The Rebellion escrita por Vicky


Capítulo 9
Snow Globe


Notas iniciais do capítulo

Primeiro de tudo, antes mesmo de dar oi para vocês, eu peço desculpas se o capítulo ficou muito grande!Não tinha como eu separar em dois, ficaria sem sentido, então deixei tudo em um só.
Se ficou cansativo me desculpem, sério. ♥
É bem provável que o próximo tenha esse tanto de palavras também.
Agora: HEY GALERIS!Como vão?Hein? XD
Aqui vai mais um capítulo, que eu demorei um século pra escrever por falta de criatividade.
Enfim, espero que gostem!♥
Boa Leitura, meus Dixoners! (isso existe? XD)



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— O - o que você disse, filha? – Ash parecia meio grogue de sono.

— Foi o que você ouviu: eu achei o meu maldito pai.

Ashton tentou se endireitar na cama limpa, percebendo que o lugar onde nos localizávamos era totalmente estranho. Fez uma careta.

— Avalon, - O olhei, minha cabeça estava tão bagunçada que eu não conseguia raciocinar direito – o que diabos está acontecendo? Onde estão Raj e os outros?

Não está nem um pouco interessado na minha vida, não é? Saquei.

— A droga, você não se lembra de nada?

O velhote fez mais uma careta. Eu não quero explicar. O homem, então, começou a lutar para se levantar logo sendo impedido por mim. Quando toquei seu braço senti o frio de seu suor. Ele estava apavorado.

— O que é isso? Você quer morrer? – Perguntei, ainda com a voz um pouco rouca, eu não estava assimilando o que tinha acabado de acontecer; quero dizer sobre papai — Se o teu braço cair não me culpe depois.

— Onde estamos? Que lugar é esse?

— Eu não sei, não por completo, mas parece um tipo de refúgio. Acho que se chama...Alexandria, ou algo do tipo.

— Como...como chegamos aqui? – Seus ombros estavam ficando menos tensos.

— Nós...sofremos um acidente, você bateu o carro e... – Ele não me deixou terminar.

— Você me arrastou...disso eu me lembro – O velhote voltava para a cama, lentamente - ...não importa, temos que achar os outros.

— Eu sei, antes tinha pensando que poderíamos ficar, mas...

— Não podemos ficar, garotinha.

— Tá, tá, tanto faz. Mas mesmo assim não podemos sair, não com você assim nesse estado, procurando por eles. É como tentar pegar fumaça com as mãos.

— Pouco importa o meu estado, não conhecemos esse lugar, e nem essas pessoas...precisamos sair.

— Se sairmos fodidos assim não vamos passar nem pelos portões. Estamos um lixo e ferrados até o rabo. – Ash nem parecia mais se importar com meu palavreado – Você precisa melhorar, e rápido. Assim nós podemos sair procurando os outros, certo?

Ashton parecia ter parado de me ouvir, seus olhos tinham se prendido em alguma coisa que estava atrás de mim. Me virei. Uma mulher, a mesma que tinha levado Ash para a ala hospitalar, ela tinha um sorriso nos lábios.

— Acho melhor você não se mexer muito, pode abrir a ferida novamente, e isso não vai ser bom.

Eu e o velhote ficamos a observando, tinha escutado o nome dela na noite passada mas não conseguia me lembrar.

— Sou Maggie, se é nisso que estavam pensando, - Além de ninjas eles também leem mentes? Bizarro – não queria assustar vocês.

A moça atravessou o arco da porta e colocou algumas coisas em uma escrivaninha que havia ali, bem ao lado da cama de Ashton. Consegui notar que o que Maggie tinha em mãos, pouco tempo antes, eram algumas ataduras e frascos com líquidos que eu não conseguia identificar por inteiro. Remédios? Sério?

— Obrigado...por tudo que fez por nós, mas ...não podemos ficar aqui, temos que procurar algumas pessoas antes que seja muito tarde.

De repente você se lembrou de tudo? Ótimo.

— Eu entendo mas se o senhor sair nesse estado não aguentará nem mesmo duas horas fora da cama. – Maggie preparava as ataduras – Preciso trocar o curativo, isso não vai levar nem dez minutos.

— Você é médica? – Perguntei, não aguentando a curiosidade.

Maggie ficou um pouco surpresa com a minha pergunta, parecia que só tinha notado a minha presença naquele momento. Logo a moça esboçou um sorriso.

— Não, eu não sou médica. Mas meu pai era, mais ou menos, e me ensinou algumas coisas.

Ela se aproximou de Ash e começou a desfazer o curativo que tinha no ombro do idoso. Não demorou muito para ela notar a “coisa” enfaixada na minha perna.

— Carol fez um bom trabalho aí, - Sorriu – Ainda dói?

— Não, tá de boa. – Menti, por quê? Não sei.

— Vou dar uma olhada depois, não se preocupe.

O velhote acabara de grunhir, sim aquilo foi um grunhido; minhas mãos ainda estavam molhadas de suor. Eu tinha de esquecer aquilo tudo, mesmo com um impacto daquele tamanho, tinha de me concentrar em nossa situação, dar atenção a Ash. Avalon, que garota malvada você é.

Quando tive a visão completa de seu ombro arregalei os olhos, eu não tinha observado aquela “coisa” no dia anterior, apenas tentei nos deixar vivos com o que tínhamos. Aquilo estava feio, não sei como não virei a cabeça para impedir minha própria visão.

— Está desinfetado, isso é bom. Se continuarmos assim acho que em uma, ou duas, semanas já poderá voltar ao normal.

Ash congelou, senti minha boca secar. Como assim uma ou duas semanas?! Até lá Raj e os outros já viraram poeira! Quando Aaron e... aquele cara encontraram a gente eu achei que ficar na tal Alexandria seria bom, ou pelo menos parecia uma boa ideia, mas depois da merda que aconteceu eu queria partir e não voltar mais, fingir que nada disso nunca aconteceu.

— Desculpe, moça, mas eu acho que não entendi bem. Você disse uma semana?

Maggie assentiu com a cabeça, estava dando muita de sua atenção para o furo que se localizava no ombro de Ashton, ou pelo menos parecia.

— Não temos todo esse tempo, podemos esperar... dois dias no máximo, se esperarmos muito mais não vamos conseguir nada e isso seria como se déssemos as costas para quem precisa de nós. – O vovô Ash estava mais sério do que o normal e eu nem conhecia ele muito bem.

— Olhe, eu compreendo e não posso impedi-los de sair procurando por seja lá quem for no meio da floresta, mas posso dar um conselho: se saírem daqui sem condição nenhuma de continuar eu duvido muito de que achem em fio de cabelo antes de serem devorados por uma horda ou mortos por algum caçador.

Abaixei a cabeça, por mais que eu odeie admitir, ela estava certa. Não podíamos sair como dois loucos, ferrados até o talo, procurando por pistas duvidosas; mas também não teria como sair procurando por eles uma ou duas semanas depois...as chances de acharmos algo era inexistente. Levantei a cabeça e direcionei meu olhar preocupado a Ash, estávamos na merda. Ele pareceu entender a situação por isso se calou, mas seu olhar estava pesado sobre o chão. Ah, cara. E agora?

— Certo, acho que isso dará conta das próximas seis horas, depois disso – Maggie apontou para a escrivaninha – troque o curativo, do jeito que fiz. Agora posso dar uma olhada na sua perna?

A observei, não demorou para eu assentir com a cabeça. Ela se aproximou e retirou as faixas que envolviam minha coxa, quando o ferimento ficou exposto me surpreendi. A queimadura estava muito mais clara e parecia ter diminuído um pouco. Então, por que diabos estava doendo tanto? Ah, até a minha própria perna está de sacanagem comigo? Maggie soltou um suspiro, pareceu aliviada.

— Carol realmente fez um ótimo trabalho aqui, estou impressionada. – Elogiou, parecia bem pensativa.

Eu ainda podia sentir minha cabeça latejar, de um jeito ou de outro eu teria de enfrentar aquela situação. Você sempre soube que esse momento chegaria, Avalon, só não queria acreditar. Abaixei a cabeça novamente. Maggie percebeu.

— E então, como se chamam?

Levantei o olhar. Ash tentou se endireitar na cama limpa mais uma vez, teve sucesso.

— Me chame de Ashton. – Por mais desconfiado que ele estivesse não poderia se dar ao luxo de ser grosso com a mulher que salvou a sua vida.

Maggie, depois de analisar e sorrir para Ashton, deixou seu olhar cair sobre mim. Eu não era nem a sombra da simpatia e não estava com a mínima vontade de abusar da minha bondade, muita coisa estranha tinha acontecido naquele dia, mas eu não podia brincar com a paciência daquelas pessoas.

— Avalon. – Fui curta e grossa.

A moça me encarou com um olhar divertido, qual era a graça do meu nome? Eu não sabia dizer.

— Sabe o que o seu nome significa, Avalon? – Maggie estava se divertindo com uma situação totalmente idiota.

— Hum... mais ou menos, sei que tem alguma coisa a ver com maçãs...

Por que diabos vocês está me perguntando isso? É a última coisa que eu quero saber.

Maggie riu, a risada dela me lembrou um pouco a de minha mãe.

— Bom, sim tem a ver com maçãs. Já ouviu falar na Távola Redonda?

Hum... dã? Sou uma garota e não um ser não pensante, pensei em dizer, apenas assenti com a cabeça.

— Seu nome é o mesmo nome da ilha em que o Rei Arthur foi enterrado depois que morreu. É lendário e muito interessante.

Ah, que ótimo! Meus pais me deram o nome da ilha de um defunto! Eu poderia, muito bem, ter sobrevivido mais um dia sem saber disso.

— Eu não sabia disso. — Que meu nome tinha a ver com um rei que virou presunto— Mas... como você sabe?

Maggie parou o que estava fazendo e me olhou diretamente nos olhos.

— Aqui tem muitos livros, quase todos iguais, quando achei um de “Nomes e seus Significados” fiquei curiosa.

Ela sorriu mais uma vez, parecia que conseguia escutar o que eu estava pensando. Estranho e...Bizarro. Maggie acabara de pegar um frasco de sei lá o quê e mergulhara um pedaço de algodão. Quando a mulher tocou meu ferimento com aquela coisa respirei fundo e, em seguida, prendi a respiração. Se não fizesse isso era bem capaz de eu armar um barraco.

— ...Caralho... – Xinguei o nada, ainda prendendo a respiração.

Maggie segurou o riso. Ah, ótimo, agora ela está rindo porque eu estou puta. Eu tenho de admitir que também riria se estivesse no lugar dela.

— É, queimaduras são complicadas. – Revelou a moça, logo enfaixando minha coxa novamente –Pronto, acho que isso basta.

Estava pensando em algo para falar quando escutei passos apressados pelo corredor, não demorou para a porta do quarto se abrir. O cara ruivo, o que eu tinha visto na noite passada, estava a nossa frente com um olhar indiferente. Abriu a boca para falar fazendo seu bigode se mexer.

— O Glenn e o Nicholas deram o ar da graça e, Cristo, estão fodidos. Glenn foi baleado.

Maggie arregalou os olhos e se levantou em um pulo, por sorte ela tinha terminado com a minha perna se não teria a levado junto. A moça, desajeitada, se dirigiu até o “Marmanjo Ruivo”, os dois trocaram um olhar e logo Maggie era apenas um par de pernas disparadas pelo corredor.

Bom, eu não entendi porcaria nenhuma. A única coisa que eu consegui notar foi que um deles, ou o tal Glenn ou o tal Nicholas, era importante. O cara ruivo desviou o olhar das escadas, onde a moça acabara de descer, para Ash.

— Caramba, - Logo me notou no cômodo – vocês estão um lixo.

O.K, sinceridade demais não é bom. Meus lábios formaram um sorriso irônico, notei que Ashton fez o mesmo. O ruivo encostara no arco da porta.

— É melhor descansar o traseiro, amigo, - Mais uma vez desviaram, de Ash para mim – e você, guria, vem comigo.

Soltei um suspiro cansado, aquelas pessoas amavam bater um papo; não era possível. Ótimo, não ficaria surpresa se mais algum parente meu aparecesse na minha frente. Se meu pai está aqui...tudo é possível. Me levantei, sentindo que minha perna pesava, e manquei até o brutamontes.

— Nenhum ato de rebelião? Clemência? Nada? – Brincou ele, percebi a comédia em suas palavras e apenas observei – O.K então, guria, vamos.

O Leprechaun Bombado desencostou do arco da porta e começou a andar, quando passei para o corredor notei que Ash me sinalizou, logo já estava formando palavras silenciosas com os lábios rachados. Foi um pouco difícil de decifrar do que ele estava tentando me dizer mas no final eu acabei entendendo.

“Se eles tentarem alguma coisa, faça o que for preciso”

Tentei pensar no que responder em alguns milésimos de segundo, missão impossível. Acabei apenas lhe dando um sinal positivo. “Eu sei”, apenas formei duas palavras sem som, ele não pareceu demorar a entender. Virei a cabeça e apressei o passo até colar na traseira do maromba.

Eu não sabia o que mais eles queriam comigo. Não estão felizes em destruir mais a minha vida já destruída? Querem fazer mais o que? Me matem logo.

Depois de passarmos pela porta da frente senti o sol queimar meus olhos, o ruivo tinha diminuído um pouco o passo e estava quase ao meu lado. Seu perfil me lembrava o de um soldado de brinquedo que vi em uma loja de brinquedos uma vez.

— Tenho que admitir – Puxou papo – você tem um traseiro de ferro, guria.

Parei. Levantei uma sobrancelha.

— O quê?

— Você é durona, guria.— Revelou ele, logo retomei o passo.

— Meu nome não é guria.

— Minhas bolas não são de cristal, esperta.

— Também não é esperta, é Avalon.

Ele revirou os olhos.

— Acha que só porque disse eu vou começar a te chamar pelo seu nome?

Dei de ombros, no que importava?

— Essa é a lógica dos nomes, parceiro.

O duende ruivo se calou por um momento mas pude notar o sorriso sarcástico em seus lábios. Por que todos aqui parecem ter uma personalidade forte? Eu odeio isso. Soltou um riso abafado, eu não consegui segurar a língua.

— Você é engraçadinho assim mesmo ou lembrou onde deixou seu pote de ouro, duende?

Ele soltou uma gargalhada, para mim soou meio forçada. Me sinto em um show de “Stand Up”, que horror. O brutamontes fez um sinal com o dedo e apontou em minha direção, quase engasguei com meu riso segurado.

— Mostrou o dedo do meio para uma criança? Que coisa feia, cara.

— Não sou um cara, guria, sou o cara – Meu Deus, que um raio caia na cabeça laranja dele— Abraham é o nome.

Ah, a doce, e fria, ironia.

— Acha que só porque você disse o seu nome eu tenho de começar a te chamar por ele?

Ele não segurou a vontade de rir.

— Nós vamos nos dar bem, Avalon! Isso até dá coceira no rabo! – Socorro, pensei enquanto franzia o cenho.

Enquanto eu e Abraham andávamos, com ele ainda soltando alguns risos, meus olhos seguiram o rastro de sangue até o corpo no ombro de Rick. Era um senhor de idade, o mesmo que eu tinha visto sangrar até a morte na noite passada; a mulher (que chorava no colo do cadáver na noite anterior) ainda tinha os olhos marejados. Eu observava com a maior cautela, algo sério estava acontecendo e eu não sabia o que era.

Um homem, que eu não conhecia, movimentava uma pá de cima para baixo jogando terra para todos os lados. Tinha mais um corpo ali, esse era mais novo do que o primeiro, deveria ter uns quarenta anos, mas estava afastado e ainda no chão. Mesmo por cima do pano que o cobria eu podia perceber o buraco de bala em sua testa.

O sujeito com a pá tinha uma gota de suor em seu nariz enquanto fazia a pergunta: “E o Pete?”. Pete deveria ser o outro presunto, o mais novo. As vozes estavam um pouco distantes mas eu conseguia distinguir a voz de Rick perfeitamente: “Não enterramos assassinos aqui”. O tom estava alto e claro. Então...acho que se eu morrer não poderei ser enterrada aqui.

— É aqui, a espelunca, - Abraham acabara de quebrar minha linha de raciocínio, apontou para a casa a nossa frente – é só ir.

— Quem quer falar comigo agora? – Estou até me sentindo especial.

— Ninguém na verdade, só vamos te dar algumas roupas, pro velho também.

Franzi o cenho. Ele notou.

— Sei que somos anjos.

Se você é um anjo, Deus se mude do paraíso.

— Procure pela Jessie, ela vai te dar alguns trapos. – Disse ele, logo de retirando.

— Certo. – Sussurrei.

Subi os degraus da varanda e parei bem em frente a porta. Hã... eu devo bater? Minha humanidade não tinha voltado por completo, fazia um tempo desde a última vez que eu tinha batido em uma porta. Bati. Nada. Eu posso entrar? Muitos pensamentos, que não davam mais as caras, reapareceram em minha cabeça, era estranho. Girei a maçaneta dourada, atravessei para o chão de madeira polida.

A casa tinha um cheiro forte de produtos de limpeza misturados à baunilha, era muito estranho mas me lembrava o passado. Estava pouco iluminado do lado de dentro e isso dava um ar muito macabro ao ambiente. Que horror. Congelei quando escutei passos no andar de cima, depois vozes; parecia uma briga. Hã... o que eu faço agora?

Minha visão percorreu todo o cômodo, a casa era bem parecida com o resto das casas que eu tinha visto naquele lugar. Não consegui me mexer, por que? Eu já tinha feito coisa muito, mas muito, pior do que entrar em uma casa sem ser convidada pelo dono; por que eu estava tão apavorada? Nunca saberia dizer se me perguntassem.

As vozes corriam, ferozmente, pela casa. A parecida briga ainda estava rolando; uma mulher gritara: “Ron, comporte-se”, enquanto o que pareciam dois adolescentes elevavam suas vozes.

Agora eu saio de fininho? Qual é, eu tenho muita sorte mesmo para chegar assim em meio a uma briga que nem vejo, pensei tentando me livrar daquele medo da humanidade.

Quando notei algo brilhando, com o canto dos olhos, virei a cabeça tão rápido que senti tontura mas não liguei muito para isso depois que identifiquei o que tinha tirado minha atenção. O vidro redondo e frio do globo de neve brilhava, refletia a luminosidade do dia. A “neve” jazia no fundo do globo, como areia em um copo d’água, não parecia novo pois os grãos de poeira pairavam a sua volta grudando na superfície do objeto. As palavras “Nova Iorque” estavam escritas na base da bola de vidro com prédios pequenos.

Nova Iorque, sério? Essa porcaria já era um caos antes dessa merda toda, nem sei o que isso é hoje.

A pequena metrópole envolta por vidro me observava de cima, estava à algumas prateleiras de mim. Vou me arrepender por isso, pensei já na ponta dos pés. Quando ia esticar o braço fui parada por uma voz fina.

— Não toque nisso! – Uma voz sem dono se pronunciou.

Meu coração pareceu parar, minha boca secou. Fodeu. Meu braço retrocedeu e eu me virei na hora. Nada.

Meus olhos percorreram a sala a procura do ser que tinha me chamado a atenção, minha visão estacionou na escada no canto da sala. Um par de pequenos pés balançavam por entre o cercadinho do corrimão da escada. Ah, ótimo, uma criança. Eu não consegui ver o seu rosto.

— O que está fazendo aqui? Vai embora! – Disse o garotinho, franzi o cenho.

— Hã...você quer saber o que eu estou fazendo aqui ou quer que eu vá embora?

Te peguei. A criança não respondeu, pareceu que eu a tinha deixado confusa. Ele hesitou.

— F- faz os dois! – Disse a criança, seus pés se agitaram na escada.

— Hum, O.K, mas antes eu quero saber onde você está. – Menti, ou pelo menos tentei.

— Você sabe onde eu estou. – Droga, ele sacou.

— Hum...acho que você me pegou nessa, eu sei onde você está mas não sei como você é. Quero que venha até aqui.

Nada. O garoto se calou, estava considerando ir até mim? Ou já estava indo me caguetar para a dona da casa? Eu não sabia dizer. Agi antes de pensar, como sempre.

— O.K então, você não quer chegar a um acordo comigo? Vou fingir que essa nossa conversa nunca aconteceu e voltar a fazer o que eu estava fazendo, se me der licença. — Provoquei.

Avalon, que filha da putagem. Sério que você apelou pra isso?

Me coloquei, novamente, na ponta dos pés e estiquei o braço para alcançar a metrópole. Eu não consegui tocar o globo pois com um grito de “Não” o garotinho agarrou minha cintura, por trás, e tentou em tirar de perto da estante. O plano dele deu um pouco errado pois ele não me puxou para longe e sim me empurrou para frente fazendo com que eu esbarrasse na estante.

O globo de neve pendeu para a esquerda, depois para a direita e, finalmente, tombou para frente onde não havia mais nenhuma prateleira. Senti meu coração parar por um segundo, meu estômago gelar e meu corpo se mover antes mesmo de eu pensar. O tempo pareceu desacelerar enquanto o globo caía bem em frente aos meus olhos, quase perdi o fôlego quando meus dedos se fecharam envolta do círculo de vidro. A neve caia desesperada enquanto eu aproximava o globo do peito, segurando-o com firmeza.

Os braços do garotinho estavam duros envolta de minha cintura. Ele soltou o ar de uma vez.

— Acho que você fez nevar em Nova Iorque fora de época. - Minha voz saiu mais fina que o normal – L- legal, né?

Quando me virei para poder ver o rosto da peste que quase fez meu coração sair pela boca me surpreendi. O garotinho estava branco como a neve falsa que caia dentro do globo, o cabelo em forma de tigela lhe caia nos olhos claros. Ele parecia um garoto engomadinho e rico.

— V- você é maluca! – Disse ele, ainda me segurando – Solta isso!

— Quer mesmo que eu solte isso? – O menino parou, pensou e negou – Ah, ótimo. Acho que eu não conseguiria depois de você ter me dado um susto grande pra porra.

Ele ficou mais rijo depois de escutar o que eu tinha a dizer. Ah, perfeito! Agora ele vai me repreender por eu ter dito merda?

— Quem é você?

— Fulana de tal. – O menino apertou a minha cintura com força me fazendo engasgar com minha própria saliva – Caralho, precisava disso? Sério?

O garotinho me olhou feio quando virei para observa-lo, que escolha eu tinha?

— Sou Avalon, O.K? Pode me soltar agora?

Ele afrouxou os braços aos poucos, quando vi já tinha me soltado.

— Sou Sam. – Ele correu para minha frente, subiu na ponta dos pés e tirou o globo de neve das minhas mãos – Não deveria ter tocado nisso, quase foi para o chão por sua causa.

Primeiro: eu não perguntei o seu nome. Segundo: Como você se atreve a me culpar?!

— Minha causa? Eu estava blefando! Não ia tocar nisso, não antes de você me jogar pra cima dessa estante.

Quando Sam abriu a boca para contra - argumentar passos apressados foram ouvidos descendo as escadas. Um garoto de touca, obviamente mais velho que Sam, aparecera diante as escadas segurando, e puxando, o pulso de uma garota com cabelos escuros que batiam na cintura. Ele a puxava em direção a porta por onde eu tinha entrado minutos antes. Eles nos ignoraram por completo.

O garotão parou, pois quando girou a maçaneta viu que do outro lado do outro lado da madeira escura da porta, através do vidro temperado, havia uma pessoa, hesitou um pouco. Abriu. Fiquei um pouco surpresa de ver que a pessoa do outro lado era o garoto do chapéu de cowboy. Era só o que me faltava. Daqui a pouco isso aqui vai virar treta e eu vou ter que sair distribuindo bolacha? Os dois rapazes trocaram olhares, até o menino de touca de lã empurrar o cowboy para o lado e sair pela porta com a garota.

Ron! Volte aqui agora! – Uma mulher aparecera descendo as escadas, era loura e parecia nova.

O tal Ron não voltou, desapareceu porta afora. O outro fulano com chapéu country continuava parado fora da casa, jogado para o lado por causa do empurrão. Sam continuava parado a minha frente, sua expressão escurecera. A loura suspirou e colocou uma das mãos sobre a testa, não demorou muito para ela notar Sam e eu parados à alguns centímetros.

— Ah. – Seus olhar escorregou do meu rosto para o menininho – Sam...onde você...

Sam não deixou a mulher terminar, correu até as escadas, passando pela mulher sem a olhar, ainda com o globo em mãos. Sumiu. Ela então não teve escolha se não olhar para mim. Fodeu.

— Você é a...Avalon, certo? – A mulher parecia mal – Eu tenho de lhe dar algumas coisas, não é? Tenho de ir ao depósito, depois...

Ela estava pensando alto. Não a deixei terminar.

— Eu posso ir sozinha.

— Mas...

— Tudo de boa, eu consigo achar.

Então ela é tal da Jessie. Hum...isso tudo tem alguma coisa a ver com aqueles corpos, não tem?

Jessie, então, olhou para os lados e pousou o olhar no garoto que continuava do lado de fora, olhando para a direção em que o outro correu com a menina.

— Carl? – Não demorou muito para o rapaz se virar – Desculpe-me pelo Ron, mas...pode leva-la até o depósito?

Ah não, agora eu preciso de um babá? Fala sério! Se tem tanto medo de mim me matem logo!

Quando o garoto de olhos claros me notou no cômodo me encarou por uns segundo até dizer a palavra que eu não queria ouvir.

— Certo...

Agora ferrou de vez.


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Notas finais do capítulo

Mas o que diabos estava acontecendo? Avalon tinha perdido uma parte grande da história daquele lugar, e ela sabia disso. Seu grupo desaparece do nada, seu pai desconhecido aparece do nada e todos parecem fluir bem com isso?!
Pessoas da sua idade, crianças, vidas normais, ela não lidava bem com isso por muitos motivos. Um simples globo de neve bagunçou sua mente e o que um cowboy faria?
Não perca no capítulo 9!