Sophia Finkler parecia ser como qualquer outra garota que você encontrasse na rua. Ela usava saltos e maquiagem, vestidos e joias brilhantes, bem normal para muitas garotas. Pois era exatamente nisso que ela era boa, Sophie já havia lidado com tantas situações diversas que simplesmente aprendera a modelar quem queriam que ela fosse. Mas bem no fundo de sua mente, onde ela detestava estar, estava seu verdadeiro eu, mas ela temia ter esquecido quem realmente era. Depois de tanto tempo sendo outra pessoa Sophie acabou se afogando em suas próprias máscaras.

Mas naquela tarde de sexta ela decidiu variar. Enquanto se olhava no espelho ela se perguntou no que havia se tornado. Seus cabelos negros estavam completamente alisados, seus olhos ainda mais realçados com uma forte maquiagem e contornos negros. Os saltos faziam seus pés arderem e o vestido cor de rosa a fazia parecer uma boneca fria e sem vida. Mas não era exatamente isso o que ela havia se tornado?

Sophie deu um passo para trás. Não, aquela não era ela. A menina não se lembrava exatamente de quem era, mas sabia bem que não era nada do que via no espelho.

–Sophie, querida, já estou indo!

Ela piscou os olhos e olhou para a porta, correu até ela e abriu-a. Direcionou seus passos até metade da escadaria e encarou a mãe indo para a porta arrastando uma enorme mala. Melissa Finkler era simplesmente perfeita em tudo o que fazia, e não podia esperar que a filha fosse menos que perfeita também. Seus cabelos negros tinham leves mechas douradas e caiam como uma imensa cachoeira em suas costas. Seu sorriso era sempre perfeito, sua postura, impecável, mas Sophia não era nada disso, por mais que tentasse.

–Mãe! –Chamou a menina.

Os olhos esverdeados de Melissa se viraram para a filha e seus lábios vermelhos se abriram em um amistoso sorriso para ela.

–Você não pode... ficar em casa? Só dessa vez, nós podíamos ver um filme ou...

–Sophia, você sabe bem que não posso. Sinto muito, querida, mas prometo que quando eu voltar vamos sair e ver um filme, okay?

–Certo... –Murmurou ela, sabendo bem que a mãe se esqueceria e não encontraria tempo algum.

–Nos vemos no domingo, Soph! Amo você. –Melissa abriu a porta e acenou alegremente para a menina na escada.

–Até mais...

Sophie se virou e subiu novamente para o quarto, arrancando o vestido idiota e jogando-o no chão junto aos terríveis saltos. A água gelada serviu para tirar a maquiagem profunda e acalmar os pensamentos da menina.

Não se passou meia hora e ela encarava o guarda-roupa, revirando as roupas com cores variadas. Seus olhos foram atraídos para algo que ela nem sabia que ainda tinha. A blusa que seu irmão havia dado para ela de aniversário. Já fazia um ano que não via Sam, ela sentia muita falta dele.

–Perfeito. –Disse ela com um sorriso no rosto.

Após se vestir, ela notou seu cabelo voltar ao estado natural. Não era exatamente cacheado ou liso, era um meio termo estranho, mas ela gostava daquilo. Fez duas tranças e colocou o primeiro casaco que viu pela frente. Pegou as chaves da porta e deixou a casa, para nenhum lugar em especial, ela só precisava sair dali.

~*~

Ela já estava andando fazia um bom tempo, mas era melhor do que ficar em casa. A menina riu ao encarar os próprios pés. As botas negras que havia comprado fazia muito tempo era mais confortável do que se lembrava. Antes que desse mais um passo esbarrou em algo.

–Ah, foi mal, eu não te vi. –Disse um garoto ruivo.

–Tudo bem, eu...

–Ei, que blusa legal! Onde comprou? –Falou um dos amigos do garoto ruivo, fitando-a surpreso.

–Pela internet. Meu irmão e eu sempre compramos coisas por lá. Posso passar alguns sites que conheço.

–Claro! Cara, eu simplesmente amo esse jogo e...

–Calma ai, Craig! –Falou o ruivo, empurrando o amigo para o lado.- Você joga?

–Eu... é, jogo, mas faz tempo que...

–Então você tem que ir pra Fusion com a gente! Eu tento fazer a minha namorada jogar há um tempão, mas ela acha uma perda de tempo. –Disse o tal Craig.

–O que é Fusion? –Perguntou confusa.

–Não conhece a Fusion? Foi inaugurada há umas duas semanas e está bombando! –Falou o ruivo, animado.

–Vocês dois estão indo lá agora?

–Estamos, é aqui perto. Quer ir junto? Podemos jogar uma partida!

–Eu topo!

~*~

O lugar era realmente fenomenal, maior do que qualquer lan house que ela já havia entrado. Descobriu que o garoto ruivo se chamava Nick, e seu amigo, Craig. Os três discutiram sobre o jogo durante todo o percurso. E por um momento, ela notou que podia estar prestes a achar quem ela era outra vez.

–Cinco segundos, galera. Prontos? –Falou Nick.

–Pronto! –Berrou Craig.

–Pronta. –Disse ela.

3... 2... 1...

Fazia muito tempo que ela não jogava, fazia muito tempo que ela estava vivendo em um mundo totalmente diferente, mas no momento em que o jogo começou, ela esqueceu-se de todo o resto. Seus dedos se moviam rapidamente pelo teclado e seus olhos acompanhavam o time inimigo, certificando-se para não deixa-los avançar.

Aquele lugar a trazia lembranças que ela havia esquecido e medos que ela não esperava ter que enfrentar de novo. Tudo aquilo a fazia se lembrar de Sam e...

Não pense sobre isso, não pense sobre isso! Retrucou em sua mente e deixou-se vagar novamente para o jogo. Ela sabia bem que estar ali poderia ser perigoso, se ela desse um passo em falso tudo poderia desmoronar. Não, ela não se deixaria perder o controle novamente.

“Sophie, você tem que ser forte o suficiente, forte por nós dois, ok? Eu preciso que você aguente até que as coisas... se acertem. Prometa para mim, prometa que irá fazer de tudo para que dê certo, Soph. Eu preciso de você, irmãzinha.”

Ela piscou os olhos para que parassem de arder. Seja forte, Sophia. Respirou fundo enquanto lançava um golpe fatal em um de seus inimigos.

–Eu prometo, Sam... –Ela fechou os olhos e se recostou na cadeira, respirando fundo quando as letras douradas apareciam no visor de sua tela.

VITÓRIA