Shadows of the past escrita por larissabaoli


Capítulo 3
Capitulo 3




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“Se não pode vencê-los, junte-se a eles.”. Esse ditado estava na minha mente enquanto descíamos na estação de trem de Omsk. Eu me perguntava como exatamente eu havia simplesmente decidido que levaria Rose junto com Sidney para a cidade, apesar de mal conhece-la e como eu passei os últimos 3 dias mais próximas das duas amigavelmente do que eu já havia ficado com bem... qualquer pessoa.

A viagem nos prendeu numa cabine para quatro, aonde eu dormia em cima de Rose e Sidney em uma das camas do outro lado. Porque de alguma forma eu achei sensato dar a Sidney ao menos um lado da cabine de privacidade. Às vezes eu a sentia como um hamster dentro de uma gaiola com duas jiboias, mas é claro que ela nunca reclamou ou disse algo para mim. Havia uma televisão em cima da janela e uma mesa com três cadeiras dentro da cabine e às vezes eu via Sidney sentar ali, ligar a televisão e ao perceber que Rose também estava assistindo, começar a traduzir para ela o que estava acontecendo.

Nem sempre eu percebia a mudança de idiomas, afinal meus pais me ensinaram os dois idiomas e nós fazíamos uso dos dois de acordo com nossa necessidade. Eu também já havia aprendido um pouco de espanhol e francês, ainda com esperanças de um dia fazer um tour pela Europa e sonhando ainda mais alto, todos os outros continentes.

– Vamos nisso? – Rose exclamou – Podemos sequer chegar até lá?

Sidney que conseguiu um carro para continuarmos nossa viagem parecia chocada e eu me senti um pouco ofendida.

– Você está falando sério? Você sabe o que é isso? É um Citroen 19723. Essas coisas são incríveis. Você tem ideia do quão difícil deve ter sido trazer isso de volta para o país no tempo dos Soviéticos? Eu não acredito que esse cara vendeu. Ele não tem noção.

Eu dei uma boa olhada no carro e se ela estava reclamando desse, me perguntei o que Rose diria então do velho Citroen ZX que havia conseguido com meus contatos na cidade. Eu tinha quase certeza que aquele carro era roubado, mas nunca me meteu em problemas e sempre foi fácil de consertar, o que era o que mais me interessava. Mark havia me ensinado o básico sobre carros e Sidney havia me entediado com algumas conversas sobre carros também, aparentemente sua mãe trabalhava com isso ou algo assim.

No caminho, me sentei no banco de trás e tentei me preparar mentalmente para a conversa que eu sabia que teria com meus pais. Mesmo assim não pude deixar de observar a conversa entre Rose e Sidney, coletando mais informações sobre as duas.

Sidney me acordou quando paramos por conta da noite que havia chegado e estávamos em um dos vilarejos próximos a Omsk. Ela então explicou que seguiríamos caminho amanhã, mas por enquanto nós ficaríamos na casa aonde ela estacionou.

– Eles são seus amigos? – Rose perguntou sobre os habitantes da residência.

– Não. Nunca os conheci. Mas estão nos esperando. – Sidney respondeu com poucas palavras como sempre. Quando se tratava de conexões alquimistas, ela era toda profissional.

Uma humana muito receptiva nos atendeu na porta e entramos. Depois de jantar e assistir um pouco de TV, não é como se eu estivesse com sono, pois eu havia dormido no carro, mas também eu me sentia cansada e meu corpo doía devido à posição em que dormi, então me senti muito agradecida por ter uma cama de tamanho normal, mas eu não consegui dormir novamente. Eu me mantive encarando o teto e tentando controlar minhas respirações e minha mente como meu pai havia me ensinado para controlar minha ansiedade e isso estava funcionando muito bem, até eu sentir a náusea começando. Havia um Strigoi por perto.

Rose se levantou antes mesmo que eu pudesse me acostumar com a ideia ou pensar em acordar Sidney para avisar. Não sabia como ou o que tinha levado ela a ser uma shadow kissed, mas agora eu tinha certeza que ela era. Eu esperei que ela saísse e resolvi que a seguiria, afinal, se algo acontecesse, seria melhor ter pelo menos uma pessoa que falasse o mesmo idioma por perto.

Quando saí da casa, agradecendo silenciosamente por não haver Strigois dentro e sim fora, percebi que o clima estava muito frio e eu não seria de muita ajuda se realmente um Strigoi aparecesse e me alcançasse sozinha, então me apressei em seguir Rose. O que eu não esperava era que houvesse dois Strigois. Uma mulher e um homem.

Ela foi pega de surpresa tanto quanto eu e não haveria escapatória ali. Se não para ela, muito menos para mim e eu simplesmente fiquei ali, parada, com as mãos sobre a boca. É claro que no meu estado eu não me atreveria a gritar ou me mover, mas reagi por instinto. Ela percebeu que eu estava ali e tentou distrair os dois Strigois ao mesmo tempo, talvez acelerando a própria morte.

Foi então que eu decidi fazer algo que me arrependeria. Eu fechei os olhos e me concentrei em desbloquear minha mente para que os fantasmas que eu tanto temia voltassem. E não, eu não estava falando metaforicamente. Quando abri meus olhos, pude ver Rose em pânico, mas ela não era a única e os Strigois começaram a se distrair com os fantasmas que eu havia invocado. Isso deu a Rose tempo o suficiente para agir e ela empalou o homem Strigoi primeiro, mas logo após ver que ela já havia recuperado o controle da luta eu gritei com a dor de cabeça que eu conhecia e não ansiava por isso. Cai de joelhos enquanto ouvia Rose lutar com a mulher Strigoi e pus as mãos ao redor da minha cabeça, como se para me afastar ou me proteger de tudo o que eu estava sentindo.

Uma das desvantagens de ser uma shadow kissed era essa capacidade de invocar fantasmas. Na verdade, eles sempre estavam ali, mas depois de um tempo eu aprendi a bloqueá-los da minha mente. Quando eu era criança esse era um grande problema e eu sempre precisava da ajuda da minha mãe para que ela pudesse me curar, o que era um grande esforço para ela, é claro, mas quando eu tinha uns seis anos, comecei a trabalhar para controlar isso com meu pai.

Não percebi quando Rose veio até a mim até que ela se ajoelhou ao meu lado. Ela parecia muito machucada.

– Vão embora – ela disse – Eu não preciso mais de vocês.

Então eu percebi que eu não era a única sofrendo com as visões e que provavelmente vê-los desbloqueou as visões dela também.

– Rose! Ana! Vocês estão bem? – Sidney havia nos alcançado.

– Não – Rose disse.

E então ela desmaiou.

Quando eu reconheci o Ford Corcel verde eu encarei Sidney, ainda incerta do que ela havia feito.

– Tem certeza?

– Bem, pelo menos ele tem guardiões e isso pode acelerar as coisas. Quanto mais rápido chegarmos, mais rápido ela vai ter ajuda para se curar.

O Ford estacionou e eu vi um Moroi que eu não queria precisar da ajuda.

– O que houve com ela? – não era a primeira vez eu estava o vendo preocupado, mas ainda assim era surpreendente saber que alguém como ele podia se importar de verdade com alguém.

– Ataque de Strigoi, dois, um homem e uma mulher. Ela lutou com os dois e eu lidei com o corpo.

– É claro – ele se ajoelhou perto dela e de mim – E você? Aconteceu algo com você?

– Não – eu respondi – Eu estou bem.

Eu ainda mantinha uma distancia segura, apesar de saber o quanto eu devia a ele.

Abe Mazur era um Moroi conhecido, mas ao mesmo tempo misterioso. Tinha cerca de quarenta anos e nenhum senso de moda ou um senso muito único, dependendo de como você analisava suas roupas. Eu às vezes o via como Jano, da mitologia grega. Tudo dependia de como você o enxergava. E no momento ele era o nosso cavalheiro de armadura.

Enquanto Sidney pegava nossas coisas, Abe carregou Rose até o carro e em pouco tempo nós estávamos na estrada novamente. Depois de me sentir melhor com o ar frio da noite no meu rosto, eu estava mais calma e controlada. Apenas cansada do esforço mental que havia provocado em mim mesma e passei a encarar o banco do carona onde estava Abe.

Mais uma vez ele estava me resgatando, mas dessa vez Sidney era quem havia ligado para ele e não aconteceu nada demais comigo, no caso. Eu me perguntava se ele conhecia Rose, mas eu sabia que teria que manter essa pergunta para mim porque provavelmente ele não responderia. Zmey – a serpente – era como o chamavam pelas costas, mas acho que ele já sabia. Acho que ele até gostava de manter essa fama de mafioso, embora eu não tenha certeza de que ele não seja, na verdade. Mas para mim isso não importava. Eu trabalhava para ele, ajudando dhampirs a chegarem à Baia ou aonde precisassem e trazendo alimentadores para o Nightingale ou para onde quer que ele mandasse. Era ele quem me arranjava uma moradia nas cidades, documentos falsos ou carros se eu precisasse e às vezes ele aparecia para checar como eu estava, mas não é como se eu gostasse quando ele fazia isso. Na verdade quando isso acontecia, só servia para que eu lembrasse o porquê eu o conhecia ou porque ele estava me ajudando. Ele havia me ajudado a me livrar de algo – na verdade de alguém – que fez da minha vida um inferno e por isso eu estaria em uma eterna divida com ele.

– Ainda com o habito de encarar as pessoas, Anastacia?

Flagrada, novamente. Ele havia me flagrado o observando pelo retrovisor do carro e eu tratei de me sentar ereta no carro, enquanto Rose se mantinha alucinando.

– Pensei que você tivesse parado com as fugas. – ele continuou.

Eu cruzei os braços e me mantive em silencio, ele parecia estar se divertindo.

Depois de um tempo, percebi que ele havia tomado à estrada que dava para a casa dos meus pais e que o sol já estava aparecendo.

– Não precisa me deixar na porta, eu posso ir sozinha.

– É claro que pode.

O guardião dele, seu motorista no momento, estacionou a cerca de cem metros da minha casa e eu agradeci a Sidney e aos outros, mas enquanto sai do carro, Abe me seguiu e veio caminhando atrás de mim.

– Tem certeza que está tudo bem?

– Sim, só preciso dormir. – eu disse comprimindo um bocejo.

– Você viu muita coisa ontem, já havia visto Strigois de verdade alguma vez na vida?

– Não – eu admiti.

– Vai fugir novamente, não vai? – ele perguntou depois de um tempo.

– A não ser que precise de mim aqui, não é como se fosse do seu interesse.

– Pensei que você já soubesse que tudo o que acontece por aqui é do meu interesse.

– Okay, então quando eu for fugir de novo, eu aviso – disse fazendo uma careta.

– Você é muito nova para ter uma língua tão afiada.

– Eu sou muito nova para muita coisa que já aconteceu.

– Eu sei. – ele respondeu, sua voz se tornando seria e sombria.

Eu parei e o encarei.

– Não precisa me vigiar o tempo inteiro. Você me salvou uma vez e eu sou grata a você. Mas é isso. É passado.

– Ele está na cidade – ele me disse – mas ele sabe que se chegar perto de você...

– Eu vou me manter aqui por pouco tempo então.

– Você não precisa fugir por isso. Eu posso pedir para alguém seguir ele e posso pedir outra pessoa para vigiar você.

– Abe, você já faz isso. E devia parar. Não é como se você fosse meu pai ou algo assim, então, por favor, pare de me vigiar! – eu falei exasperada, isso tudo já estava começando a me irritar.

– Eu me pergunto o que os seus pais fariam se soubessem...

Golpe baixo. Ele sabia disso. Eu recomecei a andar.

– Tenha um bom dia, Zmey.

– Até logo, Anastacia.


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