—Ei, Vi. Olha quem eu encontrei no portão do abrigo.

Entra no quarto uma moça alta, morena, de olhos castanhos e cabelo comprido na cor preta.

Viollet observou a menina de cima a baixo, franziu a testa, limpou a garganta e disse:

—Quem é essa?

—Essa é a Mia, lembra-se? Sidney falou dela, minha colega de trabalho.

—Sidney esteve aqui? –Indagou Mia-

—Ah, sim... Ele nos fez uma visita –Respondeu Leon sem jeito-

—Ele sabia onde você estava esse tempo todo? –Mia parecia inconformada-

—Não. Na verdade eu nem sei como ele me achou

—Leon, eu posso falar com você? –Perguntou Viollet aparentemente nervosa-

—C-Claro –Leon gaguejou ao olhar para Viollet-

Ela estava com uma expressão furiosa, braços ao lado do corpo, porém com as mãos fechadas como se pudesse socar alguém a qualquer instante.

Ela o puxou para fora do quarto e bateu a porta ao sair

—Você não está pensando que ela vai dormir aqui, não é mesmo?

—Ora, Viollet. O que você quer que eu faça? Você viu como ela está? Tem sangue nas roupas, está toda descabelada e suja. Não sabemos o que ela passou, temos que admitir que ela foi corajosa e tentarmos ser um pouco agradáveis. Irei trazer comida para nós enquanto ela toma banho, você tem alguma roupa para emprestar?

—Talvez você queira dormir com ela de novo.

—Por favor, está bem? Somos bem grandinhos para você ter essas crises de ciúmes.

—Pode dizer a ela que tenho roupas no armário do lado da cama.

—Por que você mesma não diz? Poderiam ser amigas.

Leon a abraça e beija sua testa.

—Por favor.

Viollet o encara, suspira fundo, sai do abraço e entra no quarto.

Mia estava sentada na cama com uma expressão de decepção. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, ela mordia o lábio enquanto encarava um canto do quarto.

Viollet entra no quarto, passa por ela e para ao lado de um armário.

—Mia, aqui tem algumas roupas que você pode usar, fique à vontade. –Ela faz um pausa, vira-se para o rapaz e continua- Leon, deixe que eu vá buscar a comida, vocês devem ter muito o que conversar.

Mia olha para ela e sussurra alguma coisa que parece ser um agradecimento.

Viollet sai do quarto.

—Mia –Disse Leon-

Silêncio.

—Mia, está tudo bem?

—Você está com ela agora? –Ela perguntou aos prantos-

—Sim, estou. Você vai ficar bem?

Ela levanta, caminha até o banheiro, entra e tranca a porta.

—Mia, abra a porta. –Implorou Leon-

Despiu-se lentamente enquanto observava seu reflexo no espelho. Seu rosto cansado estava lavado em lágrimas, sua roupa manchada de sangue e seu cabelo bagunçado.

“O que eu fiz?”

Ela pensou enquanto escolhia a temperatura da água.

Sentou-se debaixo do chuveiro, trouxe os joelhos para perto abraçando-os. A água quente percorria o seu corpo limpando as manchas.

—Voltei com a comida –Disse Vi entrando no quarto com uma bandeija- Cadê a Mia?

Viollet vê Leon em frente a porta do banheiro

—Está tomando banho –Ele responde-

A porta destranca

Leon se afasta

Mia passa pela porta, descalça, enrolada numa toalha branca como as nuvens, cabelo molhado com vários fios no rosto e vai em direção ao armário.

—Ela está bem? –Pergunta Vi cutucando Leon-

—Eu acho que não –Ele responde encarando-a-

—Mia, que tal conversarmos? Vamos comer enquanto fazemos isso. –Sugeriu Viollet-

—Tudo bem, vou me trocar. –Ela respondeu enquanto pegava a roupa que havia escolhido e ia para o banheiro novamente- Leon –Ela para em frente a ele e o encara diretamente nos olhos- Como você se sentiria se tivesse ido atrás de alguém que você ama, achando que essa pessoa está em perigo, mas ao encontrar, ela já tem um compromisso com outro? E durante todo esse percurso a única pessoa que já te amou de verdade morresse?

Leon arregala os olhos.

Ela vira o rosto, entra no banheiro, bate a porta e a tranca.