Twilight - a Magia do Amor escrita por Sol Swan Cullen


Capítulo 19
16º Capítulo -A Visão, Joe e Ana




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(Bella POV)

 

         A minha cabeça doía. Talvez pelo excesso de informação, ou talvez pelo cansaço. Não sabia ao certo o motivo, mas o importante era que me doía.

A história que Carlisle e Charlie tinham contado ressoava nos meus ouvidos, cada palavra, cada verdade, e as imagens que eu apanhara nas suas mentes repetiam-se na minha. Talvez esse fosse o verdadeiro motivo de me doer a cabeça. Eu sempre suspeitara de que o meu avô era vampiro, seria o mais lógico visto que os meus familiares embora feiticeiros, se comportavam como autênticos vampiros de vez em quando. No entanto, sentia-me confusa com essa realidade, parte de mim sempre soubera que eu não era única e exclusivamente bruxa, sabia que havia algo mais, mas ver essa realidade confirmada era… estranho. E ainda mais! O vampiro que era meu avô não era um vampiro qualquer, era um dos reis dos vampiros!

A confusão e a dor de cabeça começavam a deixar-me cansada, demasiado cansada. Tentava, em vão, organizar os meus pensamentos, as novas informações, quando começaram a falar da minha infância! Uma pequena parte da minha mente tomou em atenção as “visões” que eu tivera quando olhei para Esme e Carlisle e aquilo que eles disseram respondia às perguntas que se tinham formado durante algum tempo, eles tinham estado lá, Edward tinha estado lá… mas não se lembrava de nada.

- O dia em que partimos, foi muito difícil… - A voz de Carlisle trouxe-me de volta dos meus pensamentos, estava cheia de uma ternura que eu só ouvia na voz do meu pai. - Quando nasceste, Bella, tu eras o total oposto da Ana, eras saudável mas muito, muito fraca. Muito pequena, muito frágil. Não havia modo de sabermos se sobreviverias e tu, mesmo como um bebé, agarraste-te a nós. – Foi naquele momento que vi na sua mente algo que me deixou… digamos que esclarecida.

Na sua mente passava uma memória, ou assim me pareceu. Na memória, Esme, Edward e um bebé… eu, estávamos numa sala e eu reconhecia aquela sala, era a sala de estar da casa da Avó em Salem, não estava nada mudada, tudo estava no mesmo sítio em que eu me lembrava, os sofás brancos e confortáveis estavam na mesma posição. No sofá que ficava de frente para a lareira de mármore na sala da Avó, Edward e Esme estavam sentados e o… raios me partam, eu estava no colo de Edward, os seus olhos brilhavam carinhosamente na minha direcção e eu senti-me derreter perante aquele olhar.

- Sim, eu que sou teu pai ainda não compreendi o que é que os braços deles tinham que nos meus tu não encontravas. – Charlie disse, tirando-me da memória de Carlisle e fazendo-me encará-los de novo. -Sempre que a Esme te entregava para os meus braços ou os da tua mãe ou de outro alguém que não fosse um vampiro, tu berravas como se te estivessem a matar.

Senti os meus lábios formarem um sorriso tímido, enquanto a minha mente procurava rapidamente uma desculpa para tal comportamento da minha parte.

- E quando era para dormir, Charlie? – A voz de Esme estava tocada por um sorriso que brindava os seus lábios. - Ela chorava tanto, só havia uma pessoa para além de mim que conseguia fazê-la adormecer.

Os seus olhos verdes (o tom de verde dos seus olhos era bonito, mas não tanto como o tom verde-esmeralda dos olhos de Edward) poisaram em Edward e todos olhámos para ele, e então compreensão desceu sobre mim… O sonho. O meu primeiro sonho com Edward, o sonho com a criança… Não era (já não tinha bem a certeza se era ou não) bem um sonho ou uma lembrança, o bebé do sonho era eu… Aquilo só podia ser uma memória… imperfeita, claro… demasiado fraca vinda da memória de um recém-nascido.

– Eu? Ela só adormecia nos meus braços? – A voz de Edward estava tomada por um tom surpreendido, chocado até, que se sobrepunha ao tom de incrível satisfação que tocava as palavras ela e meus braços.

Os braços de Edward já me envolviam antes de termos chegado a esta parte da conversa e por isso encostei-me mais ao seu peito, aninhando-me seguramente nos seus braços de pedra.

– Consigo compreender porquê. – Disse sorrindo, embora a minha voz conseguisse transmitir algum do meu cansaço, nenhum deles pareceu percebê-lo. Inspirei fundo e senti o seu doce cheiro fazer o meu corpo descontrair e deixar o cansaço tomar conta. - Aqui é muito confortável.

Os sons à minha volta começaram a ficar muito abafados enquanto o sono tomava conta de todos os meus sentidos, apenas sentia o corpo frio como pedra (que muito estranhamente parecia estar quente contra a minha pele) de Edward a servir-me de almofada.

A escuridão da inconsciência começava a tomar-me e eu acolhi-a sem qualquer esforço, não me tinha apercebido de quão cansada estava até àquele momento. De repente, já não estava na escuridão total, havia uma luz, fraquíssima que me indicava com fraca certeza de que o Sol estava a nascer. Olhei na direcção de onde a luz provinha e vi um corredor, cuja parede da esquerda era totalmente de vidro, eu estivera certa, era a luz tímida da madrugada que iluminava o corredor…

Sabia que estava a sonhar, mas sentia que conhecia a casa onde estava. Ouvi passos e virei-me na direcção do som, Edward dirigia-se para o corredor e quando a luz suave do Sol tocou na pele dele, esta começou a brilhar como se nela estivessem incrustados infinitos diamantes (o seu brilho era muito mais forte do que o brilho que a minha pele tinha em contacto com a luz). Ele começou a andar pelo corredor abaixo e eu segui-o, sentia agora uma sensação de déjà vu, como se eu já tivesse feito isto… O corredor começava a parecer não ter fim e eu chamei por Edward, temendo onde poderia ser o fim do corredor. Mas ele não me respondeu, apenas continuou a andar e eu, por conseguinte, segui-o; voltei a chamá-lo e então um som extremamente familiar encheu o ar do sonho: o choro de um bebé… e Edward seguiu-o.

Parei, percebendo a sensação de que estava a fazer as mesmas coisas num cenário diferente. Era o mesmo sonho! O primeiro sonho que eu tivera com Edward! Olhei à minha volta e reconheci o sítio onde estava, era a casa da Avó… Claro que tinha estranhado este sonho… no outro, não via o corredor que levava ao meu quarto pois estava muito escuro para conseguir reconhecer o meu lar. Olhei para Edward e voltei a segui-lo, agora correndo para o apanhar e então a porta de madeira do meu quarto surgiu no fim do corredor, ele empurrou a porta entreaberta do meu quarto e entrou. Fiz o mesmo que ele e vi-o baixar-se sobre o berço de madeira branca que se encontrava no meio do quarto…

- Shhh, Bella… Já aqui estou. – A sua voz de veludo sussurrou e eu aproximei-me rapidamente, não iria perder a hipótese de ver o seu rosto desta vez.

Os seus olhos estavam verdes e brilhavam com carinho, amor e… adoração. Senti lágrimas encherem-me os olhos e depois olhei para o rosto do bebé, o seu (ainda me era difícil acreditar realmente que aquele pequeno bebé de aparência tão frágil era eu) rosto era bonito (e era eu!), uma expressão tão inocente com aqueles grandes olhos castanhos, cor de chocolate, a pequena quantidade de cabelos da mesma cor dos olhos a cobrir a cabecinha… Ok, devo admitir! Eu era fofa como bebé! Voltei a olhar para Edward e ouvi-o cantar uma canção de embalar… a mesma que eu tinha ouvido da outra vez no sonho… tão doce que me fazia sentir calma, até mesmo no sonho!

Afastei-me dele e… de mim e sentei-me na cadeira de baloiço que ficava perto da varanda do meu quarto. Fiquei a observá-lo, ele era tão lindo e vê-lo assim com… oh raios! Pronto, com um bebé nos braços… Juro que me dava vontade de beijá-lo.

Não sei em que momento foi… Mas o Edward do sonho olhou para mim e sorriu-me (coisa que fez o meu coração disparar… até nos sonhos!), mas as palavras que lhe saíram dos lábios deixaram-me confusa…

- Bella, tens que acordar, querida.

Nesse momento apercebi-me de que estava a ser puxada para a realidade.

- Não… - Lamentei. Eu não queria sair dali, não ainda. - Aqui está bom…

- Querida, eu sou muito frio. Tens de acordar… Está na hora de ires para casa. – Abri os olhos, contrariada, deixando a imagem do meu deus para trás. - Vá lá, Bella adormecida. Horas de acordar.

Não consegui evitar soltar um rosnado enquanto esfregava os olhos, depois levantei-me e comecei por me despedir de Carlisle e Esme que se despediram de mim com um beijo na testa e um abraço, seguindo pelos restantes Cullen que se despediram de mim com beijos e abraços. Quando me ia despedir de Alice, ela olhou para mim com olhos preocupados, quase como se eu estivesse com aparência de estar doente, ela abraçou-me e depois disse-me ao ouvido. - Tem cuidado, sim? – E depois beijou-me na bochecha.

Não percebi a preocupação de Alice e também não ia tentar averiguar na sua mente do que é que ela falava, estava demasiado cansada para tentar. Virei-me para me despedir do último dos Cullen e o meu peito apertou-se, tal como eu não me queria despedir dele no meu sonho, eu não me queria despedir dele na vida real. Os seus olhos pareciam dizer-me o mesmo, pareciam dizer-me que ele não queria que eu me fosse embora, que queria que eu ficasse.

Só mais uns minutos, só preciso de mais uns minutos. Pensei olhando para ele.

- Levas-me ao carro? – Pedi-lhe vendo-o assentir e seguir-me para a rua.

Do pórtico da casa, por entre os ramos dos salgueiros que protegiam a casa, dava para ver o céu nocturno, estava limpo e as estrelas brilhavam com mais força esta noite, como uma suave premonição de que o futuro seria brilhante. O vento que soprava calmamente trazia-nos o cheiro a terra molhada e a frescura dos pinheiros da floresta que nos rodeava, uma combinação calmante. A escuridão da floresta era obviamente amenizada pela luz emitida pela casa, no entanto, o silêncio foi quebrado pelo som suave de grilos… Se fosse outro momento qualquer, eu não teria reparado em nada daquilo, talvez nas estrelas e no vento, mas algo despertara em mim a sensação de que algo estava errado, algo não se encaixava na calmaria que a noite apresentava.

Senti Edward atrás de mim e estava prestes a descer os degraus da escada em direcção ao carro de Charlie quando ouvi a voz de Alice quebrar o silêncio com um sussurro assustado.

- Edward, agarra-a.

Foi antes de as suas palavras tomarem totalmente sentido que eu deixei de ver, deixei de sentir as minhas pernas e fui levada de novo para a escuridão.

Foi quase como adormecer outra vez. Quase. Não sentia nada do que tinha sentido antes, o vento que trazia o cheiro calmante da noite e o som dos grilos já não chegavam a mim. Tal como tinha acontecido antes, quando eu estava a sonhar com Edward, uma luz fraca clareou tudo ao meu redor, dando forma às proximidades, mas diferente da luz fraca da madrugada que havia no meu sonho, aqui a luz era acinzentada como se os raios de Sol tivessem que passar por uma espessa camada de nuvens cinzentas. Olhei à minha volta e vi que estava rodeada por árvores a pouca distância de uma clareira ampla, ouvi um riso troante ao longe e segui-o, qual não foi o meu espanto ao ver todos os Cullen e eu na clareira. Eles estavam dispostos em posições que me fizeram lembrar o campo em forma de diamante dos campos de basebol e então reparei em Alice, posta no centro, num amontoado de terra, vestida com o equipamento de basebol, com uma pequena bola branca nas mãos, e em Jasper, com uma barra de aço nas mãos a alguns metros de Alice.

Estávamos, obviamente, a jogar basebol. O meu eu sonhador estava junto de Esme e olhava maravilhado para Edward, também equipado como Alice e Jasper. A atmosfera estava repleta de divertimento e felicidade, mas, de repente, tudo mudou; todos ficaram tensos, Edward trocou de lugar com Esme e rodeava-me com um olhar pesaroso. De onde eu estava, via os seus lábios mexerem-se, mas não percebia que palavras articulavam. Foi então que eu ouvi o som fraco de roupas a roçarem umas nas outras e o som das folhas a serem remexidas na floresta do lado mais afastado do campo de basebol, inspirei o ar e senti a electricidade que o carregava, para além dos cheiros da família e o meu próprio (o qual eu tinha noção, pelas palavras de Edward, ser deveras apelativo), havia mais três cheiros desconhecidos que estavam misturados com os cheiros da terra e da floresta.

Decidi aproximar-me mais, tinha noção de que ninguém me iria ver, embora soubesse que isto não era um sonho. Já estava próxima o suficiente para ouvir Edward sussurrar-me pedidos de desculpas, não conseguia perceber o porquê de ele me estar a pedir desculpas mas algo não estava bem. Nesse mesmo instante, três figuras surgiram das árvores, dois homens e uma mulher, vinham os três descalços, o homem que vinha na frente tinha a pele negra e os seus cabelos também; o outro homem tinha longos cabelos loiros e a sua pele era clara, já a mulher tinha cabelos de um ruivo vibrante e a sua pele era tão branca como a do homem loiro; reparei então nos olhos dos três e estes eram de um vermelho-sangue, o total oposto dos olhos dourados dos Cullen.

Algo mais mudou naquela visão, senti o vento despentear-me os cabelos e vi o mesmo acontecer aos cabelos do meu eu sonhador, então, num instante, Edward estava agachado à minha frente, os seus lábios a recuarem sobre os seus dentes e um rosnado furioso a sair dos seus lábios. Não pude deixar de reparar na sua beleza ameaçadora, mesmo naquele momento. Olhei para os três vampiros que haviam chegado e procurei qual deles tinha feito Edward colocar-se naquela posição defensiva, vi o loiro colocado numa posição encurvada, não agachado, mas com o seu tronco curvado na minha direcção, pronto a atacar.

- Não… - Senti os meus lábios articularem a palavra e ouvi a minha voz a proferi-la, mas ninguém mais me ouviu.

Depois a imagem mudou, já não estava na clareira. A luz também mudara, já não era acinzentada, os pequenos feixes de luz que iluminavam a sala onde estava eram amarelos, eram apenas fiascos que passavam pelas brechas dos estores que tapavam as janelas. Voltei a olhar em volta, as paredes estavam cobertas com espelhos e à altura da cintura havia uma barra de madeira coberta por talha dourada, o chão era de madeira envernizada e eu pude ver no fundo da sala, encostado à parede de espelhos, um televisor e um leitor de vídeo. Na televisão passavam imagens minhas conhecidas, imagens da minha infância.

Senti o sangue abandonar-me as faces quando me vi entrar na sala a gritar pela minha mãe. Percebi aquilo pelo que era, uma armadilha. Tudo a postos para me caçar. Enquanto o meu eu do sonho olhava chocado para a televisão, eu olhava com ódio e desespero para o vampiro loiro que tinha estado na clareira, os seus olhos vermelhos escuros brilhavam. Vi-o circundar-me, dizendo coisas que eu não conseguia perceber, vi-o mostrar-me a câmara colocada junto da aparelhagem e reparei na luzinha vermelha que ela emitia, estava a gravar. Pouco depois, vi-o atirar-se a mim…

- Não! – Gritei, fechando os olhos e sendo puxada de volta à realidade.

- Bella! – Exclamou Edward. – Está tudo bem! Tens que acordar agora!

Ainda não o conseguia ver, os meus olhos ainda observavam o rosto do vampiro loiro, não conseguia esquecer aqueles olhos carmesins a fitarem-me com maldade. Senti uma mão fria a ser colocada na minha testa e subitamente deixei de ver os olhos maldosos do caçador e voltei a ver os verdes que eu amava. Pisquei os olhos, tentando recuperar do choque e então olhei à minha volta, todos olhavam para mim menos Esme, Carlisle e Charlie que olhavam uns para os outros. Reparei que o rosto do meu pai estava enfurecido, o de Carlisle estava sério mas os seus olhos brilhavam com raiva e o rosto de Esme estava preocupado.

- Bella, estás bem? – Edward perguntou-me, movendo a sua mão que estava na minha testa para a minha bochecha. – Fala comigo, por favor.

- Eu… Eu estou bem. – Disse-lhe, mas a minha voz não era nada convincente e ele percebeu isso. – A sério, estou bem. – Insisti tentando fazê-lo deixar-me por uns momentos. – Pai?

- Eu não consigo acreditar… - A voz de Charlie estava furiosa, não conseguia perceber porquê, mas ele estava. – Aquele…

- Charlie, eles não sabem! – Esme chamou à atenção dele, chamando também à minha. – A Bella ainda não sabe.

- Não sei o quê?! – Perguntei, sentindo que havia algo ainda mais errado. – O que é que vocês não nos estão a contar, pai?!

Não sabia que emoção eu sentia mais forte no momento, se a raiva por me estar a ser ocultado algo importante que (muito provavelmente, talvez) estivesse relacionado pelo que eu acabara de ver, ou se o medo por não saber o que acabara de se passar mas ter a certeza de que aquilo que eu vira era a minha morte.

Carlisle e Charlie olharam para mim e eu vi o primeiro suspirar enquanto o meu pai parecia ter-se tornado numa estátua.

- A Isabel tinha a tua idade quando foi caçada. – Charlie disse saindo do seu estado pétreo. – Caçada por um vampiro chamado James.

- Ele era loiro e os seus cabelos eram bem compridos. – Descreveu Carlisle sentando-se no lado oposto a mim. – Na altura, achámos que seria impossível pará-lo, mas conseguimos porque o Pai entreviu e a Mãe usou magia para que a ordem fosse cumprida.

- Vivemos tempos difíceis nessa época. – Disse Charlie. – Sempre com medo de que um passo em falso nos levasse à ruína. E isso durante, pelo menos, três ou cinco meses, até o meu pai ter metido guardas de Volterra… Os da sua confiança, claro!

- Foi novamente o Demetri colocado ao barulho, o seu talento para encontrar as pessoas ajuda imenso em certos casos. – Carlisle entreviu. – Acabámos por encontrar o James, mas não o matámos! O pai dizia que não podíamos abusar do nosso poder porque o tínhamos, e se queríamos continuar na clandestinidade, tínhamos que o fazer.

- Erro nosso! – A voz de Charlie estava novamente repleta de uma fúria antiga. – Devíamos ter feito como o Angel sugeriu na altura. Castigá-lo, fazê-lo sofrer e matá-lo!

O plano, assim de repente, soava ligeiramente melodramático. Totalmente à Angel. Devo admitir que, no fundo da minha mente, o monstrinho aprovava o plano, era simples e eficaz. Sabia que se tratava do meu instinto de sobrevivência a “falar” mais alto, mas nada me impedia de achar realmente que o plano era bom.

Mesmo tendo dito a Edward que estava bem, não estava. Sentia o meu corpo a ficar adormecido, mas não conseguia fechar os olhos e encontrar descanso na inconsciência; era como estar presa à realidade, todos os pensamentos entravam na minha mente mas não faziam sentido nenhum. As coisas que me passavam na mente revolviam as visões que eu tivera, não eram minhas, eu tinha a certeza, esse não era o meu dom, nunca fora nem nunca seria. O que só podia significar uma coisa…

- Bella? – Edward chamou-me e só então percebi que tinha uma lágrima a escorrer-me pelo canto do olho. – Shhh… Já passou.

Não percebi de onde veio ou sequer porque é que comecei a chorar, eu geralmente não me mostrava emotiva, por nada neste mundo, em frente a outras pessoas e, no entanto, aqui estava eu lavada em lágrimas.

- Já passou… Por favor, não chores. – Edward continuava a sussurrar-me ao ouvido, tentando acalmar-me. – Vai tudo ficar bem, nós vamos resolver tudo.

- O Edward tem razão, querida… - Charlie disse ajoelhando-se à minha frente. – Nós não vamos cometer o mesmo erro duas vezes e vamos tratar de tudo antes que o James se chegue a aproximar de nós.

Larguei Edward e abracei-me ao meu pai, não me importando quando ele hesitou em colocar-me as suas mãos nas minhas costas. Era novamente uma menina pequena que acordara de um pesadelo mas, infelizmente, o pesadelo agora era real… ou pelo menos iria se tornar. Estes pensamentos trouxeram de volta uma sensação que eu não esperava sentir aqui em Forks, não estando ela tão longe, foi isso que me fez afastar-me de Charlie e levantar-me.

Dirigi-me novamente à porta da rua, sentindo-me estranhamente confiante, mesmo sabendo que o meu futuro estava confuso (demasiado confuso), neste momento. Quando estava no pórtico, apoiei-me na coluna de madeira logo no topo das escadas com uma mão e fiquei a olhar para as árvores que rodeavam a casa, pouco depois senti Edward colocar-se ao meu lado.

- Bella, o que… - Ele começou.

- Demoraste! – Exclamei para a escuridão não o deixando dizer mais uma palavra. – Julguei que não virias… Pelo menos não agora.

Fixei o meu olhar num espaço entre as árvores, não via ninguém lá mas sabia que estava a chegar. Novamente o vento fez-se sentir, mas agora a sua direcção mudara, vinha da floresta e trouxe o cheiro da terra e das plantas e ainda mais dois cheiros doces. Edward aproximou-se mais de mim, puxando-me para trás ligeiramente de modo a que eu ficasse ligeiramente atrás dele.

- Não esperavas que eu viesse em velocidade expresso, pois não? – Uma voz feminina saiu de entre as árvores, como um sussurro do vento. – Não se pode esperar uma grande velocidade daquele que nem sequer é o mais rápido da família.

De repente, surgiu um vulto no meio das árvores, obviamente eram duas pessoas, mas não lhes conseguia ver a cara. Um dos vultos era da minha altura, enquanto o outro poderia facilmente ser da altura de Edward. Os dois vultos aproximaram-se mais da casa e quando entraram na zona de luz emitida pela casa, pude finalmente ver-lhes o rosto.

Eram um homem e uma mulher. A mulher não passava de uma jovem da minha idade, os seus longos cabelos ligeiramente ondulados eram louros, a sua pele era pálida, tal como a minha, mas a pele dela tinha um tom ligeiramente mais bronzeado, os seus olhos eram do mais profundo tom de azul, como o azul do céu de um dia soalheiro. Reconheci-a facilmente. O homem era alto, bastante alto, e musculado, quase tanto como Emmett; o seu rosto era imensamente belo, uma expressão calma, no entanto, desafiadora; os seus cabelos eram curtos e castanhos, todos os seus traços eram rectos e angulares. De um modo engraçado, o seu rosto fazia-me lembrar o rosto de Edward, mas o que me espantou foi a cor dos seus olhos, eram vermelhos. Edward deve ter reparado no mesmo que eu, pois muito repentinamente o seu lábio superior recuou sobre os seus dentes brancos e ele soltava rosnados do fundo da sua garganta.

- Ui… Acalma aí a besta, Bells. – A rapariga loira que chegara com o novo vampiro disse. – Olá para ti também, Edward! Mas isso não é modo de cumprimentar a tua cunhada!

- Edward. – Chamei-o pondo-lhe a minha mão no seu ombro e tirando-o do seu transe. – Esta é a minha irmã gémea, Anabella Swan.

- Ou como muitos me chamam e eu prefiro, Ana! – Ela disse aproximando-se de nós. – Muito prazer.

Edward assentiu com a cabeça, mas não retirou os seus olhos do vampiro recém-chegado, nem ele retirou os seus olhos carmins do meu vampiro. Obriguei-me também a olhar para ele e a sua mente invadiu a minha. Os meus olhos não abandonaram a figura demasiado quieta do vampiro que viera com a minha irmã, mas eu tinha a sensação de que não o via a ele realmente.

Na minha mente, vindas da mente dele, passavam imagens que me eram estranhas. Via Edward vestido com roupas antiquadas, de outra época, sempre acompanhado pelo homem na nossa frente; reparei, naquelas imagens, que Edward tinha os olhos verdes e que os olhos do homem eram exactamente da mesma cor que os de Edward, o mesmo verde-esmeralda que me tirava o fôlego. De repente, as imagens mudaram e Edward e o homem já não estavam sozinhos mas acompanhados por duas mulheres (mesmo não passando de imagens na mente de um estranho, quando a estranha mulher que surgiu abraçada ao meu Edward, senti o ciúme incendiar-me as veias); quando me apercebi de quem eram as mulheres (especialmente a que se abraçava a Edward), o meu sangue congelou, ela estava vestida nos mais belos e simples trajes daquela época, mas isso não dificultou que eu percebesse quem ela era quando o vampiro se focou na cara dela… era eu.

- Edward?! – A voz do vampiro trouxe-me de volta das imagens. O seu rosto já não ostentava realmente a expressão desafiadora, parecia que agora usava uma expressão extremamente sofrida, como se lhe estivessem a bater. – És mesmo tu?

Olhei para Edward e reparei que o seu rosto estava surpreso, a sua mente estava a mil, não conseguia compreender nada do que ele estava a pensar. Reparei que ele não ia responder ao estranho.

- Quem és tu? – Perguntei voltando a olhar para o vampiro, que virou o seu olhar na minha direcção.

- Bella… - Ele disse suavemente, questionei-me como poderia ele saber o meu nome. – Chamo-me Joe… Joe Masen.

Foi como se me caísse um balde de água fria em cima. Ele tinha mesmo dito Masen? Mas… Masen era o apelido de Edward! O apelido dele de quando ele era humano… como poderia…

- Bella! – A voz de Charlie chamou, olhei para Ana, não fazia ideia se o pai sabia que ela viria… O mais provável era ele já saber e não me ter dito… O costume! Claro que a cara que ele fez quando a viu, me disse exactamente o contrário. – Ana?

- Olá, papá! – Ela disse e no momento a seguir, ele estava ao lado dela a abraçá-la. – Ai! Papá, tão apertado não! Olha a minha roupa.

Não pude evitar revirar os olhos, era tão Ana. Sempre preocupada com as suas roupas e a moda… Dizer que havia coisas que nunca mudariam era simplesmente verdade em relação à minha gémea.

Não percebi quando é que as coisas tinham mudado, mas, num momento, eu estava no topo das escadas a ver a minha irmã a ser “esmagada” pelo nosso pai e, no outro, eu estava a ser “esmagada” juntamente com ela no abraço do nosso papá.

- As minhas duas princesinhas. – A voz do meu pai praticamente denotava o choro que eu tinha a certeza que ele estava a tentar conter. – Finalmente aqui comigo.

Olhei para Ana que no outro braço do meu pai respondia ao meu olhar, os seus olhos azuis brilhavam e eu sabia que também os meus olhos estavam assim… à beira das lágrimas!

Ok! Admito! Ana e eu não podíamos ser mais diferentes! Desde a cor dos cabelos aos nossos gostos, nós só tínhamos de igual o facto de termos o mesmo tipo sanguíneo, sermos filhas dos mesmos pais, sermos as duas bruxas e termos nascido no mesmo dia! Só isso… Nada mais… Ela amava compras… Eu detestava… Ela era uma rapariga de festas… Eu contentava-me com um livro junto à lareira… Ela queria atenção. Eu gostava do anonimato. A noite e o dia, como a Avó costumava dizer. A Ana, radiante e festiva como o dia; eu, silenciosa e calma como a noite. Mas naquele momento, éramos totalmente iguais.

- Papá! – Dissemos as duas ao mesmo tempo desfazendo-nos em lágrimas enquanto nos abraçávamos a ele com muita força.

Senti os lábios de Charlie tocarem-me no topo da minha cabeça e senti algo molhado a tocar-me nos cabelos. Ergui o meu rosto da sua camisa e vi algumas lágrimas escorrerem-lhe dos olhos, isso só trouxe mais lágrimas aos meus!

- Vamos para dentro? – Ouvi Esme perguntar. Só então me apercebi de que todos os Cullen tinham vindo ver o que se passava.

Charlie assentiu e puxou-me a mim e a Ana, ainda cada uma de nós sob a protecção dos seus braços, para dentro de casa. Íamos a passar a porta quando me livrei dos braços do meu pai, lembrando-me de que não iria para dentro sem ele! Voltei-me para a rua e em três passos rápidos juntei-me a Edward que ainda olhava para o vampiro que se dizia chamar Joe Masen.

Os olhos verdes de Edward estavam presos nos vermelhos de Joe, algum sentimento que eu não conseguia reconhecer passeava pelos olhos de ambos e eu sabia que ao olhar para os olhos de Joe, eu devia ter medo! Quer Edward estivesse aqui ou não, eu devia ter medo, era o racional (e então, eu também deveria ter medo de Edward e, no entanto, eu não tinha), mas eu não tinha.

- Edward. – Chamei-o tocando-lhe no braço, só então me apercebendo de quão a minha voz estava afectada pelas lágrimas. – Vamos para dentro.

Os seus olhos desviaram-se de Joe e levou um segundo para que a emoção desconhecida nos seus olhos mudasse para uma emoção de tristeza, quando ele levou a sua mão ao meu rosto e me limpou uma pequena lágrima do canto do olho é que percebi a tristeza do seu olhar, ele não gostava de me ver chorar.

- Shhh… - Ele sossegou-me enquanto me abraçava. – Não chores.

Não tinha bem noção se ainda tinha lágrimas a escorrerem-me dos olhos, mas sentia-me muito mais relaxada só por ele ter os seus braços à minha volta. Ele levou-me para dentro e antes que estivéssemos na sala de estar junto dos outros…

- Joe! – Ana chamou, a sua voz também estava embrenhada com lágrimas. – Vem para dentro! Temos que explicar as coisas que se estão a passar.

Os braços de Edward apertaram-se mais ao meu redor e ele apressou-se a levar-me para junto do meu pai, sentando-se no braço do sofá ao meu lado de modo protector. Os seus olhos seguiam Joe com muita atenção.

- Não te queres sentar? – Perguntou Esme olhando para o vampiro com um tom cuidadoso. – Seria mais confortável…

- Estou bem de pé, minha senhora. Mas agradeço a hospitalidade. – Respondeu ele, o seu tom muito gentil e cavalheiresco, algo que eu não julgava combinar com a sua expressão desafiante.

- Ana… - Comecei, desviando lentamente o meu olhar de Joe para olhar para a minha gémea em busca de respostas.

- Eu estive à espera dele em Salem! – Ela respondeu-me. – Não sabia quem ele era… Quer dizer, sabia mas não estava muito certa de que fosse mesmo verdade. Sabes que as minhas visões são na maior parte das vezes verdadeiras… Depende do que quem estiver envolvido pode vir a decidir muito drasticamente que não nos faça seguir esse rumo. Mas ele estava decidido a vir para Forks! Bem… Não bem para Forks…

- Eu… esperava atravessar esta zona apenas para voltar para casa. – Joe disse chamando-me à atenção. – Eu estava de retorno a Chicago! Precisava de procurar pistas para encontrar a minha família.

- E quem é a tua família, rapaz? – Perguntou Carlisle, não percebi o olhar no seu rosto, mas parecia que ele reconhecia o vampiro de qualquer lado. – Há quanto tempo és um vampiro? O que te lembras da tua vida humana?

Joe olhou para o médico e a minha mente foi novamente invadida pelas estranhas imagens… Pareciam memórias, mas a dor que as circundava era terrível. – Dr. Cullen… Eu… Eu fui transformado em 1918 em Chicago! Durante o surto de Gripe Espanhola.

- Estavas doente? – A voz de Esme estava preocupada e eu apanhei o olhar que ela lançou a Edward.

- Não te preocupes, mãe… Estou bem, isso não me incomoda. – Edward disse tentando sossegar Esme das suas preocupações.

- Que eu me recorde… Ainda não tinha contraído a doença. – Joe disse, olhando fixamente para Edward e para mim. – Mas já estava só no mundo. Eu era casado… A minha esposa contraiu a doença e faleceu alguns meses antes de eu ser transformado, retornei para junto dos meus pais, do meu irmão e da sua futura esposa nessa altura. – A sua voz estava distante e sofrida… como se ele estivesse a vivenciar tudo novamente. – Foi também nessa altura em que todos ao nosso redor começaram a adoecer… Primeiro o meu pai, depois os pais da noiva do meu irmão… Em seguida, a minha mãe, depois a noiva do meu irmão e, por último, o meu irmão. Antes de a minha mãe cair na cama doente, o meu pai e os sogros do meu irmão faleceram, quando a minha mãe adoeceu, ficámos os três, o meu irmão, a minha futura cunhada e eu, desesperados… Depois a noiva dele adoeceu e acabou por falecer antes da minha mãe...

- Lamento imenso pela tua perda… - Sussurrei, não pude deixar de sentir-me afectada por aquela história.

Joe olhou-me novamente, os seus olhos carmins a brilharem com lágrimas que eu sabia que ele não podia derramar. – Depois de a minha cunhada falecer, o meu irmão, que já tinha contraído a doença mas que ainda estava em bom estado, deixou-se vencer pela gripe… - Ele dirigiu o seu olhar para Carlisle. – Foi o senhor que estava a tratar dele e da minha mãe.

- Elizabeth… - Carlisle sussurrou, a sua voz tão baixa que era difícil de perceber.

- Sim… Ela pediu-lhe que salvasse o meu irmão! E foi o que o senhor fez, o senhor cumpriu a sua promessa! – Os olhos de Joe ardiam com gratidão… Subitamente, eu podia jurar que os seus olhos eram fogo puro, - Nunca lhe poderei agradecer o suficiente por isso! Por o ter salvado.

Todos ficámos em silêncio a digerir as palavras de Joe, a sua história era tão… triste. Mas… quem era o seu irmão?

- Espera! Espera! – Emmett disse. – E o que é que nós temos a ver com isso? Que eu saiba…

- O Carlisle transformou-me em 1918! – Edward disse interrompendo Emmett. – Eu estava a morrer com a Gripe Espanhola… A minha família já tinha morrido… menos… o meu irmão.

Todos olhámos para Edward, eu via nos seus olhos a dor que aquele assunto lhe trazia e também a mim me doía que ele estivesse a sofrer. Toquei-lhe na mão e ele olhou para mim.

- Mas não me recordo de ter tido nenhuma noiva! – Ele afirmou desviando o seu olhar para Joe.

Não tinha percebido o efeito que aquela informação tinha em mim, mas apercebi-me no momento em que Edward proferiu aquelas palavras trazendo de volta a imagem da mulher que se parecia comigo mas vestida nos trajes do início do século XX. Era uma espécie de dor, uma mistura de inveja com traição e ciúme… Eu não era a primeira mulher que entrara na vida de Edward, eu não deveria chegar sequer aos calcanhares daquela que fora o seu primeiro amor.

- Quem era ela?! – Exigi de Joe, a minha voz estava áspera, eu sabia que se devia à mágoa de saber que houvera outra mulher antes de mim. – Podes dizer-me?

- Bella, por favor… - A voz de Edward parecia tão distante agora… não conseguia sentir-me afastada das memórias de Joe.

- Não, Edward! – Foi Ana que o interrompeu. – Ela merece saber, não achas? E já agora… Tu também.

- Tu. – Foi a resposta final de Joe, olhando firmemente para mim.


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