Shadows of the past escrita por larissabaoli


Capítulo 5
Capitulo 5




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Depois da missa de Páscoa, ao checar meu celular, vi mensagens de um numero desconhecido e entendi que essas eram as novas coordenadas que havia recebido de Abe. Aparentemente eu teria que trazer uma dhampir perdida de uma cidade próxima até a Baia. Uma parte de mim torcia pra que ela não fossem apenas mais uma bloodwhore chegando na cidade, mas a tirar pelo horário em que eu deveria busca-la, eu duvidava muito. A pior parte nisso era arranjar um jeito de sair de casa sem fazer um grande alarde para minha mãe, que provavelmente pensaria que eu estava fugindo novamente.

Passei o resto do dia organizando minha mochila e memorizando o endereço aonde eu pegaria o carro para ir buscar minha “missão” e tentei não focar na parte aonde eu teria que leva-la para o lugar aonde eu prometi a mim mesma que nunca mais voltaria. Com sorte eu a deixaria próximo e daria instruções o suficiente para que ela entrasse lá e conseguisse o que queria.

Quando o por do sol chegou, eu já havia arranjado a desculpa perfeita.

– Mãe, Rose ainda está na cidade, mas eu não sei por quanto tempo. Tudo bem se eu for até a casa de Yeva e dormir por lá hoje? Seria legal ter uma noite de garotas...

Era tudo o que eu precisava dizer. Minha mãe, sempre tão desesperada para que eu tivesse amigas e uma vida social, sorriu e me disse que eu poderia ir. Obvio que esse plano tinha mil falhas e com uma simples ligação da minha mãe para Yeva tudo ia por agua a baixo, mas a tirar pela confiança cega que minha mãe tinha em mim, eu duvidava muito que ela fizesse isso. É claro que me senti mal por mentir e também por estar mais uma vez enganando minha mãe sobre meus planos.

Saí e andei até achar um Jeep Wrangler 2005 preto no qual – devo admitir – até eu que não era tão viciada em carros quanto Sidney ou não sabia tanto quanto meu pai, fiquei meio apaixonada por ele. Era potente e depois de ter achado a chave debaixo do pneu traseiro esquerdo, como estava escrito nas instruções enviadas, eu entrei e me senti ainda mais confortável nele. Quando fui por minha mochila no banco do carona, percebi que havia um pacote amarelo em cima e ao abrir encontrei um bilhete que logo entendi ser de Abe.

“Não tive oportunidade de lhe dar nada de aniversário e nem saberia o que lhe dar, então aqui está uma quantia. Compre o que precisa e gaste com responsabilidade, ou não. Feliz aniversário. Abe.

PS: Deixe a garota na esquina e vá dormir em um hotel. Não entre no clube. Não volte para a floresta sozinha à noite.”

Revirei os olhos diante de tantas ordens e negativas.

– Não é como se você fosse meu pai, Abe. Pare de tentar me controlar! – murmurei com raiva dentro do carro, enquanto ligava e dava partida.

Depois de deixar a garota na esquina, me sentia meio frustrada por ter tido esperanças de que ela não seria mais uma bloodwhore e ter me enganado. A garota tinha cerca de dezoito anos ou no máximo vinte e seu pescoço, totalmente a mostra em um vestido curto vermelho com detalhes de renda preta, exibia os ferimentos de mordidas recentes. Mesmo se não tivesse as marcas, olhando para ela pude reconhecer o olhar vago e pacificado de uma pessoa sob o efeito das endorfinas Moroi. Fiquei observando quando ela desceu do carro, depois eu ter lhe dado às instruções para que ela pudesse achar o que precisava ali no armazém – onde ficava o clube, eu esperei que ela entrasse enquanto passava com o carro lentamente pela porta e dava um sinal para o segurança, dizendo que estava tudo bem, mas quando eu olhei para o banco traseiro vi que ela havia deixado sua bolsa dentro do carro.

– Merda! – eu exclamei e bati no volante com uma mão.

Por um momento eu considerei deixar as coisas dela com o segurança ou simplesmente ir embora e abandonar as coisas dela dentro desse carro, mas já era castigo o suficiente que ela estivesse viciada e agora se entregando a prostituição e eu não era tão má pessoa assim. Estacionei o carro e peguei a mochila dela, deixando a minha dentro do carro e respirei fundo, rezando para que eu conseguisse sair dali o mais rápido possível.

O segurança que já me conhecia, estreitou os olhos ao me ver.

– Eu só vou deixar a bolsa daquela blood... daquela moça, ela esqueceu no carro.

– Sabe que não deveria estar aqui – ele me disse cruzando os braços. Era muito mais alto que eu – não que isso fosse difícil.

– Vou ser rápida – eu disse já passando por debaixo do braço dele com um sorriso amarelo.

– Abe não vai gostar de saber que você esteve aqui.

Bem, isso me parou. Eu respirei fundo e virei para o segurança tentando controlar minha raiva.

– Não é da conta dele e nem da sua o que eu faço, mas se quiser, sinta-se a vontade para correr e contar a ele.

E então eu entrei sem olhar para trás.

O lugar era exatamente como eu me lembrava. Luzes vermelhas se misturando ao escuro dando um ar misterioso ao lugar, Morois sentados em mesas com bloodwhores como companheiras, dhampirs servindo o ambiente. Pessoas dançando, rindo e bebendo sem ligar para o que está acontecendo adiante naquele ambiente. E foi ali que eu tive que piscar duas vezes. Por mais que eu não acreditasse no que eu estava vendo, ali, próximo à porta de trás, ainda do lado de fora, estavam Rose e a neta de Yeva que uma vez minha mãe havia tentado forçar uma amizade entre nós duas, mas essa não era a pior parte. Não mesmo. Próximo a neta de Yeva que agora eu me lembrava se chamar Viktoria, estava a pessoa que eu nunca mais queria ver na vida. É claro que eu o reconheceria até mesmo nessa luz doentia que cercava o clube inteiro e suas entradas. Na verdade eu o reconheci muito mais rápido aqui dentro desse ambiente. Ele estava ali, agarrado a Viktoria enquanto encarava Rose, com seus olhos verdes e sua postura superior. Eu me escondi entre as pessoas, me misturando ao mesmo tempo em que ficava desesperada e dividida entre ir até lá e tira-las dali ou sair dali o mais rápido possível. Então eu vi a moça que estava no carro comigo conversando em uma mesa e optei por fazer o que eu havia entrado ali para fazer.

Eu entreguei a bolsa a ela, que me agradeceu com um sorriso abobalhado e me perguntou de onde eu a conhecia exatamente na hora em que o Moroi que estava sentado ao seu lado, pegou seu pulso e mordeu. Eu tive que resistir a náusea que me causou ver aquilo e saí dali o mais rápido possível, andando sem saber para onde ir ali dentro.

Com a quantidade de pessoas ali dentro, logo eu me vi perdida no meio e tentando me mover para chegar até uma das saídas. Saber que eu estava ali dentro, sentir o cheiro de cigarros e álcool daquele ambiente me deixou nervosa e ansiosa com todas as lembranças que eu tinha e minha náusea começou a aumentar, até que senti uma brisa de ar e segui naquela direção me esbarrando bruscamente em Rose e – para minha infelicidade – em Abe.

– O que porra você está fazendo aqui? – ele disse quando me viu.

Eu respirei fundo e encarei aos dois.

– Hey, você está bem? – me perguntou Rose.

– Sim. – eu disse balançando a cabeça, me sentindo tonta, mas tentando disfarçar o quão mal eu estava por estar na frente deles.

– Espera, você também conhece ele? – ela falou apontando para Abe.

Eu afirmei com a cabeça.

– Onde está sua amiga? Viktoria? – eu perguntei.

– Fique fora disso, Anastacia! Faça o que eu disse.

– Você... – eu travei enquanto meu queixo caia – Você viu! Você vai deixar que ele faça isso? Como você pode?!

– Bem, eu posso impedi-lo... se sua amiga Rose aceitar a barganha que estou oferecendo. – ele parecia impassível.

Eu olhei para Rose e Abe sem palavras, me perguntando quanto tempo já havia passado desde que vi Viktoria e Roland e onde estaria Viktoria agora. Se seria tarde demais para ela e para tentar salva-la. Rose parecia estar em um conflito interno dos grandes e depois do que parecia uma eternidade, ela falou:

– Eu vou partir de Baia.

Abe olhou para um de seus guarda-costas e deu um rápido aceno. O homem instantaneamente saiu andando.

– Está feito. – ele disse simplesmente.

– Assim? – perguntou Rose incrédula.

Abe deu um sorriso amargo enquanto olhava para mim.

– Rolan sabe quem eu sou. Ele sabe quem trabalha pra mim. Uma vez que Pavel faça meus... ah, conhecidos desejos, este será o fim. – ele voltou a olhar para a Rose.

Depois de um tempo e um silencio constrangedor, Rose perguntou.

– Aí, porque você não está forçadamente me arrastando para fora daqui?

– Eu nunca gostei de fazer ninguém fazer nada que eles não queiram. Mesmo Rolan. É muito mais fácil se as pessoas simplesmente verem a razão e fazerem o que o peço para elas, sem o uso da força. Embora algumas vezes eu tive que usar a força para ter o que eu queria – ele disse simplesmente.

– E por “ver a razão”, você quer dizer, “chantagem”.

– Nós fizemos um trato, Isso é tudo. Não esqueça o seu lado da barganha. Você prometeu sair daqui, e você não parece o tipo que volta atrás na sua palavra.

– Isso é ridículo! Eu não acredito que você está fazendo isso! – eu falei num impulso de raiva que foi cortado com a chegada de Viktoria sendo arrastada por Pavel pelo braço. Seu cabelo estava bagunçado, e a alça do vestido estava caindo pelo seu ombro. O rosto dela era uma mistura de incredibilidade e raiva.

– Rose! O que você fez? Aquele cara veio e disse ao Rolan para sair daqui e nunca mais me ver! E aí... Rolan concordou. Ele apena saiu.

– Ele está te usando! – disse Rose exasperada.

– Ele me ama! – disse Viktoria à beira das lagrimas.

– Se ele ama você, então porque ele deu em cima de mim assim que você virou as costas?

– Ele não deu!

– Ele é aquele que engravidou Sonya.

Toda a raiva que eu sentia teve uma pausa brusca enquanto eu via Viktoria empalidecer e percebia mais uma historia de alguma garota que Rolan havia conquistado e usado.

– Isso é uma mentira. – Viktoria parecia determinada a acreditar em Roland e seu amor.

Rose parecia estar perdendo a paciência.

– Porque eu faria isso? Ele queria fazer planos comigo assim que você estivesse fora da cidade!

– Se ele fez – ela disse, com a voz tremida – foi porque você o levou a isso.

E aí eu perdi a calma.

– Como você pode ser tão estupida? – eu disse quase gritando e tendo três pares de olhos, além dos guardas de Abe em minha direção agora – Ele iria usar você! Porque é isso o que ele faz! Ele é um animal imundo e incapaz de qualquer sentimento! Se você realmente acredita que ele ama você, bem... eu sinto muito. Pela sua família, é claro. Eles deveriam ter lhe ensinado a ser mais esperta que isso!

Quando senti a mão de Abe em meu ombro foi que percebi que eu estava a centímetros do rosto de Viktoria e algumas pessoas começaram a parar para observar o que estava acontecendo. Eu tirei a mão dele de perto de mim e o encarei com todo o ódio que agora estava dentro de mim. Ele levantou a mão que estava em meu ombro para cima em defesa e eu resolvi sair dali o mais rápido que pude. Eu já havia me descontrolado o suficiente.

Andei com passos firmes sem olhar para trás e quando cheguei até o carro ainda estava possuída pela raiva e resolvi que seria bom ter como extravasar o que eu estava sentindo. Liguei o carro e acelerei sem um rumo enquanto baixava o vidro e deixava o vento frio bater em meu rosto. Eu estava mordendo o lábio com força para evitar que eu chorasse e eu sabia que estava sendo puxada pela escuridão rápido demais. Em algum lugar da minha mente eu pensei em usar o anel que me foi dado no dia do meu aniversário, mas eu ignorei esse pensamento e continuei acelerando até chegar a uma estrada. Não sei exatamente por quanto tempo dirigi ou em que direção eu estava indo, mas ao ouvir uma sirene a distancia eu percebi que estava a 140 km/h e o quão ferrada eu estava agora.

Enquanto desacelerava eu considerei todas as minhas possibilidades e como fugir não era uma delas, eu peguei minha bolsa e abri para pegar os documentos falsos que eu possuía. O policial bateu com uma lanterna no vidro do carro me pedindo os documentos na exata hora em que eu os peguei.

– Boa noite, senhor – eu disse.

Ele não parecia amigável ou feliz em ver o quão nova eu parecia e enquanto olhava minha habilitação devidamente alterada, ele ficou em duvida sobre o que falar.

– Então... Ana Mazur, você sabe a que velocidade estava?

Mazur? Sério? Eu nunca havia percebido que Abe havia me dado documentos falsos com o mesmo sobrenome que o dele e eu tentei disfarçar o choque enquanto formava uma desculpa.

– Sim, senhor. Eu sinto muito, estava em uma estrada escura e resolvi acelerar com medo de que algo me acontecesse. O senhor sabe como tem havido casos de pessoas que sumiram na estrada e depois só o que puderam encontrar foi o carro – afinal, humanos não sabiam que se tratava de ataques Strigoi, mas essas noticias apareciam nos jornais.

– Sim, mas mesmo assim isso ainda é contra a lei. – ele disse duro em suas palavras.

A lanterna dele estava o tempo inteiro em meu rosto e isso estava me incomodando cada vez mais. Sendo uma dhampir, meus sentidos eram aguçados e olhar para aquela lanterna estava começando a me dar dor de cabeça.

– Sim, senhor. Eu sinto muito.

Ele parecia indeciso se me deixaria ir ou não, mas ao olhar para o banco do carona, viu o envelope amarelo e isso foi o suficiente para que eu ficasse mais suspeita do que ele aceitaria.

– O que há no envelope, srta.?

Seja por eu talvez eu ter demorado a responder enquanto me repreendia mentalmente por não ter guardado o bendito envelope, ou talvez o guarda já havia desconfiado de mim desde o momento que viu minha habilitação, seja qual for o motivo, o guarda pôs a mão na porta do carro e tentou abrir me dizendo.

– Srta. por favor, desça do carro e ponha as mãos na cabeça.

Eu honestamente estava me perguntando como essa noite poderia ficar pior, quando desci do carro e pus as mãos na cabeça, tentando me manter o mais inexpressível possível.

O guarda manteve a porta aberta, pegou o envelope e como eu havia imaginado ficou de olhos arregalados com a quantia que estava lá dentro.

– Esse dinheiro é seu?

Tive que morder minha língua para não responder nada desagradável.

– Sim, senhor.

– Você tem algum comprovante de retirada ou algo que possa provar a origem desse dinheiro?

Merda! Merda! Merda! O que eu tinha? Um bilhete de Abe que quando entrei no carro estava tão furiosa que o amassei e o joguei fora pela janela.

– Não, senhor.

Ele deixou o envelope em cima do banco do motorista e falou em códigos para o radio. Eu não fazia ideia do que se tratava, mas isso não podia ser um bom sinal.

– Senhorita, eu vou precisar revista-la e em seguida revistarei seu carro. Vire-se para a porta e abra as pernas.

Eu respirei fundo, com um ódio e uma escuridão dentro de mim em um nível que há muito tempo eu não via crescer tão rapidamente e me virei de costas, olhando meu reflexo no vidro do carro mesmo na escuridão.

O guarda se aproximou de mim e começou a me revistar, mas conforme suas mãos geladas e grandes me tocavam e eu sentia um arrepio, seguido de medo e ódio que crescia cada vez mais, até que enquanto ele se abaixou e suas mãos roçaram meu quadril eu senti o rompante de fúria explodir em mim, usando meus reflexos dhampir para me virar e derruba-lo no chão com um soco de direita. A única coisa agressiva que meu pai havia me ensinado.

Eu não precisei nem pensar para saber o que viria a seguir. E por um segundo eu me permitir à ironia de entender que eu estava enganada, pois minha noite ficou muito pior.


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