Toda a vila estava ansiosa com o baile, as costureiras estavam cheias de pedidos para fazer, vestidos de todas as cores e formas, meu pai cuidava das comidas e bebidas da festa, mamãe cuidava da decoração da casa, como já podia ter se passado tanto tempo, o baile já era amanhã, Debora todo dia me mandava cartas perguntando sobre o meu vestido e sobre o fato de ela estar ansiosa para conhecer os novos moradores, Madalena levava vários tipos de pratos doces e salgados para o meu quarto, com o desejo de que eu avaliasse a aparência e o gosto, é claro que ela fazia isso escondida de mamãe, pois se ela descobrisse... nossa, nem sei.

Como sempre eu estava no jardim lendo, o céu estava com um tom de azul parecido com os olhos da minha querida tia Elisa, não havia uma única nuvem e as flores brotavam, embora fosse verão e não primavera.

—Nina!- Escutei meu pai me chamar.- Venha cá minha querida.

—Estou indo.- Sua voz vinha do celeiro.

—Sua mãe quer que você leve essas coisas para a casa da Senhora Cortez.- Disse me entregando uma bolsa com livros e tecidos.

—A casa de Debora?- Peguei a bolsa.- Sem problemas papai.- Onde a mamãe está?

—Na cozinha com Dona Madalena, isso rapaz.- Disse papai alisando um dos seus cavalos . Mostrou o seu sorriso como nunca.- Volte logo.

—Certo.- Disse ao subir no Diamante.

—Minha querida.- Papai me entregou a bolsa.- Quando um cavaleiro confiável estiver perto, deixe que ele te ajude a subir no cavalo.

—Certo papai.- Soltei uma risada.

           O Dia estava calmo, a paisagem parecia ter saído de uma pintura, os pássaros cantavam em sintonia, as folhas estavam bem verdinhas, havia um lago perto dali, ele tinha uma pedra no canto que dava pra sentar. Amarrei Diamante numa árvore e me subi nessa pedra. O meu cabelo e saia do meu vestido dançava com o vento, por um momento esqueci o que ia fazer e tive vontade de molhar os pés, e foi o que eu fiz. A água estava bem gelada, não me importei de ter molhado a borda do vestido, fechei os olhos e escutei o  som dos pássaros, imaginei como seria voar e desejei que momentos bons como aquele sempre estivessem presentes em minha vida.

—Senhorita?-Uma sombra apareceu.- Está bem?

—AAAAAAHHHHHH- Tirei os pés tão rápido da água que molhei a pessoa.

—Perdão, não quis assusstá-la.- Era um rapaz...muito bonito.

— Perdão senhor.- Me curvei, senti que estava corando, só não sabia se era por ter molhado o homem ou por sua beleza.

—Não tem problema.- Ele sorriu, seus dentes eram tão brancos que a neve.- Está perdida senhorita?

—Não, senhor. Estava apenas relaxando.

—Não é seguro ficar sozinha.

—Oh, não estou sozinha.- Apontei para Diamante.- Ele está me acompanhando..

—Mas senhorita, isso é um cavalo.- Ele fez uma cara de dúvida.

—Sim, muito mais leal que outras pessoas.

—Não quis ofendê-la.- Desta vez foi ele que corou.

—Não ofendeu.- Ficamos em silêncio por alguns segundos.- Bem, eu preciso ir.- Quando comecei a andar ele segurou a minha mão.

—Nem mesmo sei quem és.- Ele sorriu.

—Senhorita Clarke.-Me curvei.- E o senhor?

—Senhor Leonardo madame.

Leonardo, não havia um Leonardo na região, ele deve ser de uma região próxima. Era realmente um senhor bonito, olhos verdes como esmeralda, cabelos cor de mel, branquinho e com sardas no rosto, mas não me reconheço o seu nome.

Como já havia demorado naquele lugar, peguei Diamante e acelerei até a casa de Débora.

—Senhorita Clarke.- O senhor Cortez estava na varanda de sua casa lendo um livro.- Que surpresa.

—Senhor Cortez.- Desci de Diamante e me curvei.- Meu pai me pediu para lhe entregar isso.- Disse entregando os livros e os tecidos para ele.

—Obrigada minha querida.

—Senhor, Débora está?

—Não minha querida, ela foi com a senhora Cortez para a vila comprar umas fitas para o baile.

O baile. Mais uma vez o baile de boas vindas.

—Está bem.Eu falarei com ela depois.- Subi em Diamante e voltei para casa.

Não é que eu não goste de bailes, ao contrário, mas não vejo necessidade para essa ocasião. Quando cheguei já estava escuro, fui recebida por Madalena na porta.

—Senhorita Marina, fiquei preocupada, onde esteve?

—Antes de ir na casa Débora eu parei em um lago para relaxar, não percebi o tempo passar.- Falei.-Onde estão mamãe e papai?

—Foram na casa do senhor e da senhor Guimarães.- Madalena pegou a minha mão.- E a senhorita vai tomar um banho, jantar e dormir, pois amanhã o dia será cheio.