Em família escrita por Hikari Mondo


Capítulo 21
Coragem


Notas iniciais do capítulo

"Porque coragem nem sempre é aparente."

Ok, eu sou péssima com títulos. E com sumários, e chamadas de capítulo. Mas enfim, mais um para hoje. Não ficou bem como eu imaginei, mas foi até bom, ficou mais 'leve'.
Eu já comentei que estou meio deprimida? Então, vamos todos chorar juntos. Ou não.



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“Não, ela não pode morrer. Ela estava dando a vida dela para mim! Você não entende?! Ela me salvou. Ela estava dando a vida dela para mim.” Shikadai repetiu, no meio do desespero.

“Os médicos vão fazer tudo que puderem para salvá-la, Shikadai.” Temari estava preocupada com seu filho. Ela nunca o vira tão alterado assim. “Mas eu não posso mentir para você. Eu não posso dizer que vai ficar tudo bem, quando isso pode não acontecer.”

“Mas não é justo... Ela é uma boa pessoa. Ela me salvou. Eu deveria ter morrido... Se ela não tivesse feito nada, eu teria morrido em poucos segundos... Eu- eu- ....”

Uma lágrima escorreu dos olhos de Temari. A simples possibilidade de perder seu filho a aterrorizava. Ela não se importava, se fosse 5 ou 10 pessoas, ela trocaria quantas vidas fossem pela do seu filho. Ela daria o mundo, daria sua própria vida. E não é que ela fosse cruel. Ela só era uma mãe. E mães fariam qualquer coisa pelos seus filhos. Ainda assim, ela queria que a garota no outro quarto se salvasse. Mas se ela tivesse que escolher apenas um, ela agradecia infinitamente por ser Shikadai quem estava bem.

“Eu sei, meu bem.  Eu também quero que ela fique bem. Mas eu não posso te prometer isso...” Temari acariciava a mão de seu filho naquela cama de hospital. Tentando mantê-lo calmo, mas também o preparando para o pior.

—---

 Shikamaru estava no quarto, olhando para aquela que salvara a vida de seu filho. Que desde o início lutara para protegê-lo, e que para cumprir esse propósito agora estava naquela cama.

“E então, Sakura?”

“Bem, nós fizemos tudo que podíamos. Agora só podemos esperar e torcer... Se me der licença, preciso checar alguns outros pacientes.” Shikamaru apenas assentiu distraidamente, olhando fixamente para a pessoa na cama.

Ela estava fraca, entubada, mas ainda levemente consciente mesmo que não pudesse falar, e aqueles olhos canela queimavam em determinação. A vontade do fogo permanecia forte dentro dela. Ela estava disposta a entregar tudo que tivesse para cuidar da próxima geração. Shikamaru sabia o que ela pretendia. Mas não sabia se ele estava preparado para aquilo.

“Você sabe que se fizer isso, você vai morrer, não é?” Ele perguntou, querendo colocar algo de juízo na cabeça dela. Mas ela apenas fechou os olhos lentamente e voltou a abri-los, e Shikamaru imaginou que tivesse visto ela, talvez, assentir. Era um sim. Ela sabia e estava disposta a morrer para dar a ele as informações que tinha.

Ela o encarava com o olhar trêmulo, e ele sabia o que ela queria dizer. “Você tem certeza que não vai conseguir escapar dessa?”

—---

“... Mas a verdade é que a situação não é favorável. Não temos grandes esperanças. Eu sinto muito...” Sakura terminou de dar o relatório sobre a situação médica. Como profissional, era seu dever não mentir a respeito das condições de seus pacientes.

Ela estava em uma sala aparte, com Temari, Shikamaru, Ino e Sai. Chouji e Karui estavam com as crianças. “Nada para animar alguém como algumas batatinhas e alguns doces” Chouji dissera.

“Sakura. Por não favorável, do que exatamente estamos falando?” A voz de Shikamaru soava séria, livre de qualquer emoção. Uma fachada.

A nomeada apenas desviou o olhar. “A estimativa é menos de 48 horas......”

“Shikadai ficará desolado...” Temari estava olhando o vazio, pensando na dor do filho. Isso a preocupava.

“Vamos falar com ele.” A determinação dele era evidente, e o poder dessas palavras não deixava dúvidas sobre o que aconteceria. “Ela quer usar suas últimas forças para me dar informações. Eu quero que ele decida.”

Todas as mulheres presentes na sala o olharam como se ele estivesse maluco. Sai permanecia com uma expressão indiferente, somente o encarando. Talvez até um pouco de simpatia. Eles se tornaram bons amigos, Shikamaru diria, depois de tanto tempo e missões juntos.

“Shikamaru, você tem idéia do que você está sugerindo? Nosso filho ficará arrasado se ele tiver que escolher...” Ele sabia e compartilhava a aflição de Temari, demonstrada pelo tom de súplica com que dissera essas palavras, mas ele não via outra opção melhor. Então ele apenas concordou com a cabeça e permaneceu em silêncio, submerso em seus pensamentos, tentando buscar uma alternativa que ele não tivesse pensado ainda.

“Isso é mesmo necessário? Quero dizer, ele é só uma criança...” A de cabelos rosados intercedeu, também pensando como uma mãe que não quer ver seu filho sofrer.

“Shikamaru, se você tem que fazer, então faça, mas você não precisa ferir seu filho assim...” Ino também fez um pedido, embora parece-se muito mais uma ordem. Algo que Temari jamais tentaria com ele. Ele observou sua esposa sentada olhando para baixo. Ao saber-se observada, ela levantou e sustentou olhar, o encarando, toda a dor evidente em seu rosto. Ela confiava nele, e o apoiaria se ele achasse que era a melhor opção. Ele respirou fundo, fechando os olhos.

“Imaginem como meu filho se sentiria se soubesse que eu troquei a vida da pessoa que o salvou por algumas informações, sem sequer falar com ele. Não será só tristeza que ele sentiria então... Não, eu preciso ser sincero. E não farei nada sem a autorização dele.” Fortalecendo sua decisão, ele terminou firmeza. “Vamos lá, nosso tempo está se esgotando.”

—---

“E é por isso que eu quero saber de você, Shikadai, o que eu deveria fazer. Você entende tudo que eu acabei de dizer?”

Shikadai estava deitado na sua cama de hospital ainda. Ele estava bem, mas queriam mantê-lo por observação por mais um tempo. O que lhe parecia um pouco de exagero, mas não se deu o trabalho de discutir.

Sua mãe estava sentada ao lado de sua cama, segurando sua mão direita, enquanto seu pai estava em pé o encarando, contando sobre aquilo que estava prestes a fazer. Sakura estava também no quarto, em pé próximo a porta, com um semblante de quem preferia estar em qualquer lugar, menos ali.

“Você está me dizendo que pretende matá-la para poder pegar as informações que ela tem sobre o que aconteceu. É isso não é?” Ele falou com dureza.

“Tecnicamente, eu não estou a matando, m-” A raiva dentro de si não o permitia continuar a ouvir a explicação de seu pai.

“Mas na prática dá na mesma, não é?! Não é?!?!” Ele estava arfando já, embora estivesse se controlando para não elevar a voz ou se alterar. Seu pai ficou em silêncio por algum tempo, enquanto sua mãe permanecia segurando sua mão firmemente, tentando consolá-lo. Como se algo pudesse servir de consolação.

“Sim...” Foi apenas um sussuro, mas ainda naquela mesma voz inabalável que seu pai lhe respondeu. Shikadai tremia, de raiva, de tristeza. De impotência. Aquilo não era justo.

“Sakura-obasan, é verdade? Qual a condição dela agora?”

“Bem, é- nós fizemos o que podíamos, e agora temos que esperar. E-em alguns casos, as pessoas melhoram sem a – a-ajuda dos médicos, ahn, e-” Sakura gaguejava e não conseguia sequer olhá-lo, e era óbvio que ela estava tentando ser positiva na frente dele, mas ela estava muito nervosa.

“Não minta para mim. Como ela está?” Shikadai em nenhum momento levantou a voz, embora seu tom firme remetia a de ambos seus pais e não abrisse espaço para discussão, claramente exigindo uma resposta. “Ela vai morrer?”

Sakura parou de sorrir e mordeu o lábio inferior, olhando para baixo. Era possível ver os olhos dela se enchendo de lágrimas quando ela os levantou para encarar a parede ao seu lado, a boca tremendo enquanto ela tentava conter o choro.

“A-as – as expectativas são- ela não sobrevive as próximas 48 horas...” Ele pode ver Sakura fechar os olhos, e uma lágrima escorrer deles. O semblante dela contrastava drasticamente com os de seus pais – Temari ao seu lado estava com uma expressão triste, mas de aceitação, e seu pai Shikamaru permanecia aparentemente inabalado, mesmo depois de todas as duras palavras que dissera.

“Não é justo... Ela-ela não merece morrer... Ela deu a vida dela pra mim... Eu que devia estar lá...” Com essa última frase, ele sentiu sua mãe apertar sua mão mais forte, mas sua expressão permaneceu inalterada – apenas tristeza resignada. “Não é justo. Se eu não tivesse lá... Se eu não estivesse lá, ela poderia estar bem agora-!”

“Você nunca saberá isso.” Shikamaru o interrompeu. “Ninguém nunca saberá isso. Ninguém sabe ou pode saber o que teria acontecido se você não estivesse lá. E ninguém pode mudar o passado, então é inútil pensar no que não aconteceu... Tudo que podemos mudar agora é o que vamos fazer, de agora em diante.” Shikadai sabia que seu pai tinha razão... Ele sabia que aquilo era inútil, e sabia que seu pai estava apenas lhe mostrando a opção lógica, mas-

Mas tudo aquilo era demais. Ele queria chorar, ele queria voltar no tempo e desfazer aquilo, ele queria- ele queria bater em Shikamaru por ficar ali, parado na sua frente, como se não fosse nada, totalmente inabalado, enquanto lhe sugeria isso com suas palavras calmas e tranquilas – mesmo Shikadai sabendo, no fundo, que tudo aquilo era só fachada – mas ele queria algo, ou alguém, com quem brigar, em quem colocar a culpa. Algo que tirasse aquele peso de dentro de si. E o que mais lhe dava raiva de seu pai era que... era que ele estava certo...

Sua visão já estava embaçada neste ponto, as lágrimas que teimavam em sair se acumulando e não lhe permitindo enxergar direito, seus músculos tensos que lhe faziam tremer, a mandíbula apertada em raiva, a sensação de sua mãe segurando sua mão a única coisa que o impedia de perder completamente o controle.

“Como você consegue fazer isso?!” Ele perguntou entre dentes encarando o vulto do seu pai aos pés da sua cama. “Como você consegue falar disso assim!? Como você faz para esquecer uma coisa dessas?!”

“Eu não consigo...” Novamente as palavras de seu pai soaram serenas, sem comoção mesmo perante toda a raiva que Shikadai sentia. “Até hoje, as memórias me assombram. De todos aqueles que eu não pude salvar. Eu não esqueço...”

Shikadai pode sentir as lágrimas escorrendo lentamente em seu rosto agora. Ele sabia, seu pai estava certo. Ele podia ter diversos defeitos, mas ele era o homem mais inteligente que Shikadai conhecia. Possivelmente o mais inteligente da Aliança Shinobi. Ainda assim, saber que ele estava certo não fazia com que doesse nenhum pouco menos em Shikadai.

Shikadai fechou os olhos e deixou o choro fluir. Ele podia sentir sua mãe ali segurando sua mão, e ele esperava que ela não saísse em nenhum momento breve.

“E como você faz para lidar com isso? Como você consegue... viver?” Shikadai se dirigiu novamente ao seu pai, sua voz apenas um fio, muito mais fraca que anteriormente.

“Eu suporto.... É isso que shinobis fazem. Nós suportamos.”

Shinobis são aqueles que suportam...” Shikadai concordou ainda em lágrimas. “Aqueles que suportam...” Seu choro ainda era silencioso, apesar das inúmeras lágrimas que caíam de seu rosto.

“E então? O que faremos?” A pergunta de seu pai o lembrou novamente de porque eles estavam discutindo isso.

“Ela-..... Ela vai morrer...” Shikadai afirmou, mas esperando que lhe dessem uma resposta negativa. Resposta essa que ele sabia que não viria.

Pela primeira vez seu pai fez algo além da pose estóica desde que entrara no quarto, e soltou um suspiro. “Provavelmente. Pode ser agora nos fornecendo informações, ou podemos esperar dois dias até que aconteça, talvez até menos. Mas provavelmente vai acontecer...” Ainda sereno, Shikamaru o respondeu.

Shikadai apertou os dentes, tentando colocar força nas palavras que estava prestes a dizer. “Então faça. Pegue as informações.” Ele deu um suspiro pesaroso, não mais conseguindo conter suas lágrimas. “Se não podemos salvá-la, então usaremos as informações para salvar outros. É uma escolha óbvia....” Ele parou por um instante, e murmurou em seguida. “A única opção lógica.... Faça...” Ele teve que forçar essas palavras para fora de sua boca, pois embora sua consciência concordasse com a lógica, suas emoções lhe pediam – exigiam – que eles esperassem, que talvez – só talvez – ela pudesse se recuperar.

Mas o que seria depois, se ela morresse? O que seria se mais pessoas morressem porque ele não pôde tomar uma decisão lógica? Ele não queria passar pelo mesmo sentimento de culpa de novo.

Ele mal registrou o momento em que Sakura saíra pela porta chorando, mas sabia que agora estavam apenas ele e seus pais no cômodo, e seu pai não se movera nenhum centímetro de onde estava.

“Vá! Eu já disse, vá e faça!” Shikadai se negava a gritar, mas sua voz estava carregada em hostilidade. “Era isso que você queria ouvir, não era? Pronto, eu já disse. Vá em frente. Faça o que tem que fazer.”

—---

Shikamaru ficou parado por uns instantes, e Temari pode ver que ele tentava decidir se consolava o seu filho, ou se deixava ele lidar com os próprios sentimentos. No fim, ele decidiu pelo último e somente se virou e saiu do quarto, deixando apenas ela e o filho.

Shikadai estava olhando para o chão, as lágrimas ainda caindo e molhando seu travesseiro, e exibindo a mesma expressão de tristeza resignada que ela tinha.

“No fim, eu também sou um covarde, que nem meu pai...”  A declaração de seu filho a surpreendeu, e não de uma boa maneira.

“Você não é um covarde... E porque você acha que seu pai é covarde?” Ela perguntou, tentando entender o que se passava dentro da cabeça de Shikadai.

Ele suspirou e deu de ombros.  “Meu avô disse que meu pai era covarde, não é? E me diga como deixar a pessoa que te salvou morrer não é algo covarde a se fazer...” Ele lhe indagou.

“Não há nada que você possa fazer, Shikadai. Nada que qualquer um possa fazer.” Ela tentou confortar seu filho primeiro. “E sobre seu pai... Sim, seu avô disse que ele era covarde, mas você precisa entender o contexto.”

Ela delicadamente passou a mão sobre os cabelos de seu filho, o que o levou a olhar para ela, com aqueles olhos tão parecidos com os seus, mas que lembrava tanto ao pai dele. “Seu pai tem medo. Muitos medos.” Ela suspirou, e tentou começar novamente. Algo simplesmente não parecia certo para Temari que seu filho pensasse que seu pai fosse covarde. “As pessoas podem me chamar de cruel e de destemida, mas sinceramente eu fico feliz que você tenha herdado a coragem de seu pai.” Shikadai levantou as duas sombrancelhas em indagação. Tão parecido com Shikamaru... “Quando eu vou para uma missão, eu sei que existem riscos, mas eu prefiro não pensar neles e acreditar que tudo vai dar certo. Seu pai... seu pai não. Seu pai pensa em cada pequeno detalhe que poderia dar errado. Cada erro que ele ou alguém poderia cometer e as consequências deles. E isso é... assustador, se você quiser saber minha opinião. Mas mesmo assim, seu pai faz, e dá tudo que ele pode para evitar consequências graves... Se você parar para pensar, seu pai é mais corajoso que eu. E que a grande maioria dos shinobis.” Ela terminou sorrindo nostálgica ao pensar no marido.

“Então o papai... ele deve sentir muita culpa, não é? Pensar em todas as falhas que ele teve e saber que tinha pensado nisso. Ou talvez pior, que ele não tinha pensado quando deveria ter...” Shikadai raciocinou por si mesmo. “Mas ele parece tão- indeferente a-” a voz dele se quebrou, e Temari instintivamente o abraçou.

“Mas ele não está, meu bem. Acredite, ele não está.” Ela confirmou, tentando acalmá-lo, ao sentir algumas lágrimas quentes em seu kimono. “Eu sinto muito.” Ela disse triste, dando um beijo na cabeça de Shikadai o mantendo em seu abraço

“Eu também.” Ele disse em um sussuro. “Eu também......”


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Notas finais do capítulo

Reviews por favor, pra alegrar o dia? Sugestões são sempre bem-vindas também - embora eu não prometa nada sobre conseguir escrever.



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