Separated by time, united by the creed escrita por TDCAUGirl


Capítulo 4
The blade (In the crowd)


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu de volta com mais um capítulo. (Sim, eu to viva. huehuehue)
Peço desculpas pela demora. Apesar de eu ter ideias de sobra nem sempre bate aquela inspiração pra escrever e esse capítulo por ser bem maior em comparação aos outros deu certo trabalho.

Vale lembrar que comentários, criticas e sugestões são sempre bem vindos.


Boa leitura!



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— Deixa eu adivinhar... Veio me punir por desrespeitá-lo na frente de seus homens? — Perguntei quebrando o silêncio constrangedor, usando de um tom irônico para disfarçar o nervosismo e confesso, o medo. Parecia que toda a minha coragem de minutos atrás havia sumido como mágica. Ah, como eu queria ela de volta.

— Não. — Foi tudo o que Altaïr respondeu, curto e direto. A governanta ao ver o clima tenso resolveu se retirar, esperta ela, por um segundo pensei em fazer o mesmo. O assassino fechou a porta e se aproximou de mim.

— O que então? — Cruzei os braços e olhei bem no fundo dos olhos dele, ou melhor, tentei, pois desviei o olhar rapidamente, passando a olhar para uma parede qualquer. Simplesmente não conseguia olhar para ele, pelo menos não naquele momento por mais que eu tentasse bancar a atriz.

— Estou aqui para lhe pedir desculpas. — Respondeu em um tom mais suave, embora sua expressão ainda fosse um pouco séria. Arregalei os olhos de imediato e fiquei ali parada por alguns segundos tentando assimilar o que acabara de ouvir.

— Você? Pedir desculpas? — Segurei o riso. — Isso é algum tipo de brincadeira? — Não sei o que era mais difícil imaginar: Altaïr pedindo desculpas ou fazendo uma brincadeira.

— Me desculpe pelo modo como lhe tratei, eu deveria ter lhe ouvido e lhe tratado como uma irmã que você é desde o início. Sinto muito. Isso tudo é muito novo pra mim, eu estava confuso, na verdade, ainda estou. — Manteve seu tom de voz gentil e se aproximou ainda mais, estendendo a mão. — Acho que começamos da forma errada. O que me diz?

— Eu... É... — Procurava o que dizer, ainda incrédula, nunca imaginei que veria aquela cena. — Tudo bem. — Respondi vagamente, apertando a mão dele toda atrapalhada e sem jeito, acho que deixei escapar um curto sorriso. — Tá tranquilo... De boa... Não se preocupe.

— Peço desculpas pelo modo como meus homens lhe trataram também. Já foram avisados, isso não vai se repetir.

— Tá tudo bem. Obrigada.

— Você ter dito tudo aquilo daquela forma autoritária na frente dos meus homens foi realmente um desrespeito, mas eu a desrespeitei antes e de formas bem piores... Eu mereci.

— Tá tudo bem, sério. — O interrompi, quanto mais ele falava mais incrédula e sem jeito eu ficava, me dei conta de que ainda segurava a mão dele e a soltei, me afastando um pouco.

— Só não faça de novo. — Complementou, mudando novamente para o seu tom sério e imponente ao olhar em meus olhos. Caminhou pelo quarto, parecia pensativo. — Se ainda pretende ficar e me ajudar, tenho uma missão para você.

— Tem? — Tentei disfarçar a minha surpresa, mas não deu muito certo. Nunca havia estado em uma missão e talvez fosse a hora de dizer a ele que eu era apenas uma novice, mas por mais que quisesse não consegui, era como se eu tivesse “travado” ali.

— Sim. Você vai me acompanhar até Acre, recebi informações de que os templários remanescentes da vitória da resistência em Limassol foram para lá e estão planejando uma ascensão da ordem e retomada ao poder de Chipre. Vamos investigar e, se confirmado, eliminar os que estão no comando do plano.

— Certo. Conte comigo. — Respondi da forma mais segura e confiante que consegui. O que eu estava fazendo? Poderia não só colocar a missão em risco como o próprio Altaïr, isso sem contar eu e minha falta de habilidades, não duraria nem um minuto. Eu só podia ter enlouquecido.

— Pedirei que lhe tragam armas. Não leve as suas, não seria muito prudente usá-las em plena vista, não são nada furtivas. E além disso o mundo ainda não está preparado para vê-las.

— Mas essa é a intenção. — Respondi baixinho.

— O que disse?

— Não, nada. Só pensei alto. — Disfarcei.

— Pedirei também que lhe providenciem um manto, se vai mesmo ficar aqui deve seguir nossas tradições, e além disso, essa sua roupa faria qualquer um perceber que não é daqui e isso não é muito bom. — Complementou, ao me olhar de cima a baixo.

— Um manto? Pra mim? — Não consegui esconder o entusiasmo, embora eu gostasse do estilo de roupa usado pela irmandade moderna seria mais do que uma honra usar um manto da irmandade levantina. Tive que tentar disfarçar, com certeza soaria estranho. — Está bem. Como quiser.

— Descanse. Partimos pela manhã. — Virou-se e caminhou até a porta. — Segurança e paz, irmã. — Falou antes de se retirar.

Assim que Altaïr saiu eu pude finalmente tomar um bom banho e tentar relaxar sentada ali naquela enorme bacia cheia de água, com os braços apoiados em volta da mesma e as pernas para fora balançando suavemente cheias de espuma. Olhava para cima com os meus longos cabelos castanhos molhados caindo sob os olhos, perdida em pensamentos como quem olha para o nada, mas ao invés de relaxar como pretendia a única coisa que conseguia era refletir sobre a merda que acabara de fazer ao aceitar uma missão que claramente não era capaz de cumprir. Talvez a melhor coisa a fazer fosse ir até Altaïr e dizer a verdade, a dura verdade: que eu era apenas uma novice de uma equipe de apoio e que nunca havia estado em uma missão antes. Eu me encontrava em um dilema. Mentir poderia colocar tudo em risco, a missão, nossas vidas e consequentemente a irmandade que ficaria sem seu lendário mentor caso o pior acontecesse, isso impactaria o futuro de formas drásticas ás quais eu sequer podia imaginar. Por outro lado ser honesta custaria minha credibilidade e a longo prazo comprometeria a minha verdadeira missão ali, Altaïr não confiaria em uma novice qualquer e sem a ajuda dele eu seria incapaz de encontrar outras Pieces of Eden e aprender o que precisava, fracassando eu estaria condenando a irmandade do presente a provável extinção e deixando o mundo livre para ser controlado pelos templários ou por Juno. Depois de vários minutos eu concluí que independente da decisão que eu tomasse tudo podia acabar muito mal, então resolvi tomar a decisão correta.

Terminei o meu banho e vesti uma túnica simples e de cor marrom que encontrei ali no quarto, era um pouco grande, mas serviria enquanto eu não tivesse outra roupa. Tendo trazido tantos equipamentos na mochila eu sequer tive como trazer outras roupas e também não achei que fosse precisar. Saí do quarto descalça e ainda secando o cabelo com a toalha, fui correndo ao encontro de Altaïr, não podia mais esperar. A pressa era tanta que no caminho esbarrei em outros assassinos e até nas coitadas das empregadas que deixaram suas bandejas e outras coisas que carregavam caírem, acabei derrubando até a minha toalha também e deixando-a por lá mesmo.

— Altaïr!? Ah, finalmente! Tenho algo pra te dizer. — Falei com a voz ofegante ao entrar ainda correndo na sala dele, empurrando as portas com força e quase caindo ao parar. Respirei fundo para recuperar o folego, estava exausta pela corrida.

— Você tem maneiras bem estranhas e inconvenientes de aparecer. Isso é comum de onde você vem? — Questionou ao se levantar da cadeira na qual estava sentado, guardando a Maçã do Éden que tinha em mãos no bolso de seu manto. Foi a primeira vez que vi o artefato, brilhava intensamente de forma pulsante e parecia... Viva. Embora tenham sido poucos segundos, foi o suficiente para que tomasse minha atenção de uma forma que nem eu mesma compreendi direito.

— Desculpa entrar assim, mas preciso te dizer algo importante. — O desespero na minha voz ainda era um pouco evidente, embora estivesse mais calma.

— Pois então diga. — Aproximou-se devagar.

— É... Bem... — Ao ter aquela experiência estranha e confusa com a Maçã que pareceu me desligar do mundo acabei esquecendo porque estava lá, resultando em uma situação um pouco constrangedora na qual eu fiquei ali parada diante do assassino sem dizer nada.

— O que é? Me diga. — Insistiu.

— É... — Mexia as mãos e olhava para cima tentando me lembrar.

— Aparentemente você esqueceu o que veio me dizer, o que significa que não era tão importante. Mas já que está aqui venha comigo, tenho algo para você.

— Pra mim? — O segui cheia de curiosidade, caminhando até a mesa.

— Sim. — Deu uma pausa e me olhou de cima a baixo. — Eu notei que apesar de ter suas armas você não possui uma lâmina oculta. Não faço ideia do porque, mas como eu disse antes se vai ficar aqui seguirá nossas tradições... — Deu outra pausa ao arrancar uma adaga de seu cinto. — E eu me refiro a todas elas.

— Espera. Você não está querendo...? — Me afastei, assustada com a ideia de ter que arrancar o dedo anelar.

— Venha, coloque a sua mão sobre a mesa. — Seu tom de voz e expressão eram sérios como de costume.

— Olha, eu... — Pensava no que dizer. Eu queria uma lâmina oculta, sempre quis. Mas não estava tão certa a ter que perder um dos dedos para usá-la.

— Algum problema? — Perguntou Altaïr ao me encarar de uma forma levemente intimidadora me fazendo sentir pressionada. Não queria ofender as tradições da irmandade levantina, embora estivesse com medo.

— Não, nenhum. — Respondi desviando o olhar para um ponto qualquer.

— Coloque a sua mão esquerda sobre a mesa. — Repetiu, usando de um tom que parecia mais uma ordem. Me aproximei devagar e fiz o que ele havia pedido.

— Onde vai com essa adaga? — Questionei como se não soubesse, o medo e nervosismo já me faziam tremer, minha voz falhava.

— Fique tranquila, vai ser rápido. — Respondeu girando a adaga em sua mão e passando-a por entre os dedos sem sequer olhar para a mesma, demonstrando sua habilidade com armas brancas, a qual não era novidade. — Permita-me... Abra bem os dedos, assim. — Posicionou minha mão da forma correta, quando me tocou e a mão dele esteve sobre a minha me senti mais segura, mas não durou muito. — Respire fundo. Relaxe. — Sussurrou em meu ouvido e confesso que me arrepiei de imediato, foi inevitável. O suor já banhava e escorria pela minha testa tamanho era meu nervosismo, virei o rosto para o outro lado e fechei os olhos, fazendo de tudo para não ver aquilo e torcendo para que acabasse logo.

Altaïr fincou a adaga e ao ouvir o barulho gritei bem alto, o suficiente parar ser ouvido lá fora. Tive que tomar coragem para virar o rosto e ver o “estrago”, o fiz devagar, relutantemente, e foi quando vi a adaga fincada na mesa entre os vãos dos meus dedos e só ali me dei conta de que não estava sentindo dor alguma, minha mão estava intacta. Olhei para Altaïr parado ao meu lado inicialmente confusa, mas quando o vi esboçar um leve sorriso no canto dos lábios fiquei revoltada.

— Mas que droga é essa, hein? O que significa isso? — Questionei erguendo o queixo e encarando o assassino, o empurrei ao tirar a mão da mesa e tocar seu peito. — Olha pra mim! Olha como estou? Acha isso engraçado, é? — Questionei mais uma vez, mostrando minha mão que ainda tremia.

— Isso foi para testar se você é realmente leal a nossa irmandade. — Respondeu de forma calma como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Acha mesmo que se eu não fosse leal teria vindo do futuro pra cá?

— Não sei. Tudo é possível, acredito que ainda mais no seu futuro. Precisava ter certeza. E o fato de você se dizer uma assassina e não possuir uma lâmina oculta me deixou intrigado.

— Ah, claro! Porque eu claramente sou uma templária do futuro que viajou centenas de anos no passado até as cruzadas só pra enganar e acabar com Altaïr e sua irmandade dos assassinos. — Usei de um tom irônico, rindo baixo pra compensar o estado em que estava e tentar me sentir melhor, mas não adiantou muito.

— E como eu poderia saber que não é? — Perguntou todo confiante, me deixando sem resposta.

— Só pra avisar: Isso foi uma ironia, já que seu senso de humor é aparentemente inexistente. — Retruquei.

— Eu entendi sua ironia. — Deu uma breve pausa e voltou a se aproximar. — Mas devo dizer que a forma com que ficou toda assustada e nervosa foi no mínimo cômica. Se até eu com meu “senso de humor inexistente” achei engraçado acredito que você é quem não tem senso de humor aqui, não? — Riu baixo por alguns poucos segundos, me deixando ainda mais irritada. E claro, vê-lo rir era no mínimo incomum e parecia até estranho.

— Vou achar quando fizer a mesma brincadeira de mal gosto com você. Não, espera... Acho que alguém já fez. — Acabewi soltando um comentário maldoso que poderia soar muito bem como desrespeito e de fato era, mas eu estava furiosa e não tive como evitar. Precisava me conter antes que as coisas piorassem. — Idiota. — Falei baixinho, em meu próprio idioma para que ele não compreendesse.

— Não foi uma brincadeira. De qualquer forma... Me desculpe pelo susto. Sente-se. Tente se acalmar, posso pedir que preparem um chá se quiser. — Ignorou o que eu havia dito e passou a ser um pouco mais gentil, o que vindo dele também não era muito comum.

— Estou bem. — Cruzei os braços, o encarando como se fosse matá-lo ali mesmo.

— Não parece bem. — Pegou a adaga que estava sobre a mesa e a guardou de volta no cinto.

— Nos vemos amanhã. — Me virei e comecei a caminhar. Não queria ficar mais nem um segundo ali, se ficasse não acabaria bem.

— Espere. — Falou antes que eu saísse.

— O que foi agora? — Me virei de frente para ele e cruzei os braços.

— Como eu disse, tenho algo para você. Se aproxime.

— Olha, se isso for outra brincadeira sua eu juro que...

— Aqui. Pegue isso. — Me interrompeu antes que eu pudesse terminar de falar e expressar minha revolta mais uma vez. Assim que me aproximei, com cautela, temendo outra brincadeira de mal gosto, o assassino me entregou uma bela caixa de madeira que antes estava sobre sua mesa. Quando a abri vi que se tratava de uma lâmina oculta.

— Mas...

— A lâmina oculta é uma companheira constante ao longo dos anos para nós. Alguns dizem que ela nos define, e eles não estariam completamente errados. Muitos de nossos sucessos não seriam possíveis sem ela. Mesmo assim, o dispositivo tem mostrado sua idade. E, por isso, venho pesquisando melhoramentos. — Altaïr me interrompeu mais uma vez quando estava prestes a perguntar o porque eu havia recebido uma lâmina oculta se não poderia usá-la, não sem antes remover o dedo anelar esquerdo como temi que teria. Ao explicar calmamente de forma clara e objetiva, o assassino em alguns momentos caminhava pela sala, como se estivesse refletindo. — Com uma mudança no mecanismo não é mais necessário remover o dedo anelar para usá-la e com a adição de uma placa de metal agora ela pode ser usada para defletir golpes. — Complementou, parando outra vez em minha frente. — Gostaria que você fosse a primeira a testá-la. Já que você vem do futuro nada mais prudente que deixar que você avalie essa nova tecnologia. E por estar aqui sozinha em uma missão tão importante imagino que deva ser uma grande e habilidosa assassina, digna de tal honra.

— Ah... É... — Foi ao ouvir aquilo que finalmente me lembrei o porque estava ali e o que deveria dizer, porém diante daquela situação eu simplesmente não consegui. Um ato covarde e egoísta. Eu certamente não teria a mesma honra se dissesse a verdade, mas será que eu poderia arcar com as consequências de omiti-la? Não sabia.

— Algo errado? — Questionou ao notar a minha confusão.

— Não. Nada. Isso explica muita coisa. Agora essa sua brincadeira faz mais sentido. — Disfarcei com um riso um pouco forçado.

— Já disse que não foi uma brincadeira.

— É linda! — Disse assim que coloquei a braçadeira e ativei o mecanismo da lâmina ali mesmo, esboçando um belo e largo sorriso enquanto movia o antebraço vagarosamente, observando-o em diferentes ângulos. Finalmente tinha a minha própria lâmina oculta, mal podia acreditar. Nunca achei que teria uma. Depois de alguns segundos desativei o mecanismo e deixei a caixa sobre a mesa. — Obrigada! — Movida pela felicidade acabei abraçando Altaïr com vontade, era estranho pensar que há poucos minutos atrás eu queria bater nele e agora o estava abraçando. Sem perceber acabei ficando ali parada abraçada a ele durante um certo tempo até me dar conta de que não deveria ter feito aquilo e me sentir mal pelo assassino nem sequer ter se movido. Me afastei e o vi me olhar primeiro com uma expressão mista de surpresa e confusão, a qual ele logo disfarçou com sua seriedade e me encarou feio. Pelas experiências anteriores eu já deveria saber que o mesmo não provavelmente não tinha gostado do abraço. — Desculpe, eu... Me deixei levar pelo... — Corei quase que instantaneamente e já imaginando que isso havia acontecido me virei, desviando o olhar para um ponto qualquer na esperança de disfarçar. — Acho que é melhor eu ir. — Saí correndo deixando-o para trás, sem jeito, sem saber onde enfiar a cara e confusa, extremamente confusa com o que eu achava que poderia estar começando a sentir. Não, não poderia, não deveria sentir.

De volta ao quarto retirei minha lâmina oculta e a deixei sobre a mesa, fiz anotações no notebook e gravei um relatório em vídeo do que havia acontecido naquele dia, não gostava muito e estava cansada demais praquilo, mas tinha que cumprir minhas obrigações e fazer um diário da missão. Acabei adormecendo sentada na escrivaninha e acordei pouco tempo depois com algumas dores nas costas que me fizeram cambalear sonolenta até a cama onde pude finalmente relaxar e dormir de verdade.

Acordei assustada com a governanta me chamando, imaginando o que de tão ruim poderia ter acontecido para ela estar ali me chamando daquela forma desesperada.

— Senhorita? Senhorita, acorde. Senhorita? — A mulher, que já tinha certa idade, parecia preocupada. Chegou a tocar meu braço e o mexer de leve na tentativa de me acordar.

— Ah, qual é? Me deixa dormir. — Murmurei, ainda sonolenta. Virando para o outro lado e cobrindo a cabeça com o travesseiro na esperança de que a mulher entendesse o recado e parece de me chamar.

— Senhorita, acorde. Por favor. — Insistiu educadamente e de forma mais calma.

— O que foi? — Perguntei exitante, com uma voz que mais parecia a de uma bêbada.

— Já está tarde, o mentor já deixou Masyaf. Ele me ordenou que lhe entregasse seu manto e suas armas, e disse que partiriam juntos em uma missão pela manhã. — Explicou, tentando parecer mais calma.

— O que? — Ao ouvir aquilo levantei o mais rápido que pude, quase caindo e derrubando as coisas pelo quarto. — E por que você não me acordou antes? — Ergui o tom de voz, quase que gritando com a pobre mulher. A desesperada agora era eu.

— Eu tentei, mas o sono da senhorita é um pouco pesado, não adiantou. E também parecia exausta, resolvi deixá-la descansar. — Tentou se explicar, toda constrangida.

— Droga! — Queria chutar a primeira coisa que visse, tamanha era a minha raiva. E quase o fiz com um pequeno banco.

— Fui informada de que ele acabou de sair. Se a senhorita se apressar pode alcançá-lo no caminho. — Sugeriu gentilmente.

— Certo. Me ajude aqui. — Prendi meus longos cabelos castanhos em um coque e peguei as roupas sobre a mesa, vestindo-as o mais rápido que podia. A mulher me ajudou a colocar o cinto e o coldre, me entregou a espada, a adaga e as facas de arremesso uma a uma. Era um manto branco idêntico ao de Altaïr, o manto de um mestre assassino. Ao colocar a braçadeira com a lâmina oculta e me olhar no espelho esbocei um largo sorriso e por poucos segundos me senti uma assassina de verdade pela primeira vez em minha vida, até lembrar que eu não merecia nada daquilo. Coloquei o capuz e respirei fundo, enquanto pegava minha pistola semi-automática e a escondia no manto junto com meu smartphone. Saí correndo feito uma louca desesperada como havia feito no dia anterior. — Obrigada! — Gritei para a governanta quando eu já estava no corredor.

Esbarrei com alguns assassinos até sair da fortaleza e depois com vários civis ao descer pelas montanhas rumo á saída do vilarejo. Ao chegar lá eu estava sem fôlego algum, tive sorte de nem precisar dizer nada para que o rapaz do estábulo me entregasse um cavalo. Montar não foi tão fácil o quanto eu imaginei que seria, seja pelo cansaço ou por não cavalgar há anos desde a última vez que havia visitado a fazenda da minha família nas férias, o peso das armas no manto também não ajudou muito. Quando finalmente consegui saí cavalgando o mais rápido possível, usando o sistema de mapas do meu smartphone como guia. Somente depois de mais de uma hora de cavalgada que avistei alguém de longe também a cavalo, não podia ver ao certo quem era, mas me apressei para alcançar, até me aproximar e ver que se tratava de um mercador. Segui rumo à Acre por mais alguns minutos sem sequer fazer uma pausa e tendo que beber água apressadamente de um dos cantis que carregava comigo tomando todo o cuidado para não me distrair e perder o controle da montaria, foi ao fazê-lo que vi outro alguém também a cavalo e mais uma vez me apressei para alcançá-lo. Era Altaïr, assoviei o mais alto que consegui e o fiz olhar para trás, me aproximei conforme ele diminuiu a velocidade e parei ao lado do mesmo.

— Então achou que poderia partir sem mim? — Perguntei rindo baixo.

— Você não apareceu. Queria o que? Que eu fosse até o seu quarto chamá-la pessoalmente? — Rebateu de uma forma um pouco rude.

— Seria bom. — Continuei rindo e percebi que o assassino não havia gostado nada da resposta, achei melhor parar e falar mais sério. — Me desculpe. Eu estava exausta e acabei dormindo demais.

— Deveria ter mais compromisso. — Falou e seguiu cavalgando, visivelmente irritado.

— Está beeem... Já lhe pedi desculpas. Eu sinto muito e prometo que não vai acontecer de novo. Você tem todo o direito de me repreender, mas pra que deixar esse clima tenso? Vai, diz aí... Qual é o plano? — Voltei a cavalgar e me apressei para ficar ao lado de Altaïr.

— Já lhe expliquei tudo. Qual parte você não entendeu? — Foi rude outra vez, pra variar.

— Ah, esquece. — Fechei a cara, juro que eu tinha vontade de dar uns tapas nele.

Seguimos viagem, horas e horas cavalgando juntos sem nem trocarmos uma palavra. Eu me sentia cada vez menos a vontade, cada vez mais incomodada.

— Então... Como tem sido agora que você assumiu o cargo de mentor da irmandade? Não que eu duvide do seu potencial, pelo contrário, acredito demais em você e sei que fará coisas incríveis. Aliás, já está fazendo. Mas... O que quero dizer é que... É um cargo e tanto. — Tentei puxar assunto.

— Sim. — Foi só o que ele disse.

— Ainda mais tendo em mãos um artefato tão misterioso, o qual possui imenso poder e com certeza esconde muitos segredos. — Complementei, arriscando uma segunda tentativa.

— Sim. — Repetiu, mais uma vez sendo curto e grosso.

— Ah! Que ótimo. — Revirei os olhos e soltei o ar pela boca, em uma mistura de irritação com desapontamento. — Por que eu não trouxe meu iPod? — Perguntei em voz baixa para mim mesma, desistindo de conversar com ele. Deixei que tomasse a frente e segui cavalgando atrás.

Foram quatro dias cavalgando sob o sol escaldante do deserto e noites congelantes nas quais mal consegui dormir, fizemos uma espécie de acampamento improvisado parando á beira de um poço e acendendo uma fogueira com o que conseguímos encontrar pra queimar. Nunca senti tanta falta de uma cama quentinha, ou pelo menos um saco de dormir. Passei boa parte das noites acordada, sentada perto da fogueira olhando para as estrelas enquanto Altaïr dormia calma e tranquilamente como um anjo, um anjo frio e arrogante que me irritava de uma forma que poucas pessoas conseguiam. Não nego que o observei dormir e muitas vezes me peguei sorrindo sem nem sequer perceber, mas não me orgulho disso, não mesmo, eu não deveria nem sequer olhar para ele e retribuir esses dias entediantes onde mal houve conversa, dias que mais pareceram anos e que me faziam pensar que jamais chegaríamos, mas chegamos... Finalmente chegamos.

Do lado de fora dos muros imponentes e bem guardados que cercava Acre conduzimos os cavalos até o estábulo, eu estava exausta e isso se refletia no modo como andava devagar e sem muito equilíbrio, quase que dormindo em pé. De fato não era o melhor estado para se executar uma missão.

— Você está bem? Parece cansada. — Altaïr quebrou o silêncio, mas eu permaneci calada. — Erika, você está bem? — Perguntou uma segunda vez e eu continuei calada. — Está me entendendo? — Parou em minha frente olhando para mim, confuso.

— Sim. — Respondi da mesma forma que ele havia feito anteriormente para que o idiota visse o quanto era bom e se tocasse.

— Então por que não fala comigo? — Pareceu um pouco irritado ao perguntar.

— Ah, agora você quer falar? Que ótimo! Porque agora eu prefiro passar quatro dias sem dizer nada. Boa sorte pra você. — O empurrei de leve e saí andando, deixando-o para trás falando sozinho, não prestei atenção no que ele disse, porém não me pareceu nada contente.

Os portões estavam cheios de guardas trajando uniformes dos cavaleiros hospitalários, não iria ser fácil passar por eles. Parei em frente a uma barraca e fingi estar interessada nas mercadorias de um comerciante qualquer enquanto pensava em um modo de entrar discretamente, de longe, vi Altaïr fazer um sinal discreto com a mão para que eu o seguisse e o fiz, mesmo estando irritada e querendo distância. Juntos nos infiltramos em um pequeno grupo de eruditos, ficamos ambos de mãos juntas e cabeça baixa deixando que o capuz escondesse nossos rostos enquanto falávamos qualquer coisa em voz baixa que parecesse uma oração, na tentativa de imitar os homens que caminhavam rumo aos portões. Um truque simples que acabou dando certo, logo estávamos dentro da cidade e nos afastamos do grupo.

— Se está cansada podemos ir até o bureau. Lá estará segura e poderá recuperar suas forças. Amanhã quando estiver melhor pode me acompanhar nas investigações. — Sugeriu Altaïr de maneira gentil, mesmo depois do que eu havia feito. Era até difícil acreditar, talvez tivesse entendido a mensagem, o que eu duvidava.

— Não. Eu estou bem. Vou com você. — Tentei demonstrar segurança e disfarçar ao máximo o meu estado de exaustão. Eu sabia que não deveria mentir e me arriscar dessa forma, mas não queria ser um incômodo.

— Na verdade pensei em nos separamos para conseguirmos mais informações em menos tempo. Eu vou para a praça principal e você para o mercado.

— Como quiser.

— Seja uma lâmina na multidão, ouça discretamente tudo o que puder e fique atenta a qualquer coisa suspeita. Me encontre aqui ao cair da tarde e compartilharemos o que descobrirmos. — Explicou o “plano”.

— Certo. — Assenti com a cabeça.

— Segurança e paz, irmã. — Disse antes de se retirar.

Era um dia nublado em Acre e fazia frio, criando um clima mais dark para uma cidade que já era um pouco macabra com suas construções parcialmente destruídas, corpos espalhados pelas ruas, gente doente, e loucos que andavam rindo, gritando e empurrando a todos, isso sem falar na miséria do povo que faria qualquer um sentir pena... Não era um lugar muito agradável de se ver. Eu não fazia ideia de como chegaria ao mercado, então usei o mapa do meu smartphone mais uma vez como guia, um mapa que havia sido criado pelo Animus com base nas memórias de Altaïr e que nós assassinos tinhamos no aplicativo da nossa database junto a vários outros.
No mercado, passei horas andando pela multidão, ouvindo as conversas dos fregueses e dos comerciantes, bem como dos que só passavam por ali. Mesmo depois do fim da terceira cruzada ainda havia uma forte presença de soldados cruzados na cidade, procurei ficar atenta aos que passavam por lá, imaginando que poderiam deixar escapar algumas informações em suas conversas. E foi de um grupo deles que ouvi sobre um encontro, uma espécie de reunião para planejamento como essas feitas em guerra, que segundo os homens seria realizada na Cidadela dos Reis, antigo quartel do ex regente de Acre, William De Montferrat, templário que havia sido um dos alvos de Altaïr anos atrás. Era uma informação muito valiosa que chegou a fazer com que eu me questionasse sobre sua veracidade, com toda certeza haveriam templários nessa reunião e certamente alguns deles seriam os que estávamos procurando, precisávamos nos infiltrar para investigar o quanto antes.

Ignorando o acordo que eu havia feito com Altaïr, segui os cruzados discretamente até a cidadela, me escondendo na multidão como fizera também no mercado. Ao chegar, os observei entrarem junto com outros grupos e vi os portões sendo guardados por cruzados de um porte bem maior e que aparentavam ser bem mais fortes. Sentada em um banco pensava em como entrar sem ser notada quando para a minha surpresa vi ninguém menos do que Altaïr escondido na multidão, na certa o assassino já sabia da informação. Me levantei vagarosamente e fui até ele, rindo baixo.

— Olha só quem está aqui!

— Erika, deixei bem claro que iriamos nos encontrar próximo aos portões da cidade. O que você faz aqui? — Me encarou feio ao me repreender. — E seja mais discreta, ou seremos notados por sua culpa.

— Se iriamos nos encontrar lá o que você faz aqui também? — Rebati, contendo o riso.

— Ouvi de um grupo de cruzados que haveria uma reunião e imaginei que nossos possíveis alvos estariam aqui, então decidi vir investigar. — Falou baixinho para que apenas eu o ouvisse.

— Que estranho, comigo foi a mesma coisa. — Levei a mão ao queixo, pensativa. — Como vamos entrar?

Nesse mesmo instante vi alguns cruzados surgirem e os que estavam na entrada se aproximarem, formando um cerco que assustou as pessoas que passavam por ali, fazendo-as correrem e deixando apenas nós dois parados no meio de tudo. Olhando ao redor vi que eram mais de dez, dentre eles surgiu um homem alto e forte trajando um uniforme que era aparentemente de um grão mestre templário com direito à uma bela capa branca e um elmo prateado que cobria seu rosto e reluzia com o pouco de luz que ali havia. Ao ver o homem desembainhar sua espada, seguido pelos demais cavaleiros, me dei conta de que havíamos caído em uma armadilha.

— Ora se não é Altaïr, o responsável pela nossa queda em Chipre. Você realmente achou que escaparia vivo depois de tudo o que fez? Nós temos olhos e ouvidos em todos os lugares, bem como espiões infiltrados. Para o novo mentor da irmandade dos assassinos você é bem tolo, foi extremamente fácil trazê-lo até nós. E agora pagará pela sua tolice e por ter arruinado nossos planos. — Disse o homem ao retirar o elmo, revelando seus longos cabelos claros e olhos azuis. Ele era bem jovem, com no máximo uns 30 anos e tinha boa aparência. — Matem-nos! Matem esses malditos assassinos! — Ordenou aos seus cavaleiros, gritando a plenos pulmões.

Assustada, me aproximei de Altaïr, ficando ao lado dele de modo que estávamos um de costas para a outro, tendo uma visão panorâmica dos homens que nos rodeavam. Meus batimentos já estavam acelerados e eu já começava a tremer, o cansaço confundia os meus sentidos e fazia da simples tarefa de ficar em pé um verdadeiro desafio.

Altaïr já tinha sua espada em mãos e não demorou muito para que ousasse enfrentar todos aqueles cavaleiros sozinho, ele só podia estar louco. Eu o vi desferir belos golpes com a espada se movimentando graciosamente de uma forma que fez meus olhos brilharem enquanto eu esboçava um belo e largo sorriso, maravilhada, como se o perigo de morte eminente nem sequer estivesse ali, como se eu fosse apenas uma espectadora sortuda por poder presenciar aquilo. E de fato eu era apenas uma espectadora ali, por vezes vi o assassino se arriscar para me defender enquanto eu permanecia parada e sem reação, ele precisou derrubar pelo menos uns três homens com suas facas de arremesso para que estes não me matassem, ao passo de que tinha que defender a si mesmo de vários outros que o atacavam e lhe arrancavam sangue com leves cortes nos braços e nas pernas, manchando seu belo manto branco de vermelho. Cheguei a ver a Maçã no bolso dele brilhar intensamente, pulsante como se estivesse viva, emitindo um estranho calor que até eu pude sentir, como se ela o chamasse, como se quisesse ajudá-lo.

— Erika, lute ao meu lado! — Gritou com a voz um pouco rouca, não como uma ordem, mas como um pedido desesperado no calor da batalha. — Empunhe sua espada e lute ao meu lado, juntos podemos detê-los.

— Eu não posso. — Gritei de volta, ao desviar de um cavaleiro por sorte antes que esse me golpeasse em cheio na perna com sua espada. — Eu não sei como... Eu não sei lutar. — Complementei, dizendo relutantemente uma das coisas mais sinceras e terríveis que já tive que dizer, o que me fez sentir uma verdadeira inútil.

— Que tipo de assassina é você? — Altaïr parou por um instante e me olhou, incrédulo, o vi cerrar os olhos e me encarar furioso, abaixando a cabeça logo em seguida, decepcionado. Naquele mesmo instante vi um dos homens prestes a golpeá-lo por trás em um movimento que indicava que o mesmo iria cravar sua espada nas costas do assassino, foi como se tudo ali congelasse como em uma cena de filme.


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Notas finais do capítulo

E agora? Quem poderá nos defender? kkkkkkkk

Espero que tenham gostado.
Não esqueçam de comentar. O feedback de vocês leitores é muito importante. :D