Escape escrita por Miaka


Capítulo 2
Starting everything with you


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Primeiramente muito obrigada a todos que leram o primeiro capítulo e deixaram review ou adicionaram marcadores! Fico feliz por terem começado a ler e gostado! ^__^
Agora finalmente a fic vai começar a tomar forma! Fiquei bastante feliz de introduzir um personagem de suma importância para a fic e que eu adooooro.
Devo ressaltar que eu sou meio chata e mantenho honoríficos, então, optei por usar a forma culta que o Hakuryuu se refere a certos personagens como Haha-ue e Ane-ue, respectivamente mãe e irmã mais velha.
Enfim, espero que curtam! ^__^



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O enorme portão se abriu para dar licença à luxuosíssima BMW M3 de cor preta. As duas laterais se abriram, essas que seguiam no mesmo formato das altíssimas grades brancas de extremidades pontiagudas como lanças que protegiam aquela verdadeira fortaleza.

Dois homens de terno, cada um em uma guarida em cada lateral do portão deram um sinal positivo à entrada daquele que não podiam ver o rosto que era oculto pelo mais forte insulfilm.

De fato, não havia necessidade de verem para saber quem estava por trás dos vidros blindados daquele veículo.

Adentrando com toda a velocidade, ele percorreu a estrada que era envolta de um belíssimo jardim de cerejeiras que caíam pelo caminho chegando a fazer túneis. Mas quem dirigia não parecia querer apreciar aquele cenário.

Seguindo com pressa, logo avistava a belíssima mansão a qual estranhou ter as luzes todas acesas àquela hora.

– Que estranho! - bocejando, o homem que estava do lado do carona comentava. - Será que aconteceu alguma coisa?

– Eu espero que não. - aquele que dirigia suspirou, lembrando-se das inúmeras chamadas que não atendera em seu celular no decorrer daquele dia.

Com uma precisão perfeita, cantando os pneus, ele deu a volta naquele chafariz enorme para parar bem defronte às portas.

– Meu irmão, se continuar dirigindo assim, vou ter que vir de taxi dá próxima vez!

Saia do carro um ofegante homem de longos fios ruivos presos em um alto rabo de cavalo. De rosto maltratado e marcado pela acne que o perseguia mesmo após ter saído há tantos anos da adolescência, ele reclamava após bater a porta.

– Seria um favor se não me acompanhasse e me perturbasse.

O elegante homem também de cabelos ruivos, mas repicados dando um aspecto mais brando à expressão carrancuda que os traços grossos o davam, ativava o alarme do carro antes de guardá-lo junto às chaves no bolso do terno risca-de-giz preto.

– Diga isso quando não precisar de mim para traçar os riscos de nossos investimentos. - nitidamente magoado com as palavras tão frias de seu irmão mais velho, ele o seguia pelas escadas que levavam à entrada principal. - Fora que devo lembrar que não deviamos nem andar sem seguranças por aí a essa hora da noite!

– Creio que quem deva andar com seguranças é quem pensar em nos atacar. - Kouen terminava de bater a mala do carro após tirar dali uma maleta a qual levava consigo.

Já que sua chegada já havia sido anunciada, foi apenas terminar de subir aqueles cinco degraus que levavam à enorme varanda que precedia as duas portas de mogno trabalhadas para que estas se abrissem e os recepcionassem.

– Boa noite, Kouen-sama! Koumei-sama!

Ignorando o cumprimento do serviçal, Kouen seguia altivo. Koumei apenas meneou a cabeça. O mais velho seguiria direto para seus aposentos. Estava exausto. Havia sido um dia extremamente tenso e sua cabeça latejava.

– MEU QUERIDOOOO!!!!

Aquela voz aguda ecoou por todo aquele salão. O ruivo ergueu a cabeça para encontrar aquela belíssima mulher que surgia aos prantos. Corria pelo mezanino e se aprontou em descer as escadas nas pontas dos pés descalços. Ela vestia um robe de seda vermelho, desalinhado a ponto de deixar exposto o enorme decote da camisola rendada da mesma cor.

Assim que terminou de descer as escadas, ela praticamente se atirou em Kouen que permaneceu imóvel ao sentir as suaves mãos de longas e bem feitas unhas apalparem seu peito.

– Meu filho queriiiido! Por que não me atendeu o dia todo? - ela praticamente urrava.

– O que aconteceu? - Koumei estava preocupado.

– Gyokuen-sama! - uma das criadas descia acompanhada de outras.

– Foi… foi uma tragédia! Eu… eu estou tão abalada com isso tudo! - a mulher tremia de forma teatral, Kouen sabia muito bem.

– O que aconteceu? - perguntou o ruivo sem ao menos tocar naquela que o abraçava.

– Ah, meu filho favorito… - a mulher tentava secar os cantos dos olhos azuis. - Foi... seu irmãozinho…

– Hm? Kouha? Aconteceu algo com ele? - ele arqueou uma sobrancelha.

– Na-não… digo… meu pequeno Hakuryuu… - Gyokuen soluçava.

Hunf. - Kouen suspirou, aquele era o nome de uma antiga dor de cabeça. - Qual o problema dessa vez? Onde ele está?

– Ele… ele fugiu, meu amor! Ele foi embora depois que… depois que tentou me matar!!!!

–x-

Judal dirigia noite adentro se perguntando o que faria. Hakuryuu certamente tinha como ir a um hotel luxuoso, mas… Já estava se envolvendo demais com ele e Judal mesmo não teria como arcar com qualquer gasto. Batia as pontas dos dedos no volante, a angústia lhe trazendo uma vontade incontrolável de consumir a única coisa que lhe acalmava quando a angústia falava mais alto.

– Tsc, merda!

Não tinha mais como se conter. Tirou de dentro do porta-luvas do carro um dos inúmeros cigarros de maconha que já tinha preparado ali. A urgência de se acalmar à base de um entorpecente era mais forte do que qualquer coisa.

Ligou o acendedor do carro e se preparou para pôr fogo naquela erva enrolada numa folha branca. Foi quando rapidamente olhou de canto aquele que dormia profundamente ao seu lado, coberto pela jaqueta de Judal como se fosse um edredom.

– O que você quer dizer com “tentei matar minha mãe? - Judal indagava desviando sua atenção do trânsito ao rapaz ao seu lado.

– Tsc, não é da sua conta! - Hakuryuu farfalhava os fios azulados, estava trêmulo ao se lembrar.

Claro que é da minha conta! Sabe em que encrenca pode ter me metido? Na verdade nem eu sei! - Judal estava ficando impaciente.

Ok, então chega! - o mais jovem soltava o cinto. - Pare aqui mesmo, eu vou embora e você está livre!

Que está dizendo?! - ele arregalou os olhos rubros.

– Se não vai parar, eu vou abrir a porta aqui mesmo e pulo, ok?

Hakuryuu parecia falar sério.

Um tanto quanto intimidado com a determinação que via nos olhos daquele rapaz, Judal imediatamente encostou o carro. Estavam em uma estrada afastada.

Assim que o carro parou, Hakuryuu saiu e começou a seguir o caminho de volta pelo lugar mal-iluminado.

– Oe! Oe, Hakuryuu!

Um apressado Judal seguia atrás dele. Aquele garoto que mal sabia atirar, que nunca havia nem chegado perto de uma droga, com certeza não sobreviveria uma noite largado em uma estrada à beira de um matagal - e bonito como era, Judal pensou balançando a cabeça para desanuviá-la daquele pensamento que ele mesmo considerou "estranho". - , ainda mais após uma quase-overdose.

– ME DEIXA EM PAZ! - esbravejou Hakuryuu largando a jaqueta do moreno que percebia ainda estar consigo. - SAI DAQUI! VOCÊ É OUTRO CACHORRO DO KOUEN!

Q-quê? Eu não tenho nada a ver com o Kouen...

Em passos largos, seguiam pela estrada até que, impaciente e mais rápido, Judal o ultrapassou, deu a volta e o puxou pelo braço. Sendo mais fraco, Hakuryuu não tinha muita saída.

– ME SOLTA! - esbravejou.

Vamos voltar! Está louco? Eu estou tentando te ajudar!!!!

E diante de palavras tão sinceras, Hakuryuu fraquejou por um instante. O mais velho notou que ele tremia. O que havia acontecido afinal?

Os olhos azuis desviaram. Não queria encará-lo. Levando a mão livre até a cabeça, Hakuryuu usou a outra para se equilibrar no moreno ao sentir uma leve vertigem.

– Tsc, por que não entendeu ainda que eu só estou querendo te ajudar?

– Porque… nunca ninguém me ajudou…

Aquele sussurro foram as últimas palavras de Hakuryuu, que foi conduzido mais uma vez de volta ao carro por Judal, que após deixá-lo de volta no lado do carona, voltou para pegar a jaqueta deixada no chão. Adentrou o veículo e fitou o rapaz que tinha a cabeça pendurada para a lateral oposta a ele. Já havia caído em um sono profundo.

Judal cobriu o corpo de Hakuryuu com a jaqueta e desejou que ele não acordasse até o fim de seu trajeto que não tinha um destino certo.

E ali ele estava diante de seu prédio. O que estava fazendo levando Hakuryuu para ali? Se havia cometido algo contra sua mãe, se estivessem atrás dele… se Kouen estivesse atrás dele, estaria se metendo em sérios problemas. Podia não conhecer a fundo aquele homem, mas não era novidade alguma que ele era um chefe da máfia.

Estacionou na vaga de costume e sacudiu de leve o moreno ao seu lado.

– Hakuryuu… - ele sussurrou. - Oe, Hakuryuu, chegamos!

Nada. Hakuryuu nem ao menos movia um dedo. Judal chegou a se preocupar e procurou sentir o pulso do rapaz tocando em seu pescoço à procura da jugular. Respirou aliviado ao ver que ele estava vivo. E por que não estaria? Não era tão fraco assim, não é? Sorria ao encará-lo.

– Hakuryuu! - ele chamou mais alto. - Tsc, não acredito que vou ter que fazer isso...

Saiu do carro e deu a volta para abrir a porta do carona, soltando o cinto dele e cuidadosamente o tirando dali. Judal se surpreendeu, Hakuryuu era bastante leve. Carregou-o em seus braços e com a perna bateu a porta da 4x4 vermelha.

E talvez pela proximidade agora de tê-lo ali em seus braços, Judal conseguia sentir o perfume de Hakuryuu em meio ao cheiro da bebida. Tão suave, pensou antes de sacudir a cabeça e seguir com ele para o elevador. Ele agradecia por já passar de uma hora da manhã e ele não ter que explicar porque estava levando um homem desacordado em seus braços para seu apartamento.

Assim que chegaram ao décimo andar, Judal seguiu pelo corredor cujas luzes foram se acendendo ao detectarem sua presença. Apoiou Hakuryuu em seu ombro para tirar do bolso da calça as chaves. Assim que abriu o lugar e pôs o rapaz para dentro, Judal trancou a porta e acendeu as luzes da sala.

O apartamento de Judal era bastante amplo. Traficando desde os 15 anos ele havia conseguido juntar bastante dinheiro para comprar um apartamento naquela área privilegiada da cidade e com uma vista deslumbrante. Decorado de forma sóbria e clean, a sala era dividida com uma cozinha americana que mal era usada, afinal, vivia comendo no refeitório da universidade ou em algum restaurante. Nitidamente Judal mal “morava” naquela casa, usava-a apenas para dormir.

Voltou a capturar Hakuryuu em seus braços e seguiu pelo corredor até um dos dois quartos que haviam na casa.

Conduziu-o até a suite principal e seguiu até a cama king size, depositando-o cuidadosamente ali. Tratou de apoiar sua cabeça em dois travesseiros e aproveitou do fato de ele estar dormindo profundamente para tirar o relógio de pulso caríssimo que ele usava e deixá-lo sobre o criado-mudo. Desabotou os primeiros botões da camisa azul que Hakuryuu usava e tirou seus sapatos, querendo deixá-lo mais confortável.

Foi quando apalpou os bolsos da calça dele e dali tirou o celular e a carteira, a qual imediatamente abriu e arregalou os olhos ao ver muitas notas altas e vários cartões de crédito quando chegou na identidade do rapaz.

– 18 anos… - Judal sorriu de canto. - Tenho dois anos a mais que você, mas na sua idade eu já tinha matado muita gente e usado muita coisa… - lamentou melancólico. Largou a carteira do rapaz sobre a superfície em mogno para mexer em seu celular que não contava com nenhum bloqueio. - Hm? - passava as diversas fotos de plantas. - Você gosta de flores, então? - sorriu. - Você é realmente estranho, Hakuryuu. - concluiu com um sorriso. - Bem, vou deixar você dormir e amanhã de manhã eu invento para a Kougyoku que te larguei no caminho.

–x-

Na mansão dos Ren, a matriarca daquela família ainda se debulhava em lágrimas, a cabeça apoiada ao peitoral do ruivo que era bem mais alto que ela. As mãos sutilmente adentravam à abertura do terno risca-de-giz de forma bastante íntima, o suficiente para Kouen compreender o que aquela mulher queria.

– E onde Hakuryuu está? - Kouen dizia tirando a mão dela que ia apalpando seu peito.

– Não… não sei! - a mulher gaguejava numa entonação dramática. - Meu pequeno Hakuryuu! Eu o amei tanto, meu filho! Dei tanto amor a ele! Por que isso?

– Gyokuen-sama!!!

Uma das empregadas trazia apressada um copo d’água sobre uma bandeja de prata. A morena o pegou trêmula e levou até os lábios.

– O que houve realmente aqui? - foi a vez de Koumei se dirigir à empregada.

– Koumei-sama. - a moça segurou firmemente a bandeja redonda contra seu corpo. - Hakuryuu-sama teve uma discussão muito séria com a Gyokuen-sama depois que ele voltou da faculdade porque…

– Não importa! - Kouen interrompeu. - Todos aqui forma testemunhas de que Hakuryuu atacou a sua mãe, certo?

Todos os empregados que estavam no recinto se entreolharam. Não ousariam negar. Assentiram prontamente para o ruivo que suspirou.

– Ótimo! É a oportunidade perfeita para internarmos o Hakuryuu em um sanatório. Já chega de toda essa palhaçada!

– Mas… mas… Kouen! - Gyokuen chorava mais. - Não diga isso! Meu menino, ele… Meu deus, será que não tem jeito mesmo? - a bela mulher cobria o rosto com uma das mãos. - Meu filhinho enlouqueceu! Pobrezinho! Tudo depois que… que Hakuyuu e Hakuren morreram! Ele nunca mais foi o mesmo depois daquele acidente...

– Não é de hoje isso! Já estou cansado dos problemas que esse garoto nos traz! Já temos testemunhas o suficiente com os criados. Sendo assim logo faremos a interdição e o jogaremos numa clínica para doentes mentais! - Kouen disse autoritário.

– Você… você tem razão, meu filho… - Gyokuen soluçava.

– Quando Hakuryuu aparecer, me chamem imediatamente! - ordenou aos empregados.

– Kouen, eu tenho medo!

O ruivo se surpreendeu quando a mulher a sua frente segurou firmemente as laterais de seu terno e o encarou, os olhos azuis brilhando enquanto ela mordiscava o lábio inferior.

– Tenho medo do Hakuryuu aparecer e… e querer me atacar de novo! - ela fingia novamente o choro. - Durma comigo, meu querido. - uma das mãos era levada até a lateral do rosto de Kouen. - Só vou dormir em paz se estiver sob sua segurança!

Kouen sabia muito bem o que aquilo significava. Koumei, que evitou cruzar olhares com seu irmão mais velho, idem.

Se existia algo que os Ren sabiam muito bem era que, na vida, tudo tinha um preço. E o preço de herdar as empresas que eram originalmente de seu tio, Kouen não só tinha se submetido a ser “adotado” pela mulher que era sua tia.

Satisfazer sexualmente Ren Gyokuen era um afazer tão importante quanto cuidar dos negócios relacionados ao tráfico de armas. Sendo ela tão bonita, não seria uma tarefa tão difícil se não tivesse de chamar de mãe aquela mulher tão perigosa e fingida, aquela que o levava para sua cama como uma cadela no cio.

– T-tudo bem… - não havia escapatória. - Eu durmo com você essa noite.

Não era novidade o que aconteceria. Não era necessario todo aquele fingimento. Todos os empregados ouviriam os gritos e orgasmos de Gyokuen, que não fazia o mínimo esforço para esconder que ia para a cama com seu filho mais velho.

– Que bom, meu amor!

Gyokuen abriu um largo sorriso, ficando nas pontas dos pés ao se pendurar no pescoço de Kouen. Seus lábios sutilmente roçando na curva da nuca daquele que seria seu homem aquela noite.

–x-

Hakuryuu chegava sorrateiro à mansão. Tinha medo de que o descobrissem.

Sem fazer o menor barulho fechou uma das enormes portas de mogno e partiu correndo para seu quarto escondendo em seu peito as capas dos livros de botânica que trazia consigo.

Teve sucesso em andar pé-ante-pé pelos degraus das escadas, passando pelo mezanino até chegar aos corredores que abrigavam os quartos. Seguiu até um dos últimos, o menor entre todos e abriu a porta, permitindo-se batê-la ofegante ao se perceber salvo, ao menos por aquele dia.

Apoiando suas costas na porta, ele abriu os olhos para dar de cara com ela. Ren Gyokuen. Sua mãe. Arregalou os olhos azuis de tons desiguais ao se ver descoberto e… ao vê-la ali.

– Hakuryuu, meu querido… - ela disse de forma melodiosa. - Que bom que chegou! Espero que goste da nova decoração que fiz no seu quarto! - a mulher sorria.

Foi quando Hakuryuu notou que seu quarto estava completamente diferente.

As duas enormes prateleiras de livros sobre botânica e biologia haviam simplesmente desaparecido. Não só elas, mas praticamente tudo o que ele costumava ter no quarto, incluindo…

– Anh? - ele deu um passo a frente encarando os criados-mudos, cada um de um lado da cama de casal no centro do quarto. - Onde… onde estão? - Hakuryuu encarava as paredes onde haviam dois murais.

Ah… eu compreendo. - Gyokuen cruzou os braços e cerrou os olhos tão azuis quanto os de seu filho caçula. - Hakuryuu, eu mandei jogar fora as fotos de Hakuyuu e Hakuren.

QUÊ?! - a interjeição de Hakuryuu saiu no meio de um soluço de descrença.

Você começa a faculdade de Economia esses dias, está numa nova fase da sua vida! As fotos deles só vão te prender num passado ruim, meu querido Hakuryuu. - ela se aproximava dele.

TSC, EU JÁ DISSE QUE NÃO VOU FAZER ECONOMIA! - Hakuryuu gritou enfurecido. - EU QUERO AS FOTOS DOS MEUS IRMÃOS AGORA ONDE ESTAVAM!

Pobrezinho… - a mulher afagou os fios azulados daquele que era mais alto que ela. - Isso ainda mexe tanto com você, Hakuryuu… - a mão deslizava pela cicatriz tão severa que cobria quase metade da face esquerda dele.

– ME SOLTA!!!! - o moreno virou de frente para sua mãe, ofegando ao encará-la. - Não tem o direito de mexer nas minhas coisas! Nem de opinar sobre meu futuro!

A fala do rapaz foi interrompida por uma risada alta que era abafada por trás da manga longa do vestido de seda cor-de-rosa que a mulher usava.

– Mas é claro que tenho! Afinal… se não fizer o que eu quero, quem sabe… - ela se aproximou mais sem temê-lo. - Eu posso matar a Hakuei também. - sussurrou.

Hakuryuu havia chegado ao seu limite. Não era a primeira vez que Gyokuen cogitava aquilo.

Arregalou os olhos ao ouvir aquela ameaça. A ameaça que comprovava a verdade. Ela havia matado seu pai e irmãos e por pura sorte ele mesmo havia saído vivo daquele incêndio criminoso que destruira a matriz da antiga empresa de sua família. Um belo dia em que Gyokuen havia ido fazer uma visita ao seu marido e filhos no trabalho levando, claro, o caçula que era tão amado por todos.

Não houve tempo para Gyokuen dizer mais nada. Os cinco dedos de Hakuryuu espalmaram o rosto de sua mãe sem nenhum dó. A morena se desequilibrou, quase indo ao chão, mas antes de isso acontecer, puxou a barra do longo vestido e expôs o coldre na coxa direita que armazenava uma pistola automática, sacada pela mulher na mesma hora.

Hakuryuu se assustou, mas não era algo tão surpreendente vindo de Gyokuen. Ela não hesitou em apontar a arma para aquele que estava a sua frente e permaneceu sem se mexer.

– E posso matar você também, Hakuryuu… - ela sorria de forma doce.

Você é louca… - Hakuryuu balançava a cabeça.

– O suficiente para ter matado seus irmãos e seu pai e agora… você. - a expressão dela era praticamente imutável. - Afinal, quem se surpreenderia se meu pobre filhinho, tão traumatizado com o acidente que matou seus irmãos, do qual nunca se recuperou, cometesse suicídio? Seria bem fácil dar um tiro na sua cabeça e por a arma na sua mão antes que os criados aparecessem, meu querido Hakuryuu.

POIS FAÇA ISSO! - ele a desafiou.

Estando disposta a mostrar a Hakuryuu do que era capaz, Gyokuen destravou a arma e apontou para seu próprio filho, o dedo sutilmente sobre o gatilho. Mais uma pequena pressão ali e pronto. Resignado e até mesmo aliviado, Hakuryuu cerrou os olhos. Estava pronto para receber aquela sentença. No fundo ele só conseguia se ver em paz assim mesmo, morto.

Foi quando ao ouvir os passos que vinham do corredor, Gyokuen rapidamente correu até Hakuryuu e depositou em sua mão aquela pistola. Sorrindo abertamente ela se afastou e se esparramou ao chão. Em seu rosto que até pouco sorria haviam as mais sinceras lágrimas e uma expressão de desespero.

– Hakuryuu!

A porta se abriu e revelou a irmã mais velha do rapaz que se impressionou ao ver a pistola que Hakuryuu tinha em mãos enquanto sua mãe estava ali, indefesa, aos prantos.

– HAKUEI! MINHA FILHA! - Gyokuen se arrastava até a moça.

Meu Deus, o que aconteceu?! HAKURYUU!

– Ane-ue! - Hakuryuu via o pânico refletido no rosto de sua irmã.– Você enlouqueceu? Está apontando essa arma para nossa mãe?! - ela tremia. - Meu deus, Hakuryuu, e a haha-ue disse tanto que você tinha mesmo perdido a razãoAne-ue! Não é nada disso! Eu…

– Chame a polícia, Hakuei! Por favor! O… O Hakuryuu…

– TSC, CALA A BOCA! - não havia paciência para ver o fingimento de sua mãe.

– JÁ CHEGA!

– HAKURYUU!

Hakuryuu saiu correndo daquele quarto levando aquela pistola ouvindo ainda o chamado de sua irmã que apelava por uma explicação, amparando sua irmã.

Desceu para o andar inferior rapidamente temendo ser acusado de algo. Não era novidade que sua mãe queria ver livre dele, afinal, Gyokuen havia tentado lhe matar.

Fugiu. Correu o mais rápido que pôde.

Fugiu como naquela noite na qual o fogo lhe rodeava. O mesmo fogo que consumira a vida de seus irmãos e que enterrara qualquer sentimento que um dia existiu por sua mãe em seu coração.

Os olhos azuis se abriram ao mesmo tempo em que ele se levantou abruptamente, sendo contido por duas mãos firmes que seguraram seus ombros na cama. Os lábios entreabertos não tiveram força para emitir aquele grito que ficou preso na garganta.

Ele suava frio só se tocando apenas depois de um tempo que era analisado pelos olhos vermelhos daquele que encarava preocupado a palidez em seu rosto.

– V-você… - ele gaguejou ainda ofegante.

– Acalme-se. Estava tendo um pesadelo só.

As mãos em seus ombros sutilmente o afagaram tentando lhe transmitir conforto. Hakuryuu ficou agradecido por ter aquele breve carinho. Mas onde estava? Encarou ao redor e se viu no quarto de um apartamento que nunca havia visto antes.

– O-onde estou? - Hakuryuu perguntou confuso.

– Na minha casa. - Judal respondeu. - Acabou adormecendo no carro e estava muito cansado. Te trouxe pra cá para que descansasse.

Hakuryuu ouvia aquilo um tanto quanto atordoado. Sua cabeça ainda latejava da ressaca e do abuso de drogas da noite anterior.

– Muito obrigado… - ele sussurrou sem encarar o rapaz.

– Não há de quê! Você é irmão da Kougyoku, certo?

– Primo… - ele corrigiu. - Somos primos, mas irmãos adotivos… - explicou.

– Entendi. - suspirou. - Deve ser bem louco ser irmão adotivo da sua prima, hein? - Judal se afastou um pouco e abriu um sorriso. - Bem, Hakuryuu, sinta-se em casa! Pode tomar um banho se quiser! Só não sei cozinhar então, pode pegar qualquer coisa na cozinha se tiver fome.

Os olhos azuis analisavam agora aquele que nem havia notado antes.

Ele tinha cabelos pretos presos em uma trança longuíssima que ia quase aos seus pés, era quase certo de que nunca havia cortado seu cabelo pelo tamanho. Os olhos vermelhos eram puxados para os cantos onde havia uma pequena quantidade de sombra rosada esfumaçada. O rapaz tinha um corpo atlético e bem mais forte que o dele, apesar de aparentarem ter quase a mesma idade.

– Ah, bem… não me apresentei ainda. - Judal riu coçando a nuca. - Sou o Judal.

Ele estendeu a mão para aquele que estava sentado sobre a cama lhe encarando de forma curiosa.

– P-prazer, Judal-dono, eu sou Hakuryuu.

– Judal-dono? - ele pendeu a cabeça para o lado antes de rir. - Hahaha me desculpe! Mas pode me chamar só de Judal, ok?

Hakuryuu corou um pouco se sentindo um pouco constrangido.

– T-tudo bem, Judal. - gaguejou ao desviar o olhar.

– Eu trabalho pra sua prima! - ele se sentou na beira da cama. - Ela deve ter ficado uma arara porque eu te tirei de lá!

Ao ouvir aquelas palavras que havia esquecido de ter ouvido na noite anterior, Hakuryuu estalou a língua, rapidamente se desfazendo do edredom que o cobria para sair daquela cama. A atitude inesperada dele surpreendeu Judal.

– O-oe, o que houve? - Judal indagou ao ver Hakuryuu pegando de volta sua carteira e seu celular do criado-mudo. - Eu te disse ontem que eu trabalho para a Kougyok….

– Você trabalha para eles! Eu estava louco mesmo para ir com você! Não tenho para onde fugir! - Hakuryuu respondeu angustiado enquanto calçava seus tênis.

– Do que você tá falando? - o jovem tentava entender aquela reação.

– Você trabalha para eles, para uma máfia! Logo não presta também! Vai me entregar para eles, é isso?! - encarou os olhos rubros. - Era só para me enganar?! Gyokuen pagou a você para me matar?!

– Eu jamais faria isso! Está louco?! Eu não tenho nada a ver com os negócios escuros da sua família!

– ELES NÃO SÃO MINHA FAMÍLIA! - Hakuryuu exclamou. - Eu só quero fugir! - o moreno farfalhou os próprios cabelos se entregando ao nervosismo. - Você quer quanto para me deixar fugir?! - os olhos azuis marejavam enquanto encarava o mais alto.

– E-ei, eu já disse que não tenho nada a ver!

– ME DEIXA FUGIR!

E abrindo a carteira, Hakuryuu tirou dali várias notas e as deixou sobre a mesinha que havia entre os dois.

– Posso te dar mais dinheiro! - ele tremia. - Podemos ir a um banco onde eu possa…

Hakuryuu estava tão consumido pelo desespero que não notou quando Judal se aproximou e subitamente o abraçou firmemente.

– OE, CALMA!

Judal sentiu o corpo mais frágil tremer sob o seu. O que havia acontecido com aquele rapaz, ele se perguntava enquanto Hakuryuu ofegava.

Não sabia como agir. Não sabia o que dizer.

A única coisa que podia fazer era proteger Hakuryuu de si mesmo ali. Virou-o de frente para si e o abraçou mais forte. Por que estava fazendo aquilo? Nem ele mesmo entendia, mas perceber que Hakuryuu se acalmava sob seus braços lhe deixava tranquilo.

Permanecendo ali ele pôde sentir o perfume que os fios azulados dele exalavam. Inebriante.

Enquanto que Hakuryuu permanecia com os olhos enormes, mas agora sentindo-se acalmar em um calor tão aconchegante. O que estava fazendo? Tinha de empurrá-lo de si, afastá-lo, mas… por que aquela sensação lhe desarmava completamente?

Os gritos ecoavam pela luxuosíssima suite. Havia tido pouco tempo para descansar entre uma relação e outra. Aquela mulher era simplesmente insaciável, cavalgando montada sobre o robusto corpo do ruivo. Ela quicava sobre o membro rigído dele sem descanso, jogando a cabeça para trás e desfrutando do momento maravilhoso. Kouen era muito melhor dotado que aquele homem vulgar que era seu pai e, claro, bem melhor também que seu ex-marido, Hakutoku.

Ela pressionava o pênis dele em sua vagina sentindo as mãos largas apalparem seus seios e deslizarem por sua cintura delgada. Não podia negar que, além de fogosa, aquela mulher era incrivelmente linda. Ambos chegaram ao ápice juntos e deixaram um gemido uníssono ressoar.

Exausta, mas sem perder sua elegância e o sorriso do rosto, Gyokuen apalpou o tórax daquele homem e se inclinou para lambê-lo.

– Você estava uma delícia, meu querido.

Kouen apenas desviou o olhar, constrangido. Como se após o frênesi daquele momento, voltasse a si e caísse naquela realidade tão absurda.

– Bem, ainda bem que já acabamos. - ele sutilmente a empurrou para o lado tirando-a de cima de si. - Tenho que ir para o escritório. Koumei já deve estar me esperando lá embaixo.

– Mas… mas… - ela engatinhou pela cama. - e se Hakuryuu aparecer?

– Me ligue. Hoje mesmo farei o necessário para a interdição dele. - Kouen se dirigia ao banheiro da suite.

– Mas… mas se ele vier disposto a me matar, meu Kouen? - ela fingia desespero abraçando seu próprio corpo nu.

– Então… - o ruivo se virou para ela e a encarou de forma séria. - Mate o Hakuryuu.


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Notas finais do capítulo

Uffa! Peço desculpas por ter sido tão comprido! É que realmente precisava esclarecer algumas coisas! Espero que tenham gostado! Comentários, críticas, sugestões, não deixem de enviar review! Muito obrigada por lerem! ^__^