Shadows of the past escrita por larissabaoli


Capítulo 11
Capitulo 11




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Os últimos dias foram no mínimo estranhos. E eu tive a sensação de ser uma espécie de cobaia num experimento cientifico. Todos os dias meus pais biológicos vinham até a casa dos meus pais adotivos e nós conversávamos ou lidávamos com a papelada. Primeiro Abe conseguiu alguém para fazer um exame de sangue que comprovasse o que todo mundo já sabia, mas que eu ainda não conseguia acreditar. Depois eu tive que fazer documentos originais pela primeira vez e a burocracia não me pareceu nenhum pingo atraente. Eu realmente preferia receber meus documentos das mãos de Abe e já prontos, mas segundo ele, ele já estava acelerando o máximo para que a documentação saísse logo. Mantive meu primeiro nome original, acrescentando os sobrenomes deles e dei adeus a minha data de aniversário em maio. Já que segundo os documentos de Janine, eu nasci em fevereiro. Ter meus documentos originais em mãos parecia mais como receber documentos falsos.

Mesmo assim eu resolvi que aceitaria o conselho de Yeva e daria uma chance às mudanças que estava acontecendo comigo. Rose me desculpou depois de eu ter voltado para casa e voltou a ser... Rose.

– Você vai gostar da St. Vladmir. Quer dizer, você vai andar com pessoas da sua idade e conhecer muita gente, talvez possa se tornar amiga de Jill. Qualquer problema que tenha, é só falar com Alberta e ela vai me passar o recado. Se sentir que alguém está intimidando você, não pense duas vezes antes de me ligar. Eu sei como lidar com as vadias daquela escola e fique longe da família Zeklos e Sarcozy, mas se eles se meterem com você, me informe também. – ela dizia enquanto eu observava minha mãe e – bem, minhas mães – conversarem.

Era uma das noites em que eles apareciam para conversar e tentar fazer com que eu me sentisse bem com tudo isso. A melhor parte de observar eles tentarem serem amigos era ver meus pais conversando. Abe era excêntrico e sempre tinha os assuntos mais esquisitos para falar, enquanto Mark era calmo e por muitas vezes ficava constrangido com o que Abe falava.

Quanto a tentar conhecer a minha mãe biológica... era algo difícil. Eu sempre fui acostumada a Oksana demonstrando carinho e preenchendo os silêncios das nossas conversas ou simplesmente me dando espaço para ficar na minha, mas Janine – eu ainda não havia conseguido chama-la de “mãe” – era como eu. Ela tentou se aproximar de mim algumas vezes, mas parecia desconfortável e estranho. Rose havia me dito uma vez que ela não costumava ser o tipo de mãe comum e eu agora percebia as diferenças entre ela e Oksana e não podia deixar de comparar e até ficar com um certo medo.

Os dias passaram rapidamente e logo Rose, Dimitri e Janine precisavam voltar para a Corte. Arrumar as malas foi difícil para mim e precisei pedir ajuda para fazer, decidindo o que eu levaria e o que eu deixaria aqui. Segundo o acordo que meus pais fizeram, eu ficaria na escola, mas passaria as férias aqui em Baia e eu me sentia grata por entrar no começo do ano letivo, já era ruim o suficiente eu ser “a garota nova”. Outro acordo, dessa vez feito por mim, foi que se eu não me adaptasse a vida na escola, eu teria direito a voltar para casa. Pena que eu tive Abe para barganhar isso comigo e ele me fez concordar que se eu não me adaptasse, eu não fugiria para cá, mas sim iria até um deles e pediria para voltar. A cada dia eu me sentia mais sufocada e ainda nem havia cruzado os portões da escola.

Me despedi dos meus pais prometendo que voltaria assim que pudesse e descobri que esse era o motivo de eu sempre fugir de casa ao invés de simplesmente avisa-los que iria embora. Ver minha mãe abraçando meu pai depois que me despedi, fez o aperto no meu coração durar as 30hrs de viagem e cruzar a fronteira dos países não teve a emoção que achei que teria. Em maioria dos voos, Abe e Janine sentaram na poltrona a minha frente e Rose e Dimitri atrás de mim e eu me senti sendo escoltada para uma prisão. Depois de algumas horas e duas paradas em aeroportos diferentes eu estava começando a cochilar, quando vi Abe sentar ao meu lado.

– Eu deveria ter conseguido o jato novamente – ele disse enquanto pegava uma revista para ler.

Eu bufei e dei um sorriso curto.

– Não estou com pressa em virar prisioneira, Abe.

Ele largou a revista e se virou para mim.

– Hey, quando eu fui lhe tirar da prisão era “pai”, mas agora é “Abe”?

– Bem, agora você está me pondo em uma prisão, então...

Eu dei de ombros e ele continuou agora como se estivesse falando para si mesmo.

– De todas as vezes em que tentei cuidar de você, eu nunca imaginei que havia um motivo por trás disso. Todo esse tempo eu estava perto da minha filha e não sabia. Também não posso deixar de pensar no que aconteceu...

– Abe, não. – eu disse, me sentando ereta.

– Eu estava me perguntando se deveria contar isso para sua mãe, quer dizer, descobri que Mark e Oksana sabem, eu sei, mas Janine...

– Ela não precisa saber.

– Ela é sua mãe.

Eu respirei fundo e tentei pensar no que poderia dizer.

– Abe, eu não quero que conte a ela. Se um dia precisar, eu conto. – eu afirmei.

– Eu me arrependo de não ter matado ele. – ele me disse depois um tempo.

Eu o encarei.

– Você fez o suficiente. Eu lembro de terem me dito que ele passou dois meses no hospital ou algo assim.

– Não parece o suficiente. E eu já fiz muito pior com o homem que levou você. – ele disse simplesmente, me causando arrepios e depois de um tempo continuou – E Rolan se recuperou, mas você-

– Eu estou bem, Abe. – eu disse querendo finalizar a conversa – Já passou. Eu gostaria muito de por um fim nisso tudo agora que vou começar uma vida nova. Então se você puder não falar nada a ninguém ou não falar mais sobre isso, eu agradeceria.

Ele pareceu surpreso e depois de um tempo deu um dos seus sorrisos irônicos.

– Você realmente pertence a essa família. Não sei como não percebi isso antes – ele disse e depois se levantou.

Eu tentei não revirar meus olhos para o conceito de “família” que Abe parecia ter e depois dessa conversa, me mantive pensando em tudo o que foi falado e não pude deixar de pensar que talvez eu mesma desejasse que Rolan ou esse homem que me levou sofressem e pagassem pelo que fizeram. Pena que enquanto eu pensava nisso e em castigos e punições das diversas formas, a escuridão começou a me deixar com dor de cabeça e logo eu abri minha mochila, procurando por meu anel de proteção. Esses amuletos agora deveriam ser feitos pelos usuários do espirito que Rose e meus pais conheciam, uma delas sendo a própria rainha Vasilisa, mas para mim ainda era estranho ter que recorrer a alguém para consegui-los. Segundo o que minha mãe tinha dito a Janine, pelo menos uma vez a cada três meses, eu teria que ir até a Corte para que alguém me ajudasse com os “problemas de shadow kissed”, o que tornava tudo muito pior. Era horrível ter que depender de pessoas que eu nem sequer conhecia.

Os voos terminaram na Pensilvânia e nós tivemos que seguir o resto do caminho de carro quando eu finalmente pude aproveitar a paisagem. Não que houvesse muito para ver, pois não paramos em nenhum lugar por muito tempo. Eu não fazia ideia de para que cidade estávamos indo e apenas lia as placas que estavam na estrada, mas o solo americano havia me surpreendido por ter o clima parecido com o que eu estava costumada, pelo menos onde eu estava. Quando chegamos já era noite, e não pude deixar de me sentir um pouco intimidada. Essa era a Corte de toda a sociedade em que eu vivia e eu me senti nervosa em pensar que teria que passar um mês ali.

Conforme passávamos pela segurança – um processo exaustivo para mim, percebi que Rose, Janine e Dimitri eram como pessoas famosas ali. Todos os cumprimentavam e acenavam enquanto passávamos e Dimitri foi o primeiro a se separar do grupo.

– Não se deixe intimidar, Ana. – ele me disse antes de virar as costas e ir.

Como não? Eu quis perguntar, mas me mantive. Nós nos mantemos andando até que um guardião se aproximou de Janine e a chamou, nós paramos enquanto o guardião conversava com ela e ela parecia um tanto aborrecida, por isso. Depois que ele se foi, ela veio até nós.

– Eu sinto muito, preciso me atualizar com algumas coisas – ela disse e parecia sem jeito.

– Tudo bem, eu levo Ana até o quarto. Depois quero apresentar ela para as pessoas – Rose me abraçou de lado e eu tentei forçar um sorriso e não uma careta.

– Rose, deixe que ela descanse. Foi uma viagem longa – disse Janine, me observando. Depois ela pediu desculpas novamente e saiu.

Nós entramos em um bloco que aparentemente era uma espécie de hotel para convidados, Rose me deu as chaves e Abe seguiu atrás de nós. O lugar era incrível, isso eu tinha que admitir. Corredores largos, quadros pendurados nas paredes, mesas com jarros de rosas impecáveis, lustres luxuosos. Por instinto, eu me comecei a rodar meu anel no dedo em que havia posto, até que entramos no meu quarto.

– Wow, isso é... algo – eu disse sem palavras.

O quarto, era praticamente o tamanho da casa em que eu vivia na Baia, com uma decoração branca e cor de areia. Rose abriu as janelas e eu pude ver alguns outros blocos como esse em que eu estava. A Corte era enorme e iluminada, um lugar fascinante, mas o quarto ainda me incomodava.

– Eu consegui esse quarto para você, estou no mesmo corredor e pode vir falar comigo se precisar de alguma coisa – disse Abe.

– É, claro – eu disse, enquanto andava e observava a decoração.

– Se me permitem, vou deixar vocês. Como Janine disse, a viagem foi longa. – Abe disse, dando um abraço de lado em Rose e vindo em minha direção para o mesmo.

Foi algo estranho e um pouco desconfortável, mas não foi ruim. Quer dizer, ele nunca havia me abraçado assim antes de saber que eu era filha dele, mas nós tínhamos uma amizade que permitia que esse contato não fosse tão ruim assim.

Depois que ele se foi, éramos apenas Rose e eu no quarto e eu logo abri a mala e comecei a por minhas roupas no lugar, além de sentar e passar uma mensagem para minha mãe, por não saber que horas eram exatamente na Sibéria. Eu estava sentindo sua ansiedade e esperava que ela pudesse descansar depois que recebesse noticias minhas.

– E então? Como se sente? Eu sei que você está cansada, mas... Você se importaria de ir comigo conhecer meus amigos? Eu falei bastante de você nas ligações e queria que você os conhecesse também.

Eu considerei inventar alguma desculpa para não ir, mas depois de passar mais de 30hrs sentada, eu realmente precisava me manter em pé por um tempo.

– Certo, vamos lá – eu disse dando de ombros.

Quando eu era criança, sempre assistia filmes infantis que envolviam um palácio, uma rainha e uma princesa, mas isso era bem mais do que eu já havia visto. A segurança deixou Rose passar, mas sempre pareciam me observar dos pés a cabeça o que me deixou um tanto constrangida e irritada e quanto mais isso acontecia, mais eu encarava a esses guardas de volta. Até Rose abriu uma porta para um ambiente que parecia uma biblioteca. Havia ali apenas uma Moroi, loira e alta vestida com uma saia azul marinho e uma camisa branca e assim que ela viu Rose correu para abraça-la.

– Rose! Senti sua falta!

– Hey, Liss – disse Rose sorrindo enquanto a abraçava, depois ela se virou para mim e me apresentou – Essa é Ana, minha irmã. Ana, essa é a Lissa. Também conhecida como... rainha. – ela disse entre uma risadinha.

Eu não pude deixar de ficar de boca aberta por um tempo e não saber o que falar a seguir, então optei pelo que eu sabia sobre realeza.

– Boa noite, é um prazer conhece-la, alteza – eu disse e estendi a mão, porque eu poderia até estar me sentindo intimidada, mas de maneira alguma ajoelharia.

– Rose, não precisa me apresentar dessa forma. É um prazer conhece-la, Ana. – ela sorriu e depois de um tempo me observou – Você realmente parece muito com Rose, espero que possa aproveitar sua estadia aqui. Soube que vai entrar na St. Vladmir, certo?

Eu afirmei.

– Muito bem, às vezes sinto falta dos nossos dias lá – ela disse, olhando para Rose, partilhando de uma piada interna.

– Tá brincando? Aquele lugar era... – Rose que estava rindo, se interrompeu depois de olhar para mim – Ah, nós definitivamente deixamos nossa marca lá.

Conversamos por um tempo, Rose e Lissa passaram a me dar dicas de como me comportar na escola enquanto lembravam de coisas que aconteceram enquanto estiveram lá e eu me mantive mentalmente fazendo anotações. Lissa era delicada e educada, mas era bem jovem. Na Baia todos a adoravam, mesmo sem nunca tê-la conhecido e não pude deixar de ouvir falar sobre todos os assuntos em que ela estava envolvida. Um desses assuntos, era que sua permanência no trono, basicamente dependia da existência de sua irmã mais nova, que Rose havia me dito se chamar Jill. Eu não a conhecia, mas pelo que já tinha ouvido falar sobre ela, eu sentia uma certa pena das duas. Deveria ser horrível ter todo esse poder em mãos e pior ainda para Jill saber que ela uma espécie de ancora para sua irmã.

Ouvimos alguém bater a porta e logo após uma mulher ruiva que me lembrou minha mãe entrou na sala.

– Rose, Dimitri estava a sua procura.

– Oh – Rose se levantou e depois olhou para mim, sem saber o que fazer.

– Pode ir, eu lembro o caminho de volta – eu disse sem ter certeza se eu realmente lembrava.

– Oh, você deve ser Anastacia! – disse a Moroi, se aproximando de mim – Eu sou Sonya, é um prazer conhece-la. Rose, pode ir. Eu me encarrego de levar ela para o quarto ou para onde precise.

Eu parecia assim tão incapaz? Será que todo mundo naquele lugar já sabia da minha existência?

– Oi, Sonya. Pode me chamar de Ana. – eu disse com um sorriso curto.

– Vejo você depois, se precisar de qualquer coisa, pode ir até o bloco dos guardiões – disse Rose enquanto saia.

E depois éramos eu e duas estranhas.

– Não precisa se sentir desconfortável, você precisa de algo? Não deve ser uma mudança fácil, certo?

Eu estava com duas usuárias do espirito na sala, digamos que não havia como eu mentir.

– Não, não mesmo – eu disse num suspiro.

Lissa e Sonya sorriram e depois de um tempo passaram a me fazerem perguntas que com qualquer outra pessoa eu não teria me dado ao trabalho de responder, mas naquele ambiente, uma das duas provavelmente estava usando o espirito para me deixar confortável e me acalmar. Alguns Moroi engravatados começaram a chegar e Lissa nos pediu licença, mas Sonya disse que era melhor nós duas irmos para outro lugar e então nós saímos.

Sonya me lembrava tanto minha mãe que passei a sentir um aperto no peito enquanto ela me mostrava os lugares, preenchendo meu silencio com informações sobre sua própria vida e pedido de noivado recentemente feito. Ela parecia extremamente feliz e seu noivo Mikhail parecia uma boa pessoa por tudo o que ela havia me falado. O que mais me surpreendeu em sua historia foi saber que ela também havia sido um Strigoi por um longo tempo e embora Rose tivesse me falado algo sobre sua restauração, eu não podia imaginar a mulher que estava aqui na minha frente se tornando algo tão monstruoso.

– Agora, creio que você precise de um bom descanso não é mesmo? – ela disse e percebi que já estávamos na frente do bloco onde eu estava hospedada.

Eu assenti.

– Então foi um prazer conhece-la, Ana. Gostaria de ainda dar aulas na St. Vladmir para que pudéssemos nos ver mais vezes.

Ela me disse que costumava dar aulas de biologia na academia, mas agora estava trabalhando em um projeto para a Corte.

– Bem, eu vou ter que vir aqui muitas vezes, de qualquer maneira.

– Uh, sim. Sobre isso também... Se sentir alguma coisa, pode vir me visitar. Eu posso ajudar com sua escuridão.

– Obrigada. – eu acenei e entrei no bloco, indo para o meu quarto.

Depois de tomar um banho, eu vesti um short e uma camiseta velha para dormir, sequei os cabelos o máximo que pude com uma toalha e peguei meu celular para ler a mensagem que minha mãe havia me enviado:

“Fico feliz que já tenha chegado, agora descanse. Já sinto sua falta. Seu pai também.”

Eu sorri, ainda me sentindo relaxada pela presença do espirito e me deitei caindo no sono com o celular próximo a mim.

Quando eu me acordei, o sol estava nascendo lá fora, ou seja: madrugada para os Morois. Eu tinha certeza que ia demorar a me adaptar a esses horários. Me levantei e depois de escovar os dentes e por uma roupa descente, saí para conhecer o lugar sozinha. Eu me sentia melhor desvendando o local por mim mesma. Alguns guardiões andavam de um lado para o outro e outros estavam de guarda em outros lugares por onde eu passava. Não fazia ideia de onde poderia conseguir alguma comida, mas toda essa mudança havia mexido com meu estomago e eu me sentia despreparada para experimentar a culinária americana. Quando vi alguns Moroi arrumadinhos, percebi que eles estavam saindo de uma festa e tentando não cruzar com eles eu tropecei – literalmente – em uma pessoa que estava deitada no gramado da residência, caindo em cima das pernas dele.

– Ouch! Olha por onde anda ou pelo menos aonde pisa – disse o bêbado, esfregando a perna em que eu havia tropeçado.

Eu me levantei depressa e o encarando. Ele era bonito. Tinha olhos verdes e cabelos castanhos e apesar de bem vestido, parecia abatido e tinha uma barba rala por fazer.

– Me desculpe – eu disse, agora me afastando e me mantendo a uma distancia segura.

Ele se levantou cambaleando, mas não conseguiu então se manteve sentado.

– Tudo bem.

– Hey, você não que devia estar aqui... O sol vai nascer logo e acho que vocês não se dão muito bem com o sol, não é mesmo, quer que eu chame alguém para ajudar você?

– É engraçado. – ele me disse depois de um tempo me observando.

– O quê? – eu me senti confusa.

– Enquanto sua irmã é a causa de eu estar assim, e você de todas as pessoas desse lugar é quem aparece tentando me ajudar – ele me disse e tentou se levantar novamente, cambaleando para a cerca da casa.

Sério? Mais uma pessoa que sabia quem eu era? Isso estava começando a me dar nos nervos...

Eu o peguei antes dele cair de cara no chão e senti seu hálito de álcool em cima de mim.

– Okay, vamos levar você até algum guardião – eu disse enquanto o apoiava e seguia sem saber para onde.

Ele era pesado e aparentemente nenhum dhampir ligava se havia um Moroi bêbado cambaleando por aí ou aparentemente todos estavam acostumados a ver esse Moroi em especial nessa situação, isso me incomodou um pouco, mas eu estava mais preocupada em manter meu rosto distante dele e ao mesmo tempo sustenta-lo para que não caísse, até que ouvi uma voz feminina atrás de nós.

– Adrian! – disse uma menina de cabelos loiros cacheados, vindo em nossa direção. Ela aparentava ter a minha idade e também estava bem vestida. Ela veio até nós, com um guardião atrás dela, esse pegou Adrian que ainda falava alguns delírios e o segurou.

– Eu achei ele no gramado daquela casa – eu disse apontando.

– Obrigada. Ele deveria vir nos encontrar, então nós estávamos o procurando. Eu devia saber que ele estaria em alguma festa... Hey, você é a irmã da Rose, não é? Eu deveria ter te conhecido ontem, mas... Meu nome é Jill – ela me disse, estendendo a mão com um sorriso.

– Ana – eu sorri de volta, tentando não ficar incomodada com o fato de todos saberem da minha existência – E eu tentei carregar ele para que ele não ficasse no sol...

– Ah, esse é Adrian. Ele tem estado... para baixo, ultimamente.

– É, eu percebi. Ele disse que a culpa era da minha irmã...

Ela mordeu o lábio sem saber como deveria me contar.

– É, eles namoraram, mas aí ela voltou com o guardião Belikov e agora ele... – ela suspirou – não está muito bem. Eddie, leve ele para casa. Eu vou ficar bem.

Eddie, o guardião de Jill, saiu arrastando Adrian para casa sem a dificuldade que eu estava tendo.

– E então, tudo bem? – eu observei eles irem e depois encarei os dois grandes olhos verdes de Jill me encarando.

– Sim...? Na verdade, eu estava atrás de um lugar para comer. Sabe onde posso ir?

– Claro, vamos por aqui – ela disse e passou a me guiar.

Jill parecia com Lissa, as duas tinham cabelos loiros e olhos verdes-jade, eram educadas e elegantes, mas Jill... era uma tagarela.

Ela me contou tudo sobre Adrian e Rose, sobre sua irmã, sobre como ela havia sido descoberta por Rose e como ela se sentia sobre ter se tornado princesa de uma hora para outra e tudo isso antes mesmo do que havíamos pedido no refeitório ter chegado. Alias, para minha primeira refeição, eu escolhi “apostar no que é seguro” e pedir leite e biscoitos. Jill achou minha escolha engraçada, mas ela mesmo pediu somente um yogurte. Depois que comemos, ela voltou a falar, dessa vez sobre sua ansiedade para voltar para a academia.

– Você vai gostar, quer dizer, vai ser um novo mundo para você que nunca frequentou uma escola, mas...

– Eu frequentei uma escola, quando eu era menor – eu disse na defensiva.

– Rose me disse que...

– Rose falou bastante de mim, para todo mundo pelo visto.

– Não pense mal, ela só está feliz e deixou isso bem claro nas ligações que tinha com Lissa. Eu estava presente e acabei ouvindo tudo ou maioria das coisas. – ela deu de ombros.

– Isso no meu país se chama bisbilhotar – eu disse estreitando os olhos.

Ela sorriu.

– Aqui se chama “se manter informada” – Jill disse com convicção.

Eu ri.

– Rose e Lissa acham que isso é uma coisa boa. Ela e Rose se conheceram na St. Vlad e depois Rose passou a guardiã de Lissa, então elas acham que depois que nos formarmos...

– Wow, o quê? – eu disse sem querer acreditar.

– Ah, bem... Eddie já é meu guardião, mas-

– Quem disse que eu quero ser sua guardiã? Ou guardiã de qualquer pessoa?

Jill parecia não entender.

– Me desculpe, eu não devia ter falado nada.

– Olha você é legal e tudo, mas eu não estou entrando na academia para ser guardiã de alguém. Eu estou fazendo isso para conseguir um diploma e depois que eu tiver mais de dezoito anos vazar daqui.

– Tudo bem, eu acho que ouve um mal entendido. E eu também quero viajar. Quer dizer, depois que a Lissa conseguir mudar a lei que me prende a ela. Existem tantos lugares e tantas coisas que eu quero fazer – ela me disse pensando alto.

Eu ainda sentia raiva do que eu tinha ouvido, mas Jill era o tipo de pessoa que não dava para guardar mágoa.

– É, um mal entendido... Jill, quantos anos você tem?

– Quinze – ela me disse, confusa com minha pergunta.

– Eu também. Vamos fazer um acordo: Quem fizer dezoito primeiro, espera pela outra, okay? E aí viajamos – eu disse, sem pensar exatamente no que estava planejando – Acho que sua irmã já conseguiu tirar essa lei estupida de questão até lá.

– Sério? – ela já parecia animada.

Eu confirmei, mas pensei antes.

– Sério, mas não vai mandar em mim ou me fazer sua guardiã.

Ela confirmou com a cabeça.

– Fechado.


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