Separated by time, united by the creed escrita por TDCAUGirl


Capítulo 6
Get ready for the next battle


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui de novo! o/ (Sim, continuo viva. Eu demoro, mas apareço. huehuehue)
Como estão meus queridos (e pacientes) leitores? xD

Vale lembrar que comentários, criticas e sugestões são sempre bem vindos.


Boa leitura!



AVISO IMPORTANTE: Toda vez em que um novo personagem for introduzido na história haverá um link no nome dele, cliquem no link para visualizar a página da database do Animus referente a ele para obter mais informações sobre o mesmo. Na história, a database do Animus é criada por Felipe e ás vezes recebe comentários dele e/ou de Vinny.



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Acompanhei Altaïr até sua sala, ao entrar ele não me disse absolutamente nada, simplesmente foi direto até as estantes e começou a vasculhá-las, todo apressado, recolhendo vários e vários livros, colocou-os sobre sua mesa. Passou a folheá-los, desesperadamente, como se sua vida dependesse disso, enquanto eu o observava ali parada com as costas apoiadas na parede e de braços cruzados.

— O que está procurando? — Perguntei, quebrando o silêncio.

— Informações. — Respondeu vagamente em seu tom de voz sério característico, sem nem se quer parar um segundo para olhar pra mim.

— É mesmo, Altaïr? Nossa! Eu juro que pensei que você estivesse procurando um cavalo. — Não me aguentei, ri sem me conter. Não sei como ele não me repreendeu, talvez estivesse concentrado demais para isso. — Informações sobre... ? — Perguntei, já parando de rir e usando de um tom mais sério.

— O templário que encontramos em Acre. — Complementou, mais uma vez sem sequer me olhar, ainda folheando seus livros.

— Pelo modo que estava vestido e por ter tantos cruzados ao seu comando suponho que ele deve ter uma alta posição na ordem, talvez até seja um Grão Mestre. — Comecei a caminhar pela sala, pensativa.

— Certamente.

— Sabe o nome dele?

— Não.

— O que sabe sobre ele?

— Nada, e isso me preocupa.

— O grande Altaïr não saber nada é uma nova, isso me preocupa. — Brinquei, voltando a rir.

— Erika, não temos tempo para brincadeiras. Isso é importante. Precisamos encontrar informações sobre esse homem o mais rápido possível. Temo que ele possa estar tramando algo. — Dessa vez me repreendeu, finalmente olhando pra mim, porém com uma expressão nada agradável.

— Está bem. Deixa eu te ajudar. — Me aproximei devagar, procurando pelo meu smartphone nos bolsos do manto.

— Ótimo. Pegue aqueles livros ali. — Apontou para uma estante atrás de mim, outra vez sem nem me olhar. — São registros mais antigos, mas talvez possam ter alguma informação importante.

— Certo. — Fui até a estante e peguei os tais livros, deixando-os sobre a mesa dele junto com os outros. — Aqui estão.

— E então? — Perguntou quase que no mesmo instante.

— Então o que? — Rebati, sem entender.

— Encontrou algo? — Continuava folheando os seus livros apressadamente, tão concentrado que nem viu que eu sequer havia aberto um deles.

— Ainda não, só um minuto. — Com o smartphone na mão fazia uma pesquisa pelo aplicativo da database do Animus. — Sabe o nome do último Grão Mestre templário antes dele?

— Armand Bouchart, mas não vejo no que saber o nome dele ajuda se estamos procurando por...

— Encontrei. — O interrompi.

— Bom trabalho. Pode falar. — Fechou o livro, inicialmente satisfeito, porém ao olhar pra mim esperando por informações e ver que eu não tinha nenhum livro em minhas mãos o assassino logo me encarou, furioso. — Mas você nem começou a procurar. Erika, eu realmente não tenho tempo para essas suas...

— O nome dele é Christopher James Scott, de acordo com as informações que tenho, ele é um Lord inglês descendente de uma longa linhagem de nobres cavaleiros. — O interrompi outra vez, me aproximando devagar e mostrando a página referente ao tal Grão Mestre templário na tela do smartphone para ele, ampliei a imagem do homem pra que Altaïr o visse melhor. — Vê? É ele. — Sorri gentilmente.

— Não entendo uma palavra. — Falou em um tom sério levemente rude se referindo á página enquanto olhava para o meu smartphone claramente interessado e admirado com tal tecnologia, embora não admitisse e agisse de forma oposta.

— Hum... Deixa eu ver... — Troquei para o idioma árabe em questão de segundos e mostrei para ele uma segunda vez. — E agora?

— Melhor assim. — Respondeu no mesmo tom de antes, leu o curto texto da página rapidamente e logo em seguida pegou um pedaço de papel e usando uma pena molhada em tinta preta começou a anotar as informações, sem nem sequer me agradecer por elas. Pensei que talvez pudesse estar agindo dessa forma estranha por se sentir intimidado mediante a como eu acabara de demonstrar a superioridade e praticidade da tecnologia em matéria de pesquisa e obtenção de informações, pelo que eu sabia sobre Altaïr e sua busca por conhecimento durante os anos em que viveu isso fazia certo sentido. Aquilo certamente era muito novo para ele e talvez eu tivesse cometido um erro ao colocá-lo em contato com uma tecnologia séculos a frente do seu tempo, não estava preparado e certamente procuraria de alguma forma saber mais sobre aquele estranho dispositivo.

— O que pretende fazer agora? — Perguntei, deixando o smartphone sobre a mesa dele propositalmente, testando seu interesse.

— Vou enviar alguns de nossos irmãos para investigar esse homem e seus subordinados. Se os templários estão planejando algo nós precisamos saber o que é. — Discretamente levou a mão bem devagar até o meu smartphone, mas eu o peguei antes, deixando o coitado no vácuo. Precisei me conter para não rir. Ah, que cena impagável!

— Certo. Se não se importa eu vou me retirar. Foi uma longa viagem e estou bem cansada. — Falei já caminhando até a porta.

— Não, espere. Precisamos conversar. — Essa frase deixa qualquer um tenso, ainda mais se for dita em um tom de voz tão sério e imponente como o de Altaïr, tive um frio na barriga instantâneo.

— Pode falar. — Tentei agir naturalmente, me virei pra ele esboçando um sorriso forçado e voltei a caminhar pela sala, tentando esconder que eu tremia um pouco.

— Você mentiu pra mim, Erika. Tinha me dito desde a primeira vez em que nos encontramos que estava aqui pela irmandade quando na verdade sua equipe ainda nem sabia de nada. — Falou mantendo o tom sério, parado atrás de sua mesa e me olhando fixamente.

— Ah, qual é? Você quase me matou. Queria que eu dissesse o que? — Apoiei uma das mãos na cintura naquela clássica pose de mulher quando discute. — E não foi bem uma mentira. Gosto de pensar que foi mais uma boa ideia, que estranhamente acabou se concretizando. — Sorri, piscando com só um dos olhos e fazendo certo charme. Apesar de aparentar confiança eu estava era com medo do que poderia acontecer, embora já estivesse mais acostumada com a personalidade de Altaïr, eu não podia negar que ele ainda me assustava um pouco.

— Não seja sínica, você mentiu pra mim. Como vou saber se posso confiar em você? — Me encarou com seu olhar fuzilante, eu sabia bem no que ele estava pensando, era de se esperar, afinal á essa altura já havia sido traído mais de uma vez por pessoas nas quais confiava. Fiquei calada por alguns segundos sem saber o que dizer.

— Tá vendo isso aqui? — Guardei meu smartphone de volta no bolso e saquei minha pistola semi-automática, segurando-a com ambas as mãos e a apontando na direção dele. — O que me impediria de te matar aqui e agora? — O encarei, olhando bem fundo nos olhos dele como se não o temesse, usando toda a coragem que eu não tinha. Era uma atitude arriscada, eu não sabia qual seria sua reação, aquilo tinha tudo para não acabar bem, porém, se desse certo eu provaria de uma vez por todas que estava ao lado do assassino, eu já não aguentava mais ouvir aquela conversinha sobre confiança.

— Sua arma não tem mais projéteis, você mesma me disse isso quando nós fomos cercados pelos cruzados naquele desfiladeiro. — Sequer demonstrou alguma reação, me respondeu friamente e permaneceu ali parado como se nada tivesse acontecido, sem mover um músculo.

— Tem certeza? Eu trouxe mais pentes com balas para recarregar. Como saberia se eu tenho ou não munição? Eu também poderia ter mentido sobre isso, não? — Me aproximei bem devagar, mantendo a arma apontada para ele. — E com todo o respeito, nem mesmo um mestre assassino treinado como você teria a menor chance contra uma arma de fogo. Você viu o que aconteceu com aqueles cruzados quando eu atirei contra eles, eu poderia facilmente te matar aqui, agora, em menos de um segundo e com um simples disparo. — Cheguei perto o bastante para encostar o cano da arma na cabeça dele.

— O que significa isso, Erika? — Essa sua pergunta, assim como a anterior, me fazia pensar se Altaïr tinha algum medo de mim. Se ele tinha, o que eu duvidava, certamente não demonstrava. Talvez fosse só uma desconfiança baseada em suas experiências passadas, desconfiança essa que se mantinha mesmo depois de eu ter salvo a vida dele por mais de uma vez e que precisava acabar o quanto antes, pro bem de nós dois, e da minha missão também. — Se isso for uma tentativa de me assustar, saiba que foi em vão. Não tenho medo de você, garota. — Se auto-afirmou como imaginei que faria, simples e direto, com a mesma frieza de antes.

— E por que você não tem medo de mim, Altaïr? — Era o momento crucial, no qual minha tentativa louca de psicologia reversa poderia dar certo e originar a resposta amistosa que eu esperava ou dar errado, acarretando talvez em uma reação agressiva, não me surpreenderia se ele me matasse por tal ousadia. Mesmo nervosa com o que poderia acontecer, me mantive confiante e esbocei um leve sorriso ao fazer a pergunta.

— Minha visão mostra você como uma aliada, assim como na primeira vez em que nos encontramos. — Falou calmamente, quebrando o silêncio depois de ficar alguns segundos calado apenas me observando. e é claro, aumentando meu nervosismo.

— Tá aí sua resposta. — Disse aliviada, agora com um largo sorriso nos lábios, bem mais segura e quase não acreditando que ele havia dito exatamente aquilo eu queria e esperava ouvir, gostei, não nego. Fiquei imaginando se o assassino usou o seu dom mais uma vez no tempo em que me observou calado, pela resposta, tudo indicava que sim. — Confia em mim? — Perguntei para ter certeza, mantendo o sorriso enquanto abaixava a arma devagar.

— Confio. — Altaïr disse de forma calma.

— Ótimo! — Com a arma na mão direita e apontada aleatoriamente para a minha esquerda, apertei o gatilho para que ele visse que eu estava mesmo sem balas. O silêncio se fez outra vez, guardei a arma e fiquei ali parada esperando que me liberasse para ir embora, o que não aconteceu.

— Mas além de ter mentido ainda omitiu o fato de ser uma novice. Devia ter me dito isso assim que chegou. Você sabe a sorte que teve ao escapar viva dessa missão, não sabe? — Pelo visto a hora do sermão tinha começado, era só o que me faltava mesmo. E eu que achei que tinha me livrado disso quando deixei minha família em Londres.

— É, eu sei... Sei que se não fosse por você eu não teria escapado viva. Eu coloquei sua missão e sua vida em risco, sinto muito. — Desviei o olhar, totalmente sem jeito.

— Se não fosse por você eu provavelmente não estaria vivo também. Sua habilidade com essa arma estranha é impressionante, mas me diga, Erika... Quem é você sem ela? — Por um instante achei que finalmente receberia um elogio dele, mas não, tinha que vir acompanhado de uma pergunta para me lembrar o quanto eu era inútil. Não tive resposta, apenas abaixei a cabeça e permaneci calada. — Eu respeito os métodos do seu tempo, mas você não está mais em 2015 onde eu suponho que tudo pode ser resolvido com alguns disparos de projéteis. O que eu quero dizer é que se vai ficar aqui você vai precisar de muito mais do que isso. Entende?

— Sim. — Respondi vagamente. — E eu ia te dizer que eu era uma novice naquele dia em que você me presenteou com a lâmina oculta, mas acabei me distraindo e depois esquecendo, quando me lembrei não tive coragem, imaginando que você me faria devolvê-la. Bem... De qualquer forma, acho que vou ter que devolver agora, não é? — Já começava a tirar a braçadeira.

— Não. Você pode ficar com a lâmina oculta, mesmo não tendo as habilidades que imaginei que tivesse o fato de você vir do futuro ainda te torna a melhor pessoa para testá-la. Mas vou precisar que devolva o manto e as armas de mestre assassina, pedirei que lhe entreguem um novo manto correspondente ao seu ranking atual. — Altaïr falou até que gentilmente, mas mesmo assim me senti mal por ter que devolver tudo, era humilhante.

— Peço permissão para personalizar o meu manto para que eu possa utilizar meus equipamentos e armas que trouxe comigo. — Disse de forma humilde e respeitosa.

— Eu permito desde que não exagere indo além dos nossos costumes e do estilo da época atual. Isso poderia chamar atenção dos nossos inimigos e fazer com que os irmãos que são do mesmo ranking que o seu pensem que você está acima deles ou que está recebendo algum tratamento especial. — Advertiu, em um tom mais sério.

— Está bem, obrigada. Já posso ir agora? — Não que eu quisesse tanto ir, na verdade se pudesse eu ficaria na companhia dele o dia todo, mas eu precisava mesmo descansar depois de tudo o que havia acontecido em Acre e coloca a cabeça em ordem, isso sem falar que eu não fazia os relatórios da missão há dias.

— Sim, pode ir. Descanse bem. Amanhã você vai precisar acordar muito cedo para o seu treino com espadas.

— Você vai me treinar? — Perguntei toda entusiasmada como uma criança que ganha um brinquedo novo, só faltaram os meus olhos brilharem para que eu parecesse uma daquelas personagens de anime, e não duvido que tenham brilhado tamanho era meu entusiasmo ao me imaginar sendo treinada pelo maior e mais lendário assassino da história.

— Não, você será treinada pelos mestres em combate de espada assim como seus outros irmãos assassinos. — Acabou com a minha alegria em segundos, era de se esperar.

— Então tá, né... ? — Falei claramente desapontada.

— Os treinos podem ser bem puxados para quem não tem nenhuma experiência com combate e certamente você irá enfrentar oponentes de rankings mais altos, então se esforce ao máximo e tenha cuidado. — Disse de uma forma tão gentil que por um minuto pareceu que Altaïr se preocupava comigo de um jeito especial, ou talvez fosse eu mais uma vez imaginando coisas e me iludindo.

— Ok. — Ainda demonstrando meu desapontamento, desembainhei a espada e a deixei sobre a mesa do assassino, em seguida fiz o mesmo com a adaga e depois com as facas de arremesso, tirando uma a uma do cinto. Ouvi algo cair no chão e ignorei deduzindo que fosse uma das facas, fingi não ter visto por preguiça de me abaixar para pegar. — Aqui estão as armas. Com sua licença. — Caminhei até a porta e me retirei, na certa ele percebeu como eu estava me sentindo.

Ao sair me deparei com Maria que passou ao meu lado me olhando com a mesma cara feia que tinha feito ao me ver pela primeira vez, ela entrou na sala de Altaïr e bateu a porta, parecia bem irritada. Não me aguentei de curiosidade, tive que voltar e escutar o que eles dois estavam falando.

— Altaïr, quem é essa mulher? — Foi direto ao ponto, toda imponente. Mais uma vez mostrando sua personalidade forte.

— Boa tarde para você também, Maria. — Respondeu o assassino, sendo até que engraçado pros padrões dele.

— Quem é ela? — Insistiu. Me aproximei um pouco mais e passei também a espiá-los pelo vão da porta, curiosa para saber o que Altaïr diria sobre mim.

— Erika é nossa mais nova irmã assassina. — Falou calmamente.

— Você não me avisou que agora mulheres podem se juntar a irmandade. — De braços cruzados, a mulher o encarava.

— E não podem, pelo menos não ainda. Primeiro precisamos que os nossos irmãos as aceitem entre nós como iguais. Você sabe melhor do que ninguém como isso é difícil, não sabe? — Ainda mantendo seu tom de voz calmo aproximou-se dela, segurando suas mãos. Claramente referia-se ao fato de que inicialmente Maria precisou se disfarçar vestindo-se como homem para poder lutar e ser respeitada como um cavaleiro quando decidiu participar das cruzadas anos atrás.

— Então... ? — Maria estava impaciente, como se esperasse ouvir algo que estivesse faltando.

— Ela é especial. — Complementou. Ao ouvir aquilo eu esbocei um largo e brilhante sorriso feito uma adolescente apaixonada, quase nem acreditei que Altaïr havia realmente dito aquilo de mim. Um silêncio constrangedor se fez, claramente Maria não havia gostado nada do que ouviu, na verdade, assim como eu, ela pareceu não acreditar. Confesso que a reação dela ali parada sem dizer nada me obrigou a cobrir a boca com a mão para conter o riso.

— Especial? Como assim “ela é especial?” — Finalmente quebrou o silêncio depois de alguns segundos, afastando-se rapidamente e fitando o assassino como se fosse estrangular ele ali mesmo, se antes ela já parecia irritada, naquele momento estava furiosa. — O que você quer dizer com isso, Altaïr?

— Ela veio de muito longe para se unir a nós. — Tentou explicar de forma simples, falando em um tom de voz mais sério.

— Isso não justifica nada. — Ergueu um pouco a voz, apontando o dedo para o assassino. Essa mulher tinha muita ousadia... E coragem. — O que você está escondendo de mim?

— Nada.

— Altaïr, eu te conheço. Sei que está escondendo algo de mim. O que é? — Insistiu Maria, se aproximando dele com ambas as mãos na cintura, na mesma pose que eu havia feito minutos atrás.

— Está bem... — Respirou fundo, nada contente. — Erika veio do futuro. — Falou de uma vez, simples e direto como de costume.

— É sério isso? — Ficou ainda mais irritada. — Você está brincando comigo em um momento desses?

— Não, Maria. Erika veio mesmo do futuro. — Insistiu o assassino, usando o mesmo tom de voz sério. O vi virar-se de costas e se abaixar para recolher algo do chão, mas não pude ver bem o que era.

— Você ouviu o que acabou de dizer? Isso é impossível! Você só pode estar sob efeito daquela tal Maçã. Está lhe fazendo delirar. Eu disse para não mexer com aquela coisa. — Aproximou-se ainda mais de Altaïr, observando-o.

— Impossível? Certo. — Deu uma breve pausa. — Me diga... Já viu um desses antes? — Perguntou Altaïr, mostrando aquilo que acabara de pegar do chão para Maria. Quase interferi quando vi que o que ele tinha em mãos era o meu smartphone, porém me contive, temendo o que poderia acontecer se os dois descobrissem que eu os estava espiando.

— Não. O que é isso? Outro artefato? — Aparentemente curiosa, achei que ela fosse pegar o objeto da mão do assassino, mas não o fez.

— É um dispositivo que Erika trouxe com ela. Eu nunca vi nada parecido. É capaz de obter informações sobre alguém em questão de segundos. Sabe se lá o que mais pode fazer... — Altaïr disse admirado com as possibilidades da tecnologia do futuro, como eu imaginei que estivesse. Tentava mexer no smartphone, sem êxito, o bloqueio de tela com senha o impedia de fazer qualquer coisa além de acender a luz do display. Me senti aliviada, temia que ele visse o que não deveria.

— Então essa loucura é verdade? — Maria observava o assassino tentando interagir com o dispositivo.

— Sim, é verdade. — Guardou o meu smartphone no bolso do manto dele, na cara dura mesmo, ladrãozinho espertinho. — Eu também não acreditei quando ela me disse, até ver uma estranha arma que dispara projéteis, capaz de perfurar o metal e matar inimigos em um piscar de olhos, sem o menor esforço. Você percebe? Uma arma como essa pode derrotar exércitos e mudar o rumo de guerras. — Pelo modo como falou pareceu ter um pouco de medo ao imaginar tais possibilidades, chegou bem perto de Maria.

— Isso é algo inimaginável, porém assustador. — Nesse instante ela também aparentou ter medo, era de se imaginar, levando em conta a época na qual os dois viviam.

— Eu me pergunto que outras coisas inimagináveis Erika trouxe consigo. — O assassino estava claramente perdido em seus pensamentos, com toda certeza tentava imaginar quais outras “maravilhas” da tecnologia eu tinha em posse e isso me deixou muito preocupada, eu já esperava esse tipo de curiosidade de alguém como ele e temia o impacto e as conseqüências que esse choque de épocas traria, tanto sobre o passado quanto sobre o próprio Altaïr.

— Isso é extremamente perigoso. Você confia nela? — Os dois trocavam olhares e o clima era um pouco tenso.

— Ela salvou minha vida, mais de uma vez. — Vê-lo dizer isso humildemente me encheu de orgulho, agora eu começava a ver que ele realmente estava mudando e não era mais tão arrogante.

— Isso pode fazer parte de algum plano dela, não? — Afastou-se do assassino e voltou a cruzar os braços, fitando-o com um olhar nada amigável. — O que ela faz aqui?

— Erika me disse que foi enviada pela irmandade do futuro em uma missão para me ajudar com a Maçã do Éden.

— E você acreditou nisso, Altaïr? Pelo que sabemos, ela pode ser qualquer pessoa e ter qualquer tipo de intenção, ainda mais conhecendo o artefato, tendo acesso a todas essas informações e armamento do futuro. Eu realmente achei que você fosse mais inteligente e cauteloso. — Mostrou-se ousada mais uma vez ao afrontar o assassino dessa forma, ambos trocaram olhares de novo e o clima ficou bem mais tenso.

— Maria, eu posso “ver”. Erika é nossa aliada. — Altaïr disse em um tom sério e seguro, insistindo.

— Pois eu não gosto dela.

— Não me diga que você está com ciúme. — Falou rindo discretamente em uma tentativa de humor bem rara, enquanto se aproximava da mulher. Foi uma sacada e tanto, naquele momento mais uma vez eu tive que cobrir a boca com a mão para não rir, e desta vez não foi nada fácil.

— Eu? Com ciúme? Ora, Altaïr... Eu... — Furiosa, cerrou os olhos e foi pra cima dele como se fosse bater no mesmo, mas parou, sem saber o que dizer, enquanto o assassino sequer moveu um músculo, ainda rindo.

— Não se preocupe, meu amor. Eu tenho certeza de que vocês duas vão se dar bem. — Usou de um tom mais gentil e carinhoso, envolvendo a mulher em seus braços. Não gostei nada de ver aquilo, na verdade, odiei, me senti tão mal ao vê-los juntos que sequer quis continuar ali. Saí andando pelo corredor tentando esquecer o que eu sentia por Altaïr e pensando em como recuperaria o meu smartphone.

De volta ao quarto tomei um bom banho e cumpri com as minhas obrigações fazendo os relatórios de missão em vídeo e por escrito do dia atual e dos anteriores, aquilo era um saco, mas pelo menos ocupava a minha mente e evitava que eu pensasse no que não deveria, pelo menos por um tempo... Não adiantou muito, quando tentei descansar tive a mente invadida por pensamentos ruins, um pior do que o outro, que me faziam ter vontade de largar tudo e ir embora, e que me impediam de dormir. Foram horas e horas virando de um lado para o outro na cama, me punindo mentalmente por ser uma idiota iludida por um amor impossível, até que finalmente consegui pegar no sono.

Acordei bem mais tarde do que deveria, por volta de umas 8 da manhã, segundo o meu Apple Watch. Certamente a sessão de treinamento já havia começado, na verdade, eu teria sorte se já não tivesse terminado. Levantei-me apressada e me vesti o mais rápido que pude, toda atrapalhada, derrubando várias coisas pelo quarto e quase caindo. Eu agora usava o manto de uma novice, em comparação com o de mestre assassina, este era bem mais curto, um pouco acima do joelho, com um cinto simples, sem coldres e sem armas, a única semelhança era a cor branca e a faixa vermelha abaixo do cinto que também se estendia até um pouco acima do joelho tanto na parte da frente quanto na de trás. Ao me olhar no espelho por alguns breves segundos não foi nada agradável, ainda mais levando em conta que eu já tinha vestido o belo manto de mestre e, mesmo não o merecendo, ainda poderia estar com ele se não tivesse aberto a minha boca grande, mas era o preço da verdade, e embora me sentisse uma inútil, eu preferia ser uma pessoa verdadeira.

Sequer tomei meu café da manhã, ao invés disso peguei uma maçã, sim, ironicamente uma maçã, da bandeja de frutas que havia sobre a mesa do quarto e saí com ela presa na boca enquanto ainda prendia a braçadeira com a lâmina oculta no meu antebraço esquerdo, uma cena constrangedora que por sorte ninguém viu. Já com a maçã na mão, corri desesperadamente pelos corredores da fortaleza até o pátio onde, para a minha sorte, o treinamento ainda estava acontecendo. Parei em meio á um grupo de assassinos que assistiam ao treino de dois jovens rapazes, aparentemente com uns 20 anos cada um, ambos trocavam golpes de espada enquanto um velho mestre os instruía empolgado com seus ágeis movimentos.

— Muito bom! Excelente! Que reflexos! Que habilidade! — Exclamava o tal mestre com admiração, e com razão, os dois jovens eram realmente lutadores talentosos. Aproximei-me da arena para observá-los melhor enquanto recuperava o fôlego que havia perdido com a corrida e finalmente provava a maçã. — E assim que todos deveriam lutar! — Mais uma vez exclamou, caminhando até os rapazes e interrompendo o treino deles. — Vocês estão fazendo ótimos avanços, se continuarem assim serão mestres muito em breve. Já podem se retirar, por hoje é só. — Orgulhoso de seus alunos, bateu de leve no ombro dos dois, esboçando um belo sorriso. Os jovens se retiraram e o mestre voltou seu olhar para o grupo de assassinos como se procurasse por alguém. — Ei! Você. — Apontou o dedo na minha direção, embora eu duvidasse que ele estivesse procurando a mim, deduzi que estivesse se referindo a algum dos homens ao meu lado e permaneci onde estava sem dizer nada. — Você aí, irmã! — Insistiu, chegando mais perto e fazendo todos os outros assassinos olharem para mim, acabei me dando conta de que de fato eu era a pessoa a quem ele procurava. — Aproxime-se. — Sugeriu, e eu o fiz, chegando bem perto da arena. — Você deve ser a nossa mais nova irmã de quem o mentor me falou. Qual é seu nome? — Perguntou gentilmente.

— Erika... — Respondi vagamente, um pouco sem jeito por todos estarem me olhando, era a minha primeira aparição publica na irmandade, acho que corei um pouco.

— Segurança e paz, Erika. Eu sou Labib. Vou ser seu instrutor de combate. — Manteve o tom de voz gentil e ao se apresentar voltou a sorrir.

— Certo... — Outra vez, respondi de forma bem vaga, olhando ao redor e me sentindo um pouco incomodada com todos aqueles olhares.

— Venha! Me mostre o que sabe. — Estendeu a mão.

— Então... É... Eu to meio que... — Toda atrapalhada, mostrei a maçã que estava comendo, tentando usá-la como uma desculpa esfarrapada para não ter que passar vergonha na frente de todos aqueles homens. — Não pode ser outra hora não? — Perguntei na maior cara de pau mesmo, já pensando em sair de fininho.

— Não tenha medo, irmã. Vamos! — Insistiu gentilmente.

— Hm... Melhor não. Eu não sou muito boa nisso. — Falei baixinho, discretamente para que somente ele ouvisse.

— Pois estou aqui justamente para lhe ajudar. — Labib continuava ali parado com a mão entendida e um belo sorriso, ele era tão gentil que mesmo eu não querendo lutar foi difícil recusar.

— Está bem. — Sorri, ainda um pouco sem jeito. Deixei a maçã na mão de um assassino qualquer que eu nem conhecia e entrei na arena caminhando devagar. Labib me entregou uma espada e disfarcei minha surpresa ao saber que esta era bem mais pesada do que eu imaginava, confesso que tive certa dificuldade para manejá-la.

— Certo, Erika. Quero que me ataque para que assim eu possa analisar seus movimentos e ver o que precisa ser melhorado. — Com sua espada em mãos, afastou-se para me dar espaço e se colocou em postura defensiva, me olhando fixamente, atento para qualquer movimento que eu fizesse.

— Okay... — Confusa e insegura, pensava em como iria atacá-lo da melhor forma, ou para ser mais exata, da forma que fosse “menos pior”, afinal minhas habilidades de combate eram nulas e eu não tinha a mínima ideia do que fazer, muito menos enfrentando um mestre.

— Olha só quem está aqui. — Abbas surgiu entre os assassinos que assistiam ao treino, caminhando devagar até a arena. — Nossa mais nova “irmãzinha” veio se juntar a nós no treinamento hoje? — Perguntou todo cheio de si, de forma totalmente forçada beirando ao sarcasmo para zombar de mim achando que me provocaria. O ignorei, permanecendo parada onde estava sem mover um músculo, quase que imitando o modo de agir de Altaïr, esperando que Abbas fossem embora. — Permita-me compartilhar o meu conhecimento de combate como um bom irmão que sou. — Entrou na arena e desembainhou sua espada.

— Abbas, não. Erika é uma novice e não está pronta para lutar ainda. Tenho certeza que vocês poderão se enfrentar em outra oportunidade. — Falou Labib em um tom de voz mais sério, eu diria até preocupado, entrando na frente daquele idiota.

— Não se preocupe, eu serei cauteloso, afinal ela é uma mulher. — Usou do mesmo tom forçado, zombando de mim mais uma vez em um comentário infeliz que, por mais que eu tentasse ignorar, fez meu sangue ferver.

— Eu acho melhor não. — Ele estava definitivamente preocupado. — Agora se puder me dar licença vou prosseguir com o treinamento.

— Mas não é você que ama um combate, Labib? — Questionou, ainda parado na arena.

— Sim, mas nesse caso eu...

— Tudo bem, Labib. Eu aceito enfrentar Abbas. — O interrompi, colocando a mão sobre o ombro dele. O gentil e agora preocupado mestre apenas assentiu com a cabeça e se retirou da arena, juntando-se aos demais assassinos que gritavam, incentivando o combate. Eu confesso que não aguentei, precisava ensinar aquele desgraçado uma lição, embora eu não tivesse a mínima ideia de como faria isso. Eu só podia estar louca quando aceitei enfrentá-lo, ainda mais perante todos aqueles outros assassinos. Foi como se naquele instante tivesse surgido uma coragem em mim da qual eu não sabia da existência, ou talvez tenha sido só um impulso bobo que se mostraria um grande erro, eu não sabia ao certo.

— Pode vir! Me mostre tudo o que tem, “irmãzinha”. — Sequer se colocou em postura defensiva, como se não esperasse nada de mim.

— Foi você que pediu! — Corri até ele e antes que eu pudesse desferir algum golpe o idiota se defendeu sem o menor esforço, o barulho do aço das duas lâminas se chocando uma contra a outra ecoou por todo o pátio, senti um “coice” tão forte que deixei a espada cair quase que no mesmo instante.

— Olhem só! Essa mulher não sabe nem segurar uma espada. — Abbas começou a rir alto e todos os assassinos que assistiam ao combate riram junto, com exceção de Labib, o qual me olhava como se dissesse para eu sair dali o mais rápido possível. Quase morrendo de vergonha e também assustada com o que viria a seguir, me afastei, olhando para a espada no chão e em seguida para o desgraçado, imaginando como eu a recuperaria sem levar um golpe que poderia até ser mortal. Abbas se aproximou, desferindo uma sequência de golpes da qual eu tive sorte de desviar, ou nem tanto, pois me esquivava de forma lenta e ele, que era bem mais rápido e tinha anos de treinamento a seu favor, conseguiu me ferir com alguns cortes leves nos braços e nas pernas, os quais eu só fui notar quando me afastei novamente.

— Eu acho que já chega, Abbas. — Labib tentou intervir, aproximando-se da arena.

— Não, eu apenas comecei. — Ignorando o mestre, continuou a desferir golpes dos quais eu tinha extrema dificuldade em desviar e faziam eu me perguntar se sobreviveria ao próximo, acumulando cada vez mais cortes pelo corpo, deixando meu mais novo manto em trapos e manchando-o de vermelho com o sangue. Desesperada, ativei a minha lâmina oculta visando usá-la para aparar os golpes de Abbas, porém, assim que a espada dele a atingiu, já no primeiro golpe, fez com que a mesma se partisse em duas, liberando faíscas que por pouco não atingiram meu rosto. O som do metal se chocando e sendo partido não foi nada agradável e a parte da lâmina que se desprendeu voou longe em um piscar de olhos, mal pude ver onde caiu. Sem ter outra saída, avancei sem medo, buscando driblá-lo e recuperar minha espada, rangi os dentes, tanto pela dor quanto pela raiva que sentia daquele idiota e da humilhação que ele estava me fazendo passar na frente de quase toda a irmandade. Quando achei que fosse conseguir passar por Abbas, o mesmo previu meu movimento e com um chute em um ponto específico da minha perna fez com que eu perdesse o equilíbrio e caísse bruscamente no chão de areia, os ferimentos arderam ainda mais e soltei um grito de dor. — Fugir como uma verdadeira covarde. Que bela técnica! Isso é tudo o que você tem? — Perguntou o desgraçado em tom de deboche e pisando sob o meu abdômen, impedindo que eu me levantasse. — Acabou. — Vangloriou-se e ergueu a espada como se fosse me dar um golpe fatal, pelo pouco que eu conhecia dele eu tinha quase certeza que o faria. Um silêncio se fez em todo o pátio no qual outrora podia se ouvir gritos e risadas dos espectadores, mais uma vez foi como se o tempo tivesse parado, porém, eu tive apenas alguns curtos segundos para agarrar um punhado de areia com uma das mãos e jogar nos olhos de Abbas, fazendo-o recuar e largar a espada, ficando parado de olhos fechados e movendo as mãos de forma desesperada, totalmente desorientado. — Sua infiel! Eu acabar com você por isso. Onde está você? — Gritou, enquanto tive tempo o suficiente para me levantar e me aproximar para chutá-lo onde mais dói, fazendo com que o mesmo caísse de joelhos humilhantemente, o chutei outra vez, graciosamente, atingindo seu peito para que caísse de vez no chão. Contorcendo-se de dor o idiota tentou se afastar arrastando-se pela areia, mas calma e tranquilamente peguei ambas as espadas do chão, tanto a minha quanto a dele, e cruzei as lâminas delas formando um “x”, logo em seguida, me aproximei novamente e coloquei-as bem perto do pescoço daquele desgraçado, prestes a decapitá-lo. Confesso que por um instante eu realmente pensei em matá-lo ali mesmo e impedir tudo aquilo de ruim que aquele filho da puta faria no futuro, mas recuei, não sei ao certo porque, talvez por pena.

— Essa técnica se chama: “vacilou se deu mal”. Vê se aprende aí. — Disse toda confiante, com a voz ainda um pouco ofegante por conta da luta. Larguei as espadas e me retirei da arena rindo. O silêncio deu lugar a olhares surpresos e até mesmo incrédulos dos assassinos que assistiam à luta, começaram a gritar à meu favor, fazendo eu me sentir como uma campeã, e não demorou muito para que eles, que antes riam de mim, passarem a rir de Abbas.

— Não foi exatamente o que eu gostaria de ver, mas... Muito bem! — Labib me cumprimentou, rindo baixo. Parecia bem entusiasmado. — Sua coragem e persistência são inspiradoras. E é claro, a ousadia que...

— Obrigada! Gentileza sua. — Interrompi o coitado, olhei para cima e vi Altaïr me observando de uma enorme janela no segundo andar bem de frente com a arena, só ali me dei conta de que provavelmente ele havia assistido tudo, fiz dois “joinhas” com as mãos e sorri de um jeito meio forçado, em uma tentativa de disfarçar o quanto aquilo me deixou sem jeito. Com uma expressão séria no rosto, o assassino fez um leve e discreto gesto pedindo que eu fosse ao seu encontro e assim o fiz, deixando o pátio e caminhando calmamente pelos corredores da fortaleza até chegar na sala dele.

— Vejo que você já começou a personalizar seu manto. — Altaïr falou assim que entrei. Embora parecesse sério, eu já estava me acostumando e sabia que esse era o jeito dele de pelo menos tentar ser engraçado.

— Aquele Abbas é um filho da...

— Abbas é um homem fraco, você não deveria ter dado ouvidos às provocações dele. — Interrompeu-me. — Eu sabia que algo assim aconteceria. Não é tão fácil para alguns homens aceitarem uma mulher como igual, ainda mais no campo de batalha, Maria por exemplo precisou...

— Disfarçar-se como homem por vários anos até que se uniu aos templários? — Complementei, rindo baixo.

— Ah, você sabe. — Me olhou levemente desapontado, talvez quisesse contar toda a história e conversar a respeito, o que vindo dele eram bem raro, uma vez que só falava o que era preciso, acho que acabei estragando o momento. De qualquer forma, se fosse para falar sobre Maria eu preferiria ficar calada mesmo.

— Sei. — Continuei rindo. — Quem diria? O mentor da irmandade dos assassinos junto com uma templária. — Não resisti, tive que alfinetar, mesmo dando risada para disfarçar.

— As coisas são bem diferentes do que você imagina, Maria não faz mais parte da Ordem e... — Não ficou nada contente como imaginei que aconteceria, mas tentou se acalmar e voltar ao seu tom sério natural. — Esquece. Isso não lhe diz respeito.

— Certo, certo... — Revirei os olhos. — Por que me chamou aqui?

— Te chamei aqui porque decidi que quero aprender sobre a tecnologia do seu tempo. — Disse todo imponente e confiante como um verdadeiro líder.

— Ahhh... Você decidiu? — Perguntei com certa ironia, voltando a rir.

— Sim, decidi.

— Que ótimo, Altaïr! — Exclamei toda feliz, ainda no mesmo tom irônico.

— O que me diz? — Sorriu de leve, o que já era muito pra ele.

— Não. — Respondi em um tom sério levemente rude, curta e direta. Me virei de costas e saí andando calmamente.

— Como assim “não”? — O sorriso dele se desfez no mesmo instante, dando lugar a um olhar furioso.

— Não. — Repeti, caminhando calmamente rumo à saída da sala, a qual era bem grande.

— Erika, não seja insolente. Volte aqui! — Ordenou.

— Mais alguma coisa? — Parei e olhei para trás por alguns segundos. Sim, tinha mais alguma coisa, a droga do meu smartphone que o espertinho não me devolveu.

— Me diga, qual é problema? — Insistiu.

— “Qual é o problema?” Ainda me pergunta? Eu achei que você fosse bem mais inteligente do que isso, Altaïr. Ou talvez só esteja cego por essa sua sede de conhecimento. — Me virei para o assassino, cruzando os braços e o encarando, buscando manter a calma, sem muito êxito. — O “problema” é que o passado pode ser alterado gerando uma reação em cadeia, dando origem a novos acontecimentos durante a história e consequentemente mudando o futuro. Isso é, se nessa nova linha temporal existir um futuro. Esse é o “problema”.

— Você fala como se o fato de eu ter contato com uma tecnologia que mal compreendo e está centenas de anos a frente do meu tempo fosse o bastante para mudar toda a história. — Aproximou-se devagar, cerrando os olhos.

— Até o menor e mais simples acontecimento pode mudar tudo. O que aconteceria se você não tivesse comprometido a missão no Templo de Salomão? Os templários teriam vencido a guerra? Ou pior, Al Mualim teria escravizado Masyaf com o poder da Maçã? E depois a terra santa? Todo o mundo?

— Eu o deteria, da mesma maneira que fiz. — Afirmou-se, erguendo a voz, quase gritando.

— Sendo leal a ele como você era? Eu duvido muito. Isso sem falar em como você era arrogante... Não teria a menor chance. — O deixei calado por vários segundos, gerando um silêncio constrangedor. Ver ele ali parado sem dizer nada me fez pensar que talvez eu tivesse pego pesado, mas era a verdade, a dura verdade. — Você não compreende a tecnologia do futuro, mas quer aprender sobre ela e, sendo brilhante como eu sei que você é, vai aprender se eu permitir. Quais serão as conseqüências disso para o futuro? — Dei uma breve pausa, Altaïr permanecia calado. — Olha, o que eu estou tentando dizer é que para toda ação existe uma reação. O tempo é algo complicado demais, tão complicado que eu já posso ter alterado o futuro somente por estar aqui. Como eu te disse no deserto, posso acabar causando uma catástrofe e pensar nisso é enlouquecedor. E por mais que eu queira te mostrar muita coisa sobre o meu tempo eu realmente não sei se posso. Entende? — Já conseguia ser um pouco mais calma e serena.

— É... Você tem razão. — Respondeu, hesitante em admitir. Afastou-se e caminhou até a janela, parecia pensativo, ou talvez decepcionado. Sua expressão séria era difícil de decifrar, até para mim.

Retirei-me sem dizer mais nada, voltei para o meu quarto onde tomei um bom banho e cuidei dos meus ferimentos, vesti uma túnica confortável e peguei meu notebook, me sentei na cama a fim de relaxar depois daquele dia cansativo jogando um pouco de Hearthstone online, e foi só aí que caiu a ficha de que eu estava no passado e não tinha acesso a internet, que droga.

Nos dias que se seguiram compareci aos treinamentos de Labib todas as manhãs, mas embora eu estivesse presente fisicamente, minha cabeça estava em outro lugar, bem longe, pensando em Altaïr... No que eu sentia por ele e em nossa última conversa, me fazendo sentir culpada por tê-lo decepcionado, apesar de ter bons motivos para isso. Não tínhamos nos falado mais, na verdade, eu nem sequer o tinha visto mais, e não foi por falta de tentativas, afinal frequentemente eu saía para caminhar pelos corredores e salões da fortaleza ou pelo vilarejo, mas como eu deveria ter imaginado, ficar trancado em uma sala lendo e estudando era mais o estilo dele. Eu não estava fazendo nenhum progresso nos treinos, tanto pela minha distração quanto por ficar incomodada com todos aqueles outros assassinos me observando e julgando cada movimento meu, isso sem contar os olhares de ódio que recebia de Abbas quando tinha o azar de esbarrar com ele por ali.

Em um dia qualquer, abandonei o pátio onde o treinamento ainda estava acontecendo, discretamente, e decidi ir falar com Altaïr de uma vez por todas. Fiquei por vários minutos parada em frente à porta da sala dele sem conseguir entrar, em uma luta entre a saudade e o medo de tornar as coisas ainda piores entre nós. Acabei recuando e resolvi ir conversar com Malik, se tinha alguém que conhecia Altair, esse alguém era ele.

— Segurança e paz, irmã! — Falou gentilmente quando entrei, estava organizando alguns pergaminhos que se encontravam sobre a mesa dele. — O que a traz aqui? — Deixou os pergaminhos de lado e passou a me dar total atenção, era fácil ver como Malik e Altaïr eram bem diferentes.

— Desculpa atrapalhar. — Respondi toda sem jeito, fechando a porta. — É que eu estou com um problema e resolvi...

— Seu problema se chama Altaïr? — Me interrompeu, sendo bem sagaz e já deduzindo de imediato, fiquei até sem palavras por alguns segundos.

— Bem... É... Digamos que sim. — Desta vez, respondi ainda mais sem jeito, desviando o olhar para o lado.

— O que ele fez desta vez?

— Na verdade não é bem o que ele fez é que eu...

— Você gosta dele. — Não acreditei quando ouvi aquilo de Malik, senti um frio enorme na barriga e “travei” instantaneamente, mais uma vez ficando calada sem saber o que dizer. — É isso? — Perguntou, quebrando o silêncio.

— Eu... É... — Tentava dizer alguma coisa, mas a minha voz falha não ajudou. Hesitante, tentei disfarçar, mas foi inútil, a aquela altura eu já deveria estar corada feito um pimentão, cobri o rosto com as mãos, morrendo de vergonha.

— Está tudo bem, irmã. Não há necessidade para ficar assim. — Mantinha seu tom de voz gentil, o ouvi se aproximar devagar.

— Como você sabe... Sobre isso? — Perguntei ao retirar as mãos do rosto e vê-lo em minha frente, ainda envergonhada e um pouco nervosa.

— Está estampado no seu rosto. — Riu baixinho, tocou meu ombro e caminhamos juntos calma e vagarosamente pela sala dele. — E vamos dizer que sou um bom observador.

— Parece que eu cheguei tarde. — Falei claramente desapontada, me referindo à Maria.

— Nunca é tarde quando se quer mesmo lutar por algo.

— Eu não sei se você percebeu, mas lutar não é bem a minha especialidade. — Brinquei para descontrair e tentar me sentir mais à vontade.

— Não foi o que eu soube. Todos estão falando sobre como você humilhou Abbas na arena de treinamentos dias atrás.

— Só dei uma lição naquele idiota, não foi nada demais. — Ambos paramos de caminhar, rindo juntos.

— É... Ele estava precisando mesmo. — Deu uma breve pausa e parou de rir, usando de um tom gentil outra vez. — Mas o que eu quero dizer é que você não deve desistir sem nem mesmo antes tentar.

— Bem, você conhece Altaïr melhor do que ninguém. O que sugere que eu faça? — Ao falar me sentei em uma bela poltrona que encontrei ali, me acomodando.

— Deve saber que ele é fascinado por conhecimento. Você vem do futuro...

— Espera. Você sabe sobre isso também? — O interrompi, eu já suspeitava que ele soubesse quando o encontrei pela primeira vez. Eu tava começando a entender como era um pouco frustrante falar com alguém que parecia já saber de tudo, imaginei que Altaïr pudesse se sentir assim comigo ás vezes.

— Sim, Altaïr me disse como e porque você está aqui. Mas, como eu dizia... Você vem do futuro, por que não tenta mostrar um pouco do seu mundo? Tenho certeza que ele se interessaria em conhecer coisas à frente do nosso tempo e você conseguiria atrair a atenção dele com mais facilidade.

— Ele já demonstrou interesse em conhecer a tecnologia do meu tempo e por isso acabamos meio que discutindo. — Expliquei, nada contente por me lembrar disso. — Eu tenho medo das consequências que esses conhecimentos possam trazer para a história. Não quero acabar mudando o futuro.

— Mas você já mudou, irmã. Só pelo fato de estar aqui. — Afastou-se e voltou à sua mesa, onde anotou alguma coisa que não consegui ler. — Eu entendo sua posição e lhe admiro por ser tão sensata. Creio que deve ser muito perigoso lidar com o tempo, é um poder inimaginável, um verdadeiro fardo.

— De fato é... — Falei com a mente um pouco distante, pensativa. Malik tinha razão, querendo ou não eu já tinha alterado o passado. A questão era: Até onde eu poderia ir com essas alterações?

— Eu sei que vai se sair bem. Se a irmandade do futuro te designou para essa missão é porque confiam em você. — Outra vez foi bem gentil, mas o coitado não sabia nem a metade e achei melhor não contar.

— Obrigada. — Sorri, me levantei da poltrona e caminhei até a mesa dele, observando os pergaminhos sobre a mesma. Logo comecei a ajudá-lo, organizando-os por data.

— Não se incomode com isso. Pode deixá-los aí mesmo.

— São muitos e juntos conseguimos terminar isso bem mais rápido. Eu te ajudo, vamos. — Disse entregando alguns que já tinha organizado.

— Se não for lhe incomodar, tudo bem. — Pegou-os e os colocou em uma estante.

— Não, vai ser um prazer. — Voltei a sorrir.

Passamos horas e horas conversando e organizando todos aqueles pergaminhos, Malik era uma companhia muito agradável, quase nem vi o tempo passar. Quando finalmente terminamos, parecia que só haviam se passado alguns minutos, mas o sol já se punha no horizonte iluminando a sala com uma luz alaranjada.

— Agradeço pela ajuda, irmã. Espero que vocês dois se resolvam e você consiga atrair a atenção dele como deseja. Altaïr é um pouco frio, mas é um bom homem. Mudou muito nesses últimos anos. — Falava do amigo com admiração.

— Eu percebi. Apesar de que ás vezes ele ainda demonstra um pouco de arrogância. E além disso... Eu acho que entre nós nunca daria certo, somos de tempos muito diferentes e Altaïr já tem um destino aqui. — Abaixei a cabeça, visivelmente frustrada.

— Eu não sei o que o futuro reserva para ele como imagino que você deve saber, mas nada impede que você cumpra isso que chama de “destino” ao lado dele. Nunca vai saber se não tentar.

— Acredite, Malik. As coisas são bem mais complicadas do que isso. — Disse em um tom mais sério, eram tão complicadas que já estavam me perturbando, decidi parar de pensar naquilo, pelo menos por hora.

— Bem... Vou fazer o possível para ajudar. — Estendeu a mão para me cumprimentar. — O resto é com você. Sei que vai tomar a decisão certa.

— Eu agradeço. Você é muito gentil. — Esbocei um belo sorriso e o cumprimentei. — E por favor, não fale sobre isso com ninguém.

— Sobre você vir do futuro ou sobre o que sente por Altaïr? — Perguntou, um pouco confuso.

— Sobre as duas coisas. É melhor que ninguém saiba.

— Fique tranquila. Não direi nada. — Sua voz me passava sinceridade e confiança.

— Obrigada. — Voltei a sorrir, caminhando até a porta e abrindo-a devagar.

— Não precisa agradecer. E se tiver algo que eu possa fazer por você não hesite em me procurar. — Falou assim que deixei a sala.

De volta ao meu quarto, eu estava deitada na cama descansando um pouco e ouvindo umas boas músicas no meu iPad quando de repente vi uma imagem holográfica de Vinny surgir praticamente do nada, como na vez em que eu estava presa nas masmorras, levei um susto.

— Erika? Erika, você está me ouvindo? — Vinny parecia desesperado.

— Sim. O que houve, Vinny? — Tirei os headphones e me levantei apressadamente.

— Preciso que você volte imediatamente! — Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago.

— Mas... Mas... — Eu não conseguia acreditar no que tinha ouvido, foi como se meu mundo tivesse caído. Eu não queria voltar, não mesmo. — Por que? — Tentei esconder meu nervosismo e meu descontentamento evidente, mas foi quase impossível.

— Estou tendo interferências graves no Animus e não sei o que está causando isso, vou ter que fazer uma varredura completa no sistema e, se preciso, efetuar alguns ajustes. É muito arriscado deixar você aí no passado enquanto isso, melhor que volte, temporariamente, até que tudo esteja ok e você possa prosseguir com sua missão em segurança. — Me senti um pouco aliviada ao ouvir a palavra “temporariamente”, mas mesmo assim, eu não queria voltar.

— E isso vai demorar?

— Não sei te dizer, depende dos resultados.

— Mas não tem outro jeito? — Insisti, na esperança de poder ficar.

— Não, Erika. Não tem. A não ser que você queira correr o risco de ficar presa no passado para sempre.

— Pra sempre, é? Hm... E esse risco é grande? — Confesso que considerei essa possibilidade na hora, não nego.

— Você está agindo estranho, antes nem queria ir para o passado e agora parece que quer fica aí. — Vinny me encarou feio por alguns segundos.

— Eu? Que nada. Só estou... Confusa. — Tentei disfarçar o óbvio.

— Rápido! Pegue todas as suas coisas. Estou traçando as coordenadas para criar a abertura temporal.

— Todas? — Pensei de imediato no meu smartphone que estava com Altaïr.

— Sim, todos. Vai logo! — Parecia cada vez mais desesperado para me tirar de lá logo.

— Eu preciso avisar Altaïr antes. — Disse já pensando em me resolver com ele e quem sabe recuperar o smartphone antes de partir.

— Não temos tempo pra isso. Os índices de interferência estão cada vez mais altos. Posso não conseguir criar a abertura no vórtice temporal se demorar muito, ou até mesmo perder contato com você.

— É que... — Procurava como dizer.

— Algum problema? — Voltou a me encarar, nada contente.

— Não, esquece. — Em um ato louco e extremamente perigoso, deixei o smartphone de lado.

— Então vai! Tá esperando o que?

— Tá bom, tá bom... Tô indo. — Comecei a recolher todas as minhas coisas e as coloquei na mochila o mais rápido que pude, incluindo a lâmina oculta quebrada, afinal caso o pior acontecesse seria minha única lembrança de Altaïr. Quando finalmente peguei tudo fiz uma checagem rápida para conferir se não estava me esquecendo de nada.

— Está tudo aí? — A transmissão já até falhava um pouco, devia ser a tal interferência.

— Sim... — Falei bem baixinho, detestando ter que mentir. Coloquei a minha enorme mochila nas costas junto com o meu fuzil.

— Criando abertura temporal em 3... 2... 1...

— Erika, eu... — Altaïr entrou no meu quarto no exato momento em que o "portal" surgiu bem na minha frente com sua luz ofuscante, interrompendo o que ele iria dizer e deixando-o boquiaberto, segundo a descrição do próprio Vinny. Eu mal o tinha visto ou ouvido sua voz, só fui vê-lo e ouvi-lo de fato quando olhei para trás ao cruzar a abertura. — Não, espere! Por favor, não vá! — Foi a última cena que presenciei, vendo o coitado do Altaïr estender a mão e erguer a voz desesperado, enquanto o portal se fechava em sua frente, o deixando para trás no passado certamente pensando que eu havia escolhido abandoná-lo ali e ir embora para sempre.


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Notas finais do capítulo

Imaginem essa cena final com aquele famoso efeito da novela Avenida Brasil. huehuehue

Espero que tenham gostado.
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