Elementar escrita por LunaLótus


Capítulo 3
Armas


Notas iniciais do capítulo

"Eu vou fazer tudo dar certo, você vai ver. É uma promessa."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/640701/chapter/3

Thaís puxa Renato para os fundos da casa, um lugar gigante com muros altos e sem qualquer acesso exceto por meio da porta que acabaram de passar. Mais parece um pequeno bosque do que um quintal. É quase impossível entrar ali sem ser notado, existem vários alarmes de segurança instalados, além dos cachorros. Renato para abruptamente e pergunta:

– O que estamos fazendo? Qual a sua ideia?

– Não chegamos ainda! Tenho certeza que você vai gostar! – responde ela, dando-lhe um beijo rápido.

O casal continua caminhando, Thaís extremamente empolgada. Tenta esquecer que os pais foram embora, e quase consegue. O dia está quente, num calor quase insuportável. Os pássaros cantam alto e as árvores tornam-se mais juntas. Depois de alguns instantes de passeio, Renato começa a escutar o barulho de água.

– Eu não sabia que isso aqui é tão grande... – diz ele.

– Espere, tem uma coisa que quero lhe mostrar. Você nunca veio aqui, porque... Bem, eu queria esperar o momento certo.

– O momento certo?

– Venha.

Caminham por mais cinco minutos em uma trilha tortuosa. Renato escuta a descrição de Thaís sobre as tardes que passara com sua irmã naquele lugar. Estão distraídos, mas a jovem se cala, porque lembrar de Thaíssa lhe traz uma dor insuportável.

De repente, o caminho se abre em uma imensa clareira. Por ali passa um riacho cristalino e suave, o barulho morno da água nas pedras ecoando. Thaís puxa devagar Renato, que está maravilhado.

– Não é lindo? É um lugar especial pra mim, e eu só trago pessoas igualmente especiais e importantes em minha vida.

– Isso quer dizer que eu sou especial e importante na sua vida? – pergunta ele, com um sorriso travesso nos lábios.

– Como se você não soubesse disso. Você é tudo o que me importa agora...

Eles se beijam e se afastam. Thaís pergunta:

– Que tal um banho? – E corre para a água, tirando a blusa.

Renato ri e corre também, arrancando a camisa. Ambos se divertem e jogam água um no outro, tentam pegar peixes com as mãos e fazem competição de quanto tempo conseguem ficar sem respirar debaixo d’água. Thaís está extremamente feliz, com um sorriso enorme no rosto.

– Queria que esse momento durasse pra sempre! – ela grita.

Ele apenas sorri e a beija.

O casal passa várias horas ali. Eles não têm pressa, afinal não possuem nenhum compromisso a não ser um com o outro. Comem frutas das árvores, deitam sob suas sombras e conversam sobre a vida. Por fim, depois de três horas, eles decidem sair e vão para casa, trocar de roupa.

Thaís entra em casa e se surpreende com o silêncio reinante. Esqueceu-se, por um breve tempo, que seus pais não estão mais ali, que eles partiram. Ela balança a cabeça, vira-se para Renato e diz:

– Vai subindo, eu já estou indo. Tenho que fazer algo antes.

A mente de Thaís está a mil por hora. Ela corre até a sala de jantar, pega a carta e a lê novamente. Um presente está no quarto de seus pais. A jovem respira fundo, dobra a carta cuidadosamente e sobe as escadas correndo, só parando em frente à porta do quarto de Augusto e Luiza.

Ali ela para. Um milhão de pensamentos se embaralham em sua cabeça. Todas as emoções que jorrariam assim que ela abrisse aquela porta... Todas as frustrações, a saudade...! Thaís tem medo de sentir aquilo. Não sabe se será forte o bastante para enfrentar todos esses sentimentos.

Ela estende a mão lentamente para a porta prata fria, e a toca, receosa. Olha para seu movimento, surpresa que ainda tenha consciência para fazer algo daquele tipo: simples. Não está trancada, não houve reconhecimento da suas digitais. O coração de Thaís está acelerado, a espera da dor. O som suave do deslize da porta parece tortura para seus ouvidos. Ainda assim, o cenário do quarto vai se expandindo, enquanto a porta se abre devagar. Quando finalmente pode ver todo o quarto, Thaís prende a respiração e seus olhos se arregalam.

Ela não pode acreditar. Tem que ser mentira. Seus pais não podem ter deixado aquilo para trás.

Thaís caminha lentamente até a cama dos pais, que por algum motivo, não está embutida na parede, mas sim como se tivessem acabado de sair dali. Ela olha para o lado, o armário tecnológico mais avançado que o seu, porque é um modelo de casal, ou seja, tem dois controles e dois tubos. O espelho gigante que ocupa quase uma parede inteira reflete o seu movimento. Thaís continua a encarar o próprio rosto, a expressão de choque.

Sua cabeça está embaralhada com mil pensamentos. Ela se volta para a cama novamente, onde está o presente deixado por seu pai. Abaixa o rosto, ainda emocionada e surpresa com o que há ali. Sua mão desliza pela colcha amarela e pega o primeiro objeto, analisando-o como uma especialista.

Um bumerangue. Seu pai era um mestre do ar, e com um bumerangue bastante afiado, ele poderia matar qualquer um, desde que controlasse os ventos. Thaís sorri com a possibilidade de estar em uma guerra e sair jogando um brinquedo nos robôs. Ela vira o objeto em suas mãos e percebe uma frase com tinta desgastada depois de tantos anos:

“Porque até no trabalho mais árduo, deve haver diversão.”

Thaís entendeu o recado. Quando estivesse na guerra, deveria lembrar-se de quem realmente é. A violência e a estupidez daquela batalha não podiam mudar seu interior. Ela deve isso a Renato, Thaíssa, Luiza, Augusto.

– Não vou esquecer, eu prometo – murmura.

Ela coloca o primeiro presente na cama e suas mãos ansiosas percorrem a procura do segundo embrulho, um pouco menor. Thaís abre a caixa e tenta entender o que é aquilo. Sabe que é uma arma da luta oriental bem antiga, mas esquece o nome. Pega, com cuidado, um deles e o analisa. A arma parece uma estrela, com pontas afiadíssimas. Renato com certeza sabe como chamá-la. Ela guarda novamente o objeto na caixa e a deixa em cima da cama.

Por fim, está o último presente. É um embrulho grande e fino. Thaís fica animada. Espera que seja aquilo em que está pensando. Deixara de propósito aquele pacote para o final. Suas mãos alcançam os finos fios de ouro que amarram a caixa. A respiração da jovem está acelerada. Ela levanta a tampa devagar, seus braços tremendo de excitação.

E então ela grita.

– Thaís! – berra Renato, desesperado e aparecendo em um rompante pela porta.

Mas Thaís mal escuta. Ela tira a última arma da caixa. O que ela quer: um arpão. É tudo o que ela precisa. O arremesso à distância é sua maior habilidade, ainda que não fosse boa com arco e flechas. Agora ela sente que tem real chance de sobreviver, de voltar para casa.

A jovem vira-se para Renato com um sorriso enorme estampado no rosto e diz:

– Meu pai me deixou presentes.

– Que susto! Achei que estivesse sendo atacada!

– Desculpa! É que estou muito feliz! Eu não sabia que ele usava arpão também. É mais uma conexão que tenho com ele.

Renato sorri e vai para perto da cama. Thaís se empolga e começa a contar como usar cada uma das armas. O casal passa um longo tempo no quarto, e quando olham pela janela, percebem que já é tarde, e eles nem haviam almoçado.

– Perdemos a hora! Você não está com fome? – pergunta ele.

– Para falar a verdade, não. Mas temos que comer. Vamos descer e preparar algo.

Ele faz cara de desdém e uma careta.

– Eu já preparei algo. Eu presto para algo, sabia?

– Eu nunca disse que você não é útil – responde ela, abraçando-o, ele ainda sentado na cama.

– Bom saber – diz ele, e a beija.

O casal levanta e sai do quarto, deixando os presentes onde estão. Amanhã será um dia longo de treinos, mas por enquanto Thaís quer aproveitar a noite com Renato. Eles vão até a sala de jantar, e a mesa já está posta. Comem e conversam sobre o dia de hoje e fazem a programação do dia seguinte. Quando terminam, decidem ir assistir um pouco de TV.

– Mais um desastre na fábrica de carros Purys hoje – diz a repórter do noticiário da noite. – Dois mortos e cinco carros destruídos. A empresa acredita que algum aparelho tenha perdido o controle, mas não se sabe como pode ter matado os trabalhadores. Os andróides presentes no local afirmam que os homens mexeram na máquina para tentar conter o acidente, mas acabaram levando choques e morreram. Mais informações daqui a...

Thaís desliga a TV. Ela está revoltada. Como essas pessoas não percebem o que está acontecendo?!

– Não aguento ver isso – diz ela.

Renato não responde. Ainda olha fixamente para onde a projeção televisiva estivera. Seu rosto está sem expressão, mas Thaís percebe que ele está preocupado. A temperatura parece cair três graus.

– Desculpe, Renato. Eu não devia ter dito isso.

– Não. Não é sua culpa. Você vai lutar contra isso. Mas você viu o que aconteceu agora. Meu pai trabalha na Purys, foi ele quem construiu a maior parte daquelas máquinas, e segundo os andróides, a máquina deu defeito e...

– E você confia mesmo nesses robôs? Eles são controlados! Pode ser eles mesmos que tenham sabotado a máquina! Não é isso que eles fazem? Querem acabar com a raça humana! Maldita a hora em que os dotaram de cérebros! Agora todos pagaremos! E essas pessoas que continuam a criá-los...! Aonde pensam que vão parar? Será que eles acham mesmo que esses robôs vão respeitá-los? Porque eu acho que não.

– Você tem razão, Thai. Não devíamos ter deixado isso acontecer. Mas acontece que todos se acostumaram com essa facilidade, com a criação desses robôs.

– Nem todos. Nem todos. Por que não pode ser como há duzentos anos? Existia a evolução tecnológica, claro, mas tudo em prol do bem do homem. Mas a partir de 2100, parece que o homem deixou de se amar. Querem tudo nas mãos, não fazem nada, esperam que os robôs façam por eles. É... É patético!

Renato ri e Thaís não resiste: sorri também. Sabe o quanto ele acha graça quando ela começa a falar assim, descontroladamente, sobre esse tipo de situação crítica, e depois termina com uma frase frustrada e sem graça. A descontração volta novamente ao ambiente e a jovem abraça seu namorado, sussurrando:

– Eu vou fazer tudo dar certo, você vai ver. É uma promessa.

Ele assente, fecha os olhos e responde:

– Eu sei que vai. Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço. Você pode fazer isso.

Thaís fecha os olhos também e deita no peito de Renato.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, bom ou ruim? Só tem um acompanhamento :/
Mesmo assim, fico feliz! Obrigada à Spy Kid por acompanhar e pelos comentários ♥ Você é diva!
Em breve, o próximo!
P.S.: Vou postar até o quinto capítulo. Se não houver mais acompanhamentos, infelizmente a história entrará em hiatus,



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Elementar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.