Instituição JGMB - Interativa escrita por AceMe


Capítulo 14
Não Desvie a Atenção


Notas iniciais do capítulo

Oiê, gente! Esse é o primeiro da meta de 10 capítulos (No Máximo) para acabar a história. Só lembrando que, mesmo se parecer repetitivas ou monótonas algumas partes, pois recoloquei informações que já tinham em outros capítulos, é porque acho que vão ser importantes e quero que fiquem com elas frescas na cabeça para os próximos capítulos.
Boa leitura, :)!



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Jean, Chris, Henry e Ed haviam acabado de chegar ao refeitório e já haviam feito seus pratos. Estavam os quatro indo em direção à mesa em que normalmente comiam quando Ed reparou em algo.

—Não são as pessoas do grupo seis?

As mesas dos grupos cinco e seis estavam unidas como fizeram com as da biblioteca. Olhando melhor, todas as mesas dos grupos que se uniram estavam juntas. Henry assentiu desanimado olhando na direção em que Ed apontava com a cabeça. Ainda estava meio abatido com a ligação que fizera ao pai. Pelo menos não ficou reparando no bife tártaro que estava no bufê (Feito com a temida carne bovina).

—Devem ter achado uma boa ideia nos juntar durante as refeições também. – Chris constatou, mas ao reparar em algo comentou com desgosto. – As meninas não param de bajular aquele Zulu. O que esse cara tem de tão incrível?

Jean sorriu escancaradamente com aquilo. Implicar com quem não aguenta brincadeira, como o Chris, era seu passatempo preferido.

—Está com ciúme porque sua prima está assim também.

—Claro que não!

—Isso só fica melhor. Quer dizer que o ciúme é por outra garota. Quem é? Carol, Nora, Emanuelle... Ouvi falar que Hadassa é mulher também.

—Nem sei por que ainda te respondo.  – Chris ponderou com cara de poucos amigos.

Os quatro caminharam do self-service até a nova mesa. Enquanto Jean se sentava mais distante, Henry e Ed se sentaram juntos entre Arícia e Hyun-Ae (Respectivamente) e Chris se enviou entre Zulu e Arícia como um pitbull.

—Oi, gente! Desculpa o atraso, mas agora já estamos todos aqui! – Falou voltado para Zulu cuspindo saliva nele. – Bem presentes!

Zulu limpou a chuva de cuspe com uma expressão de tacho. “Ele nem ao menos gosta de mim. Como vou descobrir sobre a lista?” — Pensou. Arícia desgrudou o cotovelo da mesa e endireitou-se, como se tivesse saído de um transe, envergonhada com o primo. Antes que pudesse dar uns tapas nele, Henry reparou no prato dela. Salada. Salada, só salada. Nada mais além de salada. E não cobria nem metade do prato. Henry ficou espantado com essa visão e se esqueceu completamente da ligação. Não conseguiu ficar quieto com isso.

Só isso!?— Exclamou. – Por isso as bandejas estavam quase cheias. Como você que come até quase explodir vai se sustentar com tão pouco? Pelo menos largou a carne de vaca. – Ele pronunciou que ela comia “carne de vaca” como se dissesse que ela comia “carne humana”.

Arícia estava no acúmulo da raiva depois dessa. Com um sorriso dissimulado agarrou fortemente o braço do garoto e começou a belisca-lo. Tentou se livrar dela, mas por incrível que pareça, a menina era bem forte, ou o outro era bem fraco.

—O bovino só está brincando. – Bovino era o apelido que Arícia dera a Henry após o mesmo demonstrar aversão a comida feita com esse tipo de carne, mas só ela o chamava assim. – Sou muito controlada quanto a isso. Certo, Henry? – Consertou para não passar a impressão errada ao outro.

—Arícia, está me machucando. Pode parar, por favor?

Ela retirou a mão do braço dele e voltou ao que estava fazendo. Henry observou o estrago ao levantar a manga do casaco. Onde apertou estava vermelho, quase roxo, e com marca de unha. “Se fosse ao contrário aposto que meio mundo já estaria me batendo”. — Pensou e comentou baixo para Ed para que a outra não escutasse.

—Entendo agora por que ela não pegou muita comida. É tanta babação de ovo por esse cara que daqui a pouco vai ter uma omelete de saliva no prato.

—O que disse? – Ed perguntou após uma garfada de macarrão. – Fale alto.

—Esquece. – Henry disse com temor da menina ouvir dessa vez. – Não era importante.

—Parece que estavam famintos. – Comentou Jefferson Rush ao ver os pratos lotados. – Por que não desceram com todo mundo?

—Assuntos pessoais. – Ed respondeu friamente.

Jefferson e Dong-Su trocaram um olhar, em uma conversa silenciosa, os mesmos ainda desviaram um pouco o olhar para Zulu, e o coreano se virou para Miguel na outra extremidade da mesa e questionou baixo.

—Também não perguntou o que tanto faziam sozinhos?

—Sou pago para ser o guia deles, não a mãe. – Deu de ombros. – Sabe, pesquisar por fora e garantir que estão mentalmente bem, e não controlar o quê fazem quando não estudam.

Aaron do grupo seis cochichou para Hadassa ao seu lado: “Talvez se o senhor Tanaka não fosse tão autoritário e intrometido, tipo o senhor Lieber, nós estaríamos bem mais adiantados.” A menina o respondeu com um trocadilho: “Tanakara”.

Ambos riram e abafaram a risada ao perceberem o olhar mortal de Dong-Su sobre eles. Se tinha algo que ele odiava era ter o sobrenome que tinha tanto orgulho ser submetido a esse trocadilho. Mais tarde os dois iriam ver. Isis afirmou com sarcasmo.

—É sempre assim. “Não sou pago para ser a mãe deles”, “Não sou pago para correr pela Instituição atrás de você”, “Não sou pago para aturar vocês brigando”. Existe algo que você faça sem ser pago, afinal?

—Existe. Aguento sua chatice. Ah, não, espera. – Fez uma pequena pausa. – Sou pago para isso também.

—Sorte a sua. Sua chatice aguento de graça. – Revidou.

—Sabe, pensei que depois de ter me reconfortado no corredor você ficaria legal. – Começou. – Mas devia não ter pensado. Não sou pago para ser iludido.

Zulu não sabia o motivo de sua irmã tê-lo reconfortado antes ou de não ter respondido a ele e ter ficado acanhada ao notar que ele os encarava, mas aquilo deu-lhe uma ideia.

...

Margareth desviou por pouco de uma espadada em seu abdômen. Estava recuando e recuando, cada vez mais, dali a pouco bateria as costas na parede. Seu oponente era realmente muito forte, mas na cabeça dela, perder não era uma opção. Finalmente conseguira bloquear um golpe e os afastou novamente em direção ao centro.

Sua dislexia, miopia, a guerra, David, tudo parecia sumir naqueles instantes. As únicas pessoas que restavam no mundo eram ela e seu adversário. Ou então a ajudavam a se concentrar. De qualquer jeito, agora era ela quem estava se dando melhor. Seu rival retrocedia, parecia fazer movimentos mais lentos a cada ataque repelido. Era questão de tempo para que ficasse totalmente cansado. Baixaria a guarda por tempo demais e então ela venceria.

Essa luta toda excitava a rainha. Por mais que fosse desagradável para a maior parte das pessoas que conhecia ter a cabeça quase decapitada por uma espada, para ela era divertido. Seu maior hobby; um hábito. Não conseguia fazer os deveres mentais quando criança, então sempre compensava com os físicos. Brigar relaxa. Principalmente quando a vitória está próxima. Com habilidade excepcional, desferiu mais um golpe, esse que levou o homem ao chão. Estava pronta para terminar com aquilo quando a porta se abriu.

—Majestade, temos que... – A pessoa parou ao perceber a luta que se desenrolava.

A entrada repentina desviara a atenção da rainha, mas não a do adversário. Ele se levantou e desferiu um golpe ainda mais habilidoso que o lançado pela última. Metal raspando metal outra vez. Estando desconcentrada foi fácil para o outro dar-lhe um golpe certeiro. Atingira seu tórax. Acabou. O outro venceu.

—Não... – Ela negava baixo. – Não... Isso não pode estar acontecendo.

—Sim, Margareth VI. Está acontecendo. – Ele fazia que sim por trás do capacete. – Você falhou com seus reflexos de novo!

Os dois retiraram os capacetes e se encararam, a aluna incomodada e o professor com olhar severo. Axel, o instrutor de esgrima, tinha cabelos negros com pontas cinza saindo do couro cabeludo, olhos azuis cansados e um cavanhaque no queixo. Era menor do que a rainha, porém com habilidades muito maiores, parecia mais um daqueles sábios chineses.

Ele tem a treinado todo domingo de manhã já havia seis meses, já que por indicações médicas ela devia praticar esportes defensivos por causa de sua dislexia, para fortalecer a mente, o espírito e o equilíbrio que ela desestabilizou. Dava para ver que seguia essas ordens desde jovem, pois em um canto da sala de treinamento do palácio mostrava suas conquistas: Faixa marrom em judô com 17 anos, coral em jiu-jitsu com 28, vermelha com ponta preta em taekwondo com 34, entre outras mais.

—Essa é a terceira vez seguida que perde por falta de atenção. – Completou.

—Mas isso foi injusto! – Protestou. – Dessa vez eu ia vencer, mas a Karen chegou e atrapalhou.

—Por favor, não coloque o meu nome na história. – A mulher que ficara parada na porta finalmente se pronunciou novamente. – Só estou fazendo meu trabalho.

Karen era uma mulher baixa e bem nutrida, olhos escuros e com cabelo cor-de-mel curto já quase todo branco. Era a ajudante de Margareth desde que assumira o trono e também fora a de seus pais, o que queria dizer que a conhecia praticamente desde que nasceu.

—Isso está na lição. – Axel ignorou Karen e continuou encarando Margareth. – Você nunca pode deixar as distrações te impedirem de alcançar seu objetivo final. No caso, me derrotar.

—Volto a dizer que foi injusto! – Insistiu. – Eu tenho dislexia visual, perceber as coisas já é difícil. A luz que entrou acabou com todas as minhas chances.

—Quer dizer então que o treinamento ainda não está completo. Que ainda tenho muito a ensiná-la.  – Margareth tinha uma expressão de aborrecimento. – Sua síndrome fez com que a parte de seu cérebro ligada a esse tipo de esporte se desenvolvesse mais do que as outras, mas se não continuar treinando deixará os lados negativos consumirem os positivos.

—Mas também não é como se eu realmente fosse precisar lutar com espadas algum dia.

E então ele repentinamente empunhou a espada na direção de vossa Majestade, que velozmente pôs a dela na frente e moveu-a para mais perto de Axel. Karen viu que se deixasse, os dois continuariam naquilo até o final do horário e ela não conseguiria dar o comunicado. Falou ainda mais alto do que o som das espadas se arranhando.

—Rainha Margareth, vim aqui para lembra-la que já está quase na hora de seu compromisso.

O barulho das espadas cessou e Margareth mirou a secretária enquanto Axel arrumava suas coisas para ir embora. Karen conhecia muito bem aquele olhar. Era o olhar de “não entendi nada. Explique melhor”. Como Axel era ligeiro e não precisava trocar de roupa porque ia dar outra aula de esgrima em outro lugar, não demorou nem um pouco a sair. Se despediu das duas e rumou corredor afora sendo seguido por um guarda.

Margareth então desistiu de pensar que compromisso seria esse e exprimiu sua dúvida.

—Mas... Hoje é domingo. – Começou. – É o dia em que treino de manhã e depois analiso as leis que tenho que assinar.

—Sim, hoje é domingo. Mas não reparou no dia do mês? Ou na programação da TV? Ou nos jornais? Ou nas faixas que estão decorando o palácio?

—Tem faixas decorando o palácio!? – Ela manifestava surpresa verdadeira. – Não reparei em nada. Tenho pensado em outras coisas...

Uma vaga sensação de que deveria saber a data começou a martelar em sua cabeça. Enquanto tirava a roupa especial e ficava com a normal e endireitava os óculos em seu nariz pequeno, Karen continuou.

—Então me deixe refrescar sua memória. Hoje é dia 22 de julho.

Ao ouvir a data Margareth inconscientemente levou a mão ao medalhão da sorte jazido em seu pescoço e levantou o olhar para Karen. “Como pude esquecer? Mesmo com tudo acontecendo, não deveria faltar com isso.”— Pensou. A outra estava sorrindo, mas parou ao perceber a consternação que se estampou no rosto da rainha. Tentando anima-la e sem recordar do que poderia estar causando aquilo, anunciou o que tinha de tão especial ali.

—É o dia em que assumiu o trono! Prepararam uma festa. Vai ter até mesmo uma retrospectiva na televisão depois do horário de trabalho. – Os olhos da rainha encaravam o nada. – Não está feliz?

—É o dia em que minha família morreu também. – A voz tão baixa que quase não dava para ouvir.

Foi aí que Karen percebeu seu erro. Se lembrou daquele dia. A notícia de que o rei, a rainha e o príncipe herdeiro morreram em um acidente aéreo foi uma surpresa que causou muita comoção. Eles só estavam indo para um encontro com a família real inglesa e até aquele momento ninguém sabia ao certo o que aconteceu para o jato cair. A novidade chegou de manhãzinha e como o povo ficou extremamente desestabilizado com a morte da tão querida família real, resolveram coroa-la ainda no mesmo dia.

Esse dia podia ser feliz para os outros, mas significava o pior de tudo para ela. Uma lágrima ameaçava a se formar quando Karen abraçou-a em uma tentativa de reconforta-la. Ela sentia falta de sua mãe escovando seu cabelo, de seu pai dançando com ela nos aniversários e até de seu irmão mais velho perambulando pelos cantos escuros pronto para dar-lhe sustos. Mas por entre as palavras amigáveis da secretária engoliu o choro antes que o primeiro soluço aparecesse e separou calmamente o abraço. Não gostava de ser tratada como um bebê.

—Eu estou bem.

—Não é o que parece.

—Estou falando sério. – Persistiu. – O que eu tenho que fazer agora?

—Me mandaram falar que a senhora tem um protocolo para verificar no celular. – Disse ainda um pouco preocupada.

—Certo. – Margareth caminhou até a porta e parou. – Meu celular está no meu quarto. E meu quarto é à esquerda.

Ela se virou para a direita e quando chegou na metade do corredor Karen a interrompeu.

—Majestade, aí é a direita. A esquerda é pro outro lado.

A rainha virou-se rapidamente para a direção certa.

—Eu já sabia.

“Sempre confunde...” — Karen pensou enquanto seguia-a para o quarto. Fechou a porta atrás dela e quase deu um sobressalto quando percebeu que ela já havia pego o celular e estava do seu lado.     

—As letras dessa coisa se embaralham demais pra mim. – Estendeu-o a ela. – Poderia...

—Claro. – Karen pegou o celular e digitou a senha (Que só ela sabia além da rainha). Ia selecionar o e-mail quando reparou em uma notificação. Dirigiu um olhar de desaprovação a rainha e mostrou-a a notificação. – O que significa isso?

Margareth apertou os olhos e empurrou os óculos para cima. Com muito esforço conseguiu ler o que estava mostrando. Harold havia mandado uma mensagem parabenizando-a pelo dia e também pedindo para que não ficasse mal por causa da morte dos pais. O que chamou a atenção da outra é que o contato ao invés de estar com o nome “Harold Laudrup”, estava com o título de “Namorado”.

—Significa que meu namorado sabe que dia é hoje. – Disse inocente esperando a outra explodir.

—Outro!? – Ralhou enquanto selecionava o e-mail com o protocolo dessa vez. – Dessa vez vai ter que casar! Imagina se descobrem isso. Sua popularidade vai ficar abaixo de zero.

—Foi até pensando em você que impus que ele fosse meu namorado, porque eu gosto mesmo dele, mas se deixasse essa decisão por conta dele, ia fingir que nada aconteceu. – Pegou o celular que Karen a entregou. – E também não se é tão extremo assim como você diz. Século 19 já passou faz tempo. E a minha popularidade não diz respeito a minha vida particular.

—Diz sim. Sua vida particular é pública. Os outros funcionários fofocam sobre qualquer coisa que ouvem por aqui.

Karen era como uma segunda mãe para Margareth. Nunca substituiria a primeira, mas estava acostumada com ela a aconselhando e a repreendendo. Enquanto analisava cuidadosamente o arquivo que o primeiro ministro da Dinamarca a enviou, Karen ligava a tv para confirmar o horário da retrospectiva. Depois de uns três comerciais, o jornal matutino começou. Uma das notícias chamou a atenção da rainha, que desviou o olhar para a outra tela.

—Karen, aumente o volume.

Karen obedeceu. O jornalista falava ao fundo de uma gravação de um discurso do presidente dos Estados Unidos.

“Enquanto dormíamos aqui na Dinamarca, o presidente dos Estados Unidos fez um discurso muito curioso. Ele afirma que a Rússia construiu outra base em solo americano e entrou com um pedido na ONU para iniciar uma guerra contra ela e o país que o mesmo diz ser cúmplice dela, o Oriente Médio. O presidente pede permissão de uso de bombas atômicas, de hidrogênio e de um novo tipo ainda não categorizado. Nas redes sociais especula-se que essa seja a tal ‘arma secreta’, que se têm boatos de estar sendo produzida por ambas as potências envolvidas na guerra. No mesmo decreto encontra-se em letras miúdas que ela estaria sendo produzida em coautoria com um grande laboratório químico da Austrália, o ‘Quimical Rush’, o mesmo que ironicamente livrou o Oriente Médio de um vírus poderoso alguns anos atrás. O presidente da empresa, Oliver Rush, não foi encontrado para entrevistas.”.

Margareth ficou estática no lugar, encarando os âncoras anunciarem a próxima notícia. “Não, não é possível. O mundo não pode acabar agora.” – Ela desviou o olhar para a cômoda, onde se encontrava o pen drive. – “Será que dá tempo de levar as provas pros tribunais? Preciso falar com Harold e com Jorgensen. Não tenho permissão para fazer isso sozinha.”.  Nenhum dos dois atendia às suas chamadas também.

—Por que tanta coisa logo no meu domingo!? – Murmurou para si mesma e ao pegar o pen drive falou alto. – Karen, mande uma mensagem para o piloto preparar o avião! Estou indo para a JGMB.

—Agora!? – Karen virou-se surpresa para a rainha, que já estava abrindo a porta. – Mas e seu aniversário de coroação? Não dá tempo de ir pra lá e voltar.

—Cancele a festa! Ela não é importante!

A outra já havia descido as escadas e tomava rumo por um dos corredores.

—A garagem é pro outro lado! – Karen avisou.

Margareth voltou bufando alto e correndo pelo outro corredor. Os funcionários olhavam assustados, sem entender o que ocorria.

—Mas o que está acontecendo?

—Confidencial!

—Por que eu nunca sei de nada? – Karen reclamou consigo mesma enquanto procurava o piloto nos contatos do celular.

...

—Senhor Moore? – Dong-Su bateu animado na porta do quarto do chefe.

—Entre. – Ele respondeu de lá de dentro.

Dong-Su fechou a porta logo quando entrou. David estava sentado em frente à escrivaninha com o celular na mão e uma expressão enfadada.

—Não estou conseguindo ouvir nada do grampo do escritório do Laudrup desde anteontem. – Se queixou e virou-se para o outro. – Acho que quebrou de alguma forma. Espero que esteja trazendo notícias melhores.

—Sim, estou. – Retirou um objeto quadrado e pequeno do bolso e estendeu-o. – Yi Hyun-Ae e o filho dela concluíram o teletransporte novo.

David observou melhor o objeto. Quem via nunca imaginaria o que fazia. Era cinza e metálico, com a exceção de um círculo brilhante e minúsculo azul no meio. Cabia perfeitamente na palma de sua mão.

—Excelente. Muito bem.

Dong-Su o encarou admirando o objeto por um tempo antes de respirar fundo e fazer uma pergunta.

—Desculpe, mas, por que quer esse teletransporte exatamente mesmo?

—Para analisar. – Respondeu. – É de uma parte importante do plano de Laudrup e dos outros utilizar esse aparelho, então tenho que conhecer tudo sobre a natureza dele. E você também, Tanaka, assim como os outros, deve saber como isso funciona. – Explicou enquanto olhava pela janela. – Ela te explicou tudo?

—Eu a vi construindo. Sei bem como funciona.

—Ótimo. E parou de nevar, poderíamos testar lá fora. – David ajeitou melhor o casaco e se encaminhou para a porta. – Você vem?

—Claro, senhor.

Dong-Su seguiu David até o lado de fora, onde começaram a fazer experimentos com o teleporte.

...

—E esses são os quartos. – Laudrup apontou. – Eles ficam no subsolo e tem lugar para catorze pessoas.

Harold e Chris estavam no quarto do primeiro, após o turno de pesquisas do outro terminar. O menino estava aflito e se perguntava tanto o motivo pelo qual tinha que mentir constantemente para sua colega de quarto para entregar-lhes projetos de barco. Como isso não faria nenhuma diferença, Harold resolveu que não faria mal mostrar ao informante o projeto da base. Isso o faria se sentir melhor

—Catorze!? – Chris se assustou. – Todos em um quarto só?

—Os quartos são grandes. – Explicou. – É para poupar espaço.

—Eu divido um quarto com sete pessoas e não acho que é uma boa ideia, mesmo que seja para poupar espaço. – Opinou. – Acho que se pusesse quartos menores e mais divididos, com quatro pessoas no máximo, seria muito melhor.

Harold ponderou por uns instantes e modificou a parte dos quartos com a sugestão de Chris. Ele sorriu.

—Assim ficaria bem melhor. – Constatou. – Muito obrigado por tirar minhas dúvidas, senhor. Agora tenho que ir. Lembrei que tenho algo importante a fazer.

—Até mais. – Harold despediu-se enquanto Chris saia do quarto.

O quarto era praticamente como o de qualquer outro especialista da Instituição. A cama dividia o cômodo ao meio. Do lado esquerdo tinha uma cômoda com abajur, a estante de livros e a porta para o banheiro. Do lado direito havia a escrivaninha com papéis e aparelhos espalhados. Pequeno, aconchegante e funcional, do jeito que deve ser.

Harold depois de um tempo foi sair do quarto também, mas voltou a se esconder por de trás da porta quando viu que Tanaka e Moore estavam saindo do quarto do último. Ele sempre lamentava mentalmente pelo quarto dos dois serem tão próximos, mas nesse momento deveria agradecer, pois pôde vê-los saindo com algo parecido com o teletransporte que utilizariam na base na mão. Conversavam baixo sobre alguma coisa que Harold não conseguiu identificar, captando apenas algumas palavras, como “experimento” e “vitória”. Não o viram, pois estavam caminhando virados, em direção ao lado oposto do de Harold.

Não precisava ser um gênio para entender o que estava acontecendo. Harold deduziu que eles haviam conseguido, de alguma forma desconhecida, pegar o teleporte, e agora estavam fazendo experiências com ele. “Mas não é possível!” — Pensou quando os dois saíram do campo de visão. – “Eu vi o teletransporte agora mesmo no meu quarto quando mostrei os projetos ao Christian. Eles conseguiram isso de outra forma, e Jorgensen é a resposta”.

Dando uma olhada geral para ver se não se enganara quanto a localização do teleporte dele, ligou o computador e chamou Klaus para uma conferência em vídeo. O primeiro ministro prontamente atendeu após o segundo toque.

—Jorgensen, preste atenção que isso é muito importante. – Pediu enquanto passava pelos arquivos das câmeras de segurança. – O senhor não teria visto Moore ou um dos guias mexendo em um aparelho como o teleporte, ou viu?

—Quê!? Claro que não. – Ele negou. – Se tivesse te avisaria imediatamente. Mas agora que falaste, tenho notado algumas atitudes suspeitas da parte dele e de alguns pesquisadores. Quero dizer, mais do que o normal. Eles conversam todo dia na biblioteca e às vezes Moore fala com um deles em pontos isolados. Eu tento ouvir o que dizem, mas sempre pronunciam as palavras tão baixo, como se sentissem que estou os observando.

Enquanto Klaus relatava os episódios, Harold estava olhando cada um dos arquivos da biblioteca, já que era lá que Jorgensen afirmou que conversavam. Nos primeiros não tinham nada demais, até que a data foi se aproximando e chegou na daquele dia. Hyun-Ae, Dong-Su e Daisuke, o filho da Hyun-Ae (Pelo comunicador), construíam uma peça como aquela que os dois carregavam.

Harold ainda ficou encarando a cena por alguns segundos até interromper Jorgensen em seu discurso de como as pessoas deveriam aprender com ele e Margareth a como falar convenientemente alto.

—Jorgensen, olhe a gravação da biblioteca de hoje às 15 horas.

Um momento de silêncio nasceu enquanto o outro via as imagens e raciocinava o que estava acontecendo.

—Laudrup, isso é realmente muito sério. – Disse em tom preocupante. – Isso mais as notícias de hoje de manhã.

—Então está na hora. – Concluiu. – Terei que acionar o plano B.

Klaus confirmou com a cabeça. Ninguém queria que isso estivesse acontecendo, mas era inevitável.

Harold pegou a cápsula da base e encaminhou-se pela Instituição o mais rápido que pôde até chegar do lado de fora.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando. Já está tudo se encaminhando para a reta final agora. Vejo vocês no próximo capítulo para mais revelações.
Até a próxima, :)!