Love me Harder escrita por Grind


Capítulo 5
Capítulo 5 - Fora 2




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Love me Harder / Capítulo 5 – Fora 2

— É bom que quando você estraga tudo por se comportar racionalmente, você concerte naturalmente. – Sthella suspirou feliz enquanto levava outro chocolate a boca.

Estávamos as duas deitadas no chão do restaurante. Fechado, a maioria das luzes apagadas, sexta feira, esperando Carlos surgir para logo ir embora, sozinho. E então passaríamos a madrugada tomando sorvete, porque nenhuma de nós trabalhava de sábado.

— Não acredito que Duda fez isso – Resmungou entre dentes.

Ela dificilmente acreditava quando eu dizia as merdas que Duda fazia quanto a mim, aos olhos de Sthella era sempre eu que só sabia implicar.

— Imaginei que não acreditaria.

— Não que eu esteja te chamando de mentirosa Manu, mas porque ela faria isso?

Pra me ferrar talvez.

— Não sei.

As duas sabiam tudo sobre mim, talvez fosse o fato de Duda saber demais que a fizesse planejar tão bem essas provocações. O som da buzina de algum carro nos fez sentar em um susto, e depois de uma troca de olhares nos levantamos as pressas.

Sem intenções de sair, eu não tinha me enfeitado muito. Estava com o meu jeans mais confortável, que já estava bem surrado, e uma camiseta do Batman, graças ao vento gelado pude manter os cabelos soltos, nada fora do normal.

Fora do normal era Carlos. Fiquei pensando que o carro dele provavelmente valia uns dois carros e meio, ele não fedia a perfume masculino como imaginei que aconteceria, porque é o que sempre acontece nesses primeiros encontros, os caras parecem beber o frasco de perfume todo. Muito pelo contrário, era o frescor do sabonete que deixou o ar, e até mesmo eu embriagados.

— Boa noite – Ele sorriu, os lábios fechados enquanto as mãos ajeitavam uma última vez o casado pesado que usava.

— Boa noite.

Muito bem, por onde eu começaria? As luzes permaneciam acesas lá dentro por estratégia, eu não sairia sem apaga-las, então ainda que eu fosse obrigada a entrar no carro, causaria suspeitas demais deixar tudo aceso. Se estivessem apagadas, confirmaria que eu iria com ele de qualquer maneira, porque se negasse, ele sugeriria me levar ao menos até em casa.

Aquela hora da noite, impossível eu sair com alguém sem outro alguém de confiança de olho em tudo.

— Antes de mais nada eu – Atropelamos um ao outro e seu sorriso aumentou. – Muito bem, pode falar.

Seja lá o que fosse, não teria importância, porque eu não iria a lugar nenhum.

— Primeiro, eu queria pedir desculpas. – Riu sem graça, e eu fiquei sem entender – Digamos que eu tive um imprevisto de quarta feira pra cá.

Dr. Dantas.

— O médico.

Ele parou no meio da frase, o olhar curioso sobre mim enquanto lambia o lábio superior. Cruzou os braços.

— É engraçado como você e Beto vem adivinhando o que eu vou dizer.

— O que quer dizer? – Eu tinha que perguntar, porque Deus, meu coração saltou dez vezes mais rápido só com as hipóteses que se passaram na minha mente.

— Ele me contou que estavam juntos quando liguei.

Minha mente foi longe com os significados de “estar juntos”. Teria ele contado que também levou um fora?

— E conversamos na quinta durante o plantão dele, e eu não estou tecnicamente “autorizado” – fez as aspas com os dedos -  a passar a perna nele, como ele acha que eu estou fazendo.

E desde quando eu precisava que Dantas autoriza-se alguma coisa sobre mim?

— Com ou sem a permissão dele, eu não sairia com você.

Ele piscou surpreso.

— Espera, o quê?

— Isso era o que eu tinha pra dizer. Não vou sair com você, não estou interessada, achei que seria muito chato dizer isso pelo telefone.

No inicio eu não pretendia ser tão seca, não pretendia mesmo. Ainda que ele estivesse todo cheio de si por querer me chutar e subtender que a amizade dele com Betinho era mais importante que qualquer rabo de saia e seu ego masculino inflado por seu amigo se sentir ‘ameaçado’ por ele, mas a forma como o lado deles me soou levemente machista fez toda minha educação ir embora.

— Bom, então nesse caso estamos de bem. – O ego ferido por não ser ele a me dispensar foi mascarado – Mas posso perguntar por quê?

— Como fez para conseguir meu número com Duda?

A minha alegria era saber que Sthella estava ouvindo. Ele abriu a boca para responder, nenhum som saiu.

— Foi o que eu imaginei – Eu me virei louca para entrar e me afundar atrás do calção de bebidas.

— Espera, não foi bem assim, o que ela te falou? – Apertou o passo para entrar na minha frente.

Ele se preocupava?

— Ela não me falou nada.

Ele balançou a cabeça sem entender.

— Então como-

— Ah qual e Carlos? Que diferença faz isso agora? Já decidimos que não vai acontecer nada, lembra? – Porque saber que eu sabia interferia os planos dele de se vangloriar em cima de Dantas, assim como Duda estava pra fazer na próxima vez que nos encontrássemos.

“Porque ele aceitou sair comigo antes de você”.

“Porque ela aceitou sair comigo antes de você”.

Esses dois se mereciam. Ele suspirou.

— Bom, boa noite.

Não esperei que entrasse no carro, o barulho da porta ofuscou o som da partida do carro.

— Ok, dessa vez você venceu – Sthella já tinha dois coquetéis prontos – Eu vou falar com Duda.

— Uau, me sinto bem melhor agora, você vai falar com ela – Ironizei.

Ela revirou os olhos.

— O que teria acontecido se vocês dois saíssem? Digo, em relação a Duda.

— Ela se vangloriaria por transar com ele antes de mim, você já a viu fazer isso antes. Ela vem toda serena querendo fingir querer minha felicidade me empurrando algum ex dela.

Ela negou com a cabeça suspirando.

— Não sei porque vocês não se entendem, porque ela faz essas coisas.

Porque ela é uma filha da puta estraga prazeres.

— Eu também não.

Viramos as duas as taças.

— E quanto ao seu médico, o que faremos?

— Gosto como você diz “seu médico”.

Ela riu.

— Sua otária, a oportunidade não bate duas vezes na porta de ninguém, sua sorte está no auge, aproveite.

Eu cobri o rosto com as mãos.

— Claro.

Meu celular vibrou no bolso, e coloquei sobre o balcão enquanto ligava o viva voz.

— Alô.

— Muito tarde pra ligar pra alguém? Provavelmente – Nós duas gelamos – Talvez vai ficar contente em saber que nenhuma das suas amigas me pagou um boquete pra passar seu número.

Sthella engasgou, e eu só senti a sonoridade daquele sorriso.

— Está tudo bem ai? – Ele certamente deve ter escutado o quase cuspe dela na minha cara.

— Está – Não sei da onde tirei forças pra falar alguma coisa, porque eu não sabia se ria ou se chorava.

— Eduardo está ai com você? – Ele diminuiu o tom de voz, como a fera diminui o passo quando cerca a presa.

— Não, saiu agora pouco.

— Legal – Ele voltou ao tom normal. – Tive quase certeza que pegaria carona com ele pra voltar pra sua casa, então eu teria o seu endereço sem precisar arrancar a roupa pra ninguém.

Sthella mordeu o próprio braço, o rosto completamente vermelho, enquanto se controlava pra não se debater.

— Eu não tinha intenções de voltar pra casa, fico algumas horas mais tarde no restaurante mesmo depois que ele fecha.

Por que raios eu estava dando tanta informação?

— Legal, eu pensei no que você disse no outro dia – Houve uma pausa – E conclui que eu realmente fiz a escolha certa quando não me especializei em psiquiatria, ou psicologia, gosto de ser clinico geral, é fácil diagnosticar quando se sabe de tudo um pouco. E do pouco que consegui concluir sobre você não querer que as coisas pareçam fáceis, o fácil aqui tem sido eu.

Sthella levantou o rosto, um sorriso surpreendentemente enorme na cara.

— O que você quer dizer?

— Exatamente isso – Ele deve ter franzido o cenho – Eu não fui de “difícil acesso” em nenhuma das nossas conversas, acredito até que estava bem a vontade se quisesse falar dos meus avós falecidos. E como quem quer que as coisas se compliquem é você, não acho justo que quem tenha que ligar seja eu.

As minhas mãos estavam frias.

— Sei.

— Então se quiser conversar, você que ligue pra mim.

Não deu tempo de respirar, não deu mesmo, porque a tela deu indícios vermelhos de que a ligação tinha terminado e depois se apagou.

Sthella gargalhou alto.

— Isso foi perfeito!

— Isso foi convencido, eu deveria simplesmente ligar?

— Sim! – Ela deu pulos, literalmente, de alegria. Quis acreditar que já estava seriamente afetada pelo álcool – É só a merda de uma ligação, larga de ser paranoica e liga de volta.

— E depois que eu ligo, eu falo o que?

— Qualquer coisa – Exclamou exasperada enquanto desbloqueava o celular e me estendia – Mas tem que ser imediatamente.

Um toque.

Dois toques.

— Alô?

— Pensei que estaria muito tarde pra ligar, mas lembrei que médicos não dormem.

Ele riu e Sthella fez um joinha, enquanto caminhava até os doces do caixa.

— Eu ainda sou só um clinico geral, não um cirurgião atormentado por pacientes não salvos.

— Então você deve ser a inveja entre os médicos.

Tinha que ser não é? Lindo daquele jeito.

— Ai eu já não sei, cirurgiões se consideram bons demais pra ficar na rodinha dos clínicos e enfermeiros.

Porque aquilo não me surpreendia.

— O que Eduardo quis dizer com ter conversado com você durante seu plantão ontem.

Sthella negou com a cabeça, os lábios movendo de forma lenta.

“Muito cedo”.

Tarde demais.

— O que ele disse exatamente?

— Eu perguntei primeiro.

— O plantão durante a parte da manhã costuma ser bem calmo, as pessoas estão dormindo ainda e só se acidentam depois das nove, os que chegam as oito é porque já estavam doentes e só decidiram aparecer depois de piorarem. Carlos trabalha em uma farmácia duas quadras do hospital. - Carlos tinha estudado alguma coisa?! – Fez farmacologia e tudo, o melhor da turma dele.

Eu cobri o telefone com as mãos, passando as informações da Sthella que também parecia impressionada, era difícil encontrar cafajestes como Eduardo que soubessem de alguma coisa além de sexo, álcool e drogas.

Pelo menos sabíamos que de drogas ele entendia.

— Você está fugindo do assunto.

— Ele sempre passa por lá nas manhãs de quinta feira – Me ignorou completamente – Então quando o assunto Manuela Boaventura foi posto em pauta ele tava todo em êxtase por achar que você estava na dele. - Sthella e eu trocamos olhares. – Então eu falei que era melhor ele não criar muitas expectativas porque ele levaria um fora como eu levei, e que você já tinha me contado.

Tinha sido só isso?

— Ele disse que você não deixou que ele saísse comigo.

Houve um silêncio mortal.

— Ele disse isso?

— Disse.

Muito bem, a presa tinha escapado.

— Legal, Carlos é sempre surpreendente. Eu tenho que ir agora, preciso matar umas pessoas.

E desligou.

— O que aconteceu? – Sthella franziu o cenho, tão confusa quanto eu.

— Eu não entendi nada.

Quando ele dizia “matar umas pessoas” ele falava de Carlos Eduardo, ou literalmente matar alguém? Na posição de médico, eu não duvidava muito.


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