Os segredos mais bem guardados escrita por magalud


Capítulo 4
Parte Quatro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/639437/chapter/4

Capítulo 10 – Decidir é preciso

Nos dias que se seguiram, até Winky havia notado que Rebeca estava mais pensativa e distante. As palavras de Severo e Sirius estavam fazendo voltas e voltas na cabeça da moça, que ainda não conseguira se acalmar. Ela se via no meio de uma briga muito, muito antiga, e estava decididaa não fazer parte dela.

Talvez o mais correto fosse desistir dos dois, tanto quanto amigos como potenciais namorados, já que a disputa parecia ferrenha.

Sem contar o fato de que ela jamais se imaginou estar no centro de uma disputa amorosa desse tipo. Nenhum dos dois havia se declarado totalmente, mas havia um interesse romântico claro e inequívoco e isso também era extremamente novo e assustador para Rebeca. Ela esperava que nenhum deles fosse capaz de atos extremos. Ela se lembrava das lendas de Helena de Tróia e a escolha de Páris, que desencadeou uma guerra de 10 anos. Nem simbolicamente Rebeca gostaria de ver coisa semelhante acontecendo por sua causa.

Para aumentar sua angústia, Héstia tinha passado os últimos dias trazendo animais mortos para dentro de casa. Como era uma pessoa muito asseada, Rebeca tentou explicar à coruja que cadáveres eram anti-higiênicos. Foi preciso Winky explicar a Rebeca que Héstia estava apenas tentando animá-la, mostrando sua comida. Rebeca acariciou a coruja, que lhe bicou a ponta dos dedos afetuosamente. Ao menos, essa era uma amiga que não a deixava confusa.

Ela tentava afastar sua cabeça desses pensamentos e se entreter com um livro quando uma grande ave entrou pela porta aberta da cabana no meio da tarde ensolarada. Era uma coruja, que largou um envelope aos pés de Rebeca e foi pousar no poleiro de Héstia. Winky disse, admirada:

– Mestra Rebeca tem uma carta!

Ela pegou o envelope e abriu-o, dizendo:

– É do Prof. Snape, Winky. Ele diz que gostaria de fazer-me uma visita esta noite.

Winky disse:

– Mestre Snape assusta Winky. Mestre Snape parece ser muito feroz. Mestra Rebeca quer que Winky fique aqui durante visita de Mestre Snape?

Rebeca sorriu:

– Obrigada, Winky, mas o Prof. Snape é meu amigo e nós nos damos muito bem. Você não precisa se preocupar. Ele me salvou de homens maus que me machucaram muito.

Admirada, Winky arregalou os grandes olhos verdes:

– Ohhhhh. Winky não sabia disso. Nenhum dos elfos gosta de Mestre Snape. Winky vai dizer que Mestre Snape é um homem bom.

– Ele é um bom amigo para mim, Winky. Vou responder que ele pode vir me visitar.

– Mestre Snape também é gentil com Mestra Rebeca. Winky vai dizer para elfos cuidarem melhor dos aposentos de Mestre Snape.

Rebeca se riu da simplicidade da elfa doméstica, mas percebeu que seu coração estava bem menos pesado com a perspectiva da visita de Severo. Ela tinha genuína simpatia por ele, uma amizade profunda e gratidão por tudo que ele tinha feito por ela até aquele momento. Aquela situação só tinha enevoado um pouco desses sentimentos.

Ela redigiu uma pequena nota dizendo que seria um prazer recebê-lo aquela noite e amarrou na patinha de Héstia. Orgulhosa, a coruja olhou para a recém-chegada com ar superior e levantou vôo, seguida pela companheira. Rebeca pediu a Winky que arranjasse da cozinha de Hogwarts alguns sanduíches no caso de Severo chegar com fome.

Snape chegou com a cara amarrada, gestos bruscos e um olhar frio. Rebeca reconheceu nesses sinais a inspiração do terror que algumas pessoas sentiam na presença do Mestre de Poções. Mas ela sabia que aquilo era uma maneira de disfarçar o nervosismo. Ele sempre parecia sob controle.

Exceto aquela noite.

– Boa-noite, Severo.

– Rebeca – ele inclinou a cabeça respeitosamente –, como tem passado?

Ela o convidou a sentar com um gesto:

– Tenho lido bastante. Agradeço-lhe novamente pelos livros. Têm sido fundamental para preencher os meus dias.

Ele se sentou no sofá:

– Se precisar de mais livros, é só falar. Posso enviá-los por uma coruja.

– Estou pensando em me dedicar a algum trabalho manual. Tenho muito tempo livre e nada para fazer com as mãos, graças à ajuda de Winky – ela sorriu para Severo – Como têm sido suas aulas?

Aquilo pareceu trazer um pouco de preocupação a ele:

– Hogwarts está diferente esse ano em relação a outros anos. Há uma interferência e monitoramento direto do Ministério na escola como jamais houve. O Diretor está preocupado.

Rebeca notou:

– E você também.

– Há muito em jogo. Tudo indica que uma guerra se avizinha. E não sei se os bruxos estão preparados para lidar com essa situação. Eles sequer querem aceitar a volta do Lord das Trevas.

– Oh – ela se apavorou – Isso só ajuda os planos dele, aposto.

– Você tem razão.

– Desculpe. Não queria tocar em assuntos desagradáveis. Quando você vem aqui, você parece ficar mais despreocupado.

– É verdade – admitiu – Esse seu lugar parece ser um oásis de tranqüilidade dentro desse mar de incertezas que estamos vivendo.

Ela se sentou ao lado dele, no sofá:

– Você é bem-vindo sempre que quiser, Severo.

– Pensei que quisesse me ver distante um tempo. Pelo menos até... resolver aquelas pendências de que falamos.

– Desculpe se dei essa impressão. Mas é verdade que fiquei confusa durante algum tempo.

– Então não está mais?

– Não, não estou – ela sorriu, marota – O que não significa que eu tenha encontrado uma solução perfeita.

– Na minha vida, descobri que perfeição depende muito de um ponto de vista.

Rebeca decidiu não fazer rodeios:

– Olhe, é melhor eu lhe dizer logo o que eu decidi. Eu decidi seguir meu coração. E ele me disse que eu não quero cortar relações com Sirius. Por outro lado, eu não quero que você desapareça de minha vida, Severo.

O Mestre de Poções levantou uma sobrancelha, sarcástico:

– E desde quando isso se constitui numa decisão?

– Desde que eu consiga fazer você entender que Sirius jamais será tão importante na minha vida quanto você.

Snape se virou para encará-la de maneira perscrutadora e Rebeca parecia exalar uma espécie de excitação nervosa ao sorrir para ele.

– Eu quero dizer que... gosto muito de você, Severo.

– E quanto a Black?

– Como eu disse, não quero cortar relações com ele. Mas perder você... Isso está fora de questão – Rebeca pegou uma das mãos longas e elegantes entre as suas – Se você ainda estiver interessado, eu gostaria de... aprofundar nossa amizade.

Snape relutava em aceitar totalmente o que ela dizia, por isso retirou a mão, dizendo:

– Eu gostaria de alertá-la para as implicações dessa decisão. Você mal me conhece, Rebeca. A imagem que você tem de mim parece ser bem diferente da compartilhada pelo resto da bruxandade. Não sem razão, devo acrescentar.

A moça teve que admitir:

– Para você ser um bom espião, deve ter feito algumas coisas das quais não orgulha. Eu posso entender isso. Também posso aceitar isso.

– Rebeca – ele disse, em voz solene –, eu já fui um Comensal da Morte. Convicto, não como um espião infiltrado. Como você disse, não é nada de que eu me orgulhe, mas eu tenho que pagar pelos meus erros. Você pode não querer nada comigo, já que Voldemort matou sua família. Eu vou entender.

– Isso não seria empecilho para mim, eu lhe garanto. Eu sei que o Prof. Dumbledore confia em você, e isso é o bastante para mim.

– Eu também tenho um gênio difícil. As pessoas me consideram ranzinza, injusto, cruel e francamente desumano. Também temos uma diferença de idade a considerar.

Rebeca sorriu, voltando a pegar as mãos dele:

– A questão da idade é fácil de ignorar. Você vai descobrir que eu também tenho os meus dias azedos, como todo mundo. Nem por isso deixamos de ser dignos de sermos amados, Severo. Mas se você não me achar atraente, ou não quiser se aproximar de uma morta-viva...

– Não diga isso – ele falou, com sinceridade – Você é muito atraente e muito viva. Lamento que tenha que ficar escondida, ao invés de desfrutar dos prazeres da vida.

O sorriso da moça tornou-se maroto:

– Isso quer dizer que aceita ser meu "amigo especial"?

– É isso que seremos? Amigos especiais?

O coração de Rebeca a fez responder:

– Serei o que você quiser que eu seja, Severo. Enquanto você me quiser.

Severo olhou para a mulher que segurava suas mãos e lhe oferecia seu coração. Ele estremeceu no íntimo, não só devido ao amor que via ser retribuído, mas também com a responsabilidade em aceitar aquele coração tão sincero. Magoar aquele coração era a última coisa que ele queria fazer. Naquele momento, ele fez uma promessa a si mesmo de que jamais magoaria Rebeca.

Por isso mesmo ele alertou:

– Há que se considerar minha posição de espião. Ela pode colocar você em perigo.

– Severo, eu estou em perigo por ter sobrevivido. Você me deu vida, uma segunda chance em Hogwarts e agora me oferece calor e carinho. Tudo isso é arriscado, e eu estou disposta a correr todos esses riscos a seu lado.

Ele levou as mãos que seguravam a suas a seus lábios e beijou-as com carinho.

– Preciso lhe dizer, confessar uma coisa.

– Confessar?

– Você uma vez me perguntou por que eu a salvei. Na verdade, muitas pessoas ficaram intrigadas por isso. Resgate não faz parte das minhas atribuições.

– Você me disse que me salvou porque eu precisava.

– Isso é nada mais do que dizer o óbvio. Mas... minha motivação não foi totalmente... altruística.

– Não?

– Não. Eu... receio estar apaixonado por você.

Aquilo causou um grande impacto em Rebeca. Ela não fazia idéia de que os sentimentos de Severo eram tão profundos. Contudo, ela podia sentir que grande parte desse impacto era de alegria ao sentir que seu coração também nutria emoção intensa por aquele homem que parecia estar tão inseguro de seu amor.

Num impulso, ela largou das mãos de Severo, colocou-as de cada lado do rosto dele e puxou-o para si, a fim de que seus lábios cobrissem os dele. O toque foi rápido e gentil, mas eletrizou cada célula do corpo de Rebeca.

Severo respondeu ao beijo, enlaçando os braços no corpo dela e sentindo-lhe a silhueta frágil e delicada. Ele a tinha em seus braços, e isso era uma coisa que ele sequer ousara sonhar, especialmente depois que o vira-lata Sirius Black quase tinha destruído qualquer chance de ele ter a mulher que povoava sua imaginação.

Naquele momento, Severo experimentou um intenso sentimento de conquista, inebriado que estava pelos beijos que se estenderam madrugada adentro.

A lua apareceu refletida no lago, como que para espiar um momento tão importante, dando suas bênçãos ao novo casal que se formava.

Capítulo 11 – Um grande amigo

Severo passou a ser visita mais assídua na cabana de Rebeca, e eventualmente a relação deles evoluiu para um contato mais íntimo. Chegar a esse ponto foi tudo muito natural, mas depois Rebeca descobriu que era mais natural ainda do que ela imaginava.

Rebeca só conhecera um homem com quem tinha sido íntima. Mas ao conhecer Severo, ela tinha a impressão de que esse era o primeiro homem que conhecera. Dessa vez havia carinho e respeito. Severo desfrutava dela, despertando desejos que ela jamais tinha tido consciência de estarem ali. Por outro lado, ele também se oferecia para que ela desfrutasse de seu corpo, e Rebeca se banqueteara naquela pele alva, de músculos firmes e tesos, bem como acariciava as cicatrizes e marcas de um passado atormentado e cruel.

Uma das aventuras que os dois tiveram foi um banho nas águas do lago, apenas com a lua como testemunha. Nus, eles brincaram e se deliciaram nas águas frescas da noite do finzinho de verão. Em breve, estaria frio demais para eles poderem repetir o programa noturno. Aquela foi uma das noites mais divertidas e sensuais que Rebeca podia se lembrar de toda a sua vida.

Antes e depois do sexo, com ou sem ele, os dois conversavam. Sobre tudo e qualquer coisa. Jamais deixaram de ser bons amigos, e Rebeca lhe dizia o que tinha visto, ou onde tinha passeado, enquanto Severo comentava algumas das coisas que acontecia na escola – que passava por momentos difíceis.

A única coisa sobre a qual ele não comentava era seu trabalho de espião. Rebeca só perguntara uma vez, e ele dissera que era difícil falar sobre isso. Querendo poupá-lo, ela evitava perguntas desse tipo, mas estava ali, de braços abertos, para recebê-lo depois de uma sessão particularmente difícil com Lord Voldemort. Nesses dias, os dois não conversavam muito. Ela sentia que Severo só precisava de seu apoio e sua companhia, mais do que de sua compreensão. Ele parecia tão atormentado que só o que ela queria dar-lhe conforto.

Uma das coisas sobre as quais eles mais conversavam (e nunca decidiam) ser sobre quando contar aos demais.

– Winky já está desconfiando – lembrou Rebeca, apoiando sua cabeça no peito nu de Severo – As duas toalhas que deixamos depois de nadar no lago foram uma dica que até um elfo doméstico não deixou escapar.

– Precisamos tomar mais cuidado – disse ele – Acho que seria prudente revelarmos a uma única pessoa.

– Só uma? Por quê? E quem seria?

– Dumbledore. Primeiro, porque ele provavelmente já sabe. Depois, porque se dissermos, será de bom tom.

– Concordo – disse Rebeca – Ele foi muito bom para mim. Não gostaria de enganá-lo depois de tudo que ele fez.

– Também devo muito a Dumbledore.

– Amanhã mesmo eu escrevo uma carta para ele.

– Então eu vou falar pessoalmente com ele primeiro. Ele estará mais preparado para receber sua coruja. Falando nela, ela parou de se comportar estranhamente?

Rebeca riu:

– Sim, ela voltou a ser o bichinho limpinho de sempre e parou de trazer bichos mortos para dentro de casa. Ela só queria me animar. Fiquei muito emocionada. Gosto de Héstia.

– Fico feliz que vocês duas tenham se dado bem. Parece-me que você fica muito sozinha e isso não é bom.

– Severo, tudo indica que você também é muito solitário. Foi bom nos encontrarmos.

Ele disse:

– Foi minha sorte encontrar você.

– Imagina a minha sorte. Você salvou a minha vida, Severo. Mudou minha vida.

– Um dia precisaremos conversar melhor sobre tudo o que aconteceu com você – disse ele, sombrio – Mas não hoje.

Rebeca notou que ele pareceu mais preocupado quando disse aquilo, então ela se aninhou junto a ele. Adorava o calor de seu corpo, fazendo-a mais segura, mais certa de tudo que os dois passavam juntos.

Juntos.

A palavra parecia mágica, e essa era uma mágica que até um aborto como Rebeca era capaz de fazer.

Rebeca foi até a varandinha para que Héstia pudesse levar sua carta até o Prof. Dumbledore quando viu movimento no caminho que levava até sua cabana. A princípio ela ficou apreensiva, mas logo reconheceu a silhueta da Profª McGonagall, com um homem alto que ela não conhecia. A coruja partiu e Rebeca ficou a observar o pássaro se afastar rumo ao castelo enquanto o casal se aproximava. Ela então se virou para seus visitantes e sorriu:

– Olá! Bem-vindos!

A profª McGonagall sorriu, do seu jeito austero:

– Olá, Rebeca! Como está?

– Bem, obrigada, professora. Vamos, entrem os dois.

Uma vez lá dentro, Minerva McGonagall apresentou:

– Rebeca, quero lhe apresentar Rúbeo Hagrid. Ele será seu vizinho mais próximo.

Rebeca ficou maravilhada, e estendeu-lhe a mão:

– Sr. Hagrid! Ouvi falar muito no senhor. Fez boa viagem? Machucou-se em algum lugar?

O homenzarrão pareceu constrangido:

– Oh, isso não é nada, Sim, senhorita, a viagem foi boa, obrigada.

– Por favor, sentem-se. Gostariam de um refresco? O verão está indo embora, mas parece que o calor quer perdurar mais um pouco. Winky, por favor, poderia providenciar um refresco para nossos amigos?

– Sim, Mestra Rebeca.

A Profª McGonagall disse:

– Hagrid construiu essa cabana e a usava como local de verão.

Ele olhou em volta:

– Está tudo mudado. Muito bonito.

– Agora eu entendo o tamanho dos móveis – sorriu Rebeca – Desculpe, tive que diminuir alguns deles e fazer algumas modificações.

– Eu achei que ficou muito bom – disse Hagrid, sentando-se numa das poltronas imensas que tinham sobrado – Deu um ar feminino.

McGonagall disse:

– Agora que Hagrid voltou, talvez vocês possam conversar sobre a reforma do banheiro interno, ou alguma outra modificação que queira fazer.

Rebeca disse:

– Se não for abusar, eu gostaria de modificar algo mais além do banheiro. Será possível, Sr. Hagrid?

– Por favor, me chame apenas de Hagrid, senhorita.

– Está bem... Hagrid, mas deve me chamar de Rebeca. Aqui somos todos amigos.

– Então, Rebeca, o que pretende na reforma?

– Já que estaremos fazendo um banheiro interno, eu pensei que um outro quarto e uma pequena cozinha seria interessante – Winky, que estava trazendo uma jarra e copos de refresco numa bandeja, soltou uma exclamação de pavor – Não que eu esteja criticando minha boa amiga Winky, mas às vezes eu gosto de cozinhar para me ocupar. Fazer alguns biscoitinhos, ou um jantar para alguma visita, mesmo que eu não receba muitas...

Minerva sorriu simpaticamente, pegando um copo do refresco. Rebeca não sabia, mas a professora de Transfigurações tinha protestado contra a mudança de Rebeca para a cabana, temendo o isolamento da moça. Mas ela se surpreendera ao ver Rebeca sorrindo e bem-disposta. Parecia que a moça estava enfrentando muito bem a solidão. Ela disse:

– Um outro quarto, Rebeca?

– Estou pensando em começar a fazer trabalhos manuais. Esse quarto serviria como estúdio, ou um ateliê. Mas se Hagrid achar que não será possível fazer, ou que dará muito trabalho, não tem problema.

Hagrid disse:

– Não existe impedimento para se fazer o que você está pedindo. Só que dará um pouco mais de trabalho e você ficará desconfortável durante a reforma.

– E demoraria muito tempo?

– Pelo menos um mês, senão mais. E seria bom começar o quanto antes, porque o inverno chega quando menos se espera.

– Por mim, não tem problema em se começar o quanto antes. O que a senhora acha, Profª McGonagall?

– Acho que é muito natural você querer fazer sua casa mais confortável, já que você vive nela tanto tempo. Lamento não ter podido visitá-la mais.

– Ora, não se preocupe com isso. Eu ouvi falar que Hogwarts está passando por um período difícil. Ainda mais com a volta de Você-Sabe-Quem e uma intervenção branca na escola...

Hagrid ficou espantando:

– Você sabe sobre a Profª Umbridge? Como?

– O Prof. Snape veio me ver há alguns dias – ela disse, emendando rapidamente – para repor meu estoque de poções, e trouxe-me novidades. Ele tem sido muito bom para mim.

A Profª McGonagall ergueu uma sobrancelha. Aquele definitivamente não era o estilo de Severo Snape.

Rebeca indagou, desviando-lhe a atenção:

– Como está o Prof. Dumbledore? Ele também é muito bom para mim.

– Ele lamenta não poder ter vindo – disse Minerva – A situação em Hogwarts não permite que ele se ausente.

– Eu entendo. Dirigir uma escola traz muitas obrigações. Ainda mais nestas condições.

Hagrid garantiu:

– Prof. Dumbledore é um homem extraordinário. Ele me recomendou muito que a visitasse sempre que possível.

– Estão vendo? Ele é extremamente gentil comigo. Devo-lhe muito, praticamente a minha vida.

– Sei bem o que quer dizer – concordou Hagrid – Bem, que tal combinarmos mais sobre a reforma? Sempre tive uma idéia de fazer um depósito aqui desse lado, mas se você quer mesmo um banheiro interno, temos que pensar em canos e tubulação de água.

Eles começaram a tecer os detalhes da reforma, que não seria nada pequena, avisou Hagrid. Mas ao final dela, Rebeca teria um quarto extra, uma extensão da sala que pudesse servir de cozinha e um banheiro interno, inclusive com banheira. Com o rosto vermelho, ela fez questão de perguntar a Hagrid se era possível fazer uma banheira que coubesse duas pessoas.

Ela tinha planos para longos banhos a dois.

Capítulo 12 – Titio sabe tudo

Olhando para fora, Rebeca viu céu azul e sol brilhante, mas algumas nuvens perto do horizonte indicavam que aquele dia poderia ter uma chuva no final da tarde. Ela e Winky estavam organizando as roupas, visto que a cabana iria começar a ser reformada e elas precisavam liberar pelo menos parte do quarto para Hagrid poder trabalhar.

Da segunda vez que ela olhou para fora pela janela, ela viu uma coruja grande se aproximando num vôo estranho. O pobre animal parecia estar com dificuldades em se manter no ar, mas bravamente chegou até a cabana, largando um envelope na mesa, onde caiu, exausto.

Rebeca correu a acudir o bicho:

– Oh, meu Deus. Ela não me parece nada bem.

– O que foi, Mestra Rebeca?

– Essa coruja, veja só – Ela tentou acariciar a ave, que parecia gemer baixinho – Ela está machucada.

– Machucada?

Rebeca viu sinais de sangue perto da junção da asa ao corpo.

– Não é à toa que ela mal conseguiu chegar aqui. Winky, por favor, traga um pouquinho de água e comida para o pobre animalzinho.

Héstia observava as ações de sua dona com interesse. A grande coruja, que ofegava ruidosamente, pareceu aceitar de bom grado a água e a comida. Rebeca disse, acariciando o animal:

– Nós vamos tratar de você, viu? – A ave piou alto, agradecida – Ainda devo ter um pouco daquele ungüento que Madame Pomfrey receitou para minhas feridas. Fique bem quietinha.

Winky disse:

– Mestre Hagrid é o guarda-caça e guarda-chaves de Hogwarts. Ele vai poder curar a coruja para Mestra Rebeca.

– Que boa idéia, Winky. Será que você poderia levá-la para Hagrid? Primeiro vamos embrulhá-la no pano para ela não se machucar mais ainda – Rebeca a envolveu num pano de cozinha e passou-a para Winky – Aqui está. Leve com cuidado.

– Volto já, Mestra Rebeca.

A elfa estalou os dedos e desapareceu da vista de Rebeca. A moça chegou-se para Héstia, em seu poleiro, e disse, acariciando-a:

– Oh, querida Héstia. Ainda bem que não aconteceu com você. Eu teria um ataque de nervos se alguma coisa acontecesse com você... Mas espere um pouco – Ela pegou Héstia com cuidado e viu que algo estava errado com sua coruja também. – Ai meu Deus. Estão faltando algumas penas, Héstia! Oh, minha coruja, o que fizeram com você? O que aconteceu, minha queridinha?

Héstia piou alto, como se chorasse as penas perdidas. Rebeca examinou-a detalhadamente e viu que ela não tinha feridas. Era como se ela tivesse escapado por pouco de um ataque.

Então ela se lembrou do envelope esquecido na mesa. Viu seu nome escrito e abriu-o, aflita. Dentro, uma letra espaçada trazia um bilhete manuscrito. Era de Sirius, dessa vez usando o codinome Snuffles.

"Querida Becky,

Espero que você esteja bem. Eu soube que você resolveu se acertar com o Ranhoso. É óbvio que eu não fiquei nada feliz com essa decisão, mas vou respeitá-la. Se algum dia você se arrepender,ou se ele magoá-la, saiba que sempre encontrará em mim um amigo. Também não gostaria que essa sua decisão fosse um empecilho à nossa amizade.

Nenhuma notícia de Artie. Mas anime-se. Você conhece o ditado: nenhuma notícia geralmente é boa notícia.

Meu afilhado me disse que as comunicações no colégio podem estar sendo monitoradas, e as corujas, interceptadas. Espero que essa carta chegue intacta às suas mãos. Se quiser mandar uma resposta, pense bem no que vai escrever.

Com carinho,

Snuffles"

Rebeca dobrou a carta de Sirius com cuidado, pensativa. Então era isso que tinha acontecido com a coruja. Alguém tinha tentado interceptá-la para ler o conteúdo da carta. Isso significava que era arriscado mandar qualquer correspondência. Bem, fosse como fosse, Sirius não estava esperando uma resposta dela. Isso poderia evitar-lhe uma grande incomodação, gerada a partir do momento que ela escolhera Severo.

Nunca tinha sido intenção de Rebeca magoar o animago, mas ela não tivera escolha. Seu coração estava feliz e saltitante com Severo dentro dele. E se Sirius não queria renovar a amizade, bem, então essa era escolha dele. Ela sentiria sua falta, e esperaria pelo dia em que eles poderiam ser amigos novamente.

Winky devolveu-a à realidade, indagando, preocupada:

– Aconteceu alguma coisa, Mestra Rebeca?

Rebeca suspirou:

– Acho que perdi um amigo e Héstia, algumas penas. Está perigoso mandarmos correspondência. Eu não tinha idéia de que a situação em Hogwarts estava tão séria.

Winky assentiu:

– Sim, está. Dobby tem feito mil recomendações a Winky. Ninguém deve saber que Mestra Rebeca está aqui. Isso é muito importante!

– Confio em você, Winky. Tem sido uma grande amiga e minha companhia constante.

Winky pareceu entristecida. Rebeca indagou:

– Winky ofendeu Mestra Rebeca?

– Claro que não, Winky. Você tem sido uma boa amiga.

– Mestra Rebeca gosta do trabalho de Winky?

– Sim, gosto. Gosto muito.

– Mestra Rebeca vai manter Winky?

– Como assim? Winky, por que todas essas perguntas?

– Mestra Rebeca não vai mandar Winky embora? Dar meia para Winky?

– Winky, você me é muito importante, e mais do que isso, é uma companhia agradável para mim. Além do mais, você não é minha elfa. Não posso lhe dar roupas porque você é elfa de Hogwarts, não minha. Mas de onde veio essa idéia de que eu a mandaria embora?

Winky deixou escapar uma lágrima:

– Winky ouviu Mestra Rebeca pedindo a Meste Hagrid para construir cozinha na cabana para poder cozinhar sozinha. Winky pensou que não gostasse de serviço de Winky. Winky pode fazer melhor! Dobby ensina outras coisas, Winky aprende!

Rebeca aproximou-se da elfa e disse, solenemente:

– Winky, eu prometo que não vou lhe dar meias, nem pedir que se vá. Você me tem sido útil, e mais do que isso, eu gosto de ver você na cabana. Você pode ficar certa de que ficará aqui o tempo que quiser. Se eu quero uma cozinha, é para me ocupar, só isso.

Os grandes olhos verdes se encheram de alegria e lágrimas. Ela se jogou nas pernas de Rebeca, abraçando-as:

– Mestra Rebeca é muito boa para Winky! Aceitou Winky apesar da bebedeira, e agora quer ficar com Winky! Winky vai aprender coisas novas, fazer tudo melhor.

A moça riu-se do jeito da elfa e disse:

– Winky, quem sabe você começa agora mesmo a me ajuda a cuidar de Héstia. Ela foi machucada, mesmo que só um pouco, mas ainda assim precisa de cuidados.

Com Winky mais calma e Héstia medicada, Rebeca pôde passar o dia mais aliviada, embora não tivesse gostado de saber que a situação em Hogwarts era tão séria. Uma ameaça a Hogwarts era uma ameaça à sua própria existência, pois se alguém soubesse que ela estava viva, sua vida correria perigo.

Naquela noite, quando bateram à porta da cabana, Rebeca sorriu, pensando que se tratava de Severo. Ela estava animada para contar as novidades da reforma, e abriu a porta ansiosamente.

Mas não era Severo.

– Tio Artie!

Ela se jogou nos braços do tio, abraçando-o com força de tanta felicidade. Artêmio Gall correspondeu à efusividade da sobrinha, rodopiando com ela nos braços como se fosse uma garotinha:

– Becky, que saudade!

– Que bom vê-lo, tio Artie! Entre, vamos, venha conhecer minha casa nova.

– Estou vendo que está boa. Fiquei muito preocupado com sua saúde quando tive que partir. Desculpe por isso, querida. Sabe o quanto eu queria estar ao seu lado.

– Eu sei, tio, não se preocupe. Como foi sua missão com os duendes?

Artêmio arregalou os olhos:

– Como você sabe sobre minha missão?

Rebeca sorriu, marota:

– Ora, só porque eu vivo numa cabana não quer dizer que eu esteja isolada do resto da bruxandade.

Ele estreitou os olhos:

– Nunca pensei que Sirius Black fosse tão fofoqueiro. Aliás, eu soube que ele lhe deu o maior susto. Dei-lhe a maior bronca por ter feito isso, mas no fundo a culpa foi minha. Eu deveria ter lhe contado sobre ele antes.

– Ah, está tudo bem agora. Ele derrubou minha porta, eu o chamei de Comensal da Morte, mas acho que agora somos bons amigos. Quer dizer... por mim, ainda somos amigos. Não sei se ele ainda pensa assim.

– Hum, eu bem que notei algo na voz de Sirius quando ele me falou de você. Mas ele não quis me dizer o que era. Aconteceu alguma coisa entre vocês dois que eu deva saber, Rebeca?

Ela deu um sorriso amarelo, mas sabia que o tio não descansaria até ouvir a história toda. Então ela contou tudo, desde o início, de como conheceu Severo e de como Sirius a tinha ajudado a encarar seus sentimentos em relação a Severo. Mais do que isso, ela conseguiu transmitir a Artêmio sua emoção por estar com Severo.

– Sei que estou muito sozinha e isso me deixa vulnerável, mas na verdade, eu me sinto muito feliz ao lado dele, tio. Ele me faz bem. E eu sinto que também faço bem a ele.

Artêmio parecia abismado:

– Essa é uma coisa que jamais pensei: Sirius Black e Severo Snape disputando a mesma mulher – ninguém menos que minha sobrinha!

– Oh, tio, não foi exatamente uma disputa. Eu só espero que eles consigam conviver pacificamente agora.

– Becky, isso já era difícil antes de você aparecer na vida dos dois. Se eles não conseguirem conviver, acredite, não terá sido por sua causa. Esses dois têm muita água passando por debaixo da ponte, muita história e muita mágoa. Você mal tinha começado a falar e eles já estavam se azarando pelos corredores de Hogwarts.

– Hoje eu recebi uma coruja de Sirius. Ela deixou claro que espera que Severo não me deixe ser amiga dele.

– E você vai aceitar isso?

– Tio, pensei que me conhecesse melhor. Deixei bem claro a Severo que pretendo manter a amizade de Sirius, e que isso não significaria que eu o amo menos.

Artêmio olhou para ela:

– Isso é verdade? Você o ama?

Ela sorriu:

– Eu acho que sim. Não sei com certeza porque eu nunca amei ninguém antes na minha vida. Mas sei que essa é a primeira vez que sinto isso por alguém, e estou achando maravilhoso.

– E o que Snape disse? Ele corresponde seu amor?

– Sim. Ele tentou abrir meus olhos, dizer que não é considerado um par ideal, além do fato de ser espião e outras coisas, mas eu gosto dele, tio. Espero que não vá me censurar por isso.

Artêmio deu de ombros:

– Bom, devo confessar que Severo Snape não é minha pessoa favorita na face da Terra, mas se ele a faz feliz, então vocês têm minha bênção.

Rebeca o abraçou:

– Oh, tio Artie! Obrigada! Sua bênção é muito importante para mim.

– Mas quero que escute uma coisa, e escute muito bem: se ele a magoar, se ele a fizer chorar, eu vou fazê-lo arrepender-se amargamente de ter se metido com os Gall.

– Vá com calma, tio. Assim você apavora meu namorado.

– Acredite, Rebeca: Snape não é um homem de se apavorar por pouca coisa. Mas é bom ele andar na linha.

Ela se ergueu, puxando-o pelo braço:

– Pare de ser o tio rabugento e venha ver minha casa. Ainda vai passar por uma reforma, mas vejo só o que já tem aqui.

– Uma coruja!

– Essa é Héstia – apresentou – Héstia, esse é meu tio querido, Artêmio Gall. Héstia foi um presente de Severo, e tem sido uma grande amiga.

A coruja piou, quase que educadamente, sem sair de seu poleiro. Aparentemente, ela conseguira sentir a ligação entre os dois e sabia que aquele homem era bom para sua dona.

Artêmio brincou um pouco com a ave:

– Que bom que você não se sente tão sozinha.

– Venha, deixa eu te mostrar a cabana e falar sobre a reforma.

– Reforma? Isso é que eu chamo de fazer planos.

– Vou lhe contar tudo.

Animada, Rebeca foi contagiando seu tio. Artêmio, que chegara ali morrendo de pena da sobrinha, agora estava com outra impressão, e sentia Becky cheia de vida como sempre tinha sido. Muito daquilo tinha a ver com o fato de que ela estava mesmo apaixonada por Snape.

E isso era algo com o qual Artêmio decidiu conviver, para o bem de Rebeca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os segredos mais bem guardados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.