Ele tem 18 anos escrita por Hanna Martins


Capítulo 13
Dono de seu destino


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a linda da Naty MellarkLi, que deu um belo presente de Natal para a fic. Obrigada pela recomendação, sua linda!
E vocês como estão? Aproveitando bastante as férias? E, vamos ao primeiro capítulo do ano!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/640842/chapter/13

Com o lápis criava mundos. Também poderia destruir mundos, se lhe apetecesse passar a borracha por cima do papel, em um instante já não mais existia uma garota sorrindo, nem um menino correndo, não existia nada. Então, com cautela deslizava o lápis no papel, linhas menores, outras maiores iam surgindo, uma montanha, uma árvore, um lago. Era o criador. No papel colocava os mundos que habitavam sua imaginação. No papel, eles ganhavam vida. Era dono de seu mundo.

— Uau! — exclamou Annie, observando o desenho por cima de seus ombros. — Você desenha muito bem! Como você consegue?

Sorriu.

— Não... ainda preciso melhorar muito.

— Bobagem — afirmou Annie. — Você é muito talentoso.

Peeta olhou para o desenho. Não havia gostado. Os traços não estavam bons. Começou a amassá-lo.

— Me dá isso aqui! — exigiu ela. — Você não vai jogar! Que desperdício jogar um desenho desses, hein?

Olhou para o desenho, não era grande coisa.

— Vamos, me dê aqui! — insistiu Annie com a mão estendida.

Entregou o papel a ela.

— Isso ainda vai render muito dinheiro, vou vender na internet, quando você for famoso — disse, guardando o desenho no bolso do avental.

Peeta pegou outra folha de papel em branco e começou a desenhar ao acaso. Annie sentou-se em sua frente com um livro. Precisava estudar para as provas. A lanchonete estava vazia. Eles aproveitavam aqueles momentos de marasmo para descansarem (Trash sempre tirava um cochilo em cima de alguma mesa) ou estudarem, ou simplesmente não fazerem nada. Chaff estava, geralmente, muito ocupado com suas bebidas para se importar com alguma coisa que não fosse encher outra vez o copo.

Começou a folhear uma HQ. Era a sua predileta, Watchmen. Aquela edição em especial, guardava com muito cuidado, fora um presente de Katniss. Uma espécie de desculpa pelo o que acontecera naquela noite. Lembrava-se perfeitamente do dia em que ela lhe dera aquela revista.

— Posso entrar? — perguntou, batendo na porta.

— Pode — respondeu, sentando-se na cama.

Katniss entrou em seu quarto, um tanto encabulada.

— Aham... — ela começou incerta. — Bem... queria me desculpar... pelo o que aconteceu...

Katniss caminhou até ele. Lhe estendeu algo, só então se deu conta que ela tinha nas mãos uma revista.

— Gale disse que você gosta de histórias em quadrinhos... — explicou, enquanto ele apanhava a HQ.

Assentiu. Começou a folhear a revista.

— Eu a achei bem interessante... Sabe, a história é... muito viciante. Mas, se você não gostar, podemos trocar — sugeriu, observando-o virar as páginas.

Mas, ele já estava absorvido demais na leitura para lhe dar qualquer resposta. A história simplesmente o prendia.

Watchmen tornou-se uma de suas principais inspirações. Katniss estava presente em sua vida de diversas maneiras. Até mesmo influenciara (indiretamente) seu trabalho nos quadrinhos.

— Ótimos desenhos! — disse Trash, analisando os papéis que Peeta havia rabiscado.

— Obrigado — guardou Watchmen cuidadosamente em sua mochila.

— Hum... — os olhos de Trash se detiveram nos desenhos por alguns instantes. — Você poderia expor seus desenhos em um blog — sugeriu.

— Um blog?

— Você precisa começar sua carreira como desenhista de quadrinhos por algum lugar, não é? E a internet é um meio muito bom. Acho que expor seus trabalhos em um blog seria um bom começo.

— Não sei... — nunca havia pensando muito a fundo nessa possibilidade.

— Trash poderia criar para você um blog — afirmou Annie. — Ele é muito bom com essas coisas. Trash trabalha como freelancer, criando blogs.

— E eu não vou cobrar por isso — riu, dando um tapinha nas costas de Peeta. — Você poderia tornar seu trabalho mais conhecido. Alguma editora pode se interessar por seu trabalho...

— Com certeza — concordou Annie entusiasmada. — Eu mal posso esperar para ver isso.

Trash e Annie falavam de modo tão entusiasmado. Tão animador.

Repentinamente a ideia de divulgar suas histórias em quadrinhos lhe parecia muito real. E uma ponta de esperança — que cresceu em seu peito, lhe dando uma sensação gostosa de calor — tomou posse de si.

— Acho que sim — concordou entusiasmado.

Agora a ideia havia tomado corpo, era palpável. Sentia o entusiasmo crescer em si. Era dono de seu destino.

— Certo. Vou começar a trabalhar na criação de seu blog.

Sorriu agradecido.

Saiu do trabalho se sentindo como um garotinho na véspera de Natal que acabou de ver os embrulhos de presente embaixo da árvore de Natal e um deles se parecia demasiadamente com a bicicleta que tanto almejava ganhar.

Katniss ainda não havia chegado do trabalho. Começou a preparar o jantar. Estava tão entusiasmado que chegava a explodir. A explosão veio em forma de música em seus lábios. Se empenhou bastante no cardápio do jantar. Fez uma salada e uma sopa fria de tomate como entrada, como prato principal, tirinhas de peito de frango com brócolis, gengibre e shoyu e para completar a refeição, salada de fruta com calda de laranja, como sobremesa. Eram receitas novas, apostava que que Katniss iria adorá-las.

Após preparar o jantar, pegou seu caderno de desenho e lápis. Era bom manter sua mente bastante ocupada. E quando desenhava não existia mais nada além dele, do papel e do lápis. Aquele era seu mundo, seu pequeno mundo. Se sentia seguro. Nada poderia o atingir naquele mundo. Estava cheio de ideias.

Desenhou por um longo tempo. Quando estava em seu mundo, não sentia o tempo passar. Foi somente trazido a realidade pelo toque de Katniss em seu ombro.

Olhou para ela. Os cabelos negros de Katniss caiam molhados por suas costas.

— Você estava tão concentrado, desenhando, que não me viu chegar — explicou, sentando-se perto dele e enxugando os cabelos. — O que está fazendo?

— Criando uma nova história. Trash vai criar um blog para mim. Vou poder publicar minhas histórias lá — disse animado.

Ela sorriu com seu entusiasmo. No entanto, estava visivelmente cansada.

— Dia difícil?

— Um pouco... — confessou, apoiando a cabeça no sofá. — Estou com sono.

Olhou para o relógio. Só então se deu conta que já era quase meia-noite.

— Você ficou até agora trabalhando?

— Eu e as gêmeas Leeg estamos trabalhando em um novo medicamento, acabamos perdendo a hora — disse simplesmente, seus olhos estavam semicerrados. Ela lutava consigo mesma para manter-se acordada.

— Você já jantou?

— Eu comi alguns sanduíches mais cedo... — a voz era fraca, quase um fio.

— Eu fiz o jantar.

— Estou com sono... — ela havia fechado completamente os olhos. — Muito sono... acho que nem consigo me levantar daqui... só preciso de mais... cinco minutos... só cinco minutos... cinco... cin...

— Katniss?

Ela abriu imediatamente os olhos.

— Eu não dormi!

Sorriu e deslizou as pontas dos dedos pelos cabelos de Katniss.

— O que você desenhou? — olhou para os papéis que ele tinha nas mãos.

— Isso — passou seus desenhos a ela.

Katniss os olhou por alguns instantes.

— São lindos — os devolveu a ele.

— Obrigado. Vamos jantar.

— Aqui está tão bom — se aconchegou no sofá. — Vou tirar um cochilo... — fechou os olhos.

— Acho melhor você ir dormir na cama.

— Não, é... só um cochilo... apenas um cochilo...

Dentro de alguns instantes, ela havia caído completamente no sono, e não apresentava sinais de que iria acordar tão cedo. Peeta a pegou em seus braços e a levou até o quarto.

Guardou o jantar na geladeira. Talvez, Katniss quisesse comer no dia seguinte. Voltou a desenhar. Mais uma vez perdeu a noção do tempo e também do espaço, quando desenhava ia para outro mundo.

Acordou com o pescoço doendo. Os papéis estavam espelhados pela sala em uma completa desordem. Passara grande parte da noite desenhando. Não se dera conta quando se debruçara em cima de um de seus desenhos e adormecera. Ainda estava sonolento. No entanto, precisava ir trabalhar. Tomou um rápido banho e preparou o café da manhã.

— Argh, estou atrasada! — Katniss praticamente gritou, surgindo na cozinha, pulando, enquanto calçava o sapato do pé direito e tinha o do pé esquerdo na mão.

— Mas ainda não está na hora de você ir...

— Preciso entrar hoje mais cedo no laboratório — pegou uma torrada.

— Você vai jantar em casa?

— Não sei... — engoliu a torrada, quase sem mastigar, e empurrou um grande gole de café por cima. — Talvez eu coma alguma coisa por lá mesmo — tomou outro grande gole de café. — Tenho que ir, olha só a hora! Preciso checar aquele teste! — falava afobada, engolindo as palavras.

Katniss pegou suas coisas e praticamente saiu correndo.

Também logo foi para o trabalho. Passou o dia pensando na história que estava elaborando, aproveitou cada segundo de descanso para colocar suas ideias no papel. A lanchonete não estava muito movimentada, por isso teve vários momentos de descanso.

— Hum, estou gostando de ver — disse Annie, apanhando suas coisas e jogando tudo na mochila, sem nenhuma ordem. — Você está realmente se empenhando.

— Vai sair mais cedo?

— Vou, hoje temos uma reunião para um trabalho na faculdade, e... aquele professor gato vai nos ajudar! — sua voz tinha certa malícia. — Até amanhã, garoto artista!

Voltou a desenhar.

Já havia anoitecido, quando saiu do trabalho. Seus passos eram apressados, queria chegar logo e começar a desenhar. Sua mente não estava ali, estava em seu próprio mundo. Por isso, quando a avistou, teve um pequeno choque e precisou de alguns segundos para se dar conta que ela era muito real e não fazia parte da sua imaginação.

Ela estava parada em frente ao prédio. Seu aspecto era abatido.

— Peeta! — disse assim que o avistou.

— Mãe?! O que... você está fazendo aqui?

— Eu... vim te ver — falou simplesmente. — Estou preocupada com você, Peeta. Você não responde aos meus telefonemas, não falou mais comigo desde que veio morar aqui... — se aproximou dele.

A luz bateu no rosto de sua mãe. Ela estava mais magra, tinha círculos negros em volta de seus olhos. Desviou os olhos dela.

— Como você está? Tem se alimentando direito? — ela sempre o metralhava com diversas perguntas.

Apenas assentiu, sem a olhar.

— Gale me falou que você está trabalhando em uma lanchonete perto daqui...

Assentiu mais uma vez.

— Você está morando com a Katniss, não é? Por que não está morando com seu irmão?

— Ele está ocupado com... seu casamento com Madge — falou laconicamente.

— Vocês brigaram, não é mesmo?

— Não é bem assim — tentou se defender.

— Peeta... — sua mãe foi interrompida por um ataque de tosse que durou quase um minuto.

— Você está doente?

— Não é nada... — respondeu entre uma tosse e outra.

Só então se deu conta que a noite estava gelada, e sua mãe não usava nada além de uma fina blusa de manga.

— Você quer entrar e tomar uma água? — apontou para o prédio.

Ela assentiu e voltou a ter outro ataque de tosse.

Sua mãe sentou-se em uma das cadeiras na cozinha. Ela o fiscalizava, enquanto tomava um copo de água.

— Você tem trabalhado muito? Parece cansado...

Ele a olhou, não era apenas ele que parecia cansado.

— Mãe, você não deveria ter vindo.

— Peeta, eu estou preocupada com você.

— Mãe, por favor, não comece.

Ela lhe lançou um olhar triste. Começou a lavar as louças sujas, mais para se preocupar com algo do que pela necessidade de lavar a louça. Não estava disposto a entrar em uma mais daquelas discussões intermináveis que tinha com sua mãe frequentemente.

Até quando eles iriam o tratar como um garotinho indefeso? Ele já tinha 18 anos! Não era mais um menininho. Poderia fazer suas próprias escolhas. Certas ou erradas eram suas escolhas.

— Peeta! — a voz de Katniss chegou antes dela a cozinha. — Eu... — ela calou-se instantaneamente ao ver que ele não estava sozinho. — Oi, Melinda — disse sem jeito. — Eu não sabia que estava aqui — seu olhar foi parar em Peeta. Ela estava pedindo por explicações.

— Eu não sabia que minha mãe viria — se justificou.

— Ah...

— Desculpa, Katniss, eu e meu filho estamos te dando trabalho...

— Não, de forma alguma.

— Peeta não atende minhas ligações, eu estava preocupada — olhou para ele. — Sou uma mãe, afinal de contas. E me preocupo com meu filho, mas parece que os filhos não compreendem a preocupação das mães.

Peeta apenas desviou os olhos dela.

Katniss estava cautelosa, estudava a situação, tentando compreender o terreno em que pisava.

— Ainda preciso falar com Gale — disse, se levantando. — Ele não sabe que estou aqui. Bom, é melhor eu ir indo. Vou ficar alguns dias por aqui.

Peeta nada respondeu.

— Eu te acompanho, até porta — se prontificou Katniss.

— Obrigada, querida.

Acompanhou com os olhos sua mãe e Katniss saindo da cozinha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Odiaram? Gostaram? A mãe do Peeta apareceu! O que acharam dela? Será que ela irá atrapalhar a relação entre Katniss e Peeta? E Peeta está super entusiasmado em a criação do blog, será que vai dar certo?