Os segredos mais bem guardados escrita por magalud


Capítulo 1
Parte Um


Notas iniciais do capítulo

Nota 1: Um personagem está OOC.
Nota 2: Eu usei os mapas de Hogwarts que constam no HP Lexicon para construir essa fic.
Agradecimentos: Betas Jana, Thá e Jobis, para quem não tenho palavras. Cris e Janny sempre moraram no meu coração, Snape inspirou.
Aviso: Essa fic fez parte do SnapeFest 2, edição 2004.



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Capítulo 1 – Um erro dos outros

Irritação parecia estar impregnada no DNA de Severo Snape, mas ter que corrigir os erros dos outros o deixava absolutamente fora de si. Aquela vez não era exceção.

Ele fora chamado, e nem tinha sido pelo Lord das Trevas. Alguns estúpidos Comensais da Morte tinham cometido uma asneira e agora cabia a ele reparar o dano. Snape ajeitou a bolsa com quase uma dezena de poções e chegou ao ponto de Aparatagem.

Aquela seria uma noite daquelas.

Ele se viu dentro de uma residência trouxa praticamente destruída. Era a sala de um apartamento trouxa em que nada estava inteiro – objetos pelo chão, móveis dilacerados, bibelôs quebrados, pinturas rasgadas, tapetes destruídos, paredes descascadas. Um Comensal mascarado, que ele não reconheceu, estava de pé diante da destruição, e olhou para Severo antes de indicar:

- Lá dentro.

Com um suspiro contrariado, ele caminhou com dificuldade por entre os escombros até o outro aposento. Lá a cena não era muito diferente, mas se passava num quarto de dormir: roupas rasgadas, quadros destruídos, gavetas espalhadas, cortinas dilaceradas por todo o pequeno aposento.Um Comensal volumoso, sem máscara, andava nervosamente pelo quarto, dentro do qual era proeminente a visão do estrado da cama despedaçada, em cima do qual estava uma mulher amarrada pelos pulsos e calcanhares, gemendo de dor. Ela estava nua, com uma venda sobre os olhos, os cabelos louros estavam acinzentados de sujeira e sangue; o corpo dela parecia inteiramente coberto de hematomas e feridas, certamente fruto de maldições e torturas generalizadas.

Um serviço relapso.

Snape sentiu a veia do pescoço inchar-se de ódio:

- Goyle, explique-se!

O Comensal deu de ombros:

- Ela não quer falar, Snape.

- Seu estúpido! Não consegue ver que ela não vai falar nunca? Ela não pode! Não depois de vocês terem feito esse serviço lamentável!

O outro Comensal deu um risinho:

- O que foi, Snape? Dor na consciência por causa desse aborto?

- Eu pensei que vocês conhecessem o modo inteligente de tortura – causar o máximo possível de dor sem ameaçar a capacidade da vítima de prestar informação. Não gosto de sofrer o desprazer do Mestre se ela morrer e vocês não puderem obter a informação. Vocês pelo menos limparam os seus rastros?

- Alguns trouxas usaram aquele aparelho – apontou para um telefone – e nós dissemos que ela tinha ido viajar. Também colocamos um feitiço silenciador no apartamento para os vizinhos não ouvirem os gritos. Mania desses trouxas de viverem grudados uns nos outros!

- Isso deve mantê-los afastados por algum tempo, mas isso nós não temos de sobra. Agora me deixem trabalhar.

Ele se abaixou e ignorou os resmungos dos Comensais sobre ele ser "recém-chegado" às hostes do Lord das Trevas e ter que "provar seu valor". Delicadamente, tentou retirar a venda da mulher, mas ela começou a se debater, tentando fugir dele.

- Calma – disse – Não estou aqui para machucar você.

Aquilo pareceu acalmar a mulher, mas o Comensal disse:

- Não dê uma de bonzinho com ela, amigo. Essa aí tentou se refugiar no mundo trouxa para fugir da gente. Mas nós a encontramos e ela vai pagar pelo que o tio fez!

A mulher estremeceu e Snape conseguiu retirar a venda. Ela estava de olhos fechados, a luz os irritando, e ele viu que a venda escondia mais hematomas. Suspirou. Que destruição.

- Fique quieta.

Com a varinha, ele reconstituiu um maxilar fraturado, algumas costelas quebradas e luxações generalizadas nos braços e nas pernas. Os dentes quebrados levariam mais tempo, e ele não tinha mais do que alguns minutos. Ela provavelmente tinha perfurado um pulmão. Os gemidos de dor diminuíram.

- Beba isso.

Com dificuldade, ela engoliu a poção. Internamente, Snape batalhou com suas dúvidas. O que ele estava para fazer era muito arriscado.

Num impulso, ele pegou outro frasco de poção.

- E agora mais isso.

Foi preciso ajudá-la a tomar a segunda poção. A interação entre as duas seria lenta, mas daria o resultado desejado. Ele recolheu seus frascos e ergueu-se, fazendo um sinal para o Comensal de máscara ir para a sala. Lá dentro, deu a notícia:

- Ela não vai sobreviver mais do que algumas horas. Os danos foram extensos, e as poções vão durar apenas isso, algumas horas. Sugiro que vocês tirem o máximo de informação possível rapidamente. E evitem bater na cabeça – ela pode perder a consciência mais rapidamente.

- Snape, tem que fazer alguma coisa. Ela tem que nos dizer o paradeiro do tio!

- Eu não conheço a sua missão e isso não é problema meu – disse ele calmamente – Só estou avisando que o inevitável está a caminho e vocês devem se preparar. Façam proveito do tempo que lhes resta. Depois me chamem que eu dou um jeito no corpo antes que os trouxas o achem. O Mestre não quer levantar suspeitas das autoridades mágicas.

- Está bem.

De dentro do quarto, Snape ouviu um grito de mulher: Goyle já tinha começado a torturar a mulher de novo. Ele tentou não pensar nisso e desaparatou.

*

Alvo Dumbledore pensou durante alguns segundos e depois se dirigiu a Severo Snape:

- Tem certeza, Severo?

- Essa noite eu deverei ser chamado para dar um jeito no "corpo". Só que a mulher não estará morta e ela vai precisar de um lugar seguro para ficar.

Houve algum movimento entre os presentes à reunião da Ordem da Fênix, no Largo Grimmauld. O lugar ainda estava em ruínas por ter ficado fechado tanto tempo, e o seu atual dono, Sirius Black tivera um ataque antes de permitir a Snape acesso à casa. Snape mal se dignara a dirigir a palavra ao vira-lata.

Mas o canino voltara à carga.

- Snape, missões de resgate não são sua função – rosnou Sirius, com um brilho duro nos olhos – Está se metendo onde não é chamado!

- Então você teria preferido que eu deixasse a moça morrer lenta e dolorosamente nas mãos de um incompetente como Goyle? Nem você seria capaz de tanta crueldade.

- Quem é que está falando sobre crueldade, seu miserável? Tudo o que você tem feito com Harry –

Arthur Weasley interrompeu-os:

- Não vejo aonde isso nos levará.

Dumbledore concordou:

- Tem razão, Arthur. E Sirius tocou num ponto importante. Você não pode salvar todas as vítimas, Severo. Suas ações foram nobres, mas você pode ter se arriscado. Sabe quem é a moça?

Ele abanou a cabeça:

- Na verdade, não. Eles falaram algo sobre ela ter que pagar pelos atos do tio. Imaginei que esse tio fosse alguém da Ordem. Não quis perguntar detalhes para não despertar suspeitas.

Black rosnou algo que soou como "muito conveniente", mas Dumbledore logo interrompeu o que poderia rapidamente se degenerar em discussão:

- Então faremos o resgate essa noite. Arthur, leve Shacklebolt e Lupin com você. Severo vai dar o sinal quando estiver com tudo pronto. Vocês três deverão levar a moça embora sozinhos para que Severo possa dizer que deu um jeito no "corpo". Precisaremos apresentar um falso corpo para que ninguém desconfie que ela está viva.

Nymphadora Tonks se ergueu e disse, animadamente:

- Eu quero ir!

Houve um ligeiro desconforto entre os presentes, mas Dumbledore sorriu para ela e disse:

- Você terá muitas oportunidades para ajudar depois do resgate, minha querida. Fiquem todos a postos e boa sorte.

Minerva McGonagall indagou:

- Mas a moça provavelmente vai precisar de cuidados para se recuperar e um lugar para ficar, Alvo. Como vamos arranjar isso em tão pouco tempo?

A reunião da Ordem terminou ali, e Dumbledore parecia ter um brilho diferente nos olhos ao mirá-los em Snape. Contudo, o Mestre de Poções estava em mais um de seus mudos combates com Sirius Black: os dois estavam trocando olhares ameaçadores e deixando claro seu desprazer com a presença do outro.

O verão traria realmente muitos acontecimentos extraordinários.

Capítulo 2 – A volta à consciência

Parece que a consciência foi retornando aos poucos. Primeiro era uma sensação aqui e ali, depois elas ficavam mais fortes. Ela começou a notar que às vezes alguém a fazia beber líquidos quentes, outras vezes líquidos frios.

Mas a escuridão não melhorava.

Depois ela começou a distinguir vozes, e essas vozes diziam palavras. A primeira palavra que ela conseguiu distinguir foi seu próprio nome.

- Rebeca?

Em resposta, ela conseguiu apenas gemer.

A voz pendurada na escuridão – de mulher – disse, em tom doce:

- Descanse, querida.

Rebeca Gall suspirou, exausta. Ela ansiava por outra voz: a voz rica, aveludada e portentosa de um homem que lhe ajudara no momento mais horrível de sua vida.

Seu salvador.

- Quem é você?

A voz de Rebeca estava alquebrada. Ela sentia um permanente gosto de algodão na boca e sua cabeça doía. Mas ela tinha que perguntar.

- Meu nome é Papoula Pomfrey, e sou sua enfermeira – era a voz que ela ouvira antes, incorpórea, no meio da escuridão – Como se sente?

- Melhor, obrigada. Eu... não consigo ver. Meus olhos...

- A área em torno de seus olhos foi muito danificada. Ainda precisa de um tempo para sarar.

- Onde estou?

- Dentro de Hogwarts. Aqui será seu santuário. Está segura agora.

- Mas...

- Chega por agora – Rebeca sentiu um copo sendo encostado nos seus lábios – Agora beba isso e descanse. Você não deve se preocupar com nada.

Ela bebeu um líquido cheio de ervas e logo caiu em sono profundo.

- ... e a melhora tem sido constante, embora ainda muito lenta.

- Muito bom, Papoula. Você fez um bom trabalho.

Rebeca ouviu uma voz diferente, de um homem velho. Ela não sabia quem era, então temeu a volta dos homens maus que a torturaram.

- Quem está aí?

Ela ouviu a voz de Papoula mais perto:

- Está tudo bem, Rebeca. Quem está comigo é o Prof. Dumbledore. Ele é o diretor de Hogwarts. Foi ele quem a acolheu.

Dumbledore? O famoso Dumbledore? Ela podia não ter poderes, mas até ela sabia quem era Alvo Dumbledore, um dos bruxos mais poderosos de toda a Inglaterra.

- Obrigada – disse Rebeca, emocionada – Eu me sinto honrada, senhor. Gostaria de poder vê-lo.

A voz de homem, agradável e cristalina, disse:

- Tudo a seu tempo, criança. Tenho certeza de que em breve você estará novamente enxergando tudo.

- Então... eu não fiquei cega?

- Não, não. Papoula me disse que sua visão não foi afetada, só a área em volta dos seus olhos. Ela usou lágrimas de fênix para tratar do local. E outros ferimentos, também.

- Prof. Dumbledore, o que aconteceu? Como eu vim parar em Hogwarts? E meu tio?

- Tenha calma. Artêmio está ótimo e manda lembranças. Ele só não pôde vir ainda porque está cuidando de seu funeral.

- Meu... funeral?

- Para todos os efeitos práticos, criança, você morreu nas mãos daqueles Comensais. Um corpo falso foi apresentado para justificar o enterro. Apenas um punhado de pessoas sabe a verdade. Você foi trazida para Hogwarts e aqui deverá se esconder até sua segurança não estar mais ameaçada. Está aqui há cinco dias.

Rebeca ficou espantada:

- Mas... minha vida, meu trabalho...!

O Prof. Dumbledore repetiu:

- Acho que você não entendeu totalmente o que eu lhe disse. Você morreu, Rebeca. Se os seguidores de Voldemort desconfiarem que você está viva, eles virão atrás de você para terminar o que começaram. Mas aqui você está absolutamente segura. Por enquanto, a única coisa com que precisa se preocupar é com a sua saúde. Estou feliz em vê-la mais bem-disposta.

A moça tentou se sentar, mas logo veio a voz preocupada de Papoula e mãos delicadas que a empurraram de volta para a cama:

- Não, não, não. Você ainda está muito fraca, e eu mal restaurei todos os seus dentes e ossos quebrados. Precisa descansar.

Dumbledore reforçou:

- Siga as instruções de Madame Pomfrey e você ficará nova, criança.

Nos dias seguintes, Rebeca começou a ter grandes melhoras. As dores diminuíram e ela passou a dormir menos, ficando sozinha durante grandes períodos do dia, pensando na sua nova vida adiante.

Hogwarts.

Ir para a melhor escola de magia era o grande sonho de sua vida, sempre tinha sido, desde criança. Mas bem cedo, em sua vida, esse sonho lhe tinha sido negado.

Ela nunca iria freqüentar Hogwarts porque era uma bruxa abortada. Seus poderes não existiam, e muitas vezes Rebeca pensava que teria sido melhor se tivesse nascido trouxa. Por causa disso, ela sempre se sentiu deslocada em sua família. Filha de pai bruxo e mãe trouxa, seu irmão Cygnus tinha sido o orgulho de todos. Claro, o sentimento de deslocamento aumentou quando ela tinha dez anos e sua família morrera num ataque de Voldemort, antes de Harry Potter derrotá-lo. Ela foi mandada para viver com a avó, que a maltratava por ela não ter poderes. Na casa também morava o tio Artêmio, que era a pessoa de quem ela mais gostava na vida.

Depois que ela cresceu e a avó morreu, também veio a vontade de morar sozinha – ainda mais depois que tio Artêmio anunciou que iria se casar. Ela decidiu viver como trouxa, e trabalhava como agente administrativo de uma empresa imobiliária. Era o trabalho mais chato do mundo, mas Rebeca não tinha ilusões em sua vida. Ela nunca foi importante, nem nunca seria importante.

Seus namorados (na verdade, só tinham sido dois) tinham sido trouxas típicos. O primeiro namorado estudava junto com ela na escola trouxa que a avó escolhera para ela. Ela tinha apenas 14 anos, e sentia-se apaixonada. Mas o namorado não, então ela viu seu coração quebrar quando ela o viu saindo com uma outra menina. O outro tinha sido um colega de trabalho. A mesma coisa tinha acontecido: ele a trocara por outra moça, mais bonita e mais interessante do que ela. Ela simplesmente não tinha sorte com namorados. E não tentava arranjá-los, com medo de se machucar.

Mas ela vivia num mundo de fantasia, esperando um dia o grande amor de sua vida aparecer de repente, cair do céu e levá-la para longe daquele sofrimento. Não que ela acreditasse realmente naquilo, mas era algo com que sonhar. Melhor um sonho do que a vida vazia que ela tinha.

Ou melhor – aquela era a vida que ela tinha tido até o dia em que ela estava lendo um romance bem açucarado e ouviu um barulho na sala de seu pequeno apartamento. Quando ela foi ver o que era, deu de cara com dois homens vestidos de preto, com máscaras brancas. Ela pensara que fossem ladrões. Tudo teria sido tão diferente se eles fossem ladrões.

Naquele minuto, seu martírio começara.

Com um arrepio, Rebeca procurou afastar as imagens terríveis que seus olhos registraram antes de sofrerem com golpes e raios. Depois, na escuridão, ela encontrou conforto. Primeiro na voz sensual do homem que lhe deu alívio e provavelmente a salvou, depois com Madame Pomfrey e Prof. Dumbledore.

E depois? O que seria dela?

Seus pensamentos foram interrompidos pelo ruído de uma porta se abrindo. Rebeca voltou a cabeça na direção do barulho:

- Madame Pomfrey, é a senhora?

Uma voz masculina respondeu:

- Não, Becky, não é Madame Pomfrey.

Uma onda de alegria varreu o corpo batido de Rebeca ao ouvir o apelido de infância, e ela tentou se sentar, gritando:

- Tio Artie!

Artêmio Gall atravessou o quarto até chegar perto da cama, e abraçou Rebeca longamente:

- Becky, Becky. Oh, querida, desculpe-me ter demorado tanto...

Chorando, com dores, Rebeca tentou abraçá-lo:

- Tá tudo bem, tio Artie. Estou tão feliz que o senhor está aqui!

- Oh, minha querida – ele ainda a abraçava – O que fizeram com você? Seus olhos...

- São só curativos, tio. Madame Pomfrey me disse que meus olhos estão bons.

- Ainda assim, você vai precisar cuidar deles, e se precaver do sol.

- Eu queria ver você, tio Artie.

- Eu também, Becky. Queria olhar nos seus olhos e dizer o quanto eu sinto muito por tudo que aconteceu. Foi tudo minha culpa.

Rebeca procurou as mãos dele e segurou-as:

- Que é isso, tio? Não foi você quem fez isso.

Ele trazia a voz cheia de amargura:

- Fui eu quem os guiou até lá. Eles devem ter me seguido quando estive no seu apartamento naquela tarde de domingo, lembra?

- Por que estão atrás de você?

- Eu consegui usar granadas de magia contra alguns aliados de Voldemort. Eles perderam dezenas de Dementadores no ataque. Por isso foram tão violentos. Minha querida, desculpe.

- Não fique assim, tio. Já passou. Um homem maravilhoso me salvou.

- Quem?

- Não sei. Eu só ouvi a voz dele. Ele me deu poções que me aliviaram as dores. Queria agradecê-lo, mas não sei quem é.

- Deve ser alguém da Ordem. Foram eles que retiraram você.

- Ordem?

- Ordem da Fênix. Eu faço parte dela. Ela combate Você-Sabe-Quem.

Rebeca suspirou:

- Eu pensei que isso tudo tivesse acabado e que Harry Potter tivesse derrotado esse homem para sempre.

Artêmio confirmou:

- Ele está de volta, Becky. Voldemort reviveu de alguma forma. O próprio Harry Potter o viu e já o enfrentou.

- Também achei que essa parte da minha vida tinha acabado – ela disse – Jurava que tinha deixado isso tudo para trás. Esse mundo de magia e de gente com poderes não é o meu mundo, tio.

- Becky, nós já discutimos isso antes. Você pode não ter poderes, mas não é uma trouxa. Você é registrada no Ministério da Magia e tudo. E agora, de um jeito ou de outro, você está aqui. Precisa se acostumar a isso.

- O Prof. Dumbledore veio me ver – ela disse, admirada – Acredita nisso? Alvo Dumbledore veio me ver!

- Dumbledore é o chefe da Ordem da Fênix, e você está sob a proteção dele, querida. Pode confiar nele cegamente e faça tudo que ele disser.

- Tio, eu não posso ficar com você?

- Desculpe, Becky, mas Hogwarts é o lugar mais seguro para você. Além disso, aqui você está sendo bem cuidada, não está?

- Claro. Eu só tenho medo de estar dando muito trabalho. Eles têm sido muito bons para mim.

- Que bom. Assim eu fico tranqüilo. Receio não poder ficar muito tempo.

- Já vai?

- Lamento, mas preciso ir. A Ordem me designou para uma missão bem longe daqui. Não sei quando vou voltar.

- Tio, tome cuidado. E não se esqueça de mim.

- Não esquecerei, querida. Prometo voltar assim que puder. Até lá, cuide-se bem.

- Está bem, tio Artie.

Ele beijou a cabeça dela e Rebeca ouviu quando ele fechou a porta. Madame Pomfrey entrou logo a seguir com uma sopa, mas Rebeca estava emocionada demais para comer.

Sentia-se sozinha, deprimida e aterrorizada.

Capítulo 3 – De olhos bem vendados

Depois de duas semanas, Rebeca estava muito melhor, pelo menos fisicamente. Ela conseguia dar pequenas voltas pelo quarto, mancando, mas um dos braços ainda estava machucado. Madame Pomfrey disse que ela levaria mais duas semanas no mínimo com o braço esquerdo ruim. Ela ia ficar com cicatrizes na perna – cicatrizes mágicas.

Danos internos ainda persistiam. Ela não podia comer sólidos, pois seu estômago não agüentava. O baço tinha se rompido de tanto apanhar. As manchas roxas de pancadas tinham sido sanadas, mas algumas tinham sido feitas com ponta de varinha, e demoravam mais para curar.

Como estava de olhos vendados, Rebeca aprendeu a aguçar os ouvidos. Na verdade, bem demais. De noite, ela podia jurar que havia alguém no quarto, respirando suavemente, como que velando seu sono. Uma vez ela chegou a perguntar: "Tem alguém aí?", mas o barulho parou. Provavelmente sua imaginação.

De qualquer modo, era de noite que ela se via frente a frente com tudo que tinha acontecido. Muitas vezes ela sonhava com tudo o que tinha acontecido e parecia que alguém acariciava-lhe os cabelos. Aquilo a acalmava um pouco.

- Olhe que eu já vi ferimentos feios – disse Madame Pomfrey, passando ungüento nas manchas das pernas –, mas o que fizeram com você foi selvageria. Estou tendo dificuldades de repor meus estoques de Poções, e o ano letivo nem começou! Felizmente, você está se recuperando muito bem.

Rebeca sorriu:

- Eu me sinto bem melhor.

- Isso é bom, porque hoje é um dia importante. Estou disposta a tirar as bandagens de seus olhos.

Rebeca ficou excitada com a notícia:

- Hoje?

- Sim, mas nós já conversamos sobre isso. Você sabe que não pode sair do quarto, e que seus olhos vão precisar se acostumar à luz do sol.

- Sim, senhora.

- Muito bem, então. Sente-se de frente para mim.

Rebeca obedeceu. A voz de Madame Pomfrey soou bem próxima:

- Diffindo!

A venda de gaze se rasgou e Rebeca abriu os olhos. Mas franziu o cenho: estava tudo embaçado e escuro diante dela!

- Mas eu não vejo nada... Tem certeza de que eu não fiquei cega?

- Calma, Srta. Gall. Diga-me o que consegue ver.

- Sombras. Vultos. Só isso.

- Eu vou abanar minha mão em frente a seu rosto. Pode ver?

- Eu vi! Eu vi!

- Muito bem, viu? Agora é só dar tempo ao tempo para suas retinas se acostumarem de novo a focalizar os objetos.

Rebeca tentou olhar em volta do quarto onde estava:

- O quarto está escuro ou já anoiteceu?

- Você está nas masmorras do castelo de Hogwarts, embaixo do lago. Aqui não tem janelas, e isso é bom para você no momento. A luz direta do sol pode ser prejudicial.

- Quanto tempo até eu poder ver o sol?

- Depende de como seus olhos vão reagir. Mas tudo deverá se normalizar e, alguns dias, você vai ver.

- Obrigada por tudo, Madame Pomfrey – Rebeca sorriu – A senhora tem sido um amor.

- Só estou fazendo o meu trabalho, querida. E você é uma boa paciente. Agora que você está melhor, vamos mudar um pouco sua alimentação e sua medicação. Você precisa se fortalecer.

- Eu já me sinto bem melhor.

- Então vamos cuidar do seu trauma. Vou pedir ao Mestre de Poções que aumente a dosagem de pedra-da-lua para melhorar seu equilíbrio emocional. Como estão os seus sonhos?

- Tenho pesadelos, sim, mas eles são contrabalanceados pela presença de alguém me acariciando os cabelos. É tão real...

- Que estranho... Você não deveria nem sonhar, quanto mais ter sensações vívidas em seus sonhos – Rebeca viu um leve movimento – Bom, deve ter sido por causa do seu resgate. Mas acho que já é hora de retirar a poção que a impede de sonhar. Ela vai perdendo o efeito com o tempo. Vou trocar pela Poção do Morto-Vivo e pela Poção da Paz. Você vai dormir profundamente e ter sensação de paz.

Rebeca disse:

- Madame Pomfrey, eu sou profundamente grata à senhora e ao Prof. Dumbledore por tudo o que está fazendo por mim. Por favor, não me entenda mal, mas... o que pretendem fazer comigo aqui em Hogwarts?

Madame Pomfreu pegou a mão de Rebeca e disse:

- Não deve se preocupar com isso agora. Mas fique calma. Você está em boas mãos e bem protegida. Tudo vai dar certo. Fique tranqüila, porque isso é importante para a sua recuperação.

- Está bem.

- Está com fome?

- Não muita.

- Você precisa comer, Srta. Gall! Emagreceu muito. Sabe quanto tempo você ficou nas mãos deles?

- Não... Pareceram semanas, mas devem ter sido dias – Algumas imagens passaram pela sua cabeça e ela estremeceu – Desculpe.

- Não, eu é que peço desculpas por relembrar esses momentos terríveis. Felizmente agora você está bem segura – Rebeca viu o vulto se erguer – Bem, eu volto já com seu jantar. Se quiser tentar ir sozinha até a mesa, poderá comer sentada.

Naquela noite, Rebeca tomou sua sopa na mesa e não na cama. Ela pôde se dar ao luxo de deitar e tentar olhar para o teto. Os pesadelos vieram, mas também sentiu a mão a acariciar-lhe os cabelos.

Devagar, devagar, as coisas tomavam jeito.

No dia seguinte, Rebeca recebeu uma visita logo depois da higiene matinal.

- Vejo que você está bem melhor, Rebeca.

- Prof. Dumbledore! – ela enxergou apenas um vulto púrpura e branco – Que prazer em vê-lo. Ou melhor, quase vê-lo.

Ele se sentou perto de Rebeca:

- Madame Pomfrey me disse que você só vê vultos e sombras, mas que tudo deverá se clarear com o tempo.

- Mal posso esperar. Poderei finalmente conhecê-los, quem sabe ler um pouco...

- Oh, então a senhorita gosta de ler?

- Desde pequena eu gosto de ler histórias.

Dumbledore sorria quando disse:

- Acho que isso pode ser arranjado. Como você se sente, Rebeca?

- Oh, eu estou muito melhor, Prof. Dumbledore. Só agora é que estou me dando conta do que aconteceu, e que minha vida vai mudar para sempre... Devo confessar que estou um pouco ansiosa.

- Com medo, talvez?

- É, com medo também. Tudo me parece tão novo, e essas pessoas horríveis atrás de mim...

- Artêmio me falou sobre você. Sua família foi morta por Voldemort. Eu sinto muito.

Rebeca baixou a cabeça:

- Tudo bem, isso foi há muito tempo. O senhor já deve saber que eu não tenho poderes, então minha família parecia não prestar muita atenção em mim.

- Não diga isso, criança – a voz do Prof. Dumbledore parecia ainda mais doce – Tenho certeza de que seus pais a amavam muito.

- Meu tio Artêmio sempre gostou muito de mim. Eu gosto muito dele.

- Ele é um importante membro da Ordem. Está fazendo um trabalho fundamental para a Luz – O professor pegou as mãos dela – Por isso aquelas pessoas queriam tanto encontrá-lo. Agora vamos protegê-la para que isso não aconteça de novo.

- O senhor tem sido tão bom para mim, professor. Eu estou trazendo problemas e isso me envergonha.

- Garanto que esse não é o caso. Hogwarts nunca fechará as portas àqueles que precisam. Estamos tomando todo o cuidado com você, não apenas para restaurar sua saúde, mas também para proporcionar-lhe segurança. Você já deve saber que apenas um punhado de pessoas na escola sabe que você está aqui. Por enquanto é possível limitar seu contato com as pessoas aqui no castelo, mas quando as aulas começarem, receio que isso será impossível. Teremos que tirar você daqui.

Rebeca ficou assustada:

- Professor... Eu não tenho para onde ir. Se me tirar daqui...

- Calma, calma, minha criança, você ficará em Hogwarts. Mas não no castelo, onde algum aluno curioso poderá tropeçar com essa sala, mesmo aqui nas masmorras, e acredite: o que não falta em Hogwarts são alunos curiosos – ele explicou – Não, para você, estou mandando ajeitar uma cabana na margem escondida do lago que serve de residência de verão para o nosso guarda-caça Hagrid. Não é muito grande, mas você ficará bem instalada, e terá todo nosso apoio de Hogwarts.

Aquela informação a deixou boquiaberta:

- Uma casa... para mim?

- Como eu disse, é uma cabana, apenas uma moradia bem simples. Temo apenas que você possa se sentir muito solitária. Quando Hagrid voltar de uma viagem que está fazendo para mim, eu vou lhe apresentar a ele. Afinal, ele será seu vizinho. E tenho certeza de que ele estará disposto a ajudá-la no que precisar.

- Eu estou acostumada a trabalhar na cidade, professor. Acho que vou ter muito tempo nas mãos.

- Você terá livros para se distrair, e poderá ocupar seu tempo como quiser. Mas lamento ser obrigado a lhe pedir que não deixe a casa até que tenhamos certeza de que é seguro.

- Eu entendo. Sabe quando irei para lá?

- A cabana está sendo ajeitada para que você passe a morar nela antes que as aulas comecem, daqui a um mês – Rebeca relaxou – Sei que parece muito tempo, mas isso passa rápido. E eu quero que você esteja com sua saúde recuperada quando se mudar.

Rebeca sorriu:

- Tomara que sim, professor.

Ela sentiu seu coração mais leve – havia uma perspectiva nova para sua vida. Dali para frente, ela viveria numa cabana no campo, sob a proteção de Alvo Dumbledore.

Podia estar muito pior, concluiu.


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