"Os pequenos atos que se executam são melhores que todos aqueles grandes que apenas se planejam."

(George C. Marshall)

Já havia acordado há horas, estava apenas revirando meu corpo por aquela cama macia, de um lado para o outro, indecisa de qual deles era o pior.

De um lado eu podia encarar a parede, aquela parede estranha que não tinha mais o meu toque pessoal, já quem nem era a mesma. Do que me lembrava, a cor creme que havia agora, não era a cinza que havia antes, mas como Tony havia dito, eles haviam transformado aquele quarto em um quarto de hóspedes após o casamento, mudando tudo o que o eu levei um tempo para arrumar.

Já do outro lado, o que ficava em evidencia, era a grande parede de vidro, que mostrava o tempo totalmente diferente do que era quando eu havia deitado. Agora nuvens cinza sobrevoavam o céu, e uma chuva calma caia. Eu até gostava de chuvas, mas não era aquilo que o meu humor estava precisando, fazia eu me sentir trancada, trancada nessa casa que eu não conheço, sem meus amigos, apenas com o meu “noivinho”.

Virei de barriga para cima e passei as mãos pelo meu rosto, eu precisava me levantar, já tinha passado tempo demais pensando, e já havia tomado uma decisão, só precisava por ela em prática, e era isso que eu ia fazer.

Fui para o banheiro e entrei em baixo da água morna, as gotas percorriam o meu corpo me aquecendo e relaxando os meus músculos, era por isso que eu gostava de banhos quentes, me permitiam relaxar e me perder em pensamentos.

Relutante, sai do banho e me enrolei na toalha, só então notando que havia esquecido de separar uma roupa.

– Maldição. – Praguejo baixo saindo do banheiro.

Quando olho para frente, fico surpresa, haviam roupas dobradas e limpas em cima da cama. Aproximo-me mais e as pego, eram um short e uma blusa verde claro. Desdobro as duas e me seco, pondo-as em seguida. O cheirinho doce de amaciante exalava delas, e era ótimo.

Depois de pentear os cabelos, desço para tomar café, Stark estava na mesa já comendo e mexendo em seu celular.

– Nem um pouco viciado como posso ver. – Comento pegando café, biscoitos e depois puxando uma das cadeiras e sentando.

– Vejo que seu humor melhorou, não muito, só na medida do seu possível, não é mesmo? – Fala sorrindo e em seguida bebendo café.

– Ha ha ha, não sei como você ainda não largou essa vida de herói para se tornar comediante.

– Porque ai eu não ia poder ver você, sei que não curte muito dar risada.

Reviro os olhos e o ignoro, comendo meus biscoitos.

– E de nada pelas roupas.

– Foi você? – Questiono o olhando. – Achei que fosse um dos seus bilhões de empregados, sei que você não gosta de se mexer muito.

– E depois eu que sou o comediante. E fui eu sim. – Responde voltando sua atenção para o celular.

– Sendo assim, obrigada. – Digo terminando meu café e levando a xícara para a pia.

– Então minha querida Natasha, como está tão radiante hoje...

– Deixando de radiar por sua causa...

– Decidi programar nosso dia, se não se importa. – Anuncia levantando e indo para a sala.

– Eu me importo, e muito.

– Que ótimo. Como eu sei e talvez você saiba, um dos seus programar preferido na chuva é... – Tony fala alegre e aponta para mim, me fazendo revirar os olhos.

– Eu não sei do nosso casamento, agora de mim eu sei muito bem. – Respondo me atirando no sofá.

– Quase isso, mas você errou. A resposta correta é: ver filmes. – Fala ligando a grande tela que havia na sala. – Separei uma maratona de alguns filmes que você gosta, começando por V de Vingança. – Termina sentando ao meu lado e clicando em alguns botões, o que faz o menu do filme aparecer em nossa frente.

– Eu adoro esse filme. – E adorava mesmo, era intrigante e surpreendente, com ótimas atuações.

– Sei disso.

Após Stark dizer isso, ficamos calados assistindo o filme. Quando terminou, comemos uma pizza pré-pronta que Tony havia feito, comemos ela após eu acabar de rir por saber que Stark sabia como usar o micro-ondas e fazer piadas sobre isso. A pizza era de calabresa e portuguesa, as minhas favoritas.

Depois de terminarmos de almoçar, vimos o filme Star Wars Episódio III.

Quando os créditos apareceram na tela, Tony levantou, me dando um susto.

– Que tal agora, testarmos esse seu cerebrozinho com um desafio? – Perguntou animado.

– Fazendo... ? – Questiono sentando no sofá.

– Jogando xadrez, óbvio. – Respondeu já subindo as escadas, suspirando o segui.

Entramos em um escritório bem amplo, onde haviam algumas mesas com computadores e uma delas com um tabuleiro de xadrez. Tony ajeitou duas cadeiras, uma de cada lado da mesa, logo em seguida começando a ajeitar as peças.

– Vou deixar você ficar com as pretas, eu sei que essa é a sua cor. – Fala terminando de colocar as peças. – Okay, vamos jogar, e não se sinta muito mal quando eu ganhar de você.

– É o que veremos.

Ao final da partida, o ego de Stark havia se tornado maior do que seria possível imaginar, ele tinha ganhado a partida.

– Sorte. – Falo levantando e saindo do cômodo.

– Sorte nada ruivnha, só aceite que sou superior intelectualmente a você. – Comenta se gabando, me balançando pelos ombros.

– Você é muito chato. – Começo a rir de sua cara de “superior”. – Vou tomar banho.

– Pediria para ir com você, mas acho que te irritaria né?! – Stark comenta sorrindo. Apenas o encaro séria. – Então tá, nos vemos no meu quarto depois, para ver filme.

. . .

Estava na metade do filme Edward mãos de tesoura quando o sono bate forte em mim.

– Eu vou ir dormir. – Digo levantando, mas sou impedida por Tony, que me segura.

– Fica, você dorme aqui mesmo.

– Tecnicamente...

– Você dorme vendo o filme, por favor. – Stark implora com uma carinha de pidão.

– Okay, mas só porque eu gosto do filme. – Dou-me por vencida e deito novamente.

– É, por causa do filme, eu sei que...

– Boa noite Tony. – Corto Stark.

– Boa noite Nat.

O filme continua passando, mas eu não consigo mais prestar atenção, meus pensamentos se perdem e vagam sem rumo. Penso nos filmes, penso em Tony, penso na vida de antes, na de agora, em como cada dia conseguia ser mais diferente do outro e o mais estranho é eu estar me “acostumando” tão rápido, como se eu já vivesse isso tudo antes.

Eu não podia negar que tudo era bom, tranquilidade, simplicidade, e eu podia negar o quanto quisesse, mas Tony era legal, e eu gostava dele, mesmo com suas brincadeirinhas inoportunas em horas inadequadas.

Eu ainda continuava extremamente confusa, todavia, esse dia havia sido ótimo, desde o momento das roupas que o Tony me levou, até ele pedir para eu ficar. Eram atos tão simples, por que eu ainda achava meio estranho? Éramos amigos afinal, não é mesmo?

Logo minhas pálpebras começam a pesar, um pouco antes de adormecer, sinto braços me rodeando e um aroma doce. Enquanto durmo, tenho sonhos sobre isso.