P.O.V Thalia

Já faz algumas semanas que estamos tendo as aulas de canto/dança, e eu posso dizer que não me arrependo de ter entrado. Após as apresentações individuais da primeira aula, a professora, como havia dito, colocou o “meu grupo” e o grupo de Nico como os principais em sua aula, o que fez com que os outros achassem injusto.

Eu estava no meu quarto jogada na cama e amaldiçoando meus dois novos professores. Eles cismaram que temos que fazer uma apresentação juntando as duas matérias, até aí tudo bem, mas eles querem algo original e não temos nada em mente com esse conceito. Havia feito inúmeras pesquisas de músicas e coisas assim, talvez a única saída seja o K-pop mas eu sinto que os meninos irão pensar na mesma coisa... paciência, será isso mesmo.

Meu quarto estava completamente bagunçado, folhas de papel no chão, tanto amassados quanto rabiscados, livros ao meu lado e em minha cabeceira, os enfeites todos revirados. Gostaria de saber como isso acontece, eu simplesmente estava procurando um livro à algumas horas a trás. Resolvi arrumar aquela bagunça antes que eu ficasse perdida.

Após arrumar minha escrivaninha, arrumei a cama e guardei todos os meus livros no lugar. Fui em rumo a prateleira para guardar o último enfeite e sem querer derrubei uma caixa, espalhando papeis, fotos e mais alguns objetos.

–Isso Thalia, quebra tudo mesmo. -Disse em voz alta a mim mesma

Me abaixei para pegar recolhendo tudo, até que uma foto chamou minha atenção. Uma garotinha com mais ou menos dez ou onze anos, de cabelos negros e olhos azuis, que eu supus ser eu, ao lado de um garotinho moreno de olhos verdes. Eu não me recordo de ninguém com essas características, mas algo nessa foto mexeu comigo. Virei a foto e estava escrita com uma letra cursiva, uma frase que mexeu ainda mais comigo.

"Um dia, voltaremos a nos encontrar Cara de Pinheiro, pode demorar, mas vai acontecer."
–-Com carinho, Perseu/Cabeça de Alga

Espera aí, nessa época, eu ainda era zoada na escola, então não deve ser ninguém de lá. E Perseu? Não há ninguém que eu conheça com esse nome. Perseu... Pers... Percy... Percy, é isso. O garotinho do Acampamento Meio-Sangue que eu ia quando pequena. Faz tanto tempo que eu não vejo ele. Esse acampamento é uma das únicas coisas boas daquela época, gostaria de um dia poder ir lá e ver como está tudo.

Me levantei e coloquei aquela foto grudada em um mural separado, na parede ao lado da minha cama onde estão algumas fotos com meu pai e minha madrasta, duas com o Leo, Piper e Chris, e outra no meu aniversário de 15 anos.

–"Pode apostar Percy, nós voltaremos a nos encontrar." - Pensei enquanto colocava a foto no mural.

Após ver aquela foto, fiquei curiosa para ver mais coisas que tinha na caixa. Algumas cartas do meu pai endereçadas ao acampamento, um colar de contas, que valia de acordo com os anos que você permanecia no acampamento, três contas, três anos naquele lugar na qual adoraria voltar, uma blusa laranja escrito "Acampamento Meio-Sangue" com um centauro desenhado logo em baixo, nunca entendi o por que disso mas enfim, e mais algumas fotos, umas em grupo, outras minhas em algum tipo de chalé, e uma que me fez recordar do exato momento em que a foto foi tirada.

Flashback on

– Annie, espera, por favor, eu não aguento mais correr - Eu disse ofegante com as mãos no joelho. Estava muito quente naquele dia então eu estava com a blusa do acampamento, short e cabelo amarrado em um rabo de cavalo curto.

– A, qual é Lia, a gente já esta quase chegando na clareira, todos os nossos amigos estão lá. - disse Annabeth, uma garota loira, vestida do mesmo modo que eu, porém com um boné dos Yankees na cabeça.

– Mas calma, você tá muito afobada para ir pra lá. - disse já me recuperando - Parece até que você está querendo ver alguém em especial. - Provoquei com um sorriso de canto nos lábios.

–Anh? O-o que? N-não, magina, você deve estar imaginando coisas.- disse ela nervosa e vermelha - Hey, por que a gente não tira uma foto? Eu sei que é seu último ano no acampamento e você tem fotos com todos e a gente nunca tirou uma juntas. E então?

– É pode ser - disse olhando desconfiada. Sorrimos e tiramos a foto.

Flashback off

Annabeth, minha melhor e uma das únicas amigas que eu tive naquele tempo. Era sempre tão fácil me abrir com ela, parecia que havíamos convivido a vida inteira juntas, ela sempre me entendia. Coloquei nossa foto ao lado da minha foto com Percy.

Fico me perguntando o que eles devem estar fazendo hoje, como eles estariam, se estão juntos até hoje, como amigos ou algo a mais, é, acho que vou ficar com essa dúvida. A campainha me tira de meus devaneios e eu torço para que alguém atenda, porém, parece que não adianta nada, já que ela continua tocando.

Saio do meu quarto emburrada e desço as escadas correndo, tropeçando no último degrau me espatifando no chão, nada de mais, já estou acostumada. Continuo a minha corrida e abro a porta, me deparando com Leo em frente a mesma.

–Você demorou. Tropeçou e caiu de novo? –ele perguntou com cara de tédio e eu assenti ainda emburrada –É, era de se esperar. –completou vindo me abraçar e eu logo retribuí.

–O que você ta fazendo aqui? Hoje é sábado, já vejo a tua cara todos os dias. –digo.

–Se não está feliz em me ver, você vai odiar nossa tarde. Vim te buscar para irmos na casa da Piper, ta todo mundo lá. –ele disse sorrindo de lado.

–Por que vocês não me avisaram? Telefonema, mensagem sinal de fumaça, sei lá. –pergunto.

–Nós te ligamos. –ele respondeu e eu mostrei meu celular pra ele que não possuía nenhuma notificação –Tem certeza que seu celular não ta no modo avião como sempre?

–Claro que... –comecei a falar e vi que ele tinha razão -...talvez esteja. Aguenta aí, vou me arrumar. –avisei e fui em direção a escada.

Subi rapidamente em direção ao me quarto, e assim que cheguei fui para o banheiro tomar um banho rápido. Assim que acabei, fui ao meu closet pegando qualquer roupa, é a casa da Piper, praticamente moro lá, não precisa de alta produção. Ao me maquiar, passei somente corretivo, pó e rímel, não havia dormido direito por conta do trabalho que ainda não teve resultado.

Terminei, fui ao quarto de Jason e dei três batidas ritmadas na porta a abrindo em seguida. Ele estava igual a mim antes de ir arrumar o quarto, largado na cama, porém estava usando apenas a calça de moletom com o cabelo meio úmido, denunciando que havia acabado de sair do banho.

–Ei Jas, quer ir até a casa da Piper comigo e com o Leo? –perguntei ajeitando o óculos assim que ele notou minha presença.

Ele pareceu pensar e assentiu, saindo do meu campo de visão e voltando minutos depois trajando uma calça jeans e uma blusa qualquer com uma touca e óculos. A uma semana ele descobriu que, assim como eu, precisava usar óculos. Ele decidiu que durante a semana usaria lentes e quando é final de semana, usaria óculos, assim como eu, copiador do caramba.

Descemos as escadas juntos, Leo estava no telefone e assim que nos viu se levantou. Gritei para Rosa que estávamos de saída e falei que eu talvez não iria dormir em casa, ela aceitou, já sabendo que eu estava indo para casa de Piper. Fomos andando até a casa dela, que era uns quatro ou cinco quarteirões de distância da minha. Chegamos na casa dela, interfonamos e logo ela liberou a nossa entrada.

Quando entramos, vimos os nossos amigos sentados no sofá, com a ausência de alguns, junto a mais algumas meninas, que eu me lembrei ser amigas de Luke. Pera, Luke?

–Buh! –alguém grita atrás de mim me fazendo pular de susto. Me viro e vejo uma cabeleira loura rindo –Thatha, como você está? –ele pergunta entre risadas e eu começo a estapeá-lo.

–Castellan, seu grande imbecil. –digo tentando chutar a sua bunda porém sem sucesso, já que ele corre para trás de Piper –Nunca mais faça isso. –aviso apontando em sua direção e ele levanta a mão como se não tivesse feito nada –Olá pessoal, como vocês estão? Bem? Que ótimo. Preciso de um café. –cumprimento a todos indo até a cozinha, pegando uma caneca e levando até a cafeteira.

Volto para sala e me sento no sofá entre Rachel e Katie, deitando minha cabeça no ombro da mesma com o olhar perdido ainda tomando o café.

–Thalia? Ta tudo bem? Você ta estranha. –Chris pergunta se sentando no chão na minha frente colocando a cabeça na minha coxa.

–Ah, claro, to ótima, nem to pirando com aquele trabalho que os gêmeos passaram. –respondi baixo tomado o café em seguida.

–E você está descontando isso no café? –Rachel pergunta e eu assinto –Tudo bem então. As vezes eu penso que você deixou a sua normalidade ainda no sêmen.

–Obrigada. Preciso de outro café.

P.O.V Nico

Sinto que vou enlouquecer com esse trabalho do professor Apolo e da professora Artemis. Já faz quase uma hora que eu estou no salão de ensaio daqui de casa e nada, não consigo acertar nem um passo sequer.

Tento fazer um salto e acabou caindo feio, quem mandou querer dançar essa música? Agora aguenta. Tento mais uma vez, outra queda, de novo e de novo. Acabo me estressando e dando um soco no vidro, o quebrando e machucando a minha mão, que ótimo. Por hoje chega, amanhã eu tento me matar novamente.

Entro em casa e Bianca está no sofá jogando videogame, como sempre, porém vejo que ela está arrumada para sair e a fito curioso. Decido deixar pra lá e vou em direção ao banheiro, necessitando de um banho.

Entro no mesmo e me dispo, jogando a minha roupa no cesto de roupa suja. Vou em direção ao chuveiro e o ligo, sentindo a água fria entrar em contato com minha pele e todos os meus músculos relaxarem. Lavo meus cabelos e cerca de trinta minutos depois saio do banheiro com a toalha amarrada na cintura.

–O que aconteceu Bia? –pergunto assim que vejo ela sentada na minha cama olhando para o celular.

–Leo nos chamou para ir na casa da Piper. –ela responde já se levantando –Seca o cabelo ou então você vai ficar gripado.

–Okay mãe. –digo revirando os olhos e dando um beijo em sua testa, logo ficando sozinho.

Vou ao guarda roupa e me visto apressadamente, tendo uma tentativa falha de secar meu cabelo com a toalha. Calço meu tênis, faço um curativo em minha mão machucada e saio do quarto, indo até a sala onde Bianca continua a jogar Dead Island 2. Fico em frente da TV e sou acertado por uma almofada.

–Chega de jogar e vamos logo, é um pouco longe daqui até a casa dela.

–E é por isso que eu já chamei um táxi.-ela diz e logo uma buzina é soada –E ele já chegou,agora sim, vamos, já peguei seu celular.

Fiz o que ela disse e entramos no táxi. Foram alguns minutos de carro e logo chegamos na casa dos McLean. Nós dois dividimos o preço da rota e logo vimos o táxi dobrar a esquina. Interfonamos e Silena liberou a nossa entrada.

Assim que entramos, nossos amigos estavam sentados, alguns no sofá, outros no chão, outros nas poltronas, normal. Porém, tinha três pessoas que eu não conhecia. Cumprimentei a todos e eles se apresentara. A ruiva se chamava Rachel, a outra se chamava Calypso e o loiro se chamava Luke. Me apresentei e me sentei no sofá ao lado de Thalia, já que estava vazio, ficando com o olhar perdido ainda pensando no trabalho.

–Acho que preciso de um café. –soltei sem querer em um sussurro.

Thalia se levantou e eu a olhei, assim como todos ali presentes. Acho que ela se sentiu desconfortável com a minha presença. Ela foi em direção a cozinha e voltou dois minutos depois com duas canecas na mão, sentando-se novamente ao meu lado e me entregando uma delas. Agradeci em um murmúrio e comecei a tomar. Assim como eu, ela estava virada pra frente com o olhar perdido.

–Nico, aconteceu alguma coisa? –Leo perguntou e eu o olhei.

–Uma coisa aconteceu, o trabalho dos gêmeos aconteceu. –respondi voltando a tomar o café.

–Bem vindo ao meu mundo di Angelo, bem vindo ao meu mundo. –Thalia disse estendendo a caneca e eu fiz o mesmo, dando o ar uma espécie de brinde, logo voltando o líquido na minha boca.

–Meus Deuses, esses dois estão ficando loucos. –Jason soltou sem pensar.

–Obrigado/Obrigada. –eu e Thalia dissemos em uníssono.

–Eu acho... que estamos num mudo paralelo, na qual os dois se dão bem. –Bianca diz sem piscar –Espera. –ela diz e olha pro Leo –Não, não estamos, se estivéssemos, eu estaria gostando do Leo. –ela disse e eu pude ouvir um “Eii” vindo do mesmo –Então talvez seja um daqueles dias na qual nós nunca esperávamos. O dia em que eles não irão gritar um com o outro. –ela disse e todos assentiram.

Eu e Thalia nos encaramos e dissemos novamente em uníssono:

–Agradeçam ao maldito trabalho.