e voltou a deslizar, deixando-a em um estado de submissão. As pálpebras se dilataram e uma dor irrompeu dos pulsos, onde mais sangue começou a sair. Não olhou para baixo. Apenas manteve-se olhando para frente. Já não bastava estar sentada em um nível ABAIXO DO MAR e ainda tinha que olhar ainda mais para baixo? Não. Não precisava. "Que sangre. Pelo menos eu posso bebê-lo mais tarde.". Mas as palavras não podiam ir. Elas eram as únicas que importavam.

"EME", leu ela, com dificuldade. Era uma criança que ainda aprendia a ler. "A, ERRE, CÊ, ELE..."

Sacudiu a cabeça. Havia esquecido uma letra. Mas qual era? Havia falado certo? "M-A-R-C-L". Faltava alguma coisa. Olhou para os quatro quantos do mundo, do SEU mundo. Todas as letras que conheciam estavam lá, pregadas. Só precisa organizá-las. Era esse o problema. Todos os dias ela desenhava uma nova letra. Estavam todas lá, todas, todas, todas, todas... Menos uma. E se tivesse sentiu que seria INCOMPREENSÍVEL, pois tudo o que havia desenhado tinha sido no escuro, onde não podia marcar nenhum foco. Sempre que a luz apagava andava às cegas, procurando um lugar para se apoiar. Às vezes não achava, por isso limitava-se a deitar e dormir; entretanto achava algumas vezes e então desenhava as únicas letras das quais se lembrava. Muitas vezes a tinta acabava e algum letras ficavam defeituaaos... Desfeitauos... DE-FE-I-TU-O-SAS. A tinta vermelha era perfeita para desenhar. Era forte e deixava o lugar com um cheiro bom. O único problema era que doía. Doía muito escrever. Palavras machucam. Letras e palavras são para dor, desenhos não. Eles não doem, e têm cores diferentes. Amarelo, roxo, azul... Roxo, roxo, roxo...

"Por que às vezes meu sangue fica ROXO?", perguntou-se, fitando os pulsos e os tornozelos ainda levemente arroxeados. "Que fiquem! Deixam as constelações mais bonitas!". As constelações deviam ser brancas e brilhantes, mas as que tinha eram de um vermelho forte e quase transparente. Tinha muitas constelações, todas elas destacadas pelo roxo. "Brilha, brilha, estrelinha!", cantou, em seu pensamento, lembrando-se de algum filme com peixes.

Uma porta invisível quebrou-se na sua frente.

E eles vieram.

Eram quase todos homens. Homens com capacetes, óculos e à boca vendada. Usavam placas de plástico reforçado em uma mão e um pesado cassetete na outra. As roupas eram brancas, profundamente brancas. Eram poucos homens, mas ainda sim muitos. Quatro ou seis, parados lá, como estátuas, organizados em formação de triângulo. Os dois primeiros, os mais distantes, abriram espaço, e ELE andou.

Ele era alto, não mais que os homens, mas sim, alto. Tinha músculos grandes nos braços, face robusta e endurecida. A pele era costumeiramente branca, mas agora estava pálida, como se tivessem lhe sugado o sangue. As pernas eram grossas, cobertas por uma calça verde militar, e os pés atrofiados estavam escondidos dentro de sapatos. "Um aleijado usando sapatos", ela quase riu, mas sabia que rir também doía. A bengala ao seu lado suportava grande parte do peso... Menos o peso do olhar. Seu olhar indicava refúgio, LIBERDADE, mas um refúgio falso, um lugar onde não se desenhava e onde ganhava-se mais estrelas. Ela sabia disso, a parte dourada acima de sua face fazia-a lembrar; o cabelo era loiro, cortado exageradamente reto acima de sua cabeça.

E ele riu.

— Experimento 6165... Vejo que andou desenhando de novo! - ele olhou para as paredes. - Você não sabe ler, por que escreve?

— É a única coisa que dá pra fazer - respondeu, tomando cuidado para a voz não sair nem tão fraca e nem tão mal-humorada. Ainda sim falou as palavras com uma certa dificuldade.

Sua mão voou tão rápido que ela nem pôde piscar os olhos. Em um instante estava sentada no chão, olhando para cima, e no outro estatelada, com a mão na face, tentando descobrir onde errara. A dor surgiu depois, queimando sua face no lugar onde lhe acertara. Latejando por incontáveis horas, o fogo extinguiu, deixando um cheiro de carne tão forte que quase chorou. QUASE, pois chorar doía.

— NÃO responda para mim, vadia! - berrou ele atrás de si, o semblante facial transformado passando a ideia desprezo. - E se responder dirija-se a mim como MESTRE!

Ela lutou para voltar à posição em que estava. Os braços tremeram e perna fraquejou brutalmente.

— Se-senhor...

— Também serve - o sorriso voltou, como se nada tivesse acontecido. - Você é requisitada na sala de experimento. Você quer vir?

REQUISITADA. A palavra era estranha, demorada para ser dita. Tentou se concentrar no que ele havia dito.

— O que é requisitada, Mestre?

Ele fez um gesto que indicava desprezo, voltou-se para o soldado mais próximo.

— Por que os experimentos são tão burros, hein? - voltou-se para ela. - É quando eles estão te chamando, pedindo para você ir. - olhou longamente para ela, o silêncio ficando constrangedor. - Você não quer ir, né? Bem, escolha, ou vai, ou fica com estes homens - gesticulou na direção eles. - Tem mais lá fora. Eles podem ficar aqui o tempo que quiserem, fazer o quiserem com você.

Quis chorar. Quis correr, sair dali. Quis implorar, mas uma força interior a impediu: não podia. Sabia disso. Ele havia lhe dito que se implorasse a dor ia aumentar. Olhou de relance para os homens com capacetes. Ela não podia ver, nem os olhos e nem a boca, mas sentiu que ambos se alteravam em um sorriso malicioso. Sentiu os olhos mais molhados que o normal, mas se conteve. Se chorasse, ia doer. Se ficasse, ia sofrer. Não tinha escolha. Tremendo, manteve o semblante inalterado. Mas quando falou a voz saiu embargada e forçada.

— Eu vou... Mestre...

Ele gostou da resposta. Nem olhou para os soldados.

— Rapazes, podem ir. Você, venha.

Fraquejando, ela levantou-se, a perna tremendo brutalmente. Caminhou vagarosamente atrás dele, tentando fazê-lo ficar calmo. Não era tão difícil. Era simples. Não olhar para ele, não falar com ele e andar. Ele não andava tão rápido quanto uns dias atrás. A bengala era seu auxílio. Dava um passo e jogava parte da força do outro sobre a bengala e assim se movimentava. Os pés eram deformados e feios, retorcidos na direção errada e pequenos demais para suportar o peso do dono, mas a garota não sentiu compaixão nenhuma. O Mestre era mal.

O corredor era gigante, mas a sala que era seu destino ficava perto. Mas ainda sim era grande. Haviam mais selas nas paredes, com um grande espaço entre cada porta. Ela se sentiu bem, pois sabia que não estava em uma cela, como os outros. Estava em uma casa. Em casa ela podia desenhar e escrever. Os outros não. O mestre lhe dissera.

As portas eram brancas, assim como as paredes. O chão era de mármore áspero e do teto pendiam grandes luminárias; e a uma altura bem elevada.

Aquela sala e todo aquele branco lhe eram familiar. Já os tinha visto em algum lugar, mas não sabia onde. Já tinha visto algo tão grande antes, uma imensidão que se perdia na escuridão acima, paredes brancas, de um tom tão perfeito que fazia os olhos doerem. E pessoas. Milhares de pessoas, incontáveis, inacabáveis e infinitas pessoas, todas elas amontoadas e paradas, olhando para alguém.

O Mestre parou subitamente diante de uma porta de madeira pintada de branco e deu três toques, firmes e fortes. Ela soube que estava na hora de encontrar o Médico. "Ele não é médico de verdade", disse-lhe uma lembrança que havia sido recuperada. A garota vacilou a fala, mas conseguiu transformá-la em um suspiro. "Só lhe deram o nome porque ele..."; não conseguiu concluir o pensamento. O Mestre a encarava com aqueles seus olhos de refúgio falso.

— Por que suspirou?

A garota ficou paralisada, os músculos transformados em água.

— E-eu, u-uma mosca entrou no meu...

— Não precisa terminar de falar - disse ele, interrompendo-a. Ela sentiu uma súbita ira, que logo virou medo mais uma vez. - Cadê a carcaça da mosca?

— Acho que ela a-ainda tá viva e f-foi embora... Mestre.

Ele estreitou os olhos provavelmente tentando descobrir se fora irônico ou não. A chama da desconfiança ardia intensamente. A garota teve de segurar sua respiração para não interrompê-lo,

— Que seja - virou-se no exato momento em que a porta abriu.

— Doutor Guilherme Brandom - cumprimentou o Mestre. A garota olhava para o chão, tentando não irritar ninguém. - Como vai nessa manhã?

— Tenente José Pereira. Eu pensava que era noite.

— Mas é manhã; manhã do dia 11 de março, um domingo do ano... - ela ergueu os olhos.

— Nem precisa terminar - disse o doutor, nervosamente. - Eu já sei o que significa. - sua face virou uma estatua pensativa, inquieta. - Vamos saber hoje.

O Mestre manteve seus olhos fixados desconfiadamente no Médico. "O que eles vão saber?", a garota sentiu-se curiosa. Olhou para seus braços cheios das manchas roxas, tentando imaginar se ela não tinha a ver com aquilo. Tentou ligar os fatos: as constelações, as manchas... A cabeça se contorceu em uma pontada de dor; algo não estava certo. A garota sabia o que era, mas havia esquecido. Fixou seus olhos no médico.

Seu cabelo era branco, todo duro e bagunçado, como se tivesse levado um choque. A face era lisa e nova, uns trinta anos de vida. O corpo era magro, sem músculos, mas com uma arma azulada presa à cintura. Ele usava um jaleco branco salpicado aqui e ali de vermelho, amarelo e preto. Ele usava um sapato branco, perfeitamente polido e sem manchas... Mas a única coisa que realmente chamou a atenção da garota foi o par de olhos. Não tinham uma cor definida, mudavam constantemente. A garota viu naqueles olhos terríveis imagens de pesadelos e pavor, pessoas sendo torturadas, cortadas, presas. Rostos famintos, brancos, vermelhos e brilhantes pairaram diante dela, e, de repente, lembrou-se de uma coisa, algo relacionado à areia.

A mão voou tão rápido que ela nem pôde piscar os olhos. Caiu no chão, usando as mãos como apoio, enfraquecida por causa da pancada. "Sua idiota!", pensou, assustada; "lembrar dói!". Quis pedir desculpas, mas o Mestre caiu sobre ela, lançando socos, tapas e chutes enquanto murmurava:

— Já mandei parar de olhar para os outros.

Ele virou seu corpo de modo a deixá-la de bruços. A garota não aguentou e deixou-se chorar, as lágrimas vindo mais intensas que normalmente. "Me desculpa, me desculpa!", clamou, desesperada, mas a fala não foi concretizada.

De repente sentiu que lhe jogaram uma língua de fogo nas costas. Sua pele derreteu quando o fogo lhe chegou aos ossos e ela se desesperou.

As línguas de fogo sucederam-se, cada vez mais rápidas e dolorosas, assemelhando-se a golpes de cinto de couro. Diversas vezes quis desmaiar, mas a dor era consciente demais. De sua garganta um profundo som de pranto emergiu. Ecoou longe, e implorando por misericórdia, mas as línguas de fogo continuaram. Suas costas viraram um vulcão: lava por toda a parte. O cheiro era terrível, lembrava um pedaço de carne torrada.

A garota sabia que podia por um fim a isso. Havia algo que ela tinha, em especial, que seria capaz de acabar com a dor. Já havia usado antes, em algum momento de sua vida, quando se deparou com fogo. Havia sido fácil, mas agora não tinha como usar o que tinha, pois uma insegurança instintiva a dominava. Sabia que algo iria dar errado.

O fogo a apavorava. Fazia-a lembrar de um estado de submissão, em que nada podia fazer além de chorar e pedir ajuda. Era a sua prisão, onde o carcereiro lhe deixava cada vez mais apavorada até ela sentir vontade de arrancar os próprios cabelos, tamanha agonia.

O doutor ergueu uma mão e disse alguma coisa. Ela não pode ouvir, pois seus ouvidos latejavam. As línguas de fogo pararam e ela soube que suas costas estavam agora normais, sem nenhuma marca. Apenas a dor remanescera, misturada a uma sensação de pânico profundo. A garota ergueu os olhos, embaçados pelas lágrimas. Os pés do doutor estavam apontados para ela e ele falava, mas se dirigia ao homem que estava detrás dela. A dor nos ouvidos diminuiu e ela pode ouvir um pouco:

— ... venha depois. Essa sessão talvez vai demorar.

— Afirmativo. Tente não lhe dar muitas agulhas, o pulso dela já tá apodrecendo.

— Sim, senhor.

Ouviu os passos do Mestre se distanciarem atrás de si. A dor em suas costas já havia diminuído consideravelmente.

— Venha, Marc... Experimento 6165. É hora de saber se deu certo.

Ela demorou para perceber que ele queria ela em pé, mas quando percebeu, ficou com medo de ser castigada. Seu corpo queria parar e pensar: havia alguma coisa errada ali. O nome pelo qual ia sendo chamada pelo doutor lhe provocou um certo arrepio. Precisava parar e refletir sobre isso.

Mas o doutor sabia ser quase tão duro quanto o Mestre, por isso direcionou suas forças às pernas, que fraquejaram em resposta. "Vai, 6165, você consegue", pensou. Conseguiu erguer-se uns centímetros antes de cair sobre si mais uma vez. "Eu já caí assim antes... Mas quando...?".

— 6165, não quero ter que chamar o Tenente! Levante-se! - disse o médico.

A garota soube que se não levantasse iria ter um castigo tão pesado quanto o de agora pouco... Mas doía tanto fazer força. As pernas dela tremeram em conjunto com os braços quando ela ficou de quatro, como se fosse uma criança idiota. Uma dor irrompeu de sua mão, mas ela fez o possível para não vacilar.

Quando já estava em pé, manteve os olhos no chão. O doutor pareceu aprovar.

— Bom. Vamos em frente.

[...]

A sala onde ia ganhar mais constelações era muito maior que sua casa. As paredes eram brancas, mas por cima estavam colados vários cartazes, alguns rabiscados, outros com mensagens de motivação. Luminárias brancas brotavam de lugares estratégicos, dando uma força à luz principal: uma lâmpada redonda que dava luz forte à todos os cantos da sala. O chão também era branco e estava cheio de coisas. A garota observou um balcão enorme em um lado da parede, cheio de potes e frascos que abrigavam todos os tipos de sucos. Havia suco de limão, morango, laranja e até de uva.

Na parte mais longe da sala, a garota viu uma série de quatro camas, separadas uma das outras por aqueles pedestais de hospital que ela era obrigada a pôr o braço pra enfiarem-lhe agulhas. Nesse lado um grande armário alinhava-se à direita, cheio de gavetas e coisas de doutor. À direita a garota contemplou varias escrivaninhas, cheias de papeis, um cada vez maior que o outro. Alguns estavam rabiscados, com várias cores, mas outros estavam em branco.

— O tenente já não mandou você parar de olhar? - perguntou de súbito o doutor, assustando à garota.

— E-ele mandou eu parar de olhar para os... O-outros... Doutor.

— Não responda para mim novamente - disse o médicos, com uma clara cintilação de raiva nos olhos. Certamente odiava a garota. - Agora vá e deite-se na cama.

Enquanto ele pegava todo o material de doutor no armário, a garota começou a pensar. Aquele branco todo lhe lembrava alguma coisa. Já havia visto uma cama daquelas antes e também já tivera um amigo que era doutor. Lembrava-se de uma explosão e de um lugar calmo, onde ficara dormindo por horas até levantar-se e ir embora com... com...

F...

— Ok, 6161, vejamos seus batimentos.

R...

Ele pôs o coisa gelado sobre seu peito e ficou em silêncio por uns segundos, movendo aleatoriamente. Depois de uns segundos ficou satisfeito. Olhando para onde ele colocara o coisa gelado, a garota viu sua nudez superior. De repente um sentimento súbito de vergonha a apanhou e ela sentiu uma vontade desesperada de se cobrir. Foi obrigada a se conter quando ele chegou com uma bombinha de ar e um coisa de colocar no pulso.

N...

— Bem, agora vejamos sua pressão... Aqui... - ele fechou o coisa de pulso e começou a apertar a bombinha de ar. Sentiu o pulso apertar - Sim, muito bem... A pressão está... Boa. Estável e tranquila.

Ele retirou o coisa do pulso e afastou-se com a bombinha de ar. Quando regressou tinha uma agulha e uma sacola na mão.

— Agora vejamos se eu conseguir fazer a humanidade dar seu passo evolutivo... - fitou a agulha e a bolsa de ar, pensativo. - Ponha a mão sobre o suporte e fique quieta - ele tirou um elástico amarelo do bolso e envolveu o braço dela em um nó suficientemente apertado para que nada sentisse naquela área. - Abra e fecha a mão. Isso, assim, agora, relaxa o braço - ele usou dois dedos para sentir as veias e, achando uma boa e forte, injetou a agulha bem no meio.

A dor que a garota sentiu já era esperada, por isso foi reduzida. Sentiu como se tivessem atravessado seu braço com uma barra de ferro. O sangue começou a jorrar através dos tubos estreitos que levavam à bolsa.

E assim permaneceu por uns segundos, até a bolsa estar quase a metade cheia, até o que o doutor veio e retirou cuidadosamente a agulha, tampando o buraco com um algodão molhado de álcool. A garota pressionou o algodão contra a sua pele, tentando organizar os pensamentos. Estava atordoada, uma súbita fraqueza. Os olhos enevoaram e a cabeça balançou. Tentou, inutilmente, se apoiar sobre o braço; caiu levemente sobre a maca.

"Maca..."

O nome provocou-lhe arrepios. De alguma maneira ela sabia que havia algo a mais envolvendo esse nome. "Maca...", pensou. "Se eu juntasse ele às letras...".

— O que tá fazendo? - indagou o doutor. Ele havia ido para o outro lado da sala, onde os frascos de suco estavam dispostos aleatoriamente sobre um balcão. Olhava para a garota, o semblante de quem estava só curioso.

— Nada, senhor... - murmurou ela. Chamá-lo de senhor pareceu, de repente, algo desnecessário. Ele não merecia esse chamamento.

"Mas eu sei quem merece...", pensou.

Balançou a cabeça, confusa e olhou para o doutor. Sentiu-se curiosa; virou sobre si, ficando sentada sobre a maca, e levantou-se, caminhando até o doutor. Quando chegou lá ele usava um microscópio para observar uma tinta vermelha. Perto do microscópio, a garota olhou várias outras coisas de médico. Imagens impressas de moléculas e tecidos. Haviam gravadores de voz e, conectado ao microscópio, um notebook.

Enquanto olhava para ele, a garota viu seu semblante mudar aos poucos. De curiosidade a perplexidade. Suas feições minúsculas alteravam a cada profundo olhar que ele lançava à lente de zoom do microscópio. Parecia tão absorvido por seu projeto que só notou a presença da garota quando ela virou-se para ir sentar.

— 6165 - disse ele, a voz de um timbre moderado e temperado com um certo sotaque, um chiado leve. - Venha aqui.

A garota não sabia o que fazer. Quis recusar-se a obedecer, mas sabia que algo ia dar errado, por isso engoliu o orgulho e andou, imaginando de onde havia saído tamanho conhecimento súbito sobre as palavras.

— Você... Tem... Alguma ideia do projeto ao qual participou agora...? - soava incrédulo. O que quer que havia olhado naquele microscópio, o deixara parado, sem fala. - Deus, todos esses anos... as ameaças... - olhou para o chão, tentando obter consciência do que se passava. - Eu... Revolucionei o mundo, Marcela! EU DESCOBRI A CURA!!! - berrou.

O doutor pôs-se a falar um discurso infindável. As palavras jorravam de sua boca com tamanha velocidade que ele logo bebeu um copo de água, fazendo uma breve pausa, e retomando ao seu discurso.

Entretanto a garota não prestava atenção no que ele falava. Sua mente focava-se apenas em uma coisa, umas palavra, a única que precisava para pôr fim a um mar de dúvidas que a atormentara durante anos. "as letras na parede... A tinta vermelha...as constelações", pensou, olhando para os aparelhos médicos próximos à maca e para a familiar tinta vermelha no microscópio. Associou a dor a tudo o que sentira e então o óbvio era agora a estaca de ferro, perfurando sua espinha dorsal, enquanto a verdade lhe era revelada.

Os cabelos se erriçaram quando tudo lhe voltou à mente, a compreensão deixando um gosto amargo na boca.

"Eu não sou o 6165... Eu não sou a garota. Meu nome é Marcela Philliams, e eu tenho que sair daqui."


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Notas finais do capítulo

Eita, que confusão. Nao se preocupem, tudo será explicado mais tarde, por enquanto tenham em mente que o doutor Guilherme fez uma descoberta revolucionária.
Bem, até a próxima ^_^/
(12/07/16, às 01:51 AM)



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