Dias depois do natal, eu contava quanto faltava para o casamento. Seria na Primavera e já estava bem perto comparado a antes. Depois da surpresa que Shu fez, os súditos começaram a gostar mais de mim, o que eu fiquei muito feliz. Percebi que eles realmente nunca tinham presenciado a comemoração do natal e fiquei feliz pelas crianças terem amado a tradição dos presentes debaixo da árvore de natal.

Pra mim aquele dia era um dia comum como todos os outros, porém os empregados estavam agitados. Eles andavam de um lado para o outro como se algo estivesse para acontecer. Pensei que fosse por causa do casamento, mas ainda estava um pouco longe para aquela agitação repentina. Eu andava pelos corredores quando Fumiko passou por mim.

– Anou... Fumiko. – A chamei suavemente.

– Hai, senhorita. – Ela fez uma reverência.

– Hum... O que está havendo?

Ela deixou uma risada alegre escapar e fez uma revência de novo.

– Gomen nasai, mas não posso contar, senhorita.

– Uh? – Disse em dúvida – Hum, hai...

Àquela noite, não sei por que, tive que jantar no quarto. Shu me fez companhia, mas não me contou o que estava acontecendo. Precisei ficar com curiosidade até o dia seguinte. Fiz tudo que fazia sempre durante a manhã e Shu abriu a porta do meu quarto com uma expressão que não soube identificar.

– Megu.

– Hai. – Sorri.

Ele se aproximou e segurou minhas mãos. O olhei preocupada.

– Nani?

– Você já me imaginou como um monstro?

– Uh? – Disse assustada pela pergunta – Por que está perguntando isso de repente?

– Apenas fale. – Ele pediu.

– Eu... – Pensava – Eu tive medo... Só que... Não por achar que você fosse um monstro, mas por achar que você nunca fosse me amar. – Disse olhando fixamente em seus olhos – Eu nunca pensei em você como um monstro.

Ele abriu um sorriso e me pôs contra o armário, me beijando. Não compreendi e o olhei em dúvida quando ele cessou.

– Arigatou... – Ele encostou a testa na minha a mexeu como um carinho – Eu... – Ele disse como um suspiro.

Ainda o olhava, esperava que fosse aquilo mesmo que eu imaginava.

– Shu...

Ele me beijou de novo e suspirou, ficando ofegante.

– Megu, agora eu... Tenho certeza que te amo. – Ele sorriu.

Meus olhos marejaram e eu abri lentamente um sorriso.

– Baka, por que não perguntou aquilo antes?

Ele riu ainda com o rosto colado ao meu. Ouvi aquela risada e sorri mais ainda por ser tão boa de ouvir. O beijei e logo ficamos ofegantes. Ele riu de novo e me olhou.

– Já pedi para não fazer isso. – Ele disse sorrindo, ofegante.

– Gomen... – Sorri.

– Ne? Vem comigo?

– Hai.

– Tenho uma surpresa. – Ele sorriu.

Abri um sorriso tentando imaginar o que poderia ser. Ele pegou minha mão novamente e saímos do quarto. Naquele mesmo corredor, próximo ao seu final, paramos em frente a uma porta.

– Pronta? – Ele perguntou.

– Acho que sim. – Sorri.

Eu imaginei várias coisas. Primeiro achei que aquele seria o quarto da nossa noite de núpcias e que ele achava que eu gostaria de saber como era, mas logo lembrei que ele mesmo havia dito que eu me mudaria para seu quarto. Pensei que seria um presente sem data especial, apenas algo que ele gostaria de me dar. Também passou pela minha cabeça que talvez fosse um lugar com uma janela para eu ver melhor a vista para a vila. Porém de todas essas possíveis opções, era o que eu jamais imaginaria.

Shu abriu a porta e eu olhei para o cômodo, que logo vi ser um quarto. Fitei uma figura próxima à janela e arregalei os olhos sem acreditar.

– Sei...ko... – Disse, tentando processar a imagem – Seiko!

Abri um imenso sorriso e corri em direção a ela, que sorria quase chorando. Nos abraçamos, quase nos chocando uma contra a outra, e nos ajoelhamos no chão ainda abraçadas.

– Megu! – Ela chorava – Senti tanto sua falta! – Ela tentou limpar algumas lágrimas em vão.

– Daijoubu. – Disse me endireitando e limpando com o dedo uma de suas lágrimas.

Shu viu aquilo e sorriu gentilmente.

– Vou deixá-las a sós.

– Shu! – O chamei.

Ele parou ao puxar a porta e me olhou. Eu abri um sorriso para ele.

– Arigatou. – Disse emocionada.

Ele sorriu e fechou a porta. Seiko fungava e me fitou, limpando as lágrimas e tentando sorrir.

– Como você...? – Disse e parei de falar – Keiji?

– Hai... – Ela limpou uma lágrima – Ele me escolheu ontem.

– Uhm... Meu Deus... – Disse sem reação – Mas... Como foi? Como foi? – A olhei.

– Viemos na carruagem de novo. Tane pensou que ela seria a próxima, mas... Ele chegou e o rei disse para escolher uma de nós duas. Ele nos olhou de cima a baixo e não parou mais de me olhar. Eu fiquei com medo... Aí ele disse “a loira”.

– Calma. – A abracei e me endireitei – Não é ruim. – Tentei sorrir.

– Não... Não é isso. – Ela disse com a voz embargada.

Franzi a testa em dúvida.

– Ele... – Ela dizia querendo chorar de novo – Ele sorriu pra mim de uma forma assustadora.

“Típico dele.”, pensei.

– Ele vai me matar, Megu! – Ela disse começando a chorar de novo.

– Não, não vai! – Exclamei, abraçando-a – Ele tem que se casar com você, ele não vai te matar! – Dizia fazendo carinho em seu cabelo – Ele é assim mesmo, mas tenho certeza de que vai gostar de você. Nós não vemos o lado deles.

– Como assim? – Ela se endireitou, fungando.

Eu não podia assustá-la, não podia dizer que Keiji me mordeu. Se dissesse, ela ficaria triste e também pioraria seu medo por ele.

– Seiko, eles também são obrigados a se casar. – Eu dizia calmamente, tentando acalmá-la – Shu me disse que ficava longe de outras mulheres para ele não se apaixonar por alguém que nunca poderia ter. Já que ele se casaria comigo.

Ela abaixou o olhar logo que terminei de falar, processando o que eu disse e parecendo compreender.

– Então... – Ela me olhou – Eles não querem se casar?

Abri um sorriso leve.

– Shu disse que me ama. Mas... Acho que se ele tivesse tido escolha, não se casaria comigo.

Ela acalmou o olhar.

– Será que Keiji-sama vai me amar também?

– Eu acho que sim. – Sorri alegre.

Ela sorriu e me abraçou.

– Arigatou. Eu espero... Que ele goste de mim.

– Hum. – Assenti – Eu também. – Sorri.

– Que bom que estamos juntas pelo menos.

Deixei escapar uma risada.

– Também acho, nee-chan. – Sorri.

Keiji escolheu Seiko. Eu não o conhecia muito bem e o que ele me fez me deu motivos suficientes para querer distância dele. Porém... No fundo, eu sabia que ele não havia escolhido Seiko por nada. Se Keiji for pelo menos parecido com Shu, Seiko o encantou de alguma forma.