Um Coringa na festa das Cartas escrita por V M Gonsalez


Capítulo 3
O Gato Preto


Notas iniciais do capítulo

Para aqueles que tem problemas...



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Uma mulher andava pela calçada escura de uma rua ainda mais escura. Ela não corria ou voava, não se arrastava ou agonizava. Apenas andava. Seu vestido era preto e vaporoso como as nuvens de carvão expelidas pelas fábricas e comprimidas contra o céu, de certa forma, belo. Uma garoa fina caia molhando-lhe a pele e o sorriso lunar, que ela exibia na face como um coringa em um jogo de cartas.

A alguns passos a frente da mulher, havia um poste com uma lâmpada levemente alaranjada acessa. Era feito de ferro escuro e grosso, lançando um circulo de luzes quentes a sua volta, na escuridão da noite. Parado, sob a luz do poste, estava um pequeno gato preto com brilhantes olhos dourados. Ele encarava a mulher que se aproximava com seus olhos lentos e chuvosos, analisando cada movimento dela como um psicólogo com anos de experiência. A cada leve passo que ela dava o gato lhe revirava as entranhas psicológicas e a expunha, nua e verdadeira.

Ela parou ao lado do gato e fez-lhe uma caricia leve no topo da cabeça negra. O gato miou, estressado e se afastou, sem deixar, porém, o circulo de luz. A mulher, sem entender, continuou então seu caminho, mas o gato a seguiu, impedindo que saísse do círculo. Ela sorriu ternamente e tentou desviar-se do gato, o qual respondeu apenas impedindo-a de sair novamente.

Aquela pequena dança ridícula se repetiu por alguns instantes até que a mulher de vestido negro começou a ficar irritada. Nesse instante, porém, o gato se metamorfoseou em um espectro sombrio disforme, e a agarrou pelas pernas.

Assustada, a mulher tentou se livrar de seu captor, mas tudo que pode fazer foi perder o equilíbrio e ir de encontro ao poste, agarrando-se nele desesperada. A forma então se transformou em um pássaro que pousou-lhe sobre o ombro, cantando uma canção doce como vinho, que a fez se acalmar e tentar tocar a pequena ave. Essa, porém, traiçoeira, se tornou em uma sibilante cobra que agarrou as pernas da mulher.

Gritando ela caiu no chão, deixando aqui uma nota de que ela ainda estava dentro do círculo de luz de seu poste protetor, e a cobra se transformou em um gorila que mostrou para ela as presas sombrias e ameaçadoras.

O espetáculo se seguiu quando o gorila subiu aos céus e se transformou na Lua, olhando para a mulher caiada com um forte olhar de reprovação estelar, frio e alto, dissolvendo-se lentamente, tomando a forma do céu, opressor e tirano em sua vasta sabedoria ultrapassada. Agora, já de olhos fechados, a mulher se encolhia e gritava, quando, de algum lugar fora do circulo ela ouviu:

– Moça, a senhora está bem?

Quem perguntava era um guarda, acariciando um pequeno gato preto.


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Notas finais do capítulo

... e não sabem como resolvê-los.



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