Os segredos mais bem guardados escrita por magalud


Capítulo 5
Parte Cinco




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Capítulo 13 – Água abaixo

Durante toda a reforma, Rebeca teve que conviver com o pouco conforto e a incomodação de ter obras dentro da própria casa. Hagrid era uma pessoa sensacional, mas ele só podia trabalhar nas horas vagas – e geralmente eram horas bem impróprias. Os encontros com Severo estavam muito prejudicados, e não raro, eles só se viam de madrugada. Parecia um esforço ainda maior para concretizarem seu amor, e isso os deixava ainda mais apaixonados e excitados, resultando em longas horas de paixão ardente.

Contudo, Severo não estava presente quando aconteceu. Nem Hagrid. Mas mesmo que estivessem, pouco teriam podido fazer.

Tudo aconteceu muito rápido.

Era o meio da tarde, e Rebeca avisara a Winky que iria passear um pouco. Ela sempre ia passear na margem mais escondida do lago, observar as flores, às vezes banhava as pernas no lago e outras vezes se banhava de corpo inteiro. A temperatura não estava mais agradável para um banho de corpo inteiro, mas Rebeca gostava da água e sempre saía de saia curta, entrando na água até onde a roupa permitia. Depois, se o vento não estivesse forte, ela gostava de se sentar à varanda, observando o lago, lendo um livro, ou tentando aprender a tricotar.

Naquela tarde fatídica, de sol forte e céu azul, Rebeca estava no lago, entretida com alguns peixinhos. Severo a advertira contra alguns animais que podiam ser encontrados no lago, como a lula gigante e murtiscos que habitavam as margens. Rebeca sabia que no meio do lago vivia uma vila de sereianos, criaturas inteligentes que tinham rabo de peixe e habitavam a imaginação dos trouxas de uma maneira romântica. Ela tinha rido muito quando, no tempo em que vivia entre os trouxas, viu a história de A Pequena Sereia.

Distraída que estava com os peixes, Rebeca não viu duas criaturas muito altas, de cabelo verde comprido, pele acinzentada, e olhos e dentes amarelos nadando em sua direção, cada uma de um lado. Ela não teve tempo de reagir quando cada um deles pulou sobre ela, segurando-lhe os braços e carregando-a para o meio do lago. Mesmo surpresa, ela tentou se desvencilhar, se debater, mas quando se deu conta, estava debaixo d'água e ficando sem ar rapidamente.

Ao mesmo tempo em que deslizavam rapidamente dentro do lago, os seus dois captores tentavam a custo enfiar-lhe algo parecido a um plástico na cabeça. Rebeca resistiu, mas eles eram maiores e mais fortes do que ela, então em minutos ela estava com o tal saco enfiado na cabeça. E aquela foi a sua salvação. Através do saco, ela podia respirar. E gritar, ao mesmo tempo que esperneava nos braços de seus raptores:

– Larguem-me! O que querem fazer comigo? Soltem-me!

Ela sabia que estava sendo levada por sereianos, mas não entendia por quê. Ela não tinha feito nada para eles, por que estavam fazendo isso?

O sereiano da direita, que trazia uma lança na mão, gritou algo numa língua estridente e estranha. Rebeca lembrou-se que os sereianos falavam serêiaco, e desanimou, parando de espernear. Ia ser difícil estabelecer algum tipo de comunicação e desfazer o mal-entendido que os levara a seqüestrá-la para o fundo do lago.

Porque aquilo tinha que ser um mal-entendido.

Eles continuaram a deslizar rapidamente pela água, e Rebeca mal podia ver as belezas do fundo do lago. Ela ainda estava se acostumando à visão debaixo d'água. Eles nadaram por alguns minutos, mas Rebeca não podia dizer quantos - ela estava ocupada demais, tentando se controlar. Mas a verdade é que ela não via saída para sua situação. Ninguém sabia onde ela estava, ninguém daria por sua falta até que fosse tarde demais, ninguém teria a idéia de pensar nos sereianos... Ela não podia esperar por um resgate, pois ele nunca viria.

O que ela iria fazer?

Logo eles se aproximaram do que parecia ser uma pequena aldeia, uma vila submarina, com moradias de rocha pura e pintadas de algas. No centro da aldeia havia uma espécie de praça ou parque, na qual havia uma grosseira estátua de um sereiano gigantesco talhada em pedra. Foi lá que os sereianos pararam, e havia um monte daqueles seres reunidos perto da estátua. Infelizmente eles não pareciam nada felizes, e olhavam para Rebeca com um ar reprovador.

Ela foi levada diante de um sereiano muito alto, com dois colares de dentes de tubarão pendurados em volta do pescoço e algas azuis adornando seus longos cabelos esverdeados. Era óbvio que ele era algum tipo de chefe. Ao lado dele, estava um sereiano mais baixo (se bem que mesmo assim ele tinha mais de dois metros), que se dirigiu a ela e disse:

– Esse o chefe sereiano Murcus. Ele falar com você. Eu intérprete.

Rebeca pediu:

– Por favor, não me machuquem. Eu não sei por que estou aqui.

O baixinho falou algo para o chefe, que respondeu. O intérprete então se virou para Rebeca e disse:

– Responda, importante: Você amiga Agrid? Quem você?

Rebeca respondeu:

– Hagrid? – O "baixinho" assentiu – Sim, Hagrid é meu amigo. Gosto muito de Hagrid. Meu nome é Rebeca.

O nome dela foi pronunciado várias vezes pela multidão que os cercava. Ela se sentiu intimidada, mas o intérprete voltou a chamar sua atenção:

– Você cabana de Agrid. Nós ver você cabana de Agrid.

Ela respondeu, enquanto o baixinho ia transmitindo as palavras para o chefe Murcus:

– Eu moro na cabana que Hagrid construiu.

– Você companheiro no lago. Você no lago. Você vila sereiana?

Ela teve dificuldade de entender, mas fez o melhor que pôde:

– Sim, eu nadei no lago com uma pessoa, mas nunca tive intenção de vir para a vila de vocês. Desculpe, eu não sabia que era preciso pedir permissão para nadar. Mas eu nunca vi um de vocês.

– Permissão uma vez, não. Duas vezes, não. Mais vezes, sim. Gente de ar água suja. Roupa lavada água suja.

Rebeca disse:

– Eu nunca lavei roupa no lago. Nunca farei isso. Lavo minha roupa no castelo de Hogwarts.

O chefe pareceu gostar de saber disso e admitiu, pelo seu intérprete:

– Verdade. Rebeca não água suja. Permissão Rebeca, companheiro, cria. Nadar sim.

– Companheiro? Cria? Do que estão falando?

– Companheiro Rebeca permissão. Filhote também. Agora volta. Volta já!

Os dois sereianos a agarraram de novo e ela protestou:

– Espere um pouco! Foi para isso que me trouxeram?

O intérprete pareceu se exaltar, assustado:

– Voltar! Voltar agora!

– Eu quero uma explicação! Só o que eu queria era me refrescar no lago.

O chefe também começou a se agitar, e o intérprete disse:

– Chefe Murcus diz voltar! Ar fim! Sem respirar!

Só então Rebeca se deu conta do que eles estavam dizendo. Fosse lá aquilo que lhe dava ar suficiente para respirar e falar, estava chegando ao fim, e ela tinha que voltar.

– Então tá! Obrigado pela permissão. Sereianos são amigos de Rebeca?

O nome dela foi repetido várias vezes pela multidão em volta, e o "baixinho" disse:

– Volta, Rebeca; ar fim. Rebeca amiga Agrid, Rebeca amiga.

Parecia que tudo estava esclarecido, afinal. Graças a Deus, pensou Rebeca, tudo tinha sido realmente um mal-entendido.

Os dois sereianos que a trouxeram pegaram seus braços e eles deslizaram pelo mesmo caminho de volta, e desta vez Rebeca pôde se dar conta de que tinha vivido uma aventura e tanto, mesmo com a comunicação tão tosca entre eles. E o fundo do lago era muito bonito de se ver.

Contudo, quando eles pareciam estar na metade do caminho, Rebeca sentiu o ar lhe faltando. Alarmada, ela tentou nadar junto, acelerar o passo. Os dois sereianos entenderam a mensagem e colocaram as nadadeiras para funcionar, mas nada adiantava. O plástico na cabeça, antes benfazejo, agora a sufocava, e ela fez menção de retirá-lo. Um dos sereianos o rasgou.

O efeito foi ainda pior: agora Rebeca tinha água entrando pela boca, pelo nariz, e o corpo todo dela estava tenso. A visão rapidamente começou a escurecer, e ela não tinha mais idéia do quanto faltava para chegar à margem, ao ar...

Repentinamente, ela perdeu os sentidos, nos braços dos dois sereianos e em pleno fundo do lago.

Os dois emergiram rapidamente e fizeram o resto do percurso colocando a cabeça de Rebeca acima da superfície, mas era tarde: ela já estava desacordada. Quando eles chegaram à margem do lago que ficava perto da cabana, fizeram o que podiam: levaram-na até o mais perto possível da casa sem encalhar suas nadadeiras e começaram a gritar. O barulho atraiu Winky para fora da cabana. Ela arregalou os olhos e gritou:

– Mestra Rebeca!

Ao ver que Rebeca seria acudida, os sereianos voltaram para o lago, batendo os grandes rabos-de-peixe na água. Winky correu até sua mestra e tentou sacudi-la, dizendo:

– Mestra Rebeca! Mestra Rebeca!

Winky virou Rebeca de barriga para cima e aquilo parece ter sido a coisa certa a fazer porque de repente a moça virou a cabeça de lado e colocou para fora um pouco d'água no esforço de respirar, tossindo muito e engasgando, molhada até os ossos. Winky tentou chamar:

– Mestra Rebeca! Pode ouvir Winky?

Rebeca se ergueu, ainda tossindo, tentando dizer:

– Winky... s-socorro... ajuda... Prof. Dumb-Dumbledore... Ma... cough, cough, Pomfrey... q-qualquer um...

A elfa disse:

– Winky pede ajuda para Mestra Rebeca!

Depois saiu em direção à casa. Deitada na grama molhada, ensopada, Rebeca tremia da cabeça aos pés. Dizer que passava mal era pouco. Não só tinha frio mas também estava enjoada, sentia-se inchada com tanta água que engolira. Respirar era um esforço, porque ela tossia tanto que mal tinha fôlego. Ia ficando cada vez mais nauseada e tonta, e mal ouviu Winky voltar:

– Winky mandou uma coruja, Mestre Rebeca! Winky mandou Héstia!

– Win... ky... – Rebeca sentia as forças lhe fugindo – Soc...corrr...

E desfaleceu ali mesmo, na porta de sua casa.

Capítulo 14 – Ajuda para dois

Winky se desesperou ao ver sua Mestra caída na grama, sem responder às suas sacudidas. O que fazer?

Winky tinha mandado ajuda por Héstia, mas depois ela lembrou que as corujas estavam sendo interceptadas antes de conseguirem chegar ao castelo. Winky ia ter que buscar ajuda sozinha.

Primeiro ela deixou Mestra Rebeca bem seca com um feitiço. Depois usou outro para fazer a mestra flutuar até a cama – que estava no meio da sala devido às obras da reforma. Agora que ela estava seca e confortável, Winky (com um grande peso no coração), estalou os dedos para chegar ao castelo de Hogwarts.

Graças à magia élfica, ela se viu diante da grande gárgula de pedra que levava ao gabinete do Prof. Dumb ledore. Aflita, Winky pediu à gárgula que a deixasse passar:

– Winky precisa falar com Diretor de Hogwarts!

Uma voz tenebrosa soou atrás dela:

– O que você quer, elfa?

Ela se virou para ver Mestre Filch a olhando desconfiado, acariciando sua gata no colo. Winky não gostava do Mestre Filch nem de sua gata, Madame Nor-r-ra.

– Winky precisa falar com Diretor de Hogwarts! É muito importante!

Filch a olhou de cima a baixo, depois disse:

– A senha é dedos-de-mel.

A gárgula deixou Winky passar, e ela subiu a toda para o gabinete de Dumbledore. Lá a elfa bateu à porta, que se abriu, e ela imediatamente entrou gritando:

– Mestre Dumbledore! Mestre Dumbledore!

Winky deu uma brecada tão forte que se ela fosse um carro teria queimado metade dos pneus. O Prof. Dumbledore não estava sozinho em seu gabinete. Sentada à frente do diretor (agora virada para olhar Winky), estava uma pessoa baixinha e atarracada, com olhinhos miúdos e cara de sapo, enfiada num conjuntinho de saia e casaquinho verdes, assemelhando-se a um abacate de cabelos curtos.

Profª Dolores Jane Umbridge, de Defesa contra as Artes das Trevas.

A pobre elfa doméstica perdeu totalmente o rebolado, mas o Prof. Dumbledore ergueu-se de sua escrivaninha calmamente, dizendo:

– Sim, Winky? Queria me ver?

De olhos verdes e arregalados fixos em Umbridge, Winky hesitou:

– Sim... Er... Winky pede desculpas, Mestre Dumbledore, mas Winky precisa falar com Mestre Dumbledore! É muito urgente e importante!

Umbridge se apressou a dizer:

– Ora, mas não tem nada que você diga ao Prof. Dumbledore que não possa dizer na minha frente. Afinal, eu sou a Suprema Inquisidora de Hogwarts. Não é verdade, Prof. Dumbledore?

Dumbledore disse, os olhinhos brilhando para a elfa:

– Com certeza, Dolores. Winky, você vai ter que me dizer o que veio me dizer na frente da Profª Umbridge.

Winky ficou vermelha. Ela não podia mentir para o Prof. Dumbledore, embora não tivesse nenhum problema em mentir para aquela sapa parecida com uma abobrinha atarracada.

– Winky... quer dizer que... Winky...

Dumbledore ajudou:

– Aconteceu alguma coisa com você, Winky? Algum acidente? Para ser tão urgente e importante para você vir correndo até aqui, tem que ter sido um acidente!

Winky torcia as mãos aflitas. Como ela ia dizer as coisas sem dizer?

– Não! – então ela entendeu o que o professor queria dizer – Sim! Winky teve acidente! Winky precisa de ajuda!

Umbridge franziu a cara de batráquio:

– Você me parece muito bem.

– Winky caiu no lago! – a elfa se agitava toda, olhando para o Prof. Dumbledore – Engoliu muita água e quase se afogou! Pode ficar doente! Precisa de ajuda! Winky precisa de ajuda!

A Profª Umbridge olhava para ela desconfiada:

– Mas você está muito bem, elfa! Que bobagem é essa? Dumbledore, você deixa elfos domésticos darem asas à imaginação como bem queiram?

Dumbledore disse:

– Winky, se você caiu no lago e precisa de ajuda, quem sabe você visita Madame Pomfrey? Ela pode ajudar. Talvez não seja má idéia também falar com o Prof. Snape. Ele pode ter poções para ajudar quem engole muita água do lago.

Winky assentiu:

– Winky vai ver Madame Pomfrey e Prof. Snape! Sim, Mestre Dumbledore.

– Depois me diga o que aconteceu, Winky. Agora pode ir.

Umbridge fez cara de desgosto:

– Isso, vá logo embora! Pare de desperdiçar nosso tempo com essas bobagens! E não pense em se esquivar de seus deveres por causa desse suposto acidente!

– Sim, senhora, Mestra Profª Umbridge! Obrigada, Mestre Dumbledore!

Ela correu para a enfermaria, ainda podendo escutar Dumbledore dizer a Umbridge que Winky passara por um período difícil quando deixara de servir os Crouch. Winky tentou não pensar nisso e se concentrar em salvar Mestra Rebeca.

– Abram seus livros na página 394 – disse a voz ameaçadora de Snape à sua turma – Em silêncio.

O leve farfalhar das folhas seria o único ruído na classe, não fosse um pio alto a rasgar a atmosfera das masmorras onde a aula dupla de Grifinória e Sonserina estava sendo realizada. Todos os alunos olharam para o alto, onde uma coruja marrom, de grande olhos cinzentos e penas douradas em volta dos olhos fazia uma verdadeira algazarra depois de entrar pela porta aberta da sala de aula.

A aula transformou-se em maior algazarra ainda e Snape ralhou:

– Quietos!

Contudo, ele a tinha reconhecido. Sabia que era Héstia, e isso só podia significar que Rebeca estava em apuros. Afinal, Rebeca sabia que as corujas estavam sendo monitoradas. Cuidou para que seu semblante só transparecesse irritação ao dizer, com ar ácido:

– Receber corujas em sala de aula é proibido. Cinco pontos a menos para Grifinória.

Simas Finnegan retrucou:

– Mas nem sabemos quem ela procura! E se for de Sonserina?

– Veremos – Snape virou-se para sua casa – Sr. Malfoy, por favor, veja quem essa coruja está procurando. Traga-me o bilhete que ela carrega.

Héstia não se entregou sem uma luta, e Malfoy ficou todo arranhado antes de poder dizer:

– Professor, ela não tem nenhum bilhete.

Snape aliviou-se por dentro, mas por fora disse apenas, colocando Héstia no seu braço:

– O animal obviamente está desorientado. Vou levá-lo de volta ao Corujal. Vocês já têm tarefa a cumprir. Os monitores Malfoy e Parkinson ficarão responsáveis por me dar um relatório completo de quem não comportar adequadamente.

Os dois estudantes sonserinos abriram sorrisos superiores diante do resto da turma, o que deixou os grifinórios indignados. Rony Weasley protestou:

– Hermione e eu também somos monitores!

Snape se virou tão rápido para ele que suas capas esvoaçaram, e ele sibilou entre os dentes:

– Está falando sem ter sido chamado, Sr. Weasley, e por sua causa, a sua casa vai perder mais 10 pontos. Quero que todos estejam com suas poções borbulhando quando eu voltar. Lembrem-se: seus N.O.M.s estão cada vez mais perto.

Ele deixou suas capas esvoaçarem ainda mais ao se virar e sair da sala, Héstia pendurada em seu braço. Apesar do exterior calmo e tranqüilo, dentro de si Snape estava com o coração acelerado e milhares de pensamentos passando por sua mente enquanto deixava o castelo de Hogwarts.

O fato de Héstia ter chegado até ele sem bilhete indicava que alguma coisa ia mal. O animal parecia aflito, e talvez tivesse sido atacado para ter sua mensagem interceptada por Umbridge. Tinha sido esperto não mandar mensagem alguma. A própria presença de Héstia já era uma mensagem.

Ele praticamente correu até a cabana, tomando cuidado para não ser visto nem chamar a atenção. Se bem que, é claro, o fato de ele ter deixado uma classe em pleno horário de aula não ajudava muito no quesito discrição.

Mas ele tinha que ir. Não teria condição de dar aula sem saber o que tinha acontecido a Rebeca.

Quando chegou à cabana, Héstia voou de seu braço e alojou-se no poleiro. Severo, contudo, mal prestou atenção na coruja. Ele viu uma cena que o deixou totalmente concentrado.

Rebeca estava deitada na cama, inconsciente. Pálida, as roupas ligeiramente desalinhadas, ela parecia um tanto doente. Atendendo à moça, estavam a elfa Winky, que chorava sem parar, e Madame Pomfrey, que passava sua varinha de diagnóstico sobre o corpo imóvel. A enfermeira olhou para ele:

– Ah, Severo. A elfa me disse que a coruja provavelmente o avisaria do que aconteceu. Vou precisar de poções.

– O que aconteceu?

– Aparentemente os sereianos resolveram conhecer Rebeca, segundo me disse Winky. Mas estou tendo notícias muito interessantes aqui.

– Como ela está?

– Oh, alguns dias de repouso e ela vai se recuperar do mergulho no lago. Mas eu detectei outra condição nela que pode ser um pouco mais prolongada.

Severo sentiu o coração se apertar.

Nesse momento, Rebeca se mexeu e abriu os olhos:

– Hum... Quê?

Madame Pomfrey disse:

– Olá, Rebeca. Como se sente?

Ela parecia confusa:

– Madame Pomfrey... Eu... estava dormindo? Acho que tive um sonho....

– Segundo Winky, você não teve um sonho, mas dois sereianos a tiraram do fundo do lago. Pode se lembrar disso?

Ela arregalou os olhos:

– Eles me levaram! Agora eu me lembro! – Ela olhou em volta – Severo! Eu fiquei assustada!

– O que aconteceu?

– Eles me levaram para o fundo do lago, para a vila sereiana. O chefe falou comigo. Queriam ver se eu era amiga. Mas o ar faltou quando estávamos voltando. Eu engoli muita água. Fiquei fraca.

Com seu jeito sincero, Madame Pomfrey disse:

– Ah! Você ficou bem mais que fraca, minha cara Rebeca. Você ficou grávida.

A moça empalideceu e Severo sentiu que seu coração perdeu o ritmo por alguns segundos. Foi Rebeca quem disse:

– G-grávida? Mas... não! Eles não me fizeram mal!

Madame Pomfrey quase riu:

– Oh, não, minha querida, não é nada disso. Você está com cerca de cinco semanas de gestação. Não tem nada a ver com seu "passeio aquático" de hoje. Mas é claro que o bebê precisa de cuidados. Você não poderá mais fazer coisas assim.

Rebeca ainda não tinha se recuperado totalmente do choque:

– O bebê... está bem?

– Oh, sim, muito bem. Se você não sabia sequer que estava grávida, tudo indica que teremos uma gravidez tranqüila – ela se virou – Severo, vou precisar de mais poções do que previa. Rebeca ficará de repouso total durante três dias, só para termos certeza, e ingerindo muitas vitaminas e poções fortalecedoras. Você não pode se esforçar, querida. De preferência fique sentada ou deitada o tempo todo.

– Sim, Madame Pomfrey.

– Agora preciso lhe fazer uma pergunta delicada, minha querida: você quer que eu avise o pai? Sei que as comunicações estão difíceis, mas acho que o pai da criança precisa saber.

Rebeca ficou vermelha e evitou olhar para Severo:

– Não se preocupe com isso, Madame Pomfrey.

– Não estou falando isso de curiosa, Rebeca. Seu estado de saúde mental e psicológico é importante na gravidez. Se há algum problema com o pai da criança, se você acha que ele vai resistir a assumir esse filho, eu preciso saber.

– Madame Pomfrey, eu gostaria que me fizesse um favor: conte o que aconteceu ao Prof. Dumbledore. Ele precisa saber. Depois de tudo que ele fez por mim, tenho medo de ter traído sua confiança.

– Eu falarei com o diretor, mas receio que ele esteja por demais ocupado para vir falar com você pessoalmente, Rebeca. As coisas em Hogwarts não estão nada boas.

Aquilo fez Severo voltar à realidade que sua turma estava sozinha, e ele precisava voltar. Ele deu um passo à frente e disse:

– Infelizmente eu tenho que ir. Deixei uma classe pela metade. Procure-me com sua lista de poções, Madame Pomfrey. Eu farei com a Srta. Rebeca as receba ainda hoje.

Rebeca disse, o coração apertado:

– Obrigada por ter vindo, Severo.

– Eu voltarei – prometeu ele – para trazer as poções.

O Mestre de Poções se virou e saiu apressado em direção ao castelo, sua cabeça um tanto quanto rodando enquanto ele caminhava célere pela estradinha rumo a Hogwarts.

Aquilo, sim, podia-se chamar de surpresa.

Capítulo 15 – Novos rumos

Após um exame completo de Madame Pomfrey, Rebeca recebeu a garantia de que o bebê e ela estavam ótimos, mas o repouso seria para se recuperar do esforço do passeio submarino. Aquele tempo que permaneceria parada também seria de bom grado para que ela refletisse a respeito que fazer de sua vida.

Winky estava a seu lado o tempo todo, sempre oferecendo chás e sucos e outro travesseiro. A elfa parecia ter tomado para si a tarefa de ama-seca de Rebeca e perguntava muito sobre o bebê, dizendo que ajudaria a cuidar dele quando nascesse.

Outro que foi avisado naquela tarde mesmo foi Hagrid, assim que apareceu para trabalhar na reforma. Ele prometeu rever a construção do quartinho extra, que agora iria servir de quarto do bebê. Ele também verificou Héstia, que não tinha saído ilesa da ida a Hogwarts. Hagrid tinha muito jeito com animais e Héstia gostava dele.

Emocionada e grata por tanta atenção de seus amigos, Rebeca sabia que muita coisa só poderia ser decidida quando Severo chegasse. Ela também tinha tomado algumas decisões internamente, e precisava muito falar com Severo.

De madrugada, ele chegou tendo nas mãos uma caixinha que tilintava de tantos vidros de poções. Rebeca olhou para aquele homem e sentiu que ela o amava.

Engraçado, antes ela nunca tinha admitido um sentimento tão profundo por Severo, embora ela tivesse se apaixonado por ele bem rápido. Mas amor, do tipo que ela sentia naquele momento, ela nunca tinha sentido por ninguém antes. Só por Severo.

– Desculpe a demora – disse ele – Tive que esperar Hagrid sair.

– Confesso que tive medo de que você não viesse – admitiu Rebeca – Sei que essa notícia deve ter tido um impacto muito grande.

Snape ajeitou os frascos de poções na mesinha dela, e disse:

– Eu acho que agora você deve cuidar de sua saúde.

– Vou me cuidar. Mas nós precisamos conversar, Severo – ela abriu os braços – Por favor, deite-se comigo.

Ele deu um risinho sarcástico:

– Não foi assim que nós ficamos nessa situação?

Ela sorriu, derretida, para o pai de seu filho:

– Quem disse que você não tem senso de humor? E ele parece estar excelente.

Tirando sua capa, Snape se enfiou embaixo das cobertas, junto com Rebeca:

– Por que não estaria? – ele a enlaçou pela cintura e colou seu corpo no dela – Hum, esperei o dia todo por isso.

Deixando-se ser envolvida por seus braços:

– Nossa, você parece um tanto quanto animado demais para alguém que recebeu uma notícia daquele jeito. Severo, eu juro que não sabia de nada, ou eu teria contado para você antes.

– Do jeito que eu vejo esse assunto – comentou ele –, posso apostar que a pior notícia não vai ser que você ficou grávida, mas sim de quem você ficou grávida.

Rebeca não achou a mínima graça:

– Severo, não se menospreze. Eu não gosto quando você faz isso.

– Estou falando apenas a verdade. Já imaginou como isso vai repercutir na Ordem?

– Não estou preocupada com o que os outros vão dizer – disse ela – Só estou preocupada com o que você pensa. Severo, eu te amo demais. Mas não quero que você encare esse bebê como uma obrigação. Eu não vou lhe pedir nada.

– Não, quem tem que fazer pedidos aqui sou eu.

– Não entendi.

Snape a olhou dentro dos olhos verdes e indagou, com sua voz mais sedutora:

– Rebeca Gall, quer se casar comigo?

Rebeca quase sentiu o coração parar tamanho o susto que levou. Ela ficou boquiaberta, até mesmo tonta por um minuto, e balbuciou:

– C-casar?

– Sim, casar, tornar-se minha mulher. É uma idéia tão repulsiva assim?

– Não, Severo, não foi isso que eu quis dizer. Mas... eu acabei de dizer que não queria que você se sentisse obrigado a fazer coisa alguma. Não quero que se case comigo só por causa do nosso bebê.

Snape pegou a mão de Rebeca e indagou:

– O fato de eu amar você conta para alguma coisa?

– Oh, Severo... Querido, eu te amo tanto... Não quero que você faça algo que não quer.

– O que eu quero é assumir você e esse bebê. Meu filho não vai crescer sem um pai. E nenhum herdeiro do nome Snape vai nascer fora dos laços de casamento.

– Isso parece lindo, mas como vamos fazer? Ninguém pode sequer saber que eu estou viva.

– Acho que se pedirmos a Dumbledore, ele ficará mais do que satisfeito em nos casar. Será um casamento válido e tudo. Eu mesmo me encarrego de falar com ele, para você não precisar arriscar mandar sua coruja. O único problema vai ser a publicação do Profeta Diário. Afinal, o segredo é fundamental.

– Nós daremos um jeito, querido – Rebeca apertou Severo contra si – Tudo vai dar certo, você vai ver.

– Gostaria de partilhar sua confiança. O jogo ficou três vezes mais arriscado.

– O que você quer dizer?

– Se nós vamos fazer isso, vamos ter que ter muito cuidado. Se o Lord das Trevas desconfia que você está viva e ainda por cima, esperando um filho meu, ele vai ficar furioso.

– Aqui estamos bem protegidos, Severo.

– O que eu estou querendo dizer é que ficar comigo pode ser perigoso para você e para o bebê. Se você quiser optar por sua segurança e cortar laços comigo...

Rebeca não o deixou terminar:

– Mas que conversa é essa?

Severo insistiu:

– Você e o bebê teriam mais chance se estivessem longe de mim caso o Lord das Trevas descubra alguma coisa. Por sua segurança e a do meu filho, eu estou disposto a...

Seus lábios foram cobertos pelos dedos delicados de Rebeca:

– Não quero ouvir mais uma palavra. Separar-me de você está fora de cogitação, Severo. Preciso de você dentro da minha vida,e agora sinto que também preciso desse pequenino ser que está dentro de mim, crescendo como se fosse uma declaração do nosso amor ao mundo. Desde que minha vida mudou, você foi a melhor coisa que me aconteceu. Não digo só por ter salvado a minha vida, mas por me fazer conhecer uma emoção que nunca tinha conhecido na vida: amor. Jamais senti por ninguém o que sinto por você, Severo, e estou certa de que é amor. É uma força que me move, que me impulsiona, que me faz sentir viva. Agora estou amando mais ainda, porque tenho esse pequenino ser para amar. Ele está dentro de mim, faz parte de mim – somos uma coisa só, e uma coisa que te ama, Severo. Nem pense em dar as costas a esse amor.

Incapaz de responder a tão emocionada declaração, Snape a apertou contra si e investiu os lábios nos dela, selando o compromisso que ambos pareciam ter firmado. Depois de um tempo, Rebeca se aninhou junto a ele, dizendo:

– Hagrid já disse que vai fazer do quarto extra um quarto de bebê. Vai ser ao lado do quarto principal.

– Faço questão de passar diversas noites da semana aqui. Não poderei me mudar para cá por motivos óbvios, mas prometo estar presente para você e o bebê durante a gravidez.

– Não se arrisque, Severo. Winky me falou da tal professora horrível que o Ministério colocou em Hogwarts, ela parece adorar bisbilhotar por todos os lugares.

– Sim, Umbridge parece ser tola, mas ela pode ser perigosa. Devemos tomar cuidado, e evitar chamar a atenção dela para esse lado do lago. Por enquanto ela está distraída com o menino Potter, concentrando seus esforços em desacreditá-lo ao máximo. Isso é bom para nós – Ele ficou pensativo – Hum... acabo de ter uma idéia.

– O que foi?

– A campanha de Fudge e Umbridge para desmentir a volta do Lord das Trevas tem grande participação do Profeta Diário. A maior parte dos bruxos com o mínimo de discernimento sabe que o que o Profeta publica não deve ser levado a sério. Se publicássemos o anúncio do casamento no jornal, ele logo seria desmentido.

– E isso é possível?

– Não vejo por que não. Poderia levantar algumas suspeitas entre os Comensais, e isso sim pode ser arriscado. Por outro lado, se der certo, nosso casamento estará legalizado. Além disso, se Alvo Dumbledore o oficiar, ele também terá um componente mágico presente em todos os casamentos bruxos. E será uma mágica poderosa.

Rebeca sorriu:

– Nosso amor é uma mágica muito poderosa, Severo. Se ela já criou um bebê, imagine que mais ela não poderá criar?

Severo não sorriu de volta. Ao invés disso, ele a olhou nos olhos e prometeu:

– Rebeca, eu farei tudo que puder para proteger nosso amor. Acredite em mim quando eu digo que farei tudo que puder para manter Você-Sabe-Quem bem longe de você e nosso filho. Eu prometo a você da mesma forma que prometo protegê-la e amá-la.

– Oh, Severo... Todas essas horas e dias que passo longe de você eu só penso nisso: eu sei que você me ama, e fico aqui à espera dos momentos que podemos estar juntos. É isso que me dá forças para prosseguir. Agora tenho uma nova fonte de forças, sabendo que vou ter nosso filho. Você quer pensar em nomes?

Ele deu um meio sorriso:

– Não, você é que tem jeito para pensar em nomes. Mas tenho certeza de que meu herdeiro terá um nome grego.

Rebeca deu um riso alto e animou-se:

– É uma boa idéia. Vou começar a vasculhar os antigos mitos da Grécia para encontrar um nome para o nosso filhinho.

– Tenho certeza de que será perfeito.

– É uma pena que eu não possa gritar do alto das torres do castelo que vou me casar com você. Estou muito feliz. Está se realizando um sonho que eu sequer sabia que tinha. E agora estou muito curiosa para ter nosso filhinho em meus braços – mal posso esperar até que ele nasça.

Snape deu um meio sorriso:

– Calculo que daqui a alguns meses, você vai estar ainda mais ansiosa para que ele nasça. Depois que passarem as náuseas, as tonteiras e a interminável pressão na bexiga, quero dizer.

Rebeca achou graça de sua ironia:

– Oh, bem, isso faz parte de uma gravidez, não é? Mas vai valer a pena.

– Até lá, você precisa se cuidar – disse Snape – Madame Pomfrey recomendou muito repouso. Mas eu fiquei curioso para saber uma coisa: o que aconteceu com os sereianos? Eles lhe fizeram uma visita?

Martha teve que contar toda a sua aventura no fundo do lago, e depois acrescentou:

– Sabe que eu acho que eles já sabiam que eu estava grávida?

– Por que diz isso?

– Eles viviam falando em cria, e eu não estava entendendo direito. O intérprete era ruim, e pensei que tivesse entendido mal. Mas agora acho que eles já sabiam.

– Hum – fez Snape, pensativo – isso é bem possível. Até os trouxas sabem de criaturas marinhas que são sonares naturais. Um golfinho saberia que você está grávida só de olhar para você.

– Que emocionante.

– É, mas seu dia também foi cheio de emoções. Deve procurar descansar agora. Antes de dormir, tem uma poção que você precisa tomar.

– Severo... – ela pegou as mãos dele –, por favor, poderia ficar um pouco comigo enquanto durmo? Só até eu pegar no sono.

– Não, eu não vou fazer isso – ao ver a expressão de desapontamento em Rebeca, ele acariciou seu rosto ternamente – Essa noite eu quero dormir a seu lado. De manhãzinha eu volto para o castelo.

– Oh, Severo.

Eles se beijaram mais uma vez e deixaram-se ficar abraçados, deitados na cama. Havia paz e alegria ao redor de Rebeca, tanta que ela parecia contaminar o sisudo Severo Snape, pai de seu filho e futuro marido.

Mas por quanto tempo esse sentimento iria durar, essa era a pergunta difícil de responder.

Capítulo 16 – As partes injuriadas

Uma semana se passou, e Rebeca cumpriu à risca as determinações de Madame Pomfrey. Além de cuidar de todo o serviço da casa, Winky estava vigilante para que ela tomasse as vitaminas e sempre tivesse um tempinho para descansar. Até Héstia estava ajudando a cuidar de Rebeca, pousando em seu ombro e piando gentilmente no seu ouvindo, como se dissesse de sua preocupação com o estado de saúde de sua dona.

Confinada à cama, Rebeca tratou de aperfeiçoar a prática do tricô. Afinal, agora tinha uma infinidade de possibilidades à sua frente: mantas, cachecóis, botinhas, tip-tops, luvinhas... Winky trouxe algumas revistas com receitas e Rebeca se dedicou a estudar aquilo com afinco. Fazer roupas para o bebê com as próprias mãos estava se tornando uma experiência e tanto, além de uma conquista pessoal. A sensação era diferente de tudo que Rebeca já vivera até o momento.

Naquela mesma semana, Severo voltou com novidades: ele tinha falado com Dumbledore sobre o casamento, e o diretor de Hogwarts havia recomendado que tudo fosse feito o mais rápido possível. Contudo, Severo não tinha querido fazer nada sem a aprovação de Rebeca, que concordou, dizendo que tinha total confiança na avaliação de Dumbledore.

Era hora de avisar outros interessados. Embora não houvesse muitos deles, eles resolveram avisar tio Artêmio (para que servisse de testemunha), Madame Pomfrey, Minerva McGonagall e Hagrid – basicamente todos os que sabiam da existência de Rebeca. Winky serviria de ama-de-honra. Minerva transfiguraria um vestido de noiva. A data foi marcada para não muito distante: 25 de novembro, uma noite de sexta-feira e véspera de um feriado de Hogsmeade. Severo e Rebeca poderiam desfrutar de um fim-de-semana como lua-de-mel.

Antes disso, ela recebeu a visita de tio Artêmio. Ele chegou apavorado e fez toda a espécie de perguntas para Rebeca. Após convencer seu tio de que não fora seduzida para ser abandonada em seguida, e que Severo iria se casar com ela, livre de qualquer tipo de pressão, Rebeca viu que ele se acalmou um pouco. E no final, também Artêmio se mostrou muito feliz diante da felicidade que sua sobrinha estava vivendo. Afinal, ele mesmo tinha sido casado por pouco tempo, mas tinha excelentes recordações. Sua esposa falecera de uma doença incurável depois de oito anos de felicidade conjugal. Ele escolhera ficar com as lembranças dos anos felizes do casamento, não com as lembranças da doença que a vitimara.

O problema jamais foi Artêmio, e sim, outro.

Rebeca tricotava na sala e Hagrid trabalhava nos retoques finais da reforma naquela noite quando Héstia entrou voando e soltando um grito pavoroso que parecia arranhar o fundo de sua garganta. Rebeca assustou-se:

– Héstia!

A coruja pousou no ombro de sua dona e deu outro pio alto. Hagrid veio ver o motivo do alvoroço.

– O que ela tem?

– Eu não sei, Hagrid. Ela costuma sair para caçar essa hora. Talvez esteja assustada com alguma coisa.

Foi então que eles ouviram um arranhar na porta. Rebeca enfiou as pernas para cima da poltrona:

– Parece ser um bicho.

– Deixa que eu cuido disso – disse Hagrid.

Ele abriu a porta e um cão negro, espetacularmente grande, aproveitou para entrar assim que ele abrira a porta. Rebeca gritou quando o animal se dirigiu diretamente a ela, e Héstia farfalhou as asas, piando.

– Você ficou maluco? – ralhou Hagrid, bravo como Rebeca jamais vira – O que está pensando, vindo até aqui?!

Ele não falava mais com o cachorro e sim com o homem que havia se transfigurado – Sirius Black.

– Eu precisava vir. Tinha que falar com Rebeca.

Ela disse:

– Sirius, é muito arriscado. O que aconteceu?

– Você ainda me pergunta o que aconteceu? – ele andava de um lado para o outro, nervoso – Como pode me fazer uma pergunta dessas, Rebeca?

– Mas eu não estou entendo você, Sirius! Aconteceu alguma coisa grave? Tio Artêmio está bem?

– Ele está ótimo, é com você que estou preocupado. O que lhe deu na cabeça? Ter um filho do Seboso? Casar com ele?

Rebeca suspirou:

– Sirius...

– Depois de tudo que eu te disse sobre ele, você ainda assim resolveu ficar com ele. Até aí, tudo bem. Eu pensei que fosse uma coisa passageira. Afinal, você está sozinha, isolada e pode estar bastante vulnerável. Mas daí a casar com ele? Rebeca, ele já foi um Comensal da Morte!

– Sirius, por favor...!

– Eu me preocupo com você, Becky, e isso é verdade, senão eu não estaria aqui.

Hagrid estava aborrecido:

– Que história é essa de vir aqui assustar Rebeca no meio da noite?

– Hagrid, fale com ela. Isso é um absurdo!

– Sirius, se ela gosta do Prof. Snape, então não devemos falar nada além de dar felicidades.

– Felicidades? É por querer a felicidade dela que eu estou aqui, Hagrid!

Rebeca pediu:

– Tente se acalmar um pouco, Sirius. Deixe-me fazer um chá para você.

– Não quero chá! Quero que você reconheça o erro que está cometendo. Becky, ele vai te fazer infeliz. É um bastardo sem coração que não se preocupa com ninguém.

Rebeca deu de ombros:

– Lamento, Sirius, mas não acredito em você. Severo já me deu inúmeras provas do contrário. Eu o amo e estou muito feliz em não só me casar com ele, mas também ter um filho dele.

Sirius a encarou para depois dizer:

– Ela lhe deu alguma poção? É por isso que está pensando assim? Ele enfeitiçou você?

– Sirius! Eu amo Severo. Amo de verdade. É tão difícil assim aceitar isso?

– Claro que é! Isso vai te fazer infeliz!

– Eu não quero brigar com você, Sirius, mas eu já sou bem grandinha para tomar minhas decisões. Uma delas foi avisar que eu amava Severo. Acho que você nunca aceitou esse fato, e eu sinto muito. Posso fazer uma pergunta?

– Claro.

– Por um acaso... você está apaixonado por mim?

Sirius ficou vermelho:

– Eu não posso negar que você é especial para mim, Becky. Acho que no fundo eu estou esperando você desistir do Seboso e ficar comigo, por isso é que eu quero que esse casamento acabe agora.

– Mas e meu filho? Eu estou para ter um filho dele.

– Eu o criaria como se fosse meu.

Aquilo deixou Rebeca espantada. Com um pigarro, Hagrid saiu da cabana sem que os dois percebessem. Rebeca abaixou a cabeça:

– Sirius, por favor –

O animago a interrompeu:

– Não, eu não acho que esteja apaixonado por você, Rebeca. Mas eu sinto uma conexão, uma ligação entre nós. Por isso é tão difícil aceitar que você esteja se casando com o Ranhoso.

Ela pronunciou claramente, aborrecida:

– O nome dele é Severo. E não vou deixar você destratá-lo dentro dessa casa. Sinto muito, Sirius, mas é assim que as coisas são.

Sirius arregalou os olhos. Pela primeira vez, ele parecia escutar Rebeca.

– Você gosta mesmo dele, não gosta?

Rebeca assentiu, com um sorriso:

– Procure entender. Jamais pensei ser possível amar alguém como amo Severo. Pensei que pudesse entender isso.

– É difícil, Rebeca.

– Também me dói muito ouvir você falar todas essas coisas horríveis do homem que eu amo e que é pai do meu filho. Eu já disse isso antes e volto a dizer: não quero ser usada como motivo de briga entre vocês dois. Tudo indica que vocês jamais vão poder se dar bem, mas talvez possam se tratar com civilidade. Pense nisso, Sirius. Por mim.

Ele suspirou aborrecido:

– Tratar o – ia dizer "seboso", mas conteve-se a tempo – er, Snape com civilidade? Isso depende dele, também!

– Eu já pedi isso a ele, mas não posso garantir que ele vá fazer isso. Se vocês pudessem pelo menos se tratar com decência, eu já ficaria satisfeita. Pedir que os dois se tornem amigos é demais, eu sei que é.

– É, você tem razão.

– Significaria muito para mim, Sirius. Eu acho você um bom amigo. Gostaria de permanecer sendo sua amiga. Mas você tem que saber que Severo faz parte de minha vida.

Ele deu um sorriso maroto:

– Para alguém tão suave, você até que é bem teimosa quando quer ser.

– Sou teimosa nas coisas importantes para mim. Severo é importante. Você também.

– Eu agradeço por isso. Agora é melhor eu ir. E, er, quero dizer, parabéns pelo casamento.

– Obrigada, Sirius – ela o abraçou – Isso significa muito para mim.

– Bom, é melhor eu ir indo. A lua pode sair esta noite, e eu vou ter que me esconder pelos matos.

– Tome cuidado. Não se arrisque mais.

– Eu queria ver Harry, mas acho que é arriscado demais.

– Sim, eu soube que a situação em Hogwarts está terrível. A mulher que puseram lá é pavorosa.

– Ela tem feito maldades com Harry e o baniu do quadribol para sempre. Se eu a encontrar, não sei do que sou capaz.

– Tente manter a cabeça fria. Tudo vai dar certo. Tenha confiança.

– Obrigado. E já sabe: se o Ran... er, Snape, fizer alguma coisa...

– ... eu tenho um amigo com complexo de herói que virá me salvar das garras do malvado professor de Poções, eu sei – ela sorriu – Agora vá em segurança.

– Cuide-se bem, Becky.


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