Dulce

“I had no idea of the state we were in.”

O caminho inteiro na volta para o meu apartamento eu estava me perguntando, como deixei chegar naquele ponto. Como meu Deus? Será que todas as decisões que eu tomei, foram equivocadas? Mas, é tão injusto eu só queria me privar da dor e tudo o que eu encontrei foi outra dor, a solidão. Aquela solidão que se torna destrutiva quando indesejada, eu sei que posso estar reclamando com a barriga cheia.

Afinal, sou mundialmente famosa, tenho uma carreira com mais de vinte anos, tenho uma família unida que são minha base, tenho meus amigos que são verdadeiros, loucos e me aturam há muito tempo, poderia se quisesse ter qualquer homem da face desta terra, e sem modéstia nenhuma tenho uma fila de pretendentes. Então por que eu ainda reclamo? A reposta meu coração gritava. Alfonso Herrera.

:- But don't you remember?

:- CALA A BOCA, ADELE! – Gritei com o sistema de som do meu carro, como se ela pudesse me ouvir e acatar o que eu mandava. As lágrimas estavam ganhando a batalha interior e o vozeirão sofrido de Adele, não estava me ajudando. Mesmo assim não calaria a boca dela, apertando o botão desliga. Dobrei a esquina com meu carro e finalmente cheguei no meu prédio.

Juan, meu porteiro me olhou com um misto de pena e preocupação, eu diria que até surpresa. Um olhar do tipo “Como deixam essa louca dirigir escutando essas músicas depressivas?” E a maquiagem borrada só evidenciava mais a esse provável pensamento dele. Ignorei seu olhar não queria saber de ninguém, só de me trancar e sofrer sozinha, talvez eu deixasse Adele me fazer companhia.

:- Mais que inferno!

Reclamei, abrindo minha geladeira, já tinha trocado de roupa e tirado as apertadas sandálias. Adele estava completamente a vontade cantando no ambiente do meu apartamento, Fran e Iliana acabaram com meu estoque de bebida alcoólica, que não é pequeno. Que maravilha! Terei que suportar tudo conscientemente, bufei ao sentar no sofá. Devia ter um estoque escondido, assim como Jack Sparrow em Piratas no Caribe.

:- Baby, please remember me once more.

Eu também quero Adele, eu também desejo isso. Pensei ao abrir minha bolsa e pegar o convite dele. Nunca me senti tão infeliz ao receber um convite de casamento, ainda podia sentir minha boca completamente amarga. A voz inconfundível de Mai ecoava na minha cabeça.

“Eu sinto ter que fazer isso Dulce, mas eu tenho que fazer por Poncho, por você.” Ela me entregou um envelope, deu a mão para Mane e simplesmente me deu as costas indo embora. Estranhamente eu não vi nenhum ressentimento dela no olhar, é como se avistasse até uma felicidade só faltou sorri para mim. Não, não depois de tudo que vivemos convivendo juntas na época da banda, ela não poderia ser ... Poderia ser logo comigo? Falsa? Pensei chorando, machucada tanto com Maite, tanto com Poncho e ainda mais comigo.

“Alfonso Herrera y Perla Galvez...” – Relia o trecho incontáveis vezes, me ferindo cada vez mais. Adele me deixou sozinha já não cantava mais. Talvez ela esteja solidária ao meu sofrimento!

Não! Já chega! Eu passei anos da minha vida me privando, sofrendo, lamentando sempre pensando que depois seria feliz. Resultado? Acabei ficando sem um pedaço do meu ser, aquela Dulce, que só o Poncho conseguia arrancar de mim. Eu censurei tantas vezes o nosso amor, achando que seria o melhor para nós dois. O deixei livre achando que ele voltaria para os meus braços, não tem lógica eu sei, mas eu apostava nisso. Perdi tudo, ele, eu e nosso amor.

Bip! Procurei meu celular no meio da bagunça.

“Baby, please remember me once more”

Limpei meu rosto pelas lágrimas que caiam e fiquei completamente confusa lendo, o número era desconhecido, não tinha autor da mensagem, Por que alguém mandaria isso justo para mim? Devia ser engano, não é possível. Confesso que isso me lembrou Poncho ou talvez fosse meu desejo que fosse ele me mandando um sinal, para eu lutar por nós dois.

Lutar por nós dois. Meu coração repetiu me incentivando. Quer saber? Por mais egoísta que possa parecer daqui a duas semanas, eu vou impedir aquele casamento, não me perdoaria deixá-lo casar sem ao menos tentar interferir e fazê-lo enxergar assim como eu naquele dia, que eu sou a mulher da vida dele do mesmo modo que ele é o homem da minha.

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