Lilith escrita por Lyria Danis


Capítulo 1
Cena I


Notas iniciais do capítulo

Editado 19/04/2018
Olá povo! Eu resolvi revisar esta história. Eu modifiquei alguns diálogos e corrigi erros de coerência e de português. Também alterei a capa. Espero que gostem dessa nova versão. Beijos.
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Olá!
Entonces, esse é o primeiro capítulo da minha história. Será curta. Eu postei ela originalmente aqui em 2010, mas como eu exclui a conta, esta história também foi excluída. Espero que gostem!



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Não havia tempo contado, não havia história. O que havia era um aglomerado de imagens e sons compostos de uma única forma, num único lugar. Quase não se via a diferença das cores, ou dos barulhos, por nenhum ter um significado em especial — apenas ela reconhecia.

Lilith apenas gostava de observar tudo aquilo, a criação de seu Pai. Os barulhos, as paisagens, as cores — tudo ali lhe parecia perfeito, reconhecendo o especial de cada coisa. Afinal, ela como humana — a primeira mulher na terra —, tinha olhos que reconheciam tudo ao seu redor de forma diferente.

Da forma que tudo se apresentava para ela.

Ela conhecia a paz do verde, a força do vermelho, ou até um sentimento estranho vindo do negro — Lilith só não conhecia o nome.

Gostava de comparar muitas coisas que via, ao seu corpo — reconhecia o marrom das folhas envelhecidas das árvores que caíam, como a cor dos seus cabelos. Notava a cor da sua pele, clara, e achava a cor igual a que via nas nuvens do céu.

Lilith gostava das ondas que o mar dava — lembrava muito as ondas que havia em seus cabelos. Suaves, mas sempre permaneciam.

A única coisa que ela, de certa forma não gostava, era da escuridão em seus olhos — era igual a escuridão da noite. Não sabia o porquê, mas quando via o reflexo de seus olhos na água, achava estranho. E ela se perguntava Por que meus olhos são a escuridão, enquanto os de Adão são tão... Claros?

Adão e Lilith, os primeiros humanos na terra. Lá era o paraíso deles, o lugar onde o grandioso Pai criara só para eles. Não havia entradas ou saídas, muros ou portas, tudo era uma coisa só.

O paraíso era todo o planeta terra.

Criados da mesma forma, do mesmo barro, da imagem e semelhança de Deus, eles foram feitos para serem companheiros, amigos, conjugues e irmãos. Eles não tinham a menor noção do que era mal ou bem, de pudor ou perversão. Adão diferente de Lilith, não conhecia nem ao menos a diferença de tons — tudo era um tom só, o tom da paz. Lilith, bem no seu interior, achava-se mais esperta que Adão e gostava disso.

Mesmo que Lilith gostasse dessa união, gostasse de Adão, não concordava com muitas coisas que lhe eram impostas a fazer: por que ela sempre precisa ser a protegida, a delicada? Por que ela sempre tem que ficar um passo atrás, e se submeter?

Por que ela tinha que ficar em baixo em suas relações com Adão?

Mesmo que admirasse os olhos esverdeados dele, como as águas dos rios; mesmo que gostasse do amarelo de seus cabelos como o sol, ela se sentia diferente.

Por que, mesmo sendo criados da mesma forma, somos tão diferentes?

Ela se perguntava todos os dias a mesma coisa, quando via seu reflexo na água.

—x-x-x-x-

— Lilith, fique sobre meus ombros. Preciso que pegue algumas frutas — Adão pediu a Lilith, que estava ao seu lado. Ela observava um coelho de uma forma tão interessada, que parecia até esquecer-se de respirar.

Adão a observou intrigado, com suas ralas sobrancelhas se juntando. O que havia de errado com ela?

— Lilith!

Lilith olhou assustada na direção de Adão, ao perceber o quanto fora desatenta com seu companheiro e imediatamente sentiu medo. Será que foi descoberta?

—Sim? — Por que eu estava pensando numa coisa dessas, tão errada?.

— Preciso que me ajude — o homem respondeu, observando a grandiosa árvore cheia de frutos arroxeados.

— Tudo bem, Adão — E ela fez como foi pedido.

Subiu nas costas de Adão, as tomando como cálcio, e encheu a cesta das frutas arroxeadas, deliciosas uvas. Desceu num pulo, e se sentou ao lado de seu companheiro para se deliciar com elas.

Lilith gostava de Adão, de verdade. Na verdade o amava como companheiro, irmão e amante, como foram designados. Ele era amável e belo aos seus olhos, porém, algumas coisas realmente ela não conseguia aturar. Como ele sempre querer fazê-la se submeter, e ter a autoridade do Criador para fazer isso; e sempre querer ficar por cima quando faziam amor.

Deus os criara dessa forma. Sem pudor na hora do amor, mas com limites, e com uma ordem natural das coisas que lhe foram explicadas assim que respirara pela primeira vez. Adão tinha o direito de mandar nela, como homem e forte; mas ela também tinha o direito de ser protegida e amada, como mulher e frágil.

Ela não achava justo de nenhuma forma isso, afinal, por que ela tinha que se deitar sob Adão e se abrir pra ele? Ficar a ser servida, como um banquete de frutas e água à mesa?

Ele não sabia desse seu pensamento, nem Deus. Se soubessem, o que fariam com ela? Nunca vira Deus, mas poderia comunicar-se com ele abertamente assim que desejar, apenas era fechar os olhos e se deixar guiar.

Entretanto isso não a satisfazia totalmente... Por que seu Pai não lhe ajudara?

— Lilith... Olhe as nuvens. — Adão chamou a atenção da mulher, com seu manso tom de voz. Seus olhos estavam amenos. — Elas não lembram você?

Lilith observou encantada. Seus olhos negros brilharam na afirmação.

— Mas, quem mais te lembra, é o céu negro com a pálida lua luminosa. Sua pele brilhante... — Adão conduzia Lilith levemente até o chão de uma forma sedutora.

Queria fazer amor com ela, acompanhado das saborosas uvas.

—... E seu olhar misterioso, repleto de milagres...

Lilith olhava diferentemente. De encantamento, foi levada ao tédio; sempre ele fazia não o mesmo discurso, mas a mesma situação: ela era deitada ao chão, e ele se deitava sobre ela.

E como previsto, Adão de forma dominadora se deitou sobre ela, e lhe deu um beijo que não podia corresponder da forma certa, da forma que queria.

E o que ela queria não era isso, e dessa vez, ela decidiu de forma impulsiva e talvez até errada, fazer-se ser escutada.

Com uma de suas mãos, apoiou-se no chão enquanto a outra segurava firmemente o pescoço do homem, e sentou-se com Adão entre si. E delicadamente, foi empurrando Adão ao lado pouco a pouco, e ele guiado pelo seu charme cedeu.

Adão achava Lilith irresistível de todas as formas; seu cheiro era inebriante, sua pele era macia ao toque de uma forma que ele nunca tinha sentido, suas curvas eram belíssimas e desejáveis. O Pai a criara para si de uma forma perfeita, ela era a ideal para ele.

Até que quando ele deu por si, Lilith estava deitada sobre ele, que não gostou nada disso.

— Lilith, o que pensa que está fazendo?

A voz de Adão soou grave e grosseira. Decepcionou-se, pois estava conseguindo, pouco a pouco, conduzir em vez de ser conduzida.

— Adão. — Sua voz transmitia poder, uma coisa que Adão nunca havia escutado dela, e nem ela havia escutado de si mesma. — Deixe-me fazer, deixe-se fazer. O que há de errado? — Sedutora e feminina, ela beijou-lhe a nuca.

Adão se arrepiou.

— É errado. — Adão disse firmemente. Não iria deixar Lilith confrontar-lhe. — Pai disse que haveria de ser dessa forma, e assim que será.

— Não. Por que tem que ser dessa forma? Não gostaria de mudar? — Ela sorriu de uma forma que nunca havia experimentado.

De fato... Por um momento, o sabor desse poder passou-lhe pelos lábios, e ela degustou por um momento o prazer que isso lhe proporcionava.

— É a ordem natural das coisas — Adão disse, permanecendo sério.

Lilith não gostou do que ouviu.

— Ordem natural de que, Adão? O que há de errado? Só porque O Pai quer, assim tem que ser? Ele não nos criou para pensarmos?

Ela queria se mostrar, arriscar. Talvez não fosse tão mal, pensou. Era sua opinião, e devia ser respeitada. Ela era uma humana tanto como Adão, fora criada da mesma forma que ele. Então não deveria ter suas vontades feitas?

— Lilith, o que há de errado com você? — Ele estava estranhando sua companheira. Seus olhos verdes brilhavam em confusão. Achava que tanto ele quanto o Pai satisfazia Lilith como indivíduo, afinal... O que faltava pra ela se fora feita exatamente para aquilo?

A mulher sentiu algo diferente ao escutar aquilo...

“Lilith, o que há de errado com você?”

Seus olhos negros envenenaram-se de tal forma que causou espanto a Adão. Lilith fincou suas unhas na terra, e desviou seu foco para o chão machucado.

Será tão difícil me entender?


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