Mesmo com Kyle ali, a noite não foi tranquila. Johana acordou durante a noite pelo menos três vezes, chorando e tentando não acorda-lo, mas parecia que ele sempre sentia quando ela estava de olhos abertos. Ele a abraçava, dizia que iria ficar tudo bem, e sussurrava em seu ouvido até que ela dormia novamente.

Kyle fora criado pelos pais até os cinco anos, onde ninguém recusava amor ou media esforços pelos outros. Ele não se lembrava do nome dos pais, só lembrava de amá-los incondicionalmente, como só uma criança consegue. Sua irmã tinha apenas dois anos quando eles sofreram um grave acidente de carro. Seu pai morreu na hora, e sua mãe ficou um mês inteiro internada, até falecer também. Foram naqueles dias, os piores de sua vida, que Kyle aprendera a proteger quem ama.

Ele e sua irmã, Mary, foram para o Orfanato Longstand, e naquele lugar Kyle formou sua identidade, e tudo o que era hoje.

As crianças do orfanato não confiavam nas irmãs dali, então formaram sua própria família: um cuidava do outro, e amava como se fossem uma família de verdade. Mary, a mais nova de todas as crianças do orfanato, era a protegida: todos os meninos e também as meninas não deixavam que nenhuma irmã tocasse nela. Claro que as irmãs eram inofensivas, aquilo tudo fazia mesmo parte de uma brincadeira de criança. Quando Kyle completou treze anos, ele e sua irmã foram adotados por um casal de velhinhos, Diana e George, que os amava e cuidava muito bem deles. Um ano depois, Longstand foi fechado.

Por volta das seis da manhã, Kyle acordou e não conseguiu voltar a dormir, levantou-se devagar da cama, para não acordar Johana, que já havia tido uma noite turbulenta. Ele resolveu preparar o café para ela, então foi até o carro e saiu para comprar suco e torradas, também pegou sua câmera que estava lá dentro.

Com tudo pronto, ele subiu até o quarto de Johana novamente, para pegar seu casaco, e não pôde evitar de olhá-la, reparar nela...

Ela estava dormindo, com uma beleza tão natural, como Kyle jamais tinha visto. Seus cabelos vermelhos estavam bagunçados, seu rosto estava inchado de tanto dormir e chorar, seu rosto estava limpo, sem maquiagem, sem joias, quase sem roupa... Ele não podia acordá-la, seria um pecado, quase um crime. Pegou as chaves do carro, mas antes de sair do quarto, pegou sua Polaroid e tirou uma foto de Johana, linda como ele jamais vira.

Ao entrar no carro, a primeira coisa que fez foi pegar o celular. Três mensagens.

SMS

Brandon: Kyle, cadê você? Fui na sua casa, precisamos conversar.

James: Hey mano, te procurei a festa inteira... O que ta rolando heim? De repente meus melhores amigos somem do dia mais importante da minha vida! Minha estréia como DJ, e vc nem se deu a trabalho de ir ver. OBRIGADO, AMIGÃO!

Brandon: Porra, Kyle! Tem como dar sinal de vida?

"Merda", Kyle pensou. Respondeu as duas com a mesma mensagem, pedindo para seus amigos encontra-lo no Café Boulevard, e foi direto pra lá.

Kyle entrou na lanchonete e pediu só um café, enquanto esperava seus amigos. Ele olhou em volta e pensou em Nolan. Não conseguia se sentir satisfeito em dar alguns socos nele. Queria ter acabado com o rosto dele e castrado o filho da mãe em praça pública. Ele pensava em mil formas diferentes de acabar com Nolan, mas ai se lembrava de Johana... Jogada no chão, desmaiada e com o rosto ferido. Depois pensava na noite que passaram juntos, nos beijos e no quanto se esforçou para se controlar e não demonstrar de todas as formas o quanto queria Johana naquele momento, o quanto queria amá-la e protege-la. Depois pensava na fotografia...

Kyle tinha apenas uma foto de seus pais, e desde que conseguiu uma câmera, registrava tudo o que achava importante. Ele amava suas fotos. Elas não falavam, nem apontavam nada, era muito mais que isso... Elas transmitiam todo o sentimento, a nostalgia, era como viver de novo o mesmo momento. Para ele, lembranças eram a coisa mais importante do mundo.

– Kyle, onde você se meteu? Estamos desde ontem tentando falar com você!!! - Brandon e James haviam chegado, era impossível não notar.

– Bom dia pra vocês também, mocinhas...

– Aconteceu uma merda ontem, meu amigo... - disse Brandon, se sentando ao lado de James, de frente para Kyle.

– Nem me fale... - ele respondeu.

– Talvez, veados, só talvez, não tivessem vivido tanta merda se tivessem ido me ver dominar uma festa. Mas calma, só talvez. - disse James, com todo o rancor que conseguia passar, o que na verdade não era muito, pois estava feliz demais com o sucesso que fizera na festa.

– Me atualizem, rapazes - pediu Kyle. Então Brandon contou toda a história da festa, e Kyle balançava a cabeça, e fazia expressões de espanto enquanto pensava na diferença das dimensões dos problemas pelo qual todos passaram. Ele não prestava muita atenção, até que Brandon disse:

– ... Depois que beijei a Robbie, ela me empurrou e de repente todo mundo saiu procurando a Zoey, e eu... Fiquei lá, sem a menor vontade de transar com a Suzzane, mas precisava fazer alguma coisa, então...

– Espera aí... Você ta me dizendo que... Beijou a Robbie? E que a Zoey viu?

– Cara, qual é o problema de vocês? - disse Brandon, ainda não entendendo o que Zoey tinha a ver com tudo isso.

– Não, Brandon, qual é o SEU problema?! - disse Kyle, pegando as chaves e deixando um dinheiro na mesa.

– Cara, onde você vai? - perguntou Brandon,

– Brandon, onde você acha que ele vai? Cara, nem eu acredito que você beijou a Robbie na frente da Zoey... Parece que você não liga pros sentimentos dela, e olha que de todos nós, ela é a que mais te ajuda... Deve ser dureza gostar de você, heim. - mas nesse momento, Brandon já não prestava mais atenção no que James falava, a palavra "sentimentos" voava em sua mente, e de repente, fêz-se a luz! Brandon percebeu que Zoey era quem estava apaixonada por ele, sempre esteve...

– Hey, Brandon? Brandon! Onde você vai? - perguntou James, se quando Bran se levantou e foi em direção á porta.

– Eu... Vou pra casa. - e saiu, deixando James ali sozinho.

– Pelo menos Kyle ajudou a pagar a conta. - disse ele á si mesmo, se levantando e indo ao caixa, pagar.

Ao chegar na casa de Zoey, Kyle foi recebido pela Sra. Gollphort.

– Eu vou chamá-la, mas gostaria de entrar, querido?

– Na verdade, Sra... Eu gostaria de levá-la pra tomar um café... Será que eu poderia?

– Bom, espere aqui, vou chamá-la.

– Obrigada.

Kyle esperou do lado de fora, olhando para o jardim e pensando que deveria sim contar a alguém sobre Johana... E seria a Zoey. Quando ela saiu de casa, Kyle percebeu que ela ainda usava a roupa da festa, pois apesar de nem ter ido, ela estava linda demais.

– Nossa, Zoey... Você está...

– Linda? Vem, vamos sair daqui. - apesar da grosseria, Kyle entendia completamente pela situação que Zoey passava. Apesar de todos saberem, Kyle foi o único para quem Zoey realmente havia falado a respeito de Bran.

De volta ao Café Boulevard, Kyle deixou que Zoey chorasse e colocasse pra fora toda sua frustração.

– Princesa... para com isso, tá bem? Sabe, você está linda, você se arrumou toda pra festa... E por causa de um beijo, você estragou tudo. Você podia ter conhecido outras pessoas, desencanado do Bran. Você sabe que ele é um idiota, não sabe? - Zoey balançou a cabeça - Me desculpa por não estar lá com você, pra te dar força... Mas Zoey, um novo ano começou... E eu vou te forçar a fazer uma promessa pra mim... Você vai me prometer, que aconteça o que for, não vai mais deixar nada abalar sua auto estima. Você não vai mais andar por ai de qualquer jeito, do jeito que os outros esperam, do jeito que te camufla. Você vai abrir o seu armário e vestir o que quiser, você vai falar o que quiser, ir aonde quiser e fazer o que quiser. Não liga o Foda-se pra você, liga o foda-se pros outros.

Zoey parou de chorar, olhou irônica para Kyle.

– Inspirador.

– Jura?

– Sério, eu quase soltei minhas feras aqui agora, quase.

– Okay, então não foi inspirador o suficiente, vamos do começo. Zoey, você vai me prometer...

– Ta, para, para com isso pra sempre, por favor. Eu prometo.

– Ah, princesa, você não era tão fácil assim de se corromper, heim.

– Cale a boca, sim? Agora... Você e a Jo, heim? Caramba... Nunca imaginei...

– O que? Ah cala a boca você, Zoey, cala a boca.

– Pois é... Ela me ligou e eu fui tão grossa com ela... Me arrependi, e tinha que desabafar com alguém então, fui até a casa dela e, meu Senhor, o que foi que eu achei lá? Um Jeep Grand Cherokee verde. Nossa, de quem será esse carro? Não faço ideia, amigão.

– Zoey... A gente se beijou...

– O que? Ta me dizendo que dormiu lá e vocês não...

– Aconteceu uma coisa, sua besta... Eu não dormi lá á toa não...

Kyle contou tudo para Zoey, que no mesmo minuto quis ir pra casa de Johana, se desculpar por ter sido tão egoísta, mas Kyle a impediu:

– Zoey, eu não devia ter te contado isso, ela me pediu segredo... Você deve agir como se não soubesse de nada.