Beard, tea and tobacco. escrita por Enoaies


Capítulo 11
Was I invited?


Notas iniciais do capítulo

Décimo primeiro capitulo. Espero que estejam ansiosos e gostem.



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Leesburg, Virginia – 30 de Setembro.

Sete dias. Fazia sete dias desde que o diretor da escola onde começara a trabalhar me beijara. E quadro, desde que dissera de certo modo não conseguir mais parar de pensar em “nossa situação”. E fazia dois dias desde que me negara acreditar na existência da “nossa situação”, até porque parte de mim se negava a fazer parte disso, assim como parte dele. Acredito eu. De qualquer forma não importava, pois nesses mesmos quatro dias tentei não falar com Sr.Moosen, e reduzir-me a alguns comprimentos, bom dia, boa tarde e talvez um até amanhã.

Não acho que de certo modo isso tenha resolvido as coisas, mas pareceu amenizar “nossa situação”, que devia ser toda aquela coisa de toques e encontros em sua sala e estacionamentos. Tudo isso se deve a Otto, que reparou meu cheiro de cigarro no mesmo dia em que fui buscá-lo no aeroporto, e dois dias depois se dispôs a me perguntar sobre o que me devolvera àquela mania da faculdade. Dei a ele uma serie de exemplos, aos quais “eu não me encaixava”, e foi o que lhe deu uma idéia sobre a minha situação, ou pelo menos parte dela.

—Charles. – a voz um tanto rouca de Sr.Criswell tirou-me de meu devaneio matinal. – o que acha da idéia? – indagou, enquanto me encarava junto dos outros professores presentes na sala.

—Me parece uma boa idéia. – engoli em seco sem entender de certo sobre o que conversavam.

—Então acha mesmo que devíamos apoiar a agressão domestica? – Linnea indagou de maneira seria. – e a prostituição infantil? – franziu o cenho.

—Ah, não. – pisquei os olhos rapidamente, voltando para a realidade de sua pergunta. – claro que não acho isso uma boa idéia! – parecia um tanto desesperado, confesso. Linnea logo começou a rir, seguida por Sr.Criswell. Ambos trocaram um comprimento.

—Estava certa. – começava a gargalhar. – ele nem mesmo estava prestando a atenção em nossa conversa. – apoiou-se nos joelhos.

—E mesmo assim s dispôs a concordar. – pequenas gotas desciam pelos olhos claros de Linnea, enquanto seus braços faziam um laço em volta de sua barriga. Sr.Criswell logo cessou com a gargalhada e após um suspiro, voltou à expressão séria, retomando a conversa com Linnea.

—Enfim. – fez uma pausa. – acho que deveríamos fazê-la naquele bar.

—Sabe que Geoff não gosta dessa idéia juvenil de festa e bebida. – Linnea serviu-se de um pouco de café da maquina. – só apareceu na sua festa porque é um de seus melhores amigos. – alegou. – e sabe que todos os anos ele as faz em sua casa.

—Somente porque insistimos.

—Você é quem insiste. – Honora apontou ao professor sua caneca. – nós somente lhe perguntamos se fará algo em seu aniversario.

—Aniversario? – indaguei quase em um sussurro.

—Sim. – Sr.Criswell olhou-me por cima dos ombros. – aniversario de Geoff. Daqui dois dias. Não era de seu conhecimento?

—Não até este momento. – comprimi os lábios tentando esconder meu nervosismo diante do assunto “Geoffrey Moosen”.

—Estranho. – franziu o cenho. – Geoff o tem chamado tanto a sua sala, que imaginei que talvez já lhe tivesse contado.

—Não. – abaixei os olhos por um rápido instante. – apenas negócios. Aulas. – conclui. O sinal tocou estridente, convidando os jovens às salas de aula e encerrando nossa conversa sobre o diretor.

12h16min

Estava em minha hora de almoço. E decidira que a passaria na sala dos professores, com uma garrafinha de água e um sanduíche de peito de peru. Todos tinham isso almoçar em um restaurante um pouco afastado da escola. O The wine Kitchen. Durante esse tempo, terminei meu sanduíche, bebi duas xícaras enormes de chá e fumei dois cigarros, e ainda assim faltava certo tempo até que todos voltassem. Peguei então meu exemplar de Hamlet e os óculos na bolsa, continuando minha terceira releitura do livro.

Alguns minutos mais tarde e ouvi um barulho vindo do corredor. Os passos pesados e lentos que ecoavam como o tic-tac de um relógio, dirigindo-se até a porta amadeirada, que logo se abriu. Pela fresta conseguia observar os cabelos castanhos em tons de ruivo, o terno em um estilo retro e a expressão carrancuda por trás dos pelos faciais. Sr.Moosen estava ali, parado, deixando seus os olhos reluzirem no calor do meio dia.

—Sr.Moosen. – sussurrei por cima das paginas envelhecidas do livro. – algum problema? – meus lábios se moveram lentamente, deixando a pergunta saltar.

—Não. – sussurrou do outro lado.

—Deseja falar com algum dos professores?

—Não. –repetiu. – vim falar com o Senhor – abriu a porta um pouco mais.

—A respeito do que? – deixei o livro na mesa.

—Tristan. – fez uma pausa. – foi até minha sala. Disse-me que seria bem legal se lhe convidasse para ir até a minha casa. – suspirou. – para a festa. – disse após alguns segundos. – de aniversario. – tentou um sorriso.

—Ah. Não acho que. – comprimi os lábios pensando melhor no que diria. – não acho que seja uma boa idéia. – dei de ombros. – entendo Sr.Criswell tentar me incluir em algumas atividades, mas não acho que precisemos agir como se isso fosse mesmo necessário.

—Entendo. – parou seus olhos sobre os meus. – não precisamos agir como se isso fosse necessário. – repetiu. Deu um longo suspiro e voltou os olhos para o piso manchado com café. – sabe. – começou após alguns segundos. – acho que às vezes precisamos insistir no que não é necessário. – deu de ombros. – mas é só uma idéia minha. Um “achismo”. – passou os dedos pela barba como sempre fazia, e deu meia volta, saindo pela porta.

Não sei bem quando tínhamos chegado aquele ponto. Quando tínhamos cruzado aquela linha invisível onde todas as conversas, bons dias e convites para “festas” tinham se tornado constrangedores e desconcertantes. Desde quando estávamos nessa luta para manter o total profissionalismo e esquecer qualquer coisa que ocorrera fora disso?

De certo modo, ainda estava processando a idéia de deixar ir aos ares, os longos e cansativos quatro dias de silencio em relação ao diretor. Pensava no que resultaria minha presença em uma festa de aniversario em sua casa, e como nós reagiríamos diante daquilo. De qualquer modo tudo ainda era recente, e todas as minhas decisões podiam ser mudadas.

15h30min

Não demorou muito até estarmos no fim do dia. Os alunos corriam aos corredores, enquanto nós, os professores. Arrumávamos nossos livros e casacos, pastas e papeis antes de irmos. Sr.Criswell me esperou na porta, acredito que tinha algo importante a me dizer. Algo que já podia imaginar do que se tratava, mas mesmo assim deixei de lado para ouvi-lo.

—Pode falar. – passei pela porta, andando junto a ele pelo corredor alaranjado com a luz do entardecer.

—Bem. – comprimiu os lábios, enquanto olhava seus enormes sapatos. – esta manhã eu fui falar com Geoffrey a respeito de planejarmos uma festa para ele.

Vocês foram? – indaguei.

Eu fui. – corrigiu com um sorriso. – ele aceitou a idéia, e até arrisco pensar que ele já estava pronto para minhas idéias.

—Acha mesmo? – sorri de canto, olhando-o de soslaio.

—Acho. – assentiu. Seguimos em silencio até a porta de entrada, por onde seguimos até chegarmos ao estacionamento já vazio. – lhe falei sobre o que Geoffrey me pediu hoje? Quando fui falar com ele sobre a festa?

—Não.

—Pediu para que garantisse a presença de todos os professores. Ou pelo menos que todos recebessem seus convites. – se aproximou de uma perua laranja em um estilo hippie. – incluindo nosso novo membro. Charles Ocean. – sorriu, enquanto girava o molho de chaves em seu dedo indicador.

—Sr.Moosen pediu para que me convidasse? – espremi os olhos, estranhando sua afirmação.

—Estranho não? –indagou por cima dos ombros. – talvez esse seja um dos efeitos colaterais de se estar ficando velho. – girou a chave algumas vezes até conseguir abrir a porta de metal enferrujado.

—Acho difícil. – disse baixo, comprimindo os lábios.

—Quem sabe não é? – deu de ombros, enquanto sentava-se no banco alto de couro sintético vermelho. Couro em uma perua hippie, quem diria. – preciso ir. – fechou a porta. Abaixou em seguida a janela, por onde se esvaiu um bafo de ar quente de dentro do carro. – afinal, festas de aniversario para homens de meia idade não se fazem sozinhas. – ligou a ignição, dando em um ronco de desespero a partida.

Segui pelo estacionamento até juntar-me a meu fusca na ultima vaga. Parei por um instante, ouvindo as folhas trepidantes das arvores, e seus galhos desesperados que balouçavam de um lado a outro. Uma brisa passava por meu cabelo despenteado, que apenas ia a seu ritmo, tornando mais definitiva sua rebeldia e “castanhosidade”, eu acho. Busquei o maço de cigarros no bolso, do qual retirei um dentre todos. Acendi. Deixei a fumaça por um tempo em minha boca, queimando minhas bochechas, antes que a soltasse sobre o teto amassado do veiculo e voltasse a mim.

Voltei ao carro, que estava tão abafado quanto o carro de Sr.Criswell. Liguei o radio e passei a chave na ignição, pronto para partir.


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Notas finais do capítulo

Então foi isso! Espero que tenham gostado e esperem pelo próximo capitulo! Até mais.



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