Em Busca do País das Maravilhas escrita por XCoelhoBranco666


Capítulo 6
Capítulo 6 - Conselhos da Lagarta




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Martin e Lucas acabam de fechar a diária no hotel, enquanto isso Nicole aguardava na recepção admirando discretamente toda a decoração vitoriana do local que claramente não era verdadeira, pois tudo naquela cidade fora construída de forma para se “adaptar” ao local.
— Vamos? – perguntou Martin já colocando a mochila nas costas.

*

Os quartos eram praticamente do mesmo estilo do salão de espera. Todos com janelas góticas, candelabros nas paredes e até o cobertor parecia ter saído de um filme antigo.
— Qual é o plano agora? – Lucas questiona.
— O que convém, eu acho– Nicole comenta.
— Sim, iremos esta noite, escondidos. – Martin afirma.
Eles são interrompidos por batidas na “velha” porta do quarto.
— Serviço de quarto. – alertou uma voz rouca e velha do outro lado.
A porta se abriu revelando o que eles já esperavam uma velha senhora, usando um uniforme com avental, carregando um balde com vassouras e empurrando um carinho (também projetado do mesmo jeito que todo hotel).
— Espero não estar atrapalhando em nada – disse com um pequeno sorriso – Eu sou Samantha, camareira.
Todos acenaram e ela respondeu com um sorriso e continuou.
— Estão em Guildford por causa da história de “Alice no País das Maravilhas”? – riu – Meus pais eram grandes admiradores de Carroll e suas obras.
— Eram historiadores? – perguntou Nicole já se interessando.
— Não. Pelo sotaque são brasileiros – disse ela encerrando aquele assunto.
— Exceto a Nicole – explica Lucas – ela é de Portugal.
— Somos bolsistas de Oxford. – Martin completa.
Enquanto ela arrumava as coisas por cima de uma pequena penteadeira continuou a falar.
— Eu tenho uma parenta em Oxford, ela trabalha numa loja de... Conveniências.
— Vocês parecem gostar do que fazem – Lucas tenta fazer um elogio, mas acaba parecendo rude.
Samantha sorri mais uma vez e se despede voltando para o corredor.

***

As ruas de Guildford durante a madrugada eram frias e assustadoras, as cores das lojinhas e casas vitorianas desapareceram deixando tudo cinza e sem vida.
Sem falar que as luzes dos postes eram fracas.
— Tem velas de verdade nesses postes? – perguntou Lucas do mesmo jeito que uma criança curiosa.
Martin e Nicole ignoraram a pergunta e continuaram a atravessar as ruelas do lugar. Era incrível, não havia nenhum movimento ou barulho no lugar, era tão silencioso que Martin começou a pensar se as casas também só faziam parte da decoração da cidade e que não havia ninguém morando nelas.
Até que por fim luzes aparecem numa esquina, a casa os esperava.
— Peguem as lanternas – disse Lucas tirando-as da mochila – Mas a maior é minha.
Nicole empurrou com as duas mãos o pequeno portão de ferro da parte de trás da casa, eles chegaram ao jardim dos fundos e tiveram uma surpresa.
O jardim era todo decorado com estátuas de bronze representando personagens e momentos dos livros de Alice, todas bem feitas em tamanho real e reluziam quando a luz da lanterna batia nelas. Seriam lindas e encantadoras de dia, mas como era a lua que brilhava tudo ficou ainda mais assustador.
— Tão encantador – Nicole comenta enquanto passa sua mão sobre a superfície brilhante.
— Não podemos perder tempo – Lucas alertou com razão – como entraremos?
Martin parou e começou a observar toda a casa.
— Esperem aqui.
O garoto analisou a porta dos fundos. Trancada. Ele foi até a da frente, obviamente, trancada. Começou a dar a volta no território procurando qualquer janela aberta ou destrancada. Até na passagem externa para o porão ele conferiu. Sem sucesso.
Havia voltado para o ponto de partida. Lucas e Nicole o olhavam com se esperassem uma resposta. Ele deu uma volta pelo jardim macabro e simplesmente parou para admirar uma das esculturas.
Era o personagem do Chapeleiro Maluco, era totalmente igual uma das ilustrações do livro. A gravata bordada, o chapéu de palha com uma etiqueta e em umas das mãos uma xícara. Estaria perfeito se não fosse por um detalhe, sua mão esquerda estava levantada, com o dedo em haste.
— Parece estar dizendo alguma coisa – Nicole o surpreendeu ao perceber a situação.
— Sim, parece.
— Você sabia por que o Chapeleiro era maluco? – perguntou tentando entreter o garoto, ele claramente estava com a mente sobrelotada.
— Não – riu – Por quê?
— Naquela época, os fabricadores de chapeis usavam mercúrio para fabricá-los e essa substância poderia leva-los a ter alucinações e nos piores casos a morte.
Os olhos de Martin se Nicole se encontraram.
— Você é realmente uma louca por Alice. – sorriu.
— “Todos nós somos loucos aqui.” – respondeu alegremente fazendo uma citação do livro.
— Pessoal, o Chapeleiro não esta dizendo nada – disse a Lucas num tom malicioso interrompendo a conversa. – Ele está nos ajudando. Olhem para onde ele está apontando.
A visão de Nicole e Martin seguiram o dedo de bronze do personagem. Ele apontava para uma pequena janela no telhado que dava para o sótão, e ela estava aberta.
— É isso! – exclamaram.
Havia um grande carvalho no canto do jardim bem próximo a casa, eles correram até lá já tendo ideias.
— Eu vou primeiro, vocês vem atrás de mim quando eu já estiver na em cima ok? – Martin explica o plano.
— Certo. – respondem os outros.
— Por Alice?
— Por Alice.

*

Martin já se agarrava na borda no telhado. Seu peso fez cair algumas telhas soltas, os outros embaixo de assustaram.
— É seguro? – Nicole arriscou perguntar.
— Já vou descobrir.
Com o impulso de seus pés no galho, Martin passa todo seu corpo por cima da casa. Ele se levanta cautelosamente, dando passos leves. Tentando manter a calma.
Seus braços alcançam uma chaminé (aparentemente sem uma limpeza há anos)
— É seguro – grita lá de cima – só precisam ter cautela, tem algumas telhas soltas.
Lucas já se põe a escalar o carvalho e Martin tenta tirar a sujeira da chaminé dos seus braços e roupas sacudindo-se e logo se coloca a caminhar de novo.
Lucas já alcança o telhado.
— Vem Nicole! – ele grita.
Mas Nicole parece estar remorsa a situação, claramente nervosa se “encolhe” na parede.
—Nicole, algum problema? – pergunta Martin.
— V-vão vocês, e-eu quero ficar aqui. Para vigiar caso alguém chegar.
Os dois dão de ombros e continuam a caminhar. Martin alcança a janela e Lucas vem por trás, agarrando-se na mesma chaminé.
— Vem – Martin chama Lucas já entrando pela janela. – Você vai ficar bem aí em baixo?
— Vou sim. – o tom grosseiro os fez entrarem sem mais questionamentos.
O porão era bem iluminado devido à falta de várias telhas no telhado, embora fosse bastante úmido e cheirasse fortemente a mofo.
Lucas levantou o alçapão e os dois desceram pela pequena escada que os levou ao quartinho de hóspedes.
— Onde você acha que está a próxima pista? – Lucas pergunta.
— Com certeza na sala principal. A mensagem da casinha de bonecas estava escrita nessa parte da casa.
Os dois correram escada abaixo, iluminando seus caminhos com a luz fraca de suas lanternas. Enfim chegaram ao local. Como já de costume saíram mexendo em tudo procurando por trás dos quadros e batendo nas paredes caso houvesse um lugar oco.
Até que Martin se lembrou da estante, talvez houvesse outra passagem secreta por trás dela. Ele a balançou tentando tira-la do lugar, procurou por dobradiças, procurou entre as molduras e até puxou alguns livros. Nada.
— Desiste não tem nada aqui – Lucas disse já desanimado.
— Não, tem algo nessa estante.
Martin tirou a mochila das costas e abriu, vasculhou por um tempo e tirou a mesma carta da Rainha de Copas. Tirou da camada de plástico e a colocou diante dos livros.
Ele olhou através da carta e o esperado aconteceu. Alguns livros em pontos distintos da estante estavam brilhando.
— Olha Lucas! A carta me mostrou, tem alguma coisa nesses livros que estão brilhando!
— O que estamos esperando, então? – Lucas começou a retirar os livros do lugar.
Logo eles perceberam que os livro eram parecidos, embora por pequenos detalhes, numa das capas havia escrito: “Volume I”.
— É uma coletânea. – afirmou Martin.
— Tá de brincadeira né? Vamos ter que ler tudo isso para descobrir a próxima pista?
Antes de Martin dizer mais alguma coisa, ele percebeu outro detalhe. Na lombada dos livros havia grifado no couro várias letrinhas, mas não estavam em ordem alfabética de acordo com os volumes.

R A I B C M O M E I F A E L N E

— Esquisito...

— Lembra-se da pergunta? Era “Quem é você?”, talvez você tenha que responder usando as letras.

— Isso. Lucas, você é um gênio!

Martin desocupou uma das prateleiras e ajeitou os 16 volumes dentro dela. Como no livro a pergunta se dirigia a personagem principal ele tentou escrever: “Alice Liddell”, mas tinha muitas letras para ser isso e também faltariam algumas. Ele parou e tentou buscar mais um pouco, pensou no motivo da Lagarta ter perguntado aquilo a Alice.

— No livro Alice diz que não sabe quem é ela mesma, talvez seja isso. – disse e tentou escrever: “Eu não sei”, não obteve sucesso. – Talvez eu devesse pesquisar um pouco mais.

— Tente Mabel – sugeriu Lucas.

— Mabel... – aquele nome era mais familiar do que Martin imaginava. – Porque acha que é isso? Você nem é um estudioso de Alice, Lucas.

— Naquela casa de bonecas que encontramos, havia escrito “Para minha querida Mabel”.

— É isso! Agora me lembro! – exclamou – Alice Liddell era uma pobre criança problemática, sofria de dupla personalidade. O nome que criara a si própria era: “Florence Mabel

Ele ajeitou os livros para escrever o tal nome, mas ainda faltavam algumas letras, sendo elas “I”, “A” e “M”. Obviamente já descobrira o enigma.

I A M F L O R E N C E M A B E L

(Eu sou Florence Mabel)

Quando o último livro foi colocado na estante, as letras marcadas nas lombadas brilharam tão forte que ofuscaram a visão os dois, iluminando não só a sala como toda casa.

Quando a luz desapareceu, o barulho de algo destrancando ecoou em seus ouvidos. Eles analisaram a estante e encontraram uma espécie de compartimento secreto, uma pequena gaveta entre a separação das prateleiras.

— Aqui está. –Martin disse enquanto tirava outro pedaço do pergaminho.

O momento de animação passou quando um som peculiar foi ouvido do hall. Um barulho de algo destrancando, mas não era outro compartimento secreto, era a porta. Alguém estava entrando na casa!

Martin enfiou a papel no bolso, eles olharam para os lados, não havia para onde correr ou se esconder. E muito menos uma passagem secreta salvadora dessa vez.

Os passos foram ficando mais fortes e próximos. A porta da sala foi aberta. Quem estava lá era o mesmo homem que os pegara durante a manhã quando acharam a casa de bonecas.

— MAS O QUÊ?! – berrou surpreendido com a mesma voz grossa que já conheciam.

Eles haviam sido pegos numa situação sem contorno.

A feição do homem mudou rapidamente. Ele sorriu.

— A casa só vai abrir mais cedo. – disse sorrindo.

Lucas e Martin permaneciam paralisados, ele não parecia nada irritado em ver que eles tinham invadido a casa de madrugada.

— Desculpe pelos meus modos – continuou com uma voz acolhedora – Meu nome é Jake Adams, proprietário local. Eu deveria ter avisado no incidente de ontem.

— Você... Como não está irritado conosco? – Lucas começou a questionar em inglês confuso.

— Porque estaria? Aquilo que encontraram ontem escondido embaixo do assoalho era uma casa de bonecas raríssima pertencida a Alice Liddell na época. Graças a vocês uma peça muito importante foi acolhida pelo instituto.

— Verdade? – Martin ainda estava surpreso com a situação.

— Sim, não gostaria de tomar um chá ou comer algo? – perguntou Jake já se dirigindo para fora do lugar.

— Não é necessário – Martin logo pulou para frente – já estamos de saída, não é Lucas?

— Sim Martin.

Eles foram se dirigindo rápido até a porta principal, querendo poder sair daquela situação o mais rápido possível.

— A propósito cavalheiros... – o senhor Jake os interrompera de longe – Só por curiosidade, vocês não encontraram mais nada assim pela casa, encontraram?

— Não senhor. – Martin tenta encerrar a conversa mais uma vez. – Mais só por curiosidade, aonde é o instituto que mencionou?

Jake olhou por um tempo e lhes devolveu um sorriso malicioso.

— Num lugar seguro.


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Notas finais do capítulo

Pàgina oficial no face: Em Busca do País das Maravilhas.
Me digam o que estão achando até agora.



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