Shadows of the past escrita por larissabaoli


Capítulo 12
Capitulo 12




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Depois de conversarmos um pouco mais e de ouvir Jill falar sobre praticamente todos os seus amigos, além das festas que ia e as aulas que tinha, ela começou a parecer cansada.

– Acho melhor voltar para o quarto, o sol já nasceu e eu já devia estar dormindo. Agora que achei Adrian... – ela bocejou.

Nós levantamos e seguimos porta a fora, eu me sentia desperta, mas ia aproveitar o tempo para conseguir uma forma de falar com minha mãe e me adaptar aos horários.

– E então, como era a escola na sua cidade?

Eu mordi o lábio.

– Normal – eu dei de ombros.

– Não era mais rígida? Sempre tive a impressão de que a Rússia tivesse um sistema escolar mais rígido, como o Japão.

Eu pus as mãos para trás tentando não parecer nervosa.

– Não, para mim era normal...

– Até quanto tempo você frequentou a escola?

– Até os seis – eu disse numa careta.

Jill parecia impressionada.

– Nossa e depois você teve professores particulares?

– E depois minha mãe passou a me ensinar, eu morava distante da cidade. Era mais fácil assim.

– E por que você saiu da escola? Você não se adaptou ou...

Eu prendi meus lábios.

– Jill, acho que o sol está muito forte, tem algum caminho mais fácil para você?

Ela pareceu surpresa com minha mudança de assunto repentina.

– Sim, vamos por esse lado.

Nós andamos agora em silencio e eu agradeci silenciosamente por ter conseguido acabar esse assunto. Ninguém precisava saber que eu havia conseguido ser expulsa do jardim de infância. E muito menos o motivo.

Ela, assim como Lissa morava no centro da Corte e mais uma vez pude me impressionar com a arquitetura do lugar. Dessa vez do lado de fora, tudo era impecável e parecia medieval, mas menos assombroso do que a noite.

– Você vai se acostumar – me disse Jill.

– Eu duvido – eu disse e sorri para ela – Tenha um bom... boa noite?

Nos despedimos e ela entrou, eu estava começando a aprender as direções e os locais da Corte e consegui chegar até o bloco aonde estava hospedada.

Quando entrei, perguntei para a recepcionista, uma Moroi de cabelo castanho curto e feições finas, que se chamava Marlene algumas coisas e acabei descobrindo que havia um restaurante aqui mesmo no bloco, assim como algumas outras áreas e agradeci mentalmente por existir ao menos uma pessoa até agora que não sabia quem eu era. Depois subi para o meu quarto e me deitei na cama, me deixando deslizar para a mente da minha mãe, mas não consegui alcança-la e me senti frustrada. Meu celular ainda estava em um horário duvidoso e eu não tinha um notebook para pesquisar sobre esses horários, pensei no envelope com dinheiro que Abe tinha me dado. Agora o sol tinha nascido lá fora e eu poderia muito bem ir até uma cidade próxima e comprar um notebook para mim, além de dois despertadores, entre outras coisas começando a fazer uma lista mental. O problema era como eu iria.

Revirando os olhos para o que eu estava prestes a fazer, eu estava sentindo muita falta de ter documentos falsos e um carro para ir e vir aonde eu quisesse. Ajeitei meu cabelo, prendendo num rabo de cavalo e peguei minha mochila, saindo do meu quarto e indo até o de Abe. Quando levantei a mão para bater na porta, ela se abriu e de dentro saiu uma mulher humana de cabelos pretos e roupas casuais, ela me olhou e me deu um sorriso apatetado e logo atrás de mim apareceu um funcionário do hotel que a levou pelo corredor em outra direção. Eu fiquei encarando a porta entreaberta, até que Abe veio fecha-la em um roupão amarelo e dourado e então me viu.

– Oh, Ana. Achei que você estava dormin-

– O que exatamente você estava fazendo? – eu olhei para ele sem poder esconder minha cara de nojo.

Ele percebeu minha expressão.

– Ana, acalme-se. Ela era uma alimentadora.

– Isso é...

– Estranho... – ele tentou completar quando viu que eu não achava palavras.

– Escroto! – eu disse com uma careta.

– Anastacia! Como você imaginou que funcionasse para conseguirmos sangue? A Corte tem restaurantes, mas não é como se tivesse um refrigerador de sangue ao lado das cafeteiras.

– Ew! – eu disse, ainda sem palavras.

Ele riu e abriu a porta.

– Entre. O que precisa?

Eu balancei a cabeça e olhei o quarto da porta.

– Anastacia, ela era apenas uma fornecedora. Não aconteceu nada – ele disse e me puxou pelo pulso de leve – eu não trairia sua mãe, não com uma humana.

– Abe!

Ele riu e andou pelo quarto, sentando-se no sofá. O quarto dele era igual ao meu, mas cheio de “roupas do Abe” espalhadas, o que dava um colorido estranho no lugar. As cortinas estavam fechadas, mas o ambiente estava iluminado.

– Então...

– Preciso sair. Ir até a cidade, comprar algumas coisas. Então preciso que... – tentei não revirar os olhos – que alguém me leve.

– Doeu muito? Vir até aqui para dizer isso? – ele parecia se divertir com toda a situação.

– Pode me levar ou não? – minha paciência já estava começando a esvair.

– Ana, me desculpe... Eu achei que você tinha vindo aqui para me pedir para “financiar seu passeio”. Eu não dormi ainda e está de dia.

Ah, droga. Eu estava tão acostumada a ver Abe a qualquer horário na Sibéria que às vezes não percebia que ele também era um Moroi como todos os outros.

– Não pode pedir a Pavel? – afinal, não seria a primeira vez que o seu guardião faria o papel de motorista.

– Dei folga a Pavel desde que cheguei aqui. Não vi porque mantê-lo com todos esses guardiões por todo o lugar. – ele pausou – Pode ir pedir a sua mãe, tenho certeza que ela vai querer lhe fazer companhia.

Eu considerei chamar Janine para irmos ao shopping e a ideia me pareceu mais estranha do que qualquer tipo de interação que tivemos até agora.

– Certo, eu... vou procura-la. Obrigada – eu disse e saí do quarto.

Fui até a recepção novamente e pedi informações sobre como eu conseguiria um serviço de taxi. Dessa vez Marlene não foi muito útil.

– Eu sinto muito, menores precisam da autorização dos pais ou de um responsável para sair da Corte. Os guardiões não costumam deixar entrar ou sair assim tão facilmente.

Eu agradeci a ela e me sentei na recepção, esperando que eu me acalma-se. Olhei para minha mão e me perguntei até quando o efeito zen ia durar sobre o anel, pois eu iria precisar bastante e constantemente. Resolvi me acalmar respirando fundo como meu pai me ensinou e olhando para o lustre que pendurado e depois comecei a analisar minhas opções. Abe não me daria uma autorização para sair daqui por que... bem, ele me conhece. Ir pedir a Janine para ir comigo, seria estranho e desconfortável para nós duas, pois sempre fico pensando que ela não quer muita conversa. Minha outra opção era Rose, mas ela estaria dormindo segundo os horários daqui e eu não iria incomoda-la por isso. Minha ultima opção? Fugir, mas eu me sentia mal por falhar em me manter menos que 24hrs no acordo entre minha nova família e eu, além de não saber direito como sair daqui. Relutante eu me levantei e voltei para o meu quarto, me sentindo cada vez mais sufocada e triste, liguei o ar condicionado e pus no mesmo clima que já estava acostumada, fechei as cortinas e me deitei.

Enquanto estava dormindo, senti a sensação de ser puxada para um sonho e imediatamente me senti mais animada. Não consegui alcançar minha mãe, porque ela estava tentando me alcançar nos sonhos! Comecei a ver o jardim da cabana e vi minha mãe sentada na varanda de casa.

– Achei que não veria você hoje – ela me disse com um sorriso.

Eu corri e a abracei. Não era real, mas era o mais próximo de conforto – sem ajuda do espirito – que eu tive em dias. Me sentei ao seu lado e me mantive abraçada.

– De todas às vezes em que eu fugi, acho que nunca senti sua falta dessa maneira.

– Obrigada? – ela brincou e apertou o abraço ao meu redor – E então? Como é na América? Continua a terra das oportunidades?

– Bem, eu não tive oportunidade de fazer muita coisa até agora – eu dei um sorriso curto.

– Ana, está tudo bem? – ela me perguntou com seus grandes olhos azuis me analisando.

Eu dei de ombros.

– Adaptação difícil.

– Abe e Janine nos prometeram que cuidariam de você...

– E eles estão. Eu estou num quarto legal, tem um restaurante sempre disponível...

– E então, o que houve?

– Mãe, o que acha de você me enviar uma autorização para que eu possa sair daqui por FedEx? – eu dei um sorriso amarelo.

– Eu diria “nos seus sonhos”, mas... não, nem aqui. – ela disse e nós rimos – Não posso te dar algo que faça você poder fugir de onde você está segura, Anastacia.

– Seguramente sufocada – eu disse azeda e me sentindo novamente derrotada.

Ela mudou de assunto.

– Como está o humor?

– Bem, o anel está funcionando e eu conheci Sonya e Lissa, as usuárias do espirito que podem me ajudar.

– Você conheceu a rainha?

– É, ela é legal.

– Filha, estou começando a me preocupar... Por que você parece tão triste?

Eu fiquei em silencio, sem querer dizer que estava com saudades. Nunca senti tanta falta de casa e dos meus pais e não fazia nem uma semana desde que havia os deixado. Minha mãe lendo minha aura, começou a passar a mão em meu cabelo.

– Precisa dar uma chance a sua nova vida. Aos seus pais. A sua irmã também. Eu e seu pai sentimos sua falta, mas estamos tentando lhe dar espaço para que você possa interagir com eles. Precisa tentar também. Abe não era a pessoa que eu tinha em mente como seu pai, mas... – ela deu de ombros – eu acredito que ele possa ser... um bom pai.

– É, claro – eu disse tentando não rir.

– É sério, dê uma chance a sua nova vida. Você já conheceu alguma amiga?

– Sim, Jill. A irmã da rainha.

– Então, saia com ela. Procure ser mais aberta a novas amizades.

– Okay, mãe. – eu disse para encerrar o assunto.

Nós ficamos ali por um longo tempo, até que insisti para que ela fosse descansar. Usuários do espirito podiam entrar em seus sonhos, mas fazer qualquer uso do espirito era algo que tinha um preço muito alto. Quando voltei a dormir, tive sonhos comuns com memorias sobre minha cidade e outros lugares em que já visitei.

Acordei com alguém batendo na porta, mas preferi pedir para que entrassem do que me levantar, lá fora o céu já estava escuro, o que significava que era dia na minha nova vida. Conversar com minha mãe foi algo incrível, mas fez com que eu me sentisse vazia e triste, além de nostálgica depois de ter sonhado com minhas memorias. Jill entrou e deu uma analisada no quarto e depois em mim.

– Hey, bom dia! Eu pedi informações a sua irmã e depois a recepcionista me deixou subir... acordei você? – ela parecia animada como sempre, dessa vez em uma saia azul marinho e uma blusa branca.

– Não. – menti e comecei a me levantar – Seu amigo está melhor?

Ela se sentou na poltrona do quarto e pôs as mãos no colo.

– Sim, quer dizer, acho que ele ainda não acordou. Mas pelo menos eu o encontrei e o levei para casa. – ela disse pensativa.

Eu murmurei em afirmativa e de repente tive uma ideia.

– Jill, você me disse que a recepcionista te deu informações sobre onde eu estava hospedada?

– Sim, mas... a maioria das pessoas aqui as vezes fazem isso, me dão informações – ela parecia nervosa.

– Não tem problema, não é sobre isso. Mas então... você consegue muitas coisas por aqui, certo? – eu disse, já ansiosa.

– Eh, é... eu acho que sim – ela agora parecia confusa – as pessoas me tratam diferente por ser irmã da rainha, eu acho.

Eu confirmei com a cabeça.

– As pessoas te deixam passar dos portões? Quer dizer, ir lá fora... Sair?

– Não acho que eu possa sair, Ana. Eu fui trazida para cá e não tenho ido lá fora há bastante tempo – ela disse, entristecendo.

– Você já tentou ir lá fora? Ou pedir para ir lá fora? Ou ordenar...

– Não parece algo bom, eu não sou boa em...

– Jill, vamos lá! Só um teste! Eu preciso sair e fazer compras, eu preciso de um computador novo para poder falar com minha mãe! Eu preciso de outras coisas e ninguém aqui vai me dar um passe livre para ir lá fora! – eu disse exasperada.

Jill parecia em conflito consigo mesma, mas eu percebi que ela também queria isso. Ela era prisioneira tanto quanto eu daquele lugar.

– Okay, mas temos um problema. Eddie. - ela disse.

– O grandalhão loiro? Ele vai dedurar nós duas?

– Não se nós convencermos ele...

A próxima hora se resumiu em eu me arrumar e depois de pedir para Eddie entrar no quarto, nós duas trabalhamos para convence-lo.

– Vamos lá, vai ser rápido! E o shopping tem seguranças... – Jill disse.

– Seguranças humanos! Não vou arriscar sua vida dessa maneira. – Eddie parecia firme.

– Porque Deus nos livre de nos arriscarmos comprando produtos e roupas – eu disse sem me controlar.

Eddie fez uma careta e eu continuei.

– Qual é: nós saímos, vamos até lá, compramos o que estamos precisando, comemos alguma coisa, voltamos para cá. Ninguém vai nem perceber que saímos! – em teoria, meu plano parecia perfeito. Lissa não parecia o tipo de irmã protetora, Eddie poderia nos ajudar convencendo os guardiões e bem... eu me viraria quanto a minha parte.

– Eu não sei... não parece certo. – Eddie agora parecia desconfiado.

– O quê? Você quer falsificar a assinatura de um dos meus pais e ir só comigo? Por mim tudo bem!

– Eu conheço o suficiente da sua irmã para desconfiar do seu plano.

Eu tentei não revirar os olhos.

– É, mas eu não conheço você e nem você me conhece para me comparar com alguém. – eu disse azeda e depois me arrependi – Então, que tal me dar uma oportunidade?

– Eddie, por favor! Eu só quero passear um pouco, ir lá fora... – Jill implorou.

Eddie então suspirou e confirmou com a cabeça.

Nós saímos do hotel e só andamos por um tempo para disfarçar, como se estivéssemos passeando pela Corte e depois nós paramos próximo a uma pista e nos sentamos em um banco próximo. Eddie então se levantou e saiu para ir buscar nosso carro de fuga. Eu me sentia ansiosa e nervosa para sair, mas incrivelmente feliz. Eddie demorou uma eternidade até surgir em um Honda Civic e nós entramos olhando ao redor, aparentemente ninguém pareceu perceber nada, pois estávamos em uma área mais deserta e escura do lugar.

Quando chegamos aos portões, Jill foi para o banco do carona e eu me escondi na parte de trás, me deitando logo atrás dela. Os guardas começaram com boa noite, mas assim que perceberam começaram com a cortesia.

– Boa noite, princesa Dragomir, guardião Castille.

– Boa noite, nós estamos em uma missão para a rainha.

O guarda então ficou em silencio, esperando por mais informações que é claro já estavam prontas para ser solta, se ele perguntasse. Mas a questão é que vendo Jill, ele não se atreveu. Ele apenas se manteve em silencio e eu adoraria ver seu rosto e saber o quão conflitado estava, mas então Eddie também falou.

– Ordens da rainha, preciso leva-la a um lugar. Informação confidencial. Se você quiser checar... Mas nós estamos um pouco sem tempo.

– Não, tudo bem. Boa noite, princesa.

– Boa noite, senhor. – Jill respondeu e aposto que deu um de seus sorrisos enérgicos.

Me mantive na mesma posição até Jill me avisar.

– Estamos do lado de fora, pode respirar.

E foi isso que eu fiz. Baixei o vidro do meu lado e respirei fundo o ar com cheiro de chuva que a Pensilvânia me oferecia. Eddie dirigia lento demais para mim, mas saber que eu tinha finalmente cruzado os portões, me fez ter a sensação de adrenalina que eu tanto sentia falta.

Depois de ter comprado um notebook, dois despertadores e descoberto o horário em que eu estava e o horário de Omsk, entre algumas outras coisas além das que Jill comprou, nós nos sentamos e pedimos comida de fast-food. Eddie, eu pude perceber, era muito mais que um guardião devotado a sua tarefa, ele também nutria um amor platônico por Jill. Mentalmente fiz notas para interrogar Jill quando estivermos a sós e saber se ela também gosta dele.

– Jill, já são oito horas. Acho que devemos voltar. – Eddie disse, enquanto sentado à mesa. Ele se mantinha sempre na posição de guardião alerta.

– Eddie, nós nem compramos roupas ainda! Ana precisa de roupas novas para a St. Vlad – ela disse num beicinho.

– Preciso? – eu perguntei.

– Claro que sim!

Eu dei uma olhada em minhas roupas tentando não me sentir mal e depois olhei para ela.

– Ah, não é que as suas roupas não sejam legais, mas é que... bem, você poderia gostar de comprar algo novo. – ela começou a falar como se pedisse desculpas.

– Tudo bem, mas eu fico com minhas roupas mesmo. – eu dei de ombros – Me sinto bem com elas e qualquer coisa, eu posso costura-las.

– Okay. – Jill respondeu encerrando o assunto.

Nós comemos e então voltamos para o carro. Sem incidentes ou nada fora do plano, Eddie parecia finalmente relaxado e eu não pude deixar de pensar no que aconteceria se eu simplesmente tivesse fugido no shopping. Mas algo agora me fazia querer ficar, seja pensar no pedido da minha mãe ou o que eu prometi ao Abe, eu agora queria provar que eu era capaz de me manter nessa vida. Nós voltamos, passando pelos mesmos guardas – que aparentemente acharam que faziam parte do “segredo da rainha” e não contaram nada a ninguém ou muito menos checaram com outros guardas – e Eddie fez um percurso maior nos levando para uma entrada subterrânea onde ficava a garagem.

Lá haviam diversos carros, todos novos, limpos e na cor preta ou grafite e eu mais uma vez achei tentador pegar algum desses e fugir desse lugar, mas nós descemos do carro, pusemos tudo em sacos pretos – como os de lixo – que compramos e eu e Eddie carregamos até o hotel. Quando Marlene nos perguntou para onde íamos a resposta foi quase uníssono:

– Ordens da rainha. – e depois eu acrescentei – Ganhei algumas coisas para estudar, para quando eu entrar na academia.

Ela balançou a cabeça em confirmação e logo depois o telefone tocou e ela teve que atender, nós fomos até o elevador e demos de cara com Rose, o que deixou Jill e Eddie quase visivelmente desesperados.

– Hey, fui até o seu quarto, mas você não estava – ela disse e eu entrei no elevador, o que fez com que eles também saíssem do transe e entrassem.

– Eu fui até o quarto de Jill – eu disse, começando a inventar algo.

– Ah, o que tem nas sacolas? – ela perguntou.

– Roupas que Jill me arranjou. Ela acha que as minhas não prestam – eu disse, fazendo todos descontraírem.

– Hey, eu não disse isso! – Jill se defendeu.

E assim, nós estávamos novamente em segurança.

– Se eu soubesse, bem, se você quiser eu posso te arranjar algumas também. Na maior parte do tempo eu uso a dos guardiões mesmo. Ou você poderia pedir para que alguém te leve até o shopping para comprar o que precisa, tenho certeza que Abe gostaria que você não sentisse falta de nada enquanto está aqui – Rose disse.

Eu me senti um pouco culpada por ela estar sendo tão legal, mas resolvi continuar jogando.

– Foi isso que eu tentei, eu pedi ao Abe para me levar, mas ele estava ocupado, então Jill me disse que teria roupas para me arranjar. Agora está tudo bem, só preciso experimentar e guardar – eu disse e dei de ombros.

– Certo, então eu posso pedir algumas horas para levar você até o shopping. Só me diga quando quer ir.

– Semana que vem, por mim está ótimo – eu sorri e entrei no quarto.

– Agora eu vou deixar vocês, você já está em boa companhia – Rose disse com um sorriso e saiu.

Nós ficamos em silencio no meu quarto, segurando as sacolas até que Jill falou:

– Mais alguém está se sentindo mal por isso?

– Pra caramba. – eu disse e Eddie confirmou – E agora o problema vai ser inventar como eu arranjei um computador e as outras coisas.

– Pode dizer que eu te arranjei – disse Eddie – Agora eu vou... lá fora.

E então ele saiu, nos deixando a sós.

– Ele é sempre tão...

– Hey, ele é legal – Jill defendeu.

– Eu ia dizer “sério” – eu impliquei.

Tiramos as coisas da sacola e eu comecei a ajeitar os despertadores pondo um no horário em que eu estava e outro no de Omsk. Também pus no meu celular alarmes para começar a me acostumar, fazendo uma agenda para minha nova vida. Jill me ajudou e fez uma a longo prazo, me dizendo algumas coisas dos horários da academia.

Depois disso a vida se tornou quase fácil, eu consegui um bom horário para falar com meus pais quase todos os dias em vídeo-chamadas, ao menos uma vez na semana minha mãe me puxava para um sonho e às vezes meu pai também era posto neles, Jill e eu nos encontrávamos todos os dias, eu passei a conhecer a Corte e achei um bom lugar para ficar sozinha – o terraço do hotel onde eu estava e até mesmo Eddie parecia ser mais legal comigo. Ninguém mencionou nossa fuga, mas eu e Jill chegamos a conversar sobre repetir esse feito na escola ou talvez até mesmo antes de irmos para lá.

Era sexta-feira e começava meu ultimo fim de semana na Corte. Logo depois de ter voltado para o quarto eu vi na minha porta, algumas caixas com meu nome e trouxe para dentro. Algumas continham livros e mais material escolar – ninguém sabia que eu já havia comprado boa parte disso em minha fuga – e outras continham papeis e folhetos da escola. Nas ultimas, encontrei o uniforme e tive que me lembrar do quanto minha mãe parecia feliz por eu estar me adaptando para não por fogo naquilo tudo. Também havia uma espécie de uniforme de educação física e outros acessórios que eu precisaria. Me perguntei quem teve a ideia maravilhosa de só deixar essas caixas e sair sem me explicar nada e pude apostar que isso seria obra de Abe. Ele saberia o quão... enfurecida eu ficaria ao olhar aquilo tudo. Depois de muitas respirações, eu me senti controlada e me propus a experimentar o uniforme. Eu me sentia presa e empacotada. O uniforme parecia estar nas minhas medidas, mas estava apertado nos lugares onde eu tinha curvas e me olhando no espelho, eu parecia desajeitada e infeliz. Prendi o cabelo com as mãos e dei uma boa olhada novamente. Balancei a cabeça e resolvi deixar para lá, começando guardar os papeis e folhetos, até que um papel caiu no chão e quando fui apanha-lo, li que eram meus horários:

Gym Classes

Cultura Moroi 1

Pré-cálculo

Artes Eslavas

Literatura Colonial Americana

– almoço -

5º Reforço em Matérias Básicas (continua até o sábado)

Técnicas de Combate Básico para Guardiões

Teoria do Guarda-Costas e Proteção Pessoal

Musculação e Condicionamento Físico

Extra Guardian Classes

Eu li e reli aquele papel sem acreditar no que eu estava lendo e calcei um par de tênis sem ligar para como eu estava vestida. Bati na porta do quarto de Abe, mas como ninguém me atendeu dei meia volta e fui até a recepção, encontrando Simon o outro recepcionista, um Moroi francês que sempre parecia irritado, ao invés de Marlene e ele não costumava ser muito gentil comigo porque eu e Jill sempre fazíamos barulho depois dos horários permitidos.

– Boa noite, sabe onde posso encontrar Abe?

– Ibrahim, Sr. Ibrahim Mazur? – ele me corrigiu.

– É, é.

– Ele saiu.

– Isso eu pude perceber, eu fui até o quarto dele e ele não estava. – eu disse tentando conter minha raiva.

– E então... – Simon parecia impassível.

– Preciso que me diga aonde ele está.

– Ele foi até o prédio principal, aparentemente a rainha está em reunião com algo que é do interesse de todos.

Ótimo, se era do interesse de todos Janine e Rose também estariam lá. Estava na hora de uma reunião de família.

Os guardas não me deixaram entrar na reunião, o que só serviu para aumentar a raiva que eu sentia. Ao sair do hotel eu lembrei que havia me esquecido de por meu anel, então meu temperamento estava no limite. Eu me mantinha lembrando da promessa que fiz comigo mesma de não desistir, mas desistir agora não era exatamente o que eu queria.

Quando a reunião terminou, eu estava em pé, ao lado da porta e ao ver Abe e Janine saírem, eu me pus em frente aos dois.

– Podemos falar sobre isso aqui? – eu estendi o papel em minha mão.

– Eu avisei... – disse Abe olhando para Janine.

Janine pegou o papel e leu parecendo não entender.

– É o horário dos novatos e aulas extras para lhe ajudar.

– Isso é... – eu urrei e joguei as mãos para cima – quem disse que eu faria todas essas aulas? Por que eu faria todas essas aulas?

– Porque você precisa. – ela respondeu – Nunca teve nenhuma aula desse tipo e tem muito que aprender. Consegui bons professores para você e todos foram muito gentis em aceitar lhe darem aulas extras.

– Okay para as aulas extras sobre matérias comuns, mas por que vocês acharam que eu gostaria de ter treinamento para me tornar uma guardiã?

– Por que você não gostaria de tê-las? – disse Rose, aparecendo atrás de mim – Fui eu quem ajudou a montar seus horários, achei que você poderia precisar de aulas extras de condicionamento físico porque nunca teve nenhuma.

– E quem disse que eu queria?!

As pessoas começaram a parar para olhar o que estava havendo e Abe abriu a porta da sala de onde saíram novamente.

– Vamos entrar e acabar com esse show aberto ao publico, okay?

Nós entramos e eu me mantive de braços cruzados encarando a eles. Na sala, Lissa ainda estava presente, assim como Jill, Eddie, Dimitri e um Moroi bem vestido de cabelos pretos e olhos azuis.

– Quer dizer que você não gostou dos horários? – começou Janine – Anastacia, a St. Vladmir é uma escola muito boa, você pode aprender bastante lá e se tornar uma guardiã incrível futuramente. Não importa se você ainda não conhece nada sobre o treinamento. Rose passou dois anos fora e conseguiu voltar à forma.

Eu não conseguia acreditar que ninguém tinha percebido o meu ponto.

– Abe, Janine, Rose... Quem diabos disse a vocês que eu quero me tornar uma guardiã?!

Abe parecia já ter previsto como eu reagiria e se mantinha também de braços cruzados, apoiado a mesa que havia ali, Janine e Rose pareciam chocadas.

– Então o que você quer? Voltar para Baia e se tornar o quê? Uma dhampir que depois vai encontrar um Moroi e ter uma penca de filhos? – Rose disse e imediatamente olhou para Dimitri – Nada contra isso, mas você tem talento. Eu sei que tem. Você é forte!

– Quem disse isso? Será que alguém pode parar de prever coisas sobre mim? Eu não sou você, Rose! Pode avisar isso a todos os seus amigos!

O Moroi que eu não conhecia e que estava observando a discussão riu baixo e eu lhe lancei um olhar furioso que o fez rir mais.

– Christian! – Lissa o repreendeu e então falou somente comigo – Anastacia, o que houve? Você quer falar comigo sobre isso.

Eu senti o espirito emanar dela como eu sentia quando minha mãe fazia para me acalmar e me manter no controle, mas dessa vez a minha raiva não seria contida tão fácil.

– Não preciso falar sobre isso, preciso que mudem esses horários imbecis! Eu não vou participar de nada disso, eu me recuso!

– E por quê? Por que você não gostaria de conhecer o programa de treinamento para os dhampirs?

– Porque não é isso que eu quero me tornar. Eu nunca tive a intenção de me tornar guardiã de algum Moroi – eu disse tentando tirar o nojo que veio com as palavras.

Lissa pausou enquanto confirmava com a cabeça.

– Tudo bem. Você pode escolher o que quer fazer com sua vida após sua maioridade. Mas no momento, o que você quer ser ou fazer?

E então foi minha vez de pausar e pensar. O que eu queria ser? Não queria ser a guardiã de ninguém. Ser escolhida por um Moroi que me faria de cão de guarda e estar presa a ele, além de ter que defende-lo. Não queria ser uma dhampir da Baia que vive para esperar o seu par “ir visita-la”. Não queria ser como Oksana e Mark, por mais que eu os amasse, eu me recusava a ideia de me manter escondida na floresta e nunca sair dali. O que eu queria fazer então? O que eu queria ser? Livre, o pensamento me veio. Eu queria ser livre para decidir o que eu faria. Livre para ir aonde eu quisesse, sem medo de desapontar alguém ou ter que fugir de onde eu estava. Dizer isso seria complicado, então eu optei pela minha sinceridade.

– Eu não sei. – eu disse depois de um tempo.

Lissa mais uma vez considerou minha resposta, enquanto olhava para Rose em alguma conversa particular.

– Então, o que acha de frequentar as aulas por teste? Vai fazer bem que você tenha autodefesa lá fora, de qualquer maneira. É um mundo perigoso. Você pode precisar disso. Então você vai frequentar as aulas, mas se não quiser continuar nelas vai poder parar. Contanto que arranje novas aulas para preencher seu tempo. Acho que ninguém naquela escola vai permitir que você fique apenas com “tempo livre”. Pode concordar com isso? – Lissa me disse, me encarando com seus olhos verde jade da mesma cor que Jill.

Eu sabia que ela estava usando de compulsão para me acalmar e sabia isso era errado e injusto. Mas até agora, ela parecia ser a única a ter me dado uma boa opção. Eu continuava detestando a ideia de ter treinamento para guardiã, mas saber que eu poderia desistir a qualquer momento fazia com que eu me sentisse mais confortável com a ideia. Então eu aceitei a proposta.

– Sim. Por mim tudo bem. Obrigada. – eu disse e fui em direção à porta, a raiva ainda estava em mim, mas eu estava começando a recuperar o controle.

– E eu apostando que uma versão mais nova de Rose Hathaway seria mais calma e equilibrada. – disse o Moroi que se chamava Christian.

Eu me virei para aquele homem com um sorriso cínico, me observando.

– Vá se foder! – e lá se foi meu autocontrole enquanto eu saia pela porta.


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