Shadows of the past escrita por larissabaoli


Capítulo 41
Capitulo 41


Notas iniciais do capítulo

Dane



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Era incrível o quanto eu sempre me ferrava quando criava expectativas.

Na noite de Halloween eu tinha certeza que em meio a toda a merda que tinha acontecido, eu tinha finalmente conseguido me entender com Ana, mas eu estava enganado. Teria doído bem menos se ela tivesse realmente deixado as duas ou três marcas que disse que deixaria em mim. Eu nem tive tempo de pedir desculpas por ter feito o que fiz, mas achava pouco provável que ela me perdoasse de qualquer maneira. E depois disso eu revolvi dar ouvidos a Logan para que ele parasse de encher meu saco.

Eu deixei de falar com Ana e resolvi até mesmo evitar contato visual. Claro que isso não incluía as vezes em que eu observava sua aura enquanto ela estava de costas ou todas as outras vezes em que ela não percebia. Eu também voltei a sair com outras garotas, mas se isso não funcionava nem quando ela estava distante, agora que eu a via todos os dias, isso era inútil.

Nos finais de semana, era quando eu mais me distraia. Nós agora estávamos sendo obrigados a cuidar dos pestinhas da St. Vladmir e eu tinha arranjado algumas novas amizades, claro que esses eu não poderia convidar para beber, a não ser que fosse leite ou algo do tipo, mas eles eram legais se tivessem no que se concentrar.

Katrina e Timothy eram gêmeos Moroi que normalmente gostavam de me ajudar no que eu precisasse. Os dois eram ruivos de olhos azuis e eu gostava de pensar que se eu tivesse algum futuro com Anastacia, eles dois seriam uma bela prévia dos filhos que teríamos. É claro que isso era um pensamento que eu guardava para mim, mas Timothy às vezes me ajudava, passando informações de Ana para mim, como o que ela estava fazendo com a turma que ela trabalhava com Nolan, enquanto eu fazia Logan fazer algo de útil.

O problema é que Logan não tinha o menor jeito com crianças. Na maioria das vezes em que pedi para que ele contasse uma historia, ele a alterava, contando um conto de terror e fazendo com que as crianças ficassem assustadas pelo resto do dia, então a única coisa que eu pedia para ele, era para ir buscar a comida na hora do almoço.

Dessa forma nós passamos todo o mês de novembro, até a época do feriado de ação de graças. A maioria das crianças era buscada pelos seus pais para voltarem para casa, o que nos liberava da nossa missão também e fazia com que eu tivesse que voltar para casa.

Eu me mantinha evitando meu pai, depois de ter descoberto que ele estava traindo Erica e ele parecia não se importar. Eu sempre viajava nas férias para qualquer lugar que fosse e nos feriados curtos como esse, me mantinha na Corte, mas na maior parte do tempo no meu quarto ou em festas que Jesse me convidava. Ele provavelmente não sabia do que nosso pai estava aprontando, mas eu não tinha certeza se ele se importava, Erica nunca tinha sido nada parecido com uma mãe para nós dois.

– E então? O que vai rolar para esse final de semana? – disse Logan, quebrando minha linha de pensamento.

Nós estávamos na praça que tinha na entrada para a Corte. O clima estava frio, mas provavelmente Logan nem estava sentindo.

– Eu não sei, vou passar a quinta-feira ocupado. – eu respondi.

– Achei que não quisesse ficar em casa...

– E não vou. Eu só tenho algumas coisas para fazer. Você e Nolan não vão se reunir com seus pais? – eu perguntei sabendo que ele se esquivaria por eu ter falado sobre seus pais. Eu não fazia ideia de quem seriam e eles gostavam de manter isso em segredo.

– É. – ele disse e então mudou de assunto. – No final de semana, a família de Gwen vai dar uma festa, não sei qual o motivo, mas eu fui convidado. Tenho certeza que a sua família também deve ter sido e eu não quero ficar lá sozinho, quer dizer, os pais de Gwen sabem que eu não sou da realeza e não gostam muito de mim.

Logan fez uma careta enquanto apertava a latinha de refrigerante devidamente batizado que tomava. Ele podia negar o quanto quisesse, mas ele gostava de Gwen ou de forma alguma eles ainda estariam juntos. Eu conhecia Gwen o suficiente para saber que ela não era nenhum anjinho.

– Certo, eu vou. Talvez Jesse vá também, eu não sei, mas nos falamos por mensagem.

– Feliz dia de ação de graças, Dane. – ele disse e se levantou, saindo em direção a sua casa.

Eu fiquei ali por mais alguns momentos até terminar a latinha que estava bebendo. Não queria ir para casa, mas mesmo assim me arrastei até lá.

– Oh, o aniversariante chegou! – disse Jesse assim que passei pela entrada. – Veja bem, meu plano inclui a nossa saída amanhã e a nossa volta apenas no domingo. Podemos descer até Nova York, o que acha?

– Hey, Jesse. – eu disse o abraçando de lado. – Sabe que eu não comemoro meu aniversário há muito tempo.

– Mas você vai fazer dezoito anos! Isso exige uma comemoração! Quer que eu peça ao papai para fazermos uma festa aqui amanhã? – ele parecia decidido a arranjar uma comemoração.

– Eu não estou no humor para isso. – eu disse e então tentei usar um pouco de compulsão. Eu sabia que era provável que não funcionasse, já que eu tinha bebido, mas Jesse também sempre estava bêbado ou de ressaca, então era uma mente frágil na maior parte do tempo.

Ele me encarou e eu vi seus olhos ficarem vagos por alguns segundo e então continuei.

– Eu tenho uma ideia. Você vai hoje e diz para papai que fui com você. Quando voltar, vai saber que nós nos encontramos lá e comemoramos meu aniversário por dias.

Ele parecia confuso e eu não tinha certeza se isso tinha realmente dado certo, já que ele só balançou a cabeça, com um sorriso ainda cheio de expectativas.

– Amanhã vai ser incrível, você vai ver! Vou arrumar as malas.

Eu subi as escadas junto dele, mas entrando em meu quarto e me jogando na cama assim que pude. Teria que ficar sem beber até amanhã para fazer uma compulsão mais forte em Jesse e isso seria um pesadelo. Seria melhor que eu tomasse algum remédio para dormir e esperasse que ele viesse me acordar no dia seguinte, mas já que eu tinha acabado de beber, isso também bloqueava essa opção. Eu lembrava bem do que tinha acontecido da ultima vez em que eu tinha misturado álcool e comprimidos.

Os meus planos amanhã, incluíam ir até o cemitério que havia próximo a Corte. Eu costumava pensar que não era justo comemorar meu aniversário sabendo que foi no mesmo dia em que nasci que minha mãe tinha atingido o ápice da loucura graças ao espirito e se tornado Strigoi. Antes de eu ter descoberto, eu era forçado a comemorar meus aniversários, já que Erica os planejava, embora eu sempre tivesse me sentido mal, já que naquela época, eu achava que minha mãe estava morta. Mas depois de ter descoberto aos dez anos, enquanto meu pai tinha bebido todas e resolveu soltar que eu era o culpado da minha mãe ter enlouquecido, foi que eu pude saber a historia completa.

A partir dali, todos os anos, eu costumava sumir em maioria dos feriados para ir até o cemitério, visitar o que meu pai sempre tinha me dito ser o tumulo da minha mãe. Eu sabia que ali não havia corpo algum, mas de alguma forma, aquele era o único lugar onde eu podia conversar com ela. Ou talvez eu só fosse tão louco quanto todos imaginavam e gostasse de falar sozinho e trazer flores para uma pedra que tinha o nome da minha mãe gravado.

Eu não lembro quando exatamente eu dormi, mas sabia que estava sonhando agora que eu era mais uma vez a criança de 10 anos do dia do meu aniversário. A festa tinha finalmente acabado e a maioria já tinha ido embora. Eu tinha tirado boa parte da minha roupa e me sentia cansado, queria ir dormir, mas Erica nunca me deixava ir até que todos os convidados tivessem ido embora, então eu resolvi me esconder no escritório do meu pai. O problema é que eu o encontrei ali. Ele parecia triste e quando viu que eu estava ali, sua tristeza passou para fúria.

– Saia daqui, Daniel! – ele gritou.

Eu olhei para os lados sem saber para onde ir.

– Eu não quero ficar lá fora. – eu respondi.

– Mas também não vai ficar aqui. Eu não quero ver você.

– Por que? O que eu fiz?

– Nasceu! Desde que estava gravida de você, sua mãe parou de se cuidar e começou a enlouquecer e depois que você nasceu, tudo piorou!

Eu não consegui me controlar e comecei a chorar enquanto ele gritava comigo.

– Oh, cale a boca! Anda, saia daqui. Diga a Erica para acabar essa palhaçada. – ele disse me pegando pela camisa e me levando para fora. – Tenho certeza que sua mãe foi embora porque ela sabia o merdinha que você ia virar.

E então em meio ao pesadelo que eu estava tendo, eu fui acordado com a mesma força de alguém me segurando pela camisa, mas dessa vez era real e isso estava acontecendo agora.

– Como você teve coragem de usar compulsão no seu irmão? – eu acordei ouvindo meu pai gritar e me sacudir.

Merda.

– Eu não sei do que você está falando. – eu disse, mas meu espanto tinha me entregado e ele também sabia disso.

– Sabe que não é justo. Você é uma aberração e ele é um alcoólatra fraco! – ele disse, me fazendo levantar. – Você sabe que está proibido de usar o que você acha que são seus poderes para qualquer um dessa casa! Eu não admito que você... – ele parecia realmente enojado e depois de ter tido o pesadelo que tive, ser segurado dessa forma novamente por ele, parecia demais para mim.

– Me solte! – eu disse e então empurrei suas mãos para longe de mim.

– Não é porque você está completando maioridade que pode fazer algo desse tipo aqui dentro. Eu não vou deixar que você use compulsão em ninguém.

– É, e com o que você vai me impedir? – eu disse e então olhei para dentro do banheiro, onde um pequeno recipiente de vidro era usado para guardar escova de dente era usado e com telecinese o fiz passar de raspão pela cabeça de meu pai.

Ele abaixou e estremeceu enquanto o vidro quebrava em muitos pedaços.

– Pare, Daniel! – ele gritou e eu ouvi Erica perguntar o que estava acontecendo e resolvi agir rapidamente o segurando da mesma forma que ele havia me segurado.

Agora que estava sóbrio, sentia meu poder do espirito e comecei usando a compulsão.

– Você vai esquecer que eu usei compulsão em Jesse. Vai acreditar que eu viajei com ele para Nova York e não vai lembrar que estive aqui por todo esse feriado.

E então eu não resisti. Ele me olhava absorto e eu o tinha em minhas mãos por mais alguns segundos. Eu fechei meus olhos e me concentrei, desejando que eu pudesse ler sua mente e toquei seu rosto que era o único lugar livre para mim.

Eu preciso dizer que essa foi a provavelmente a pior ideia que tive em minha vida.

Lendo seus pensamentos, eu tive a pior memoria que eu poderia ter: a certeza que meu pai me odiava desde que minha mãe estava gravida de mim.

A única coisa boa que tinha nisso tudo, foi eu poder ter visto minha mãe além das fotos e saber o quanto nós éramos fisicamente parecidos, mas eu sabia que tudo o que tinha sentido nas memorias de Arthur Zeklos me assombrariam enquanto eu estivesse vivo.

Quando Erica chegou até a porta do meu quarto, eu já tinha o largado e enquanto ela me perguntava o que tinha acontecido, eu peguei meu celular, documentos e alguns pertences e saí dali sem responder nada a ela.

Enquanto eu andava, eu esqueci o dia e a hora ou para onde estava indo. Eu sabia que Jesse não estava em casa e não fazia ideia de onde era a casa de Logan, então mais uma vez eu estava sozinho. Eu entrei numa cafeteria e me sentei em uma mesa próximo à janela, analisando o cardápio e pedindo qualquer bebida que tivesse álcool no preparo.

O dia inteiro eu me mantive ali, tomando grandes doses de café misturado e ninguém estava se importando. Era feriado e na verdade ninguém ali queria sequer estar trabalhando, então vender bebidas com álcool a um Moroi que ainda era menor de idade para isso, era o menor de seus problemas no momento.

O tempo inteiro eu observei as pessoas indo e voltando, se encontrando, crianças sendo apresentadas a parentes que nunca viram, guardiões conversando entre si e outras cenas que pareciam acontecer em borrões a minha frente. Eu não estava vestido para o frio que estava lá fora, mas também não pensava em sair dali e assim o dia se passou.

– Senhor, nós já estamos fechando. – disse um garçom dhampir baixinho.

Eu acenei e pedi a conta, pagando rapidamente, mas me mantive ali, enquanto o garçom limpava o local e virava as cadeiras, organizando a cafeteria com mais dois garçons que estavam trabalhando ali.

– Senhor, preciso pedir para que o senhor se retire. Nós vamos fechar o estabelecimento.

Essa já era a terceira vez que o garçom vinha e eu já estava começando a perder a paciência, mas tentei não ser rude nem nada. Eu sabia que deveria estar sendo um grande idiota em um dia que já não estava muito bom para ele, então tentei me levantar, mas falhei miseravelmente, me sentando novamente.

Então o garçom murmurou um palavrão nada educado e me pegou, pondo o meu braço em seus ombros e me levando para fora.

A rajada de frio me atingiu e o garçom me desejou “feliz dia de ação de graças”, enquanto me deixava do lado de fora. Eu não lembro se o respondi, mas comecei a caminhar sem saber para onde iria. Eu tinha a certeza absoluta que não queria voltar para casa e se era essa opção ou ficar na rua, uma hipotermia parecia muito mais agradável. Eu estava tonto e parecia cada vez mais próximo do chão, até realmente sentir a neve em meu rosto. Minha cabeça doía, mas eu não quis me levantar. O céu estava escuro e os flocos de neve caiam em meu rosto. Como sempre, minha imaginação começou a divagar sobre quanto tempo eu teria se resolvesse ficar ali.

A neve provavelmente começaria a me soterrar aos poucos, eu sentiria meu corpo congelar, mas eu não tive muito tempo para avaliar o que aconteceria comigo, por ver uma sombra se aproximar. Primeiro eu percebi um gorro branco de tricô e depois os cabelos ruivos que se aproximaram de meu rosto.

– Ana! – eu disse, sem me importa se o que eu estava vendo era verdade ou não. – Finalmente algo bom no meu dia. Minha guardiã está aqui. Ou seria anjo da guarda?

Então um guardião se aproximou de nós dois e eu me mantive parado ali, até perceber que fazia anos desde a ultima vez em que eu tinha feito anjos de neve e naquele momento, era exatamente isso que eu queria fazer.

– Eu vi o que aconteceu e vou leva-lo para casa. – eu ouvi o guardião dizer.

Vai ter que me arrastar, senhor. Eu pensei alto e isso me fez rir. Depois de um tempo que eu não sabia bem quanto, eu vi ele me pegar pelo braço, como o garçom havia feito e Ana me segurar do outro lado e então nós começamos a caminhar em direção ao hotel.

– Pode ir, senhor. O hotel tem seguranças e eles podem me ajudar a carrega-lo. Eu vou instala-lo numa suíte, amanhã ele vai estar melhor. – ela disse mantendo o tom de voz neutro. Neutro até demais.

O guardião então olhou ao redor e se despediu, indo para fora, enquanto Ana começava a me carregar para o elevador.

– Anastacia? – eu ouvi uma mulher dizer e reconheci o tom de voz, mesmo sem nunca ter conversado com ela.

– Marlene, graças aos céus você está aqui. Pode me ajudar a leva-lo até o meu quarto? Ninguém pode saber que ele está aqui.

– Marlene. Eu conheço você. – eu disse. – E eu sinto muito por você ser a pessoa que está com meu pai. Não acredite que ele vai deixar a Erica por você. Ele não ama a ninguém além de si mesmo.

– Dane! – eu ouvi Ana dizer, seu tom de voz se elevando e a calma que ela tinha demonstrado ao guardião parecia ter ido embora.

Marlene parecia uma boa pessoa, mas eu tinha lhe deixado triste e me sentia mal por isso. Ela ajudou Ana a chamar o elevador e me por para dentro e a ultima expressão que eu vi em seu rosto, foi seus olhos começarem a se enxerem de lagrimas enquanto a porta do elevador fechava.

Ana não falou nada enquanto estávamos ali e eu também me mantive calado e ainda pensando em tudo o que tinha acontecido e no que eu tinha feito. Nós saímos do elevador e ela tentou andar apressadamente em direção ao seu quarto, me deixando sentado na cama, onde eu encostei as costas na grade descansando e correndo para trancar a porta.

– Dane, não foi nada bom o que você disse a Marlene. – ela começou, ficando de pé na minha frente.

– Eu falei a verdade. Meu pai a ilude dizendo que vai deixar Erica para ficar com ela, mas não é verdade. Ele a tem como um passatempo.

– Como pode saber disso? Ele pode sentir algo a mais por ela e só não demonstrar...

– Eu vi, Ana. Eu cometi o erro de ler seus pensamentos.

Eu observei ela ficar calada e então continuei.

– Foi a pior coisa que já fiz, na verdade.

– Então por que você fez? – ela disse, sem entender.

– Porque eu precisava saber se algum dia na vida ele me viu como filho dele. Eu sempre quis saber se ele realmente me odiava ou só estava chateado por eu ser como eu sou, mas a verdade é que ele nunca nem sequer me viu como filho dele. – eu disse, olhando para baixo e vendo as memorias de meu pai mais uma vez em minha mente.

– Dane... – ela disse, me fazendo voltar a olhar para ela e então nós ouvimos a campainha e Ana foi até a porta, pegando uma bandeja com três garrafas térmicas e duas canecas e uma cesta com o que pareciam serem cobertores.

Depois disso, ela tirou seu casaco e seu gorro, pendurando no cabide próximo a porta e vindo com a bandeja, a pondo no criado mudo e me entregando um cobertor.

– Quer tomar alguma coisa? – ela me perguntou e eu neguei com a cabeça, pondo o cobertor ao meu redor. Eu não tinha percebido o quanto eu estava com frio até sentir um pouco de calor e estremeci, o que fez Ana, se sentar na cama ao meu lado depois de se servir de uma caneca de chocolate quente.

– Eu sinto muito. – ela disse me observando e parecia sincera.

– Eu também. – eu respondi.

– Pode dormir aqui. Eu posso ir dormir no quarto de Jill, vou pedir por mensagem. – ela disse começando a pegar seu celular.

– Não. Ana, eu sei que você agora me odeia, mas pode ficar? Eu não me sinto bem para ficar aqui sozinho. Pode não falar comigo e se quiser eu durmo no sofá, mas só fique aqui comigo. Amanhã eu resolvo o que fazer e eu peço desculpas a Marlene, se você quiser!

Ela levantou as mãos me interrompendo e acenou com a cabeça.

– Tudo bem. Você pode ficar. – ela disse. – Agora se enrole direito, por favor. Deveria ter pegue um casaco.

Ela se aproximou de mim e puxou o cobertor sobre meus ombros e pescoço, até ver que meu cabelo agora estava molhado por conta da neve que havia derretido e então ela se levantou, pegando toalhas e voltando para começar a enxugar meu cabelo.

Eu não consegui evitar sorrir, enquanto ela passava a toalha e vi que ela também estava rindo.

– Obrigada por sempre estar por perto. – eu falei em voz baixa.

– Nem sempre é opcional. – ela disse rindo e então sentando novamente ao meu lado. – Tome algo quente, anda. Desse jeito pode adoecer.

E então ela me serviu uma caneca de chocolate quente, que eu comecei a tomar a observando e sendo observado e colocou o edredom em cima de nossas pernas.

– Eu não cheguei a pedir desculpas pelo... que aconteceu no Halloween. – eu comecei e percebi que ela por reflexo pôs sua mão próximo ao pescoço, onde eu tinha deixado uma marca.

– Já passou. – ela respondeu e parecia envergonhada.

– Mesmo assim, eu sinto muito. Boa parte daquela noite foi um grande erro. – eu assumi.

– Bem, você sempre acaba errando feio quando bebe, não é mesmo? – ela disse estreitando os olhos.

Eu não respondi, apenas continuei a observando, enquanto ela me encarava de volta.

– Você conheceu alguém? Enquanto esteve fora? – eu perguntei antes que pudesse pensar se eu queria mesmo uma resposta.

– Quanto você bebeu hoje? – ela respondeu, dessa vez com uma careta.

– Eu não sei. Eu só... quer dizer, você passou um ano fora e em uma escola nova. Muita coisa pode ter acontecido.

– Não, Dane. Eu não quis conhecer ninguém. – ela disse e parecia dura em suas palavras. – O tempo que passei na St. Constantine me ajudou a melhorar no treinamento e ter um tempo para ficar de luto por Bea, mas somente isso. Eu não queria distrações.

Era impressionante que quanto mais estressada ela estava, mais o sotaque russo aparecia. Depois de tê-la ouvido me dizer que não tinha ficado com ninguém no tempo em que esteve fora, eu não consegui conter meu sorriso, mas eu sabia que isso só tinha feito com que ela ficasse com mais estressada ainda.

– O quê? – ela perguntou, estreitando as sobrancelhas.

– Nada. – eu respondi.

Depois de um tempo, ela parecia estar curiosa e não demorou muito até começar a perguntar.

– Por que você e seu pai se desentenderam no dia de ação de graças? – essa não era a pergunta que eu estava esperando.

Eu a observei, enquanto pensava. Ela esperava por uma resposta, enquanto tomava um gole de sua xicara. Ela sabia que minha mãe tinha se tornado Strigoi, eu já tinha contado para ela uma vez, então não tinha porque ela não saber da historia por completo e eu resolvi lhe contar desde o momento em que tinha usado compulsão em Jesse.

Ela escutou atentamente com uma expressão de seriedade no rosto e parecendo estar com raiva do que ouvia.

– Seu pai é um babaca. – ela disse concluindo minha historia.

– Agora eu tenho certeza disso, mas é horrível saber como ele se sente. Quando eu era menor, eu tinha esperanças que ele só não gostasse que eu não tivesse demonstrado nenhum dom, enquanto Jesse já saia por aí quase incendiando a casa. Acho que até hoje, eu ainda tinha essa esperança, mas agora...

– Eu sinto muito, mas não pode se sentir mal por isso. O problema de como ele se sente é dele. – e então ela se levantou. – Bem, pelo visto você não comeu nada o dia inteiro, vamos resolver isso.

E então ela começou a pedir diversas guloseimas e como provavelmente a cozinha do restaurante do hotel tinha sido abastecida em excesso para o feriado, a comida chegou numa rapidez impressionante.

– As vantagens de ter uma amiga na recepção do hotel. – ela disse se sentindo satisfeita e trazendo uma caixa de pizza para o meio da cama.

– É, se mesmo depois do que eu disse, Marlene ainda consegue ser uma boa pessoa com nós dois, amanhã eu devo implorar por perdão. – eu disse começando a comer.

– Ela é boa pessoa. – Ana me disse, enquanto comia também.

Eu sempre ficava impressionado com o quanto ela comia e sem ganhar um quilo sequer. Ela comeu praticamente um pedaço de tudo o que pediu e eu tentei acompanha-la, mas não é como se essa fosse minha principal fonte de alimentação.

E depois de termos acabado com metade de tudo, eu a vi bocejar.

– Se sente melhor? – ela me perguntou, parecendo sonolenta.

Eu acenei e então ela começou a retirar as caixas, canecas, copos e bandejas, pondo tudo próximo à porta, ela então voltou para a cama e parecia disposta a preencher meus pensamentos com qualquer coisa, menos com as memorias do que tinha acontecido.

– Quer assistir alguma coisa? Aposto que existe algum filme de especial passando na televisão. – ela disse ligando e se sentando novamente. – Se eu começar a dormir, me acorde e eu vou para o sofá.

Eu confirmei, mesmo sabendo que eu não queria me afastar dela e depois de um tempo, enquanto ela assistia a um filme que eu nem sequer me importava em saber qual era o nome, eu a vi cair no sono.

Em pensamento, eu rezava silenciosamente para que ela não acordasse e então eu me aproximei, puxando o cobertor para enrola-la e pondo o braço ao seu redor, mas depois de um tempo, o sono também apareceu para mim e eu me vi deitando mesmo sem querer. Eu não queria acorda-la e tentava não me mover, mas daquela maneira, nós dois cairíamos um por cima do outro, então eu continuei contando com a sorte, enquanto me deitava e tentava faze-la deitar no seu lado da cama. Depois que ela se deitou e eu a cobri com o as cobertas, desliguei a televisão e me deitei, mas inacreditavelmente, eu senti Ana virar, o que me fez prender a respiração, esperando que ela acordasse, mas ao invés disso, ela se aproximou e me abraçou, pondo a cabeça em meu peito.

– Feliz aniversario, Dan. – eu a ouvi dizer sonolenta e a abracei de volta, beijando o topo de sua cabeça.

Esse deveria ser o melhor presente de aniversário que eu recebia em anos.


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