Caminhamos pelos corredores da escola em completo silêncio, Alice e Biah estavam bravas demais para dizer algo e eu não sabia o que dizer.

Chegamos em uma praça próxima ao colégio e nos sentamos em um banco afastado dos outros.

– O que vocês querem? Será que dá pra falarem logo? - Biah perguntou ainda estressada, talvez mais do que antes.

– Não precisa ficar tão nervosa Biah, nós só queremos conversar, somos suas amigas. - Alice tentou tranquilizá-la.

– EU JÁ DISSE QUE NÃO TENHO NADA PARA FALAR COM VOCÊS. - ela gritou.

– Tem sim Biah, por favor, nos escute. - Alice continuou no mesmo tom de antes.

– Diga logo, eu tenho mais o que fazer. - Biah continuou rabugenta.

– Não precisa falar assim, o.k.? Nós só queremos te ajudar. - eu disse, me exaltando.

– Calma Dezza, não fique nervosa também, não vai ajudar. - Alice tentou me acalmar.

– Vamos, digam, eu estou esperando.

– Nós percebemos que você está um pouco diferente Biah. - Alice começou, sendo interrompida pela mesma rapidamente.

– Diferente? Diferente como? Não estou diferente!

– Está sim, nós percebemos. - eu completei.

– E nós queremos ajudá-la, que tal irmos a uma lanchonete para conversarmos melhor?

– Não mesmo, não quero continuar nada. - tentou levantar, mas a seguramos.

– Tudo bem, continuamos aqui mesmo.

– Não quero conversar com vocês! - se debateu, já que ainda a segurava.

– Biah, pare de agir assim, nós sabemos que está com problemas.

– EU NÃO TENHO NENHUM PROBLEMA!

– Tem sim, e está tentando fugir dele.

– Não tenho nada. - disse entredentes.

– Então por que está tentando fugir de nós? Por que não quis ir a lanchonete?

– Não é da sua conta.

– Por que estava no banheiro então? Por que ficou tão nervosa quando nos viu lá?

– Chega de perguntas Alice. - se debateu outra vez.

– Eu sei que você estava vomitando e sei que não come direito.

– O QUE? ESTÁ FICANDO LOUCA?

– Se não fosse verdade você não ficaria tão nervosa. Você precisa se cuidar Biah, precisa ir ao médico, anorexia e bulimia matam.

– EU NÃO TENHO ANOREXIA E BULIMIA!

– Tem sim, e precisa se tratar, nós estamos aqui para te ajudar.
– Não, vocês só querem me engordar.

– Não, é pro seu bem, por que não vai ao médico?

– Porque eu não preciso, não estou doente.

– Por favor Biah. - eu disse, soltando seu braço e pegando suas mãos, a encarando em seguida.

– Escutem bem, eu não estou doente, posso parar quando quiser.

– Biah...

– DROGA, SE SÃO MINHAS AMIGAS DEVERIAM ME APOIAR.

– ESTÁ SE DESTRUINDO!

– NÃO ESTOU, ESQUEÇAM ISSO. - gritou e lágrimas começaram a rolar por seu rosto, ela se levantou e saiu correndo, deixando nós duas sem saber o que fazer.

P.O.V Biah

NÃO! EU NÃO ESTOU DOENTE! Elas estão mentindo! Elas só querem me engordar! Elas não são mais minhas amigas! Elas estão... certas?! Eu estou doente? Não, não pode ser! Eu não estou doente, isso é só uma loucura, eu não estou...

– O QUE VOCÊ FEZ COMIGO? -Gritei com o espelho, no reflexo havia uma garota gorda e feia. Tirei minha roupa e fiquei apenas de calcinha e sutiã, peguei em minhas costelas, no reflexo elas transbordavam gordura, e assim que toquei senti só meus ossos. Olhei para o meu reflexo e pela primeira vez na vida, consegui olhar e ver meu verdadeiro estado: corpo sem estrutura, os ossos aparecendo, meu olhar estava cansado e sem brilho, meus cabelos estavam fracos e quebradiços, meu corpo estava esquelético e pálido. Finalmente pude perceber, estava mesmo doente, quando olhei meus olhos no espelho, eles estavam cansados, sem vida, sem brilho, com olheiras enormes, e com um grande pedido de ajuda estampado nele, elas tinham razão, eu estava doente, eu precisava de ajuda, eu precisava me tratar, eu estava com isso em meu rosto, estava estampado nele um pedido de ajuda.