Capítulo V

Festa

–

Alguns dias

São tão lindos,

Que é um crime

Sair da cama.

W. Somerset Maucham.

–

Jun se encolheu na cama, sentia o estômago roncar, mas estava com demasiada preguiça para levantar da cama naquela manhã de sábado ensolarada. Acabou que pegou no sono novamente, e acordou apenas quando o seu celular começou a tocar escandalosamente ‘I like to move’ do outro lado do quarto.

“Quem é que iria me ligar a essa hora num sábado?” – A jovem levantou preguiçosamente da cama e dirigiu o seu olhar para o mostrador digital na sua mesa de cabeceira, eram 11h13min.

“Tá, não é tão cedo assim... Mas não deixa de ser sábado.” – Ela pegou o celular que continuava berrando e reconheceu o número – “só podia ser ela” – rodou os olhos enquanto atendia e escutava a voz escandalosa do outro lado.

– Jun! Espero que esteja quase pronta, por eu vou passar aí às 11h30min! – A voz escandalosa berrou e Jun se viu desesperada. Havia esquecido completamente desse compromisso.

– Ano... Sakura será que dá para passar um pouco mais tarde? – Jun bocejou enquanto escutava a outra reclamar.

– Eu não acredito que você estava dormindo! Como é que pode esquecer-se da festa na casa da Karin? – Sakura usava de seu melhor tom indignado.

– Eu não esqueci – mentiu – apenas perdi a hora – meia mentira.

– Não me importo – a jovem estava nervosa – você tem quinze minutos para ficar pronta ou então aguentar a Karin reclamando pelo resto da vida que você não se importa com ela!

– Você está mais dramática que aquela atriz que você tanto detesta – a morena disse bocejando novamente.

– Arg! – Sakura bufou – Chegou aí em quinze minutos! Esteja pronta! – Sakura desligou o telefone deixando Jun a ouvir o barulho de linha muda.

– TPM constante – a jovem disse para a quietude do seu quarto que estava no escuro; as pesadas cortinas negras não haviam sido abertas ainda.

Jun seguiu ainda sonolenta para o seu closet, pegando uma bermuda e uma regata verde, não tinha tempo para escolher roupa melhor. Foi descalça para o grande e claro banheiro e tomou um banho rápido, lavando os cabelos castanhos que batiam na altura de seus seios.

Voltou quase que se arrastando para o quarto e se vestiu preguiçosamente. Com certeza Sakura já deveria estar no andar térreo jurando que a mataria.

Vestiu-se e voltou para o closet, dessa vez para pegar uma sapatilha, acabou optando por uma verde escura de camurça, calçou-a e pegou um casaco – também verde escuro – de moletom e desceu as escadas, não antes de colocar óculos escuros, penteando os cabelos molhados sem passar nenhuma maquiagem.

Como previsto Sakura já estava lá e cuspia fogo.

– Você demorou muito! – Ela reclamava.

– Tá bom Pink-chan! - Jun olhou para a colega, elas eram quase da mesma altura, talvez Jun fosse apenas um pouco mais alta que Sakura. A jovem mais baixa tinha incomuns cabelos rosa, claro que não eram naturais, mas eram realmente bonitos e bem cuidados e os olhos verdes se destacavam no rosto de epiderme clara – Será que dá para irmos agora? Acho que você não quer deixar o Sasuke-kun esperando – Jun disse enquanto pegava a sua bolsa de couro castanho escuro do sofá branco e enfiava sua carteira e celular dentro.

– Você me irrita! – Sakura, que vestia um vestido rosa - bebê e sandálias de couro bege e estava bem maquilada, saiu batendo o pé sendo seguida por Jun que revirava os olhos verdes atrás dos óculos escuros.

– Ja ne Momo-san – despediu-se a jovem da doce governanta.

– Tchau querida, divirta-se! – A velha senhora acenou e voltou para a cozinha, estivera fazendo companhia para a estressada Sakura.

Jun seguiu Sakura para fora da propriedade, cumprimentando os jardineiros e seguranças por quem passava. Todos respondiam de forma educada e atenciosa, gostavam de Jun.

Sakura já estava dentro do carro quando o portão de visitantes bateu atrás de Jun, ela prontamente a seguiu a uma nada escandalosa Hylux vermelha da colega, sentando-se no banco do carona.

Falaram besteiras durante o trajeto, não era muito longe, logo avistaram uma rua parecida com a de Jun, porém essa rua não era tão calma quanto à dela, havia carros caros chiques dos dois lados da rua vastamente arborizada.

– Eu pensei que a festa era só para os formandos desse ano – a morena disse acidamente, se soubesse que a festa tinha proporções tão grandes teria preferido ficar dormindo.

– Mas é! – disse Sakura – Porém são dez turmas de formandos, incluindo a nossa!

– Mas cada turma só tem 15 alunos! Como é que você explica todos esses carros? – Sakura era uma boa pessoa, mas um tanto quanto besta para inventar desculpas, uma péssima mentirosa.

– É que você sabe né! Um chama o outro... Aí vem mais gente do que o esperando! – Sakura encontrou um lugar para estacionar e agora manobrava.

– Só você mesmo... – Jun respirou fundo e olhou para o céu azul pedindo forças para aguentar passar por aquele martírio.

– Você é muito anti-social, deveria sair mais... Além do mais, você sabia que vários professores foram convidados também? Eu fiz questão de eu mesma convidar o Kakashi-sensei – ela riu diante da confissão.

– É mesmo? – Jun começava a se interessar pela bendita festa, talvez existisse pelo menos uma pessoa não tão fútil para conversar algo descente.

– Aham – Sakura balançou a cabeça enquanto falava – então porque não vamos logo?

– Se não tem como fugir então vamos...

– Chata! – disse a jovem rosada enquanto saia do carro.

– Estressada! – devolveu Jun.

Derem poucos passos e já estava frente a um dos seguranças da casa, rapidamente Sakura retirou dois convites da mini-bolsa bege que levava e estendeu para o homem vestido de preto. Ele o examinou e com um aceno as permitiu entrar na propriedade.

Quando as meninas entraram os olhos de Sakura brilharam. Todo o jardim estava ricamente adornado, a piscina tinha águas cristalinas e a cascata estava ligada; jovens entre os 15 e 20 anos – tirando os professores e empregados – circulavam em roupas da última moda, falando o quanto era difícil a vida de capitalista e os garçons passavam com bandejas onde havia taças de champanhe e vinho, tudo muito bem feito na opinião de Sakura, pena que visto pelos olhos de Jun não era a mesma coisa.

O que Jun viu foi diversos filhinhos de papai tendo conversas fúteis sobre coisas fúteis. Não que ela fosse socialista ou coisa do gênero, ela realmente gostava de ter e poder esbanjar dinheiro. Amava o fato de ter uma vida confortável, só queria que as pessoas não vivessem em função disso. Acima de tudo achava que o dinheiro era para ser conquistado e não meramente sacado de uma conta de banco, por isso admirava o irmão, ele batalhava para manter a fortuna de ambos, e um dia iria querer fazer o mesmo.

Nos meios de suas divagações não notou que Sakura já havia sumido em busca de um champanhe e que quando chegara atraíra a atenção de duas pessoas em particular. Um moreno e um grisalho.

A jovem bufou quando viu que estava sozinha, se fosse para ficar só preferia ter ficado só em sua casa, e não nessa festa sem proporções.

Andou distraída pela beira da piscina, abaixando-se em seguida para tocar a água com os dedos.

“Hummm... A água está morna...” – era o que ela pensava enquanto se sentava na beira e passava os dedos de leve pela água.

– Jun? – Alguém a havia chamado.

– Sim? – Ela se virou se deparando com um sorridente rapaz alto e atlético de cabelos lisos e claros, Suigetsu, ele estava verdadeiramente bonito na combinação de calça jeans e suéter roxo.

– Pensei que você não viesse. Você não costuma frequentar esses tipos de festas... – Ele disse se ficando de cócoras ao lado dela.

– Realmente não costumo, mas eu não sabia o tamanho da festa... Mas agora que estou aqui tenho que aproveitar não é? – Ela sorriu, fazendo com que o óculos escuro escorregasse pelo nariz reto, fino e grande.

– Hum... – ele não tinha mais o que falar.

Quando Jun ia falar alguma coisa para quebrar o clima meio sem graça que pairava uma efusão de cabelos vermelhos apareceu.

– Jun! Quando a Sakura me disse que você havia vindo eu nem acreditei! – Uma ruiva natural que usava óculos de grau com ar sexy estava parada de braços abertos para Jun, que rapidamente se levantou e deu um beijinho de cada lado da bochecha dela.

– Ficou ótima a organização! – Ela foi sincera – Tudo bem com você Karin? – Perguntou Jun para a ruiva que vestia um short balonê preto e uma blusa de botões branca e calçava sandálias de salto fino, pretas.

– Tudo sim – ela respondeu sorrindo.

– Vão me excluir? – Perguntou Suigetsu já de pé.

– Claro que não amour! – Karin se inclinou e deu um beijo no canto de sua boca, fazendo-o corar um pouco. – Que bonitinho! Ele ficou sem graça.

Karin e Jun riram discretamente do jovem que ficou mais sem graça ainda e praguejava baixinho.

– Vocês não prestam – ele murmurava contrariado.

– Pior que prestamos... Até de mais! – A ruiva riu alto. Enquanto Sakura tinha manias para o drama, Karin era um tanto quanto exagerada de mais.

Eles conversaram durante algum tempo até que Karin teve de recepcionar outros convidados, acabaram que ficaram apenas Suigetsu e Jun novamente sozinhos, mais isso não durou muito, pois um bonito jovem de cabelos e olhos negros apareceu.

– Vocês viram a Sakura? – Sem nenhum cumprimento, o garoto que fazia metade da escola suspirar com a sua beleza, perguntou friamente.

– Não vimos não – respondeu Jun. “Tudo bem que ele é um gato, mais precisa ser tão mal educado? – Era o que ela pensava.

– Arigatou – ele pelo menos agradeceu e se virou para Suigetsu – A sua amiguinha está lhe procurando, é melhor você dar um sossega nela – Sasuke girou os olhos enquanto se afastava.

Suigetsu ficou meio sem graça e pediu licença para Jun, se dirigindo para o meio do emaranhado de jovens, garçons e música.

Jun voltou a sua posição inicial, se abaixou e cruzou as pernas, voltando a tocar a água morna com a ponta dos dedos, com certeza mais tarde teria vários adolescentes vestidos e chapados juntos com suas taças de champanhe dentro da grande piscina, deveria aproveitar da calmaria agora.

Ao longe um jovem homem observava cada movimento da jovem morena. Observou com quem ela conversou e que ela parecia meio deslocada, dando um meio sorriso se deslocou por entre os jovens riquinhos até o seu alvo.

Kakashi estivera conversando com Anko durante boa parte do tempo que estivera ali. Ela tentava o convencer que gostaria de ter um relacionamento aberto com ele, que ficar preso a uma mesma pessoa era muito monótono. Porém ele mal a ouvia, pois estava mais interessado em outras pessoas. Dando uma resposta evasiva se livrou dela e foi interceptar um velho conhecido.

– Zabuza! – Kakashi gritou acima da música alta.

– Olá Kakashi, não o havia visto ainda – era mentira, Kakashi havia sido a primeira pessoa a quem havia visto quando chegara, aquele cabelo era inconfundível.

– Eu também não o havia visto, chegou faz muito tempo? – Kakashi também mentia, ele não desgrudou os olhos de Zabuza durante um segundo.

– Mais ou menos... Eu estava indo para um lugar mais calmo, vamos conversar? – Zabuza indicou a piscina com a cabeça e pegou um champanhe quando um garçom passou.

Kakashi hesitou porque Jun estava lá, e não queria que Zabuza e ela tivessem qualquer tipo de contato, mas isso era inevitável.

– Vamos sim – ele acompanhou Zabuza que escondia um sorriso maléfico, havia se deliciado com a hesitação de Kakashi, talvez a garota fosse realmente importante.

Caminharam lado a lado, Zabuza tomando a champanhe a pequenos goles e Kakashi com as mãos nos bolsos observando as costas de Jun.

– Jun-san... – Ele saldou quando se aproximaram.

– Hatake-san? – Ela tomou um pequeno susto, havia se distraído.

– Não vai me apresentar? – Zabuza disse sorrindo cinicamente para Kakashi.

– Jun-san – ele disse a contra gosto – esse é Zabuza, um velho conhecido, ele será professor nas férias no instituto.

Jun se virou tendo uma ampla visão dos dois homens. Pôs-se de pé para poder apertar a mão do jovem e bonito homem que tinha um sorriso assustador recheado de dentes pontiagudos.

– É um prazer Zabuza-san. – Ela disse educadamente.

– Ora, ora, eu reconheço esses olhos de algum lugar... Qual é o seu sobrenome querida?

Nem Kakashi nem Jun apreciaram aquele ‘querida’ no final da frase, mas como ela era muito educada sorriu complacente e respondeu brandamente.

– Hinday, conhece alguém com esse sobrenome?

– Kakashi! – Exclamou Zabuza, Kakashi sentiu que dali não sairia boa coisa – Por que você não me disse que a irmã de Senji era sua aluna?

Jun ficou momentaneamente confusa. Zabuza conhecia o seu irmão? Kakashi conhecia o seu irmão? Isso estava muito esquisito, por isso esperou a resposta de Kakashi.

– Eu não sabia que ela era irmã de Senji... – ele começou mais foi interrompido.

– Vocês conhecem o meu irmão? – Queria desesperadoramente saber o que se passava.

– Conhecemos sim, há bastante tempo atrás... – Kakashi queria urgentemente mudar de assunto, aquilo não era o mais apropriado para se discutir, principalmente com aquelas pessoas em particular.

– Há bastante tempo nada! – Zabuza se fez de ofendido – Eu estive com ele há menos de uma semana.

– Esteve? – Perguntou Jun e Kakashi teve vontade de bater a cabeça na parede. Não queria que Jun soubesse de metade do que estava acontecendo.

– Claro, eu estive trabalhando com ele antes de voltar para o Japão. Londres está tão chata como sempre... E eu logo te reconheci, pois têm várias fotos suas espalhadas pelo escritório dele, se eu não reconhecesse seria porque tenho péssima memória.

Kakashi não sabia o que fazer, e mais uma vez o aviso retumbou em sua cabeça... Alguém que não deveria aparecer... Em nenhuma ligação havia sido mencionado que Zabuza estava lá, a cada hora tudo se tornava mais confuso, muito confuso. Tinha que urgentemente fazer uma ligação internacional e tirar essa história a limpo. Será que ele não era confiável o bastante e por isso Zabuza estava lá para fazer o serviço?

Continua...