Dois meses se passou desde que Clara pediu demissão do estúdio de Marina. Dois meses longe da sua fotógrafa. A morena entrou, Cadu dormia pensadamente depois de ter comido como um porco. Se afastar de Marina não ajudou em nada seu casamento, pelo contrário, tinha piorado. Ela levantou, pegou o travesseiro e um lençol no guarda roupa e foi na direção do sofá, aliás nesse últimos dois meses o sofá tinha virado sua cama, as vezes dormia no quarto do filho, outras noites ia para casa de Leninha, mas estava difícil a convivência com o moleque que era seu marido.

Pensou em Marina, como será que ela estaria? Olhou o celular, pensou em ligar e desistiu, olhou as fotos da branca que jamais teve coragem de apagar, adormeceu ali com o aparelho nas mãos. Amanheceu ouvindo as panelas batendo na cozinha e acordou possessa:

- Que merda Cadu, dá para ser mais silencioso?

- Bom dia para você também. - Respondeu de um jeito cínico. - Não é minha culpa que você resolveu fazer o sofá de cama.

- Realmente, a culpa é minha, que disse sim no altar pra alguém que não quer nada com a voz do Brasil.

- Nossa, agora eu sou só defeitos.

- Não tenho culpa de ser lenta e não ter percebido antes que você não passava de moleque. Ivan já foi para escola?

- Luiza passou aqui para levá-lo.

- Tenho que agradecer a minha sobrinha por isso. Porque até meu carro eu tive que vender por sua casa.

- Não enche, eu fiz pensando no melhor.

- Então para de pensar, porque toda vez que você pensa, eu tenho problemas.

Focado na ideia de ter um restaurante, Cadu vez um mal investimento e acabou perdendo o carro da esposa no meio disso tudo. O que só piorou a situação dos dois.

- Pô Clara, foi só um carro, depois quando tudo dé certo eu te dou outro.

- Um carro que foi comprado por mim, que sou sócia da casa de leilão. Aliás, tudo que nem nessa casa quem bota sou eu, até suas cuecas. Porque nada que você faz dá certo.

- Quer saber, vou dá uma volta no calçadão. Ao invés de ficar ouvindo acusações.

Enquanto ele batia a porta de casa, ela foi tomar banho e se arrumar para fazer absolutamente nada o resto do dia. Ou pelo não faria nada interessante. Usando suas calças jeans boca de sino e bodie, ela foi na direção da Casa de Leilão para saber se a irmã precisava de ajuda. Ficou por lá fechando umas contas. Perto do horário do almoço Chica chegou por lá:

- Meninas, temos compromissos amanhã. - Disse animada.

- Coisa boa pela sua cara. - Leninha olhava a felicidade da mãe.

- Amanhã é o aniversário do Ricardo.

- E o que faremos? Festinha aqui na Casa de Leilões? - Clara quis saber.

- Não. Ele disse que fará um churrasco lá na casa da Marina. Quer a família toda. - Ao ouvir as palavras da mãe, Clara gelou. Nem ouviu o que Chica disse antes de deixar a Casa de Leilões, ficou pensativa, calada e só ouvir o gritos da irmã:

- Que foi Leninha?

- Estou te gritando a séculos.

- Aí Leninha, churrasco na casa da Marina.

- Eu sei...

- Tem dois meses que eu não tenho nenhuma notícia dela.

- Nenhumazinha? - Leninha olhava de lado para irmã.

- Não.

- Então se prepara, porque amanhã você vai vê-la.

Naquela noite Clara demorou a dormir mais que o necessário, custou a pregar os olhos, a ansiedade a consumia. Foi acordada na manhã seguinte por um Ivan animadíssimo e louco para arrumar as coisas e ir tomar banho de piscina na casa da amiga da mamãe. Ela fingiu um sorriso e foi se arrumar, encontrou o filho já fora do prédio entrando no carro de Luiza, viu Cadu entrando no carro de Nando, foi no carro da sobrinha mesmo.

Chegou na mansão de Santa Teresa e a saudade tomou conta dela, foi falar com Ricardo que já estava lá, Gisele a abraçou com carinho:

- Gi, que saudades!

- Também estava com saudade Clarinha, mas é que por aqui a correria esta tão grande. - A irmã postiça de Clara sorriu para ela.

- Clarinha, minha dona de casa favorita. - Vanessa se aproximou sarcástica como sempre.

- Vanessinha, não sabe como estou feliz de te ver. - Devolveu a ironia. - Gi, a Mari... - Ela foi cortada por um grito.

- MARINA! - Era Ivan que corria em direção a fotógrafa, que vinha ao lado de Flavinha em uma cadeira de rodas empurrada por uma mulher que Clara não conhecia.

O coração de Clara parou por instante, todos os olhares se voltaram para Marina. Ela que sempre foi tão viva esta em uma cadeira de rodas, o que tinha acontecido? Ela não usava gesso, nem bota ortopédica, Clara observou suas pernas, elas estavam imóveis na cadeira. Andou involuntária na direção dela, tremia e tinha medo de chegar. Ivan já estava pendurado no pescoço da branca.

- Como você esta loiro mais lindo? - Marina estava feliz de ver o menino.

- Estou bem. Por que você esta nessa cadeira? - Quis saber, curioso como sempre.

- Foi um acidente. Mas, estou bem agora.

- E você vai ficar aí para sempre?

- Eu não sei por quanto tempo vou ficar assim, mas eu vou andar de novo. Vou lutar com todas as forças para isso. - Ela levantou os olhos e viu Clara já para ali, a morena esta com lágrimas no descendo pelo rosto. - Tudo bem Clarinha? - Falou o mais normal possível.

- Como? Como isso aconteceu? - Estava sem voz e ajoelhou na frente dela. - Quando aconteceu?

- Há dois meses.