Dramione - Start a Fire escrita por Anne Bridgerton


Capítulo 23
Wordplay


Notas iniciais do capítulo

E aí genteeee!!! É com imenso prazer e igual tristeza que libero para vocês o antepenúltimo capítulo da fanfic Start a Fire! Vou chorar, alguém me segura!
Mas agora sério, espero que gostem do capítulo - o discurso fica pro último capítulo, porque se eu começar a falar agora não vou parar mais.
Aproveitem!!



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– Não, não, não!

– ARGH!

Gritei, a paciência já esgotada. Batia os pés no chão, tentando... Ah, sei lá o que eu tava tentando fazer.

– Grang...

– Não! – levantei o dedo, interrompendo-o antes que piorasse a situação – Só... Fique quieto um pouco. Eu preciso pensar.

Gilderoy assentiu. Dei-lhe as costas, as mãos na cintura e a cabeça a mil.

Depois de quase me matar em cima daquela vassoura, trouxe Lockhart de volta para a parte habitável do castelo, por assim dizer – claro, tomando cuidado pra que ninguém visse; como as notícias se espalhavam com o vento naquele lugar, se me vissem com Lockhart, era bem capaz de se linchada junto com ele.

Trouxe-o para o dormitório dos monitores. Não tinha nenhum outro lugar naquele castelo que eu confiasse para o que estava prestes a fazer, o que tinha que ser rápido. Então, novamente atropelei a porta ao chegar, aliviada por ver que Luna não estava lá – a coisa podia ficar um pouco estranha caso estivesse.

Mas ao entrar na sala do dormitório que dividia com Draco, achei o próprio lá, sentado em frente á lareira. Não se assustou ao encontrar Gilderoy comigo. Ficou nos encarando, pensativo, por alguns segundos.

– Confia nele pra isso? – perguntou, simplesmente. Dei de ombros.

– Ele é o único que pode nos dar respostas, por menores que sejam.

– Certo. – deu um tapa nos joelhos, se levantando – Vamos.

– Ah, não, não senhor! – disse rapidamente, chamando-o de volta. – Você vai ficar fora disso.

Ele me olhou confuso.

– Como? Por quê? Quer saber, nem interessa, eu não vou te deixar sozinha Hermione, pode desistir dessa ideia. – cruzou os braços, decidido.

O problema era que eu estava mais do que ele.

– Draco, esse assunto não está aberto a discussão. Acredite, estou te protegendo. – empurrei Lockhart, andando até meu dormitório.

Enfim, depois de driblar Draco pra conseguir entrar no quarto, ficar ouvindo ele gritar do lado de fora por bons cinco minutos e ouvir diversos “nãos” de Gilderoy, estava naquela posição, tentando me acalmar. Droga, eu não conseguia fazer uma única pergunta decente! Estava tão nervosa e ainda desnorteada que perguntei três vezes “Com quem você fez o voto?”. Como se ele fosse me responder. AH!

Tinha que respirar...

– Granger... – ele tentou novamente.

Revirei os olhos, ainda de costas.

– O que é? Eu não pedi pra que ficasse em silêncio?

– Só... Faça isso por outro ângulo: tente pensar como ele.

Virei a cabeça, começando a me interessar.

– Continue.

– Pense como ele. Se você fosse, como disse, um psicopata, como faria o voto perpétuo pra que ninguém a descobrisse? O que você me proibiria de falar? O que me obrigaria a fazer? Se baseie nisso!

Me virei de todo, já maquinando. Era uma boa pergunta: o que eu faria se fosse uma psicopata? Óbvio, eu o proibiria de dizer quem eu era, me mantendo segura no anonimato. Sendo esse o caso, não haveria necessidade de proibi-lo de contar meus planos, ou pelo menos não todo ele. Todos os vilões de filme fazem isso, não é? Contam seus planos pra quem quiser ouvir, e é isso aí.

Meu objetivo? Hum, sim, sim, eu manteria comigo meu motivo pra armar essa confusão. Mas... O que está faltando?

... “não preciso mais me esconder por trás de idiotas com Gilderoy.”...

É claro. Um servo. Alguém que cuidasse de todos os detalhes sórdidos e pudesse ser pego em meu lugar. Alguém que fizesse tudo o que eu mandasse. Um fantoche.

Meus olhos brilhavam quando olhei para Lockhart. Ele sorria conspirativamente.

– Eu...

Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos, sendo tão de repente que me assustei, de verdade. Mesmo.

– Ah não, me fala que não...

Resmunguei, indo atender a porta, já com uma GRANDE noção de quem era.

Não me desapontei.

– Draco, já não falei pra não entrar nisso? Digo, mais ainda?

O loiro, parado em frente á porta, com cara de poucos amigos, bufou.

– Ah, claro! Você pode correr risco de morte e eu não? E ainda devo me conformar com isso?

– Exatamente. E 1+1 são dois. Agora com licença, porque já discutimos esse assunto. – comecei a fechar a porta, um olho em Lockhart e outro nele também.

No entanto, Draco colocou o pé na porta, me impedindo de fechá-la. Tomei fôlego, já pronta pra gritar com ele, minha paciência já completamente debandada.

Até que olhei em seus olhos, e o que encontrei destruiu completamente qualquer raiva que tivesse a cara de pau de sentir dele.

Medo.

Merlin, Draco estava apavorado. Com medo, por mim.

Como eu poderia ficar com raiva, sequer levantar a voz para ele com aquela visão?

Abri a porta novamente, com um suspiro arrependido e, sem dizer uma palavra, abracei-o. Estava desesperada para tirar aquele olhar de seu rosto. Era quase enlouquecedor vê-lo daquele jeito, e ainda mais por minha causa.

– Ah Draco, não faça isso comigo, por favor! Você não sabe como eu também estou me controlando pra não mandar tudo isso pro inferno, te arrastar comigo e chutar a cara de quem está nos incomodando. Você segura e eu bato. – ri em seu ouvido, querendo desesperadamente que esboçasse alguma reação.

– E por que não? Me deixe ajudar! Você não precisa... – tentou, mas eu apenas balancei a cabeça.

– Não, eu preciso sim. Draco, eu te conheço: você, armado com as informações que vou conseguir aqui, é uma bomba relógio. Além disso, você ouviu bem o “recado”: você não será poupado caso se meta, e não me peça pra suportar isso. Eu não quero te afundar ainda mais nisso, Merlin sabe! Por favor, você salvou minha vida tantas vezes este ano; me deixe retribuir o favor. – pedi, também querendo me convencer do que dizia. Tinha que convencer, a nós dois.

Ele suspirou.

– Eu tenho medo por você.

Abri os olhos de supetão; essa declaração, por mais inocente que tenha sido, despertou em mim a fúria, uma fúria tão primitiva que senti meu corpo e minha mente incendiarem. Não seria daquele jeito, ah, mas não seria mesmo.

Me afastei de modo a ver seu rosto, segurando-o pelos ombros, os olhos em brasa.

– Agora me escute, e escute bem: você é Draco Malfoy. Você não se sente intimidado, está me entendendo? Essa é a hora de agir de forma pretenciosa, essa é a hora de ser superior. Aja como o sonserino que é, porque eu simplesmente não aguento ver esse olhar no seu rosto. E se você não me ajudar com isso Draco... Vai ser um pouco difícil de me controlar quando encontrar... Ah. – encostei na parede, olhando para o teto. O que tinha acontecido com a minha vida? – Apenas... Confie em mim.

Ele olhou para mim, ponderando. Parecia travar uma luta interna entre a razão e a loucura. Por fim, grunhiu, vindo até mim quase como um selvagem. Segurando minha cintura, praticamente me jogou contra seu peito, me beijando com tanto ardor que quase esmagou meus lábios. Agarrei seu pescoço, retribuindo o beijo com igual ou maior vontade. Nossas línguas travavam quase uma batalha, ambas lutando para satisfazer seu desejo, se complementando, acariciando, desenrolando uma dança sensual, com se fossem velhos amantes. Não havia provocação; havia apenas a paixão, pura e dolorida. Era quase como se o visse pela última vez.

Por um instante, desejei não precisar de ar. Não queria soltá-lo, nunca. Mas então, com um gemido, Draco quebrou o beijo. Ainda com a boca a centímetros da minha, falou, com a voz decidida:

– Faça o que tiver que fazer. Antes que eu me arrependa.

Tentando parecer mais confiante do que realmente estava, dei um sorriso e corri para o quarto. Dando uma última olhada para Draco, os braços pendendo ao lado do corpo, o olhar pensativo, fechei a porta e pronunciei:

– Abaffiato.

Ao olhar para Lockhart, sentado exatamente onde o tinha deixado, todas as minhas ideias voltaram quase que em uma onda, o que me deu uma nova descarga de ânimo. Sorri de lado, mesmo atordoada, e ele retribuiu.

– Está com os ânimos mais calmos agora?

– Vou fingir que não perguntou isso. – disse rapidamente, pegando uma cadeira para me sentar á sua frente. – Fiz o que disse. Despertei minha psicopata interior e agora quero que me responda: o que aconteceu com você?

Ele levantou a sobrancelha.

– Perdão?

– Sei que estava sem memória. Não sei bem o que andou fazendo depois que saiu de Hogwarts, mas alguém o achou. Eu quero saber: como você voltou?

Gilderoy assentiu, em entendimento.

– Sim, agora nós estamos conversando. Sabe, depois que saí do castelo, fiquei completamente perdido. Veja bem, eu não lembrava da existência da magia, muito menos que fazia parte dela. Quase enlouqueci, vendo vassouras voando, pessoas criando coisas do nada com varetas e duendes andando pelas ruas. E eu não conseguia juntar coragem pra conversar com ninguém, contar o que estava vendo, com medo de que confirmassem que estava ficando louco. – deu um sorriso, sem muita graça. – Fui encontrado em um beco, na Travessa do Tranco, conversando com a parede. Na minha mente, aquela era a única coisa normal que tinha restado no mundo. Ao me encontrar, prometeu que me ajudaria, faria as coisas voltarem ao normal, que eu só precisava fechar com um acordo simples. Como não tinha muitas opções, acabei aceitando e jurando todas as três coisas que me pediu. Quando acabei, um clarão me fez fechar os olhos, e todas as minhas lembranças voltaram, em uma avalanche. Então, com as memórias de volta, foi só juntar dois e dois e perceber a burrada que tinha feito.

Eu apenas ouvia, absorvendo tudo. Por incrível que pareça, senti um pouco de pena dele. Digo, certo, ele errou tanto no passado quanto agora, mas não quis realmente fazer nada daquilo comigo. Ele só estava... Perdido.

Percebendo que ele havia interrompido sua narração, pigarreei.

– E como entrou em Hogwarts? Porque tenho certeza que não foi chamado pra lecionar novamente.

– De fato. – jogou a cabeça para o lado, concordando. – Mas eu tinha que me infiltrar aqui. Afinal, eu tinha sido o “escolhido”, não é? – ironizou. – Então, enviei um chamado urgente para Minerva, como se fosse um membro do Ministério com uma missão de extrema importância para ela... – revirou os olhos. – Fiquei enrolando- a por meses, cada hora mudando o lugar do “chamado”, até que ela se cansou e voltou pro castelo, noite passada.

– E sobre o tal substituto que ela disse ter enviado? – inqueri, lembrando do amigo de Minerva.

– Nós o encontramos, antes que chegasse a Hogwarts. – balançou a cabeça, parecendo desolado. – Pobre homem! Os olhos tão cheios de vida, apesar da idade...

E eu não gostei do tom que usou.

Nem um pouco.

– O que aconteceu com ele?

Gilderoy voltou a me encarar, o ar calmo e descontraído de minutos atrás deixado de lado.

– Eu não quis que nada daquilo acontecesse á ele. Parecia ser um homem tão bom... Nem pode ver o que o atingiu.

Arregalei os olhos.

– Vocês o mataram?!

– NÃO! Não... Bom, pelo menos, não naquela hora. – se corrigiu, o olhar mórbido. Sua postura se curvou ainda mais, as mãos fechadas em punho. – Inicialmente, nós só o enfeitiçamos com a Maldição Imperius. Ele foi usado em diversas ocasiões, e você o conheceu Granger. Apenas não sabe disso.

– Como?

Ele franziu a testa, suplicante.

– Não consegue imaginar?

Revirei os olhos, me jogando contra o encosto da cadeira.

– Poção Polissuco, sério? Quantas vezes usaram isso?

Gilderoy se encolheu ainda mais.

– Ele era o Harry? Aquele do dia em Hogsmeade? – insisti.

Ele negou com a cabeça.

– Aquele era eu.

– O QUÊ?! Mas...

– Granger, entenda, ele estava sob efeito constante da maldição. Você perceberia facilmente a diferença. Nós não... Não o usamos para coisas ativas. Ele era como um substituto fantasma. Quando eu estava transformado em outra pessoa, ele se transformava em mim, e se transformava em... – gesticulou com a mão, como se falasse “você sabe quem” – quando... – gesticulou novamente - estava transformado em outra pessoa.

– Merlin... – Balbuciei. – Alguma vez eu encontrei com alguém que não era você transformado? – joguei as mãos para o alto, exasperada. – E depois? O que vocês fizeram com ele?

– Bem, quando ele estava transformado em... AH, NÃO! – se interrompeu rapidamente, tampando a boca. – Desculpe, eu não... Posso falar mais nada sobre isso.

– Mas... Ah, certo! – bufei – Pode pelo menos me dizer como ele morreu?

Começou a balançar a cabeça, mas logo pensou um pouco.

– Só posso dizer... Que ele morreu no mesmo dia que a pequena Hannah.

– HANNAH! É isso! – exclamei, assustando-o. Pra valer. – Me explique por que Hannah teve que morrer. Isso você pode me falar, certo?

Dessa vez, ele balançou a cabeça tão veemente que fiquei até com medo de que saísse voando.

– Ah, qual é! Isso certamente é importante. Você disse que a morte dela marcou o início e o fim. Eu preciso saber o que é! É um feitiço? Uma maldição? Horcruxes? Por favor, me diga que não são horcruxes!

Acho que enlouqueceria se tivesse que furar pedaços de alma com dentes de uma cobra morta de novo.

– Não Granger, não são horcruxes! Mas eu realmente não posso explicar isso. – sentou mais para a beirada da cadeira, como se quisesse me contar um segredo. – Olha, sinto muito por tudo que fiz. Sinto mesmo! Por te enganar, te levar ao encontro daquele dementador, por enfeitiçar Slughorn, por tentar te envenenar colocando aquele bolinho nas mãos do Weasley, por derrubar aquele lustre e quase mata-la queimada junto com quase toda Hogwarts, e por aterrorizá-la daquele jeito na Sala Precisa. Eu nunca quis fazer nada disso, e sei que não há reparo para isso. Eu só... Não queria morrer. – encolheu os ombros. - Eu tentei te ajudar, apesar de tudo.

– Ah foi? Como? – cruzei os braços, levantando uma sobrancelha.

– Bom, por vezes, quando estava transformado em Minerva... Sim, já fui a Minerva. – admitiu com uma risada sem-graça, vendo meu olho arregalado. – Onde estava? Ah, certo. Por vezes pedia ao seu amigo Ronald para trazer alguns ingredientes pra mim para que pudesse fazer uma poção, chamada Audiens. Me deixava com a audição mais aguçada, assim eu podia escutar pelos quatro cantos do castelo, e quem sabe, soltar alguma informação para você? Mas devo dizer que não deu muito certo.

Estreitei os olhos, forçando a memória. Sim, me lembrava disso.

... “Ah, aquela velha maluca! Fica me mandando fazer um monte de serviços pra ela, e quando me atraso ainda quer me deixar em detenção.

– Serviços?

– É, desde semana passada. Me manda pegar ingredientes esquisitos... Joaninhas, orelhas de morcegos, raízes... E ela se recusa a me falar pra quê.”...

Gilderoy continuou, sem perceber minha pequena viagem flashback.

– Tinha que arrumar meus próprios meios. Afinal, o castelo estava todo sob a vigia de... Você sabe.

– Como, sob vigia?

– Elfos. – encolheu os ombros. – Desculpe por te dar essa informação de forma tão enrolada. Mas eu não podia falar demais, ou podia acabar sendo castigado.

Céus! Eu NUNCA decifraria isso!... Nossa, eu nunca imaginaria que “elfos prestativos!” significaria “oh, abre o olho aí que tem uma gangue de elfos espionando todo mundo no castelo”.

Pensando bem agora, era até um pouco cômico.

Olhei pela janela, suspirando. O sol já havia desaparecido há muitas horas. O funeral de Hannah já tinha sido depois do Sol se pôr! Provavelmente eu deveria ir agora. Talvez eu só causasse mais problemas se me atrasasse.

Ao constatar isso, meu coração começou a bater estranhamente rápido, e uma gota de suor desceu pelo canto do rosto. Sentia minhas mãos começarem a gelar. Droga, estava tão confiante, tão certa de que devia ir sozinha! Agora, só a ideia de colocar um pé pra fora do quarto sem Draco me causava calafrios.

Engoli em seco, me recusando a deixar Gilderoy me ver com medo. Levantei, com as pernas levemente bambas, mas ainda assim, de pé. Ele me acompanhou.

– Posso perguntar mais uma coisa?

– Depende.

Abracei meu corpo, tentando disfarçar meu nervoso.

– Foi você quem enfeitiçou Blásio e Minerva? Que fez aquelas mensagens horríveis?

– Não. Aquilo não foi obra minha, acredite. Até porque, fiquei levemente ofendido com elas.

Suspirei, um pouco mais aliviada. Pelo menos aquele pedaço de pesadelo não tinha sido culpa dele.

– Uma última coisa. – coçou atrás da cabeça. – Não fique com medo. Ás vezes, as pessoas não são o que parecem, e isso pode ser um choque tão grande a ponto de nos desestruturar. Mas eu sei que você é maior do que isso Granger. Tenho fé em você. – sorriu. – E, cá entre nós, um pouco de orgulho ao lembrar que você sabe que minha cor favorita é roxo.

Soltei uma risada nervosa.

– Obrigada Gilderoy. Acho que você não é tão inútil como eu achava.

– Vou considerar isso um elogio. – piscou o olho.

Dando uma última olhada em meu quarto, corri porta afora. Não encontrei ninguém no dormitório, ou ouvi qualquer barulho. Melhor assim. Se encontrasse, corria o sério risco de desistir.

Saí em disparada, pela segunda vez no dia, cruzando os corredores, segurando minha varinha com tanta força que tive medo de quebra-la. Dessa vez, como já passava até do horário dos monitores, não havia uma única pessoas nos corredores. Não vi nem mesmo os fantasmas. Sentia quase como se todos estivessem abrindo caminho para mim, estendendo o tapete vermelho em direção ao desconhecido. E eu seguia essa trilha, suando frio, nunca parando para pensar no que estava fazendo. Não podia.

...

Não sei quanto tempo corri. Quantos corredores cortei ou quantas vezes evitei o caminho que saberia me levar direto á Torre de Astronomia. Mas chegou uma hora que a colisão foi inevitável, e tanto meu orgulho quanto meu surto de coragem suicida me levaram a parar, bufando sem ar, e subir as escadas.

A luz da lua iluminava os degraus, como se eles brilhassem, me mostrando o caminho. Pensei em Draco, e tudo o que tinha dito a ele sobre ser corajoso e superior. Engraçado, eu não me sentia assim. O que sentia... Era o medo, levemente ofuscado pela raiva que sim, ainda sentia. E isso não era uma mistura nem um pouco saudável. Á medida que o medo gritava “vá embora e busque ajuda!”, a raiva gritava “suba e enfie sua varinha na testa dele!”.

Ao subir o último degrau, me deparei com ninguém. A Torre de Astronomia parecia vazia, o centro quase completamente iluminado pelo luar, e os cantos mais escondidos permaneciam no escuro. Dei um volta no mesmo lugar, procurando algum sinal de movimento. Observava atentamente, procurando qualquer coisa.

Subitamente, senti algo se mover nas sombras. O coração batendo cada vez mais rápido, mas me recusando a deixar minha mão tremer, fiz mais uma inspeção e, dessa vez, achei alguma coisa. Alguém, espreitando em um dos cantos escuros. Apenas sua silhueta era visível. Ela sabia que havia sido encontrada, porque ouvi sua risada. A mesma risada seca que ouvi sair da boca de Blásio e Minerva, porém... Ao mesmo tempo mais e menos humana.

Levantando o braço, pronunciou.

– Homenum Revelio.

Senti uma onda varrer o ambiente, passando por mim tão inocentemente como se fosse a brisa noturna.

Outra risada.

– Muito bem Granger. Você veio sozinha, assim como ordenei.

Não.

– Sabe, estou orgulhosa de você. Digo isso porque trazer Draco aqui seria egoísmo. Muito egoísmo, trazê-lo para a morte, junto com você. Fico feliz por ter deixado seu egoísmo de lado.

Não, não podia ser isso. Era mentira.

– Afinal, você nunca foi muito boa nisso...

Ela saiu das sombras, a fraca luz que começava a incidir em seu corpo revelando um sorriso doentio distorcendo seu rosto que me lembrava por ser angelical, transmitir paz. Agora, essa parecia uma imagem distante.

– Não é mesmo... Mione?

Não podia ser. Como ela podia estar ali? Ela... Devia estar morta!

Apenas balbuciei.

– Hannah?


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Notas finais do capítulo

:)
Comentem o que acharam! Quem está surpreso?