Amores escrita por Xokiihs


Capítulo 4
Love


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Naruto x Hinata

~

Minha mãe um dia me disse que o meu nascimento foi o que trouxe luz para sua vida. Quando me concebeu, tinha quarenta anos, e fora uma gravidez inesperada, já que, durante toda a sua vida, ela pensara que não podia ter filhos. E, então, um dia, ela descobre que será mãe.

Apesar de ela sempre me dizer que foi o dia mais feliz de sua vida, eu sabia que também tinha sido o pior; aquele dia, ela recebera um presente e uma maldição. Ela concebera uma vida que poderia acabar tirando a sua. Felizmente, não aconteceu. E eu nasci, miúda, quieta, roxa. Ela me pegou em seu colo, os olhos repletos de lágrimas, e disse que me amava. E, então, eu dei meu primeiro sopro de vida.

“Você foi o bebê mais lindo que já vi.” Ela dizia, com aquele sorriso carinhoso que só mães podem dar, e que, infelizmente, nunca pude ver.

Eu nasci saudável, apesar da gravidez de risco. Pelo menos era isso o que todos pensavam. Acontece que a vida não é tão simples, não é mesmo? Minha mãe tinha engravidado por um milagre, e por um milagre eu tinha nascido bem. No entanto, já ouviu falar do ditado que, o que a vida dá com uma mão, tira com a outra? Exatamente. A vida deu uma luz para minha mãe, me deixando sem a minha.

Eu nasci cega.

Tudo bem, não me sentia mal por isso. Nem triste. Afinal, como você pode sentir falta de algo que nunca teve? E eu nunca tive luz, só escuridão. Eu ouvia, sentia, mas não via. Tudo bem.

Eu cresci bem, feliz, mas nunca tive a oportunidade de ver o sorriso de minha mãe quando ela me dizia que eu era o bebê mais lindo que ela já vira; nem a expressão de alegria que ela fazia quando eu tirava boas notas na escola, ou a serenidade que mostrava quando eu tocava piano para ela. Por isso, apenas isso, me sentia triste.

Mas, apesar disso, minha vida era ótima. Eu não era invalida, e conseguia fazer tudo muito bem. E eu nunca desejei ver, eu era feliz por ser como eu era.

Entretanto, como já disse antes, tudo o que a vida dá com uma mão, ela tira com a outra. E a vida já tinha feito isso comigo uma vez, então não entendi o porquê de fazer novamente.

Eu era feliz, muito feliz. Eu era.

Tudo mudou no dia em que conheci uma pessoa.

Eu dava aulas de piano em uma escola local, um trabalho que eu realmente amava mais do que tudo. Eu tocava desde quando era apenas uma menininha, e era a paixão da minha vida dedilhar nas teclas de marfim de um piano, sentindo e ouvindo o som sair e me envolver. E poder ensinar a outras pessoas a minha paixão era gratificante.

Naquele dia, eu teria uma aula experimental. O aluno viria, nós conversaríamos, eu ajudaria ele a tocar alguma música e ele sairia inspirado, pronto para voltar e se matricular.

O aluno, que chegou dez minutos atrasado, se chamava Naruto.

Naruto era uma pessoa desengonçada, percebi logo de início. Ele tinha entrado na sala bufando e pedindo desculpas pelo atraso. Me apresentei, pedi para que ele se sentasse a mesa, e começamos a conversar.

Eu nunca pude ver, mas isso não quer dizer que eu não podia enxergar; dizem que o que os olhos não veem o coração não sente. Este ditado se tornou completamente mentiroso para mim, depois de conhecer Naruto. Ele gostava de falar, sua voz era alta e esganiçada, assim como sua risada. Ele era exagerado, ansioso. Gostava muito de comer macarrão, de praticar esportes, e amava música. Dissera que já sabia alguns instrumentos, mas que piano era algo que nunca lhe animara muito. Eu consegui entender o porquê; pianos eram calmos, e ele era tudo menos isso.

Perguntei, então, o que mudara seu pensamento. E com um sorriso, ele gritou: eu gosto de desafios.

Era uma resposta digna de um adolescente que não gosta de ser contrariado, mas para mim pareceu algo mais afundo. Eu o entendi. Sentamo-nos em frente ao piano de cauda e eu dedilhei algumas notas, para ensina-lo. Pedi para que ele repetisse, mas ele insistia que não conseguia. Depois de muito tentar, ele fez algo fora incomum.

— Como você consegue?

Ele me perguntou o que ninguém tem coragem de perguntar. Eu ri.

— A primeira vez que tentei tocar, foi em segredo. Minha avó tinha um piano na casa dela, e eu sempre a ouvia tocar. Quando você não consegue ver, os outros sentidos se tornam preciosos. Eu sempre amei o som do piano, como cada tecla se juntava para formar uma música linda que emociona as pessoas. Contudo, eu tinha medo de pedir para que minha avó me ensinasse a tocar e ela dissesse não.

“As pessoas têm a tendência de fazer isso quando se tem algo tipo de deficiência. É como se você fosse feito de um vidro muito frágil, e devesse viver dentro de uma caixa pelo resto da sua vida, protegido, longe de tudo e de todos. Eu já tinha ouvido muitos nãos, e achava que receberia mais um se pedisse. Então, fiz o que toda criança faz quando algo lhe é proibido. Fiz escondido. Sentei de frente ao piano, encostei em suas teclas, senti-as, pressionei-as, ouvi-as. Juntei uma com a outra, como minha avó fazia, e amei ouvir o som que elas faziam juntas.”

“Fiquei tão perdida no meu mundo, apertando todas as teclas possíveis, sem formar nada coerente, que não percebi minha avó ali. Ela ouvira o tempo inteiro, e, no fim, disse que me ensinaria. E, desde então, o piano se tornou uma das coisas mais importantes da minha vida.”

— Você tem talento, não vale. – Ele resmungou, me fazendo rir. Peguei uma de suas mãos, era grande e quente, e coloquei sobre um grupo de teclas.

— Pressione lentamente, sinta a música. Quando você sentir no fundo de seu coração, conseguirá tocar.

Ficamos além do horário tocando as teclas, minha mão sobre a sua, um sorriso em ambos os rostos.

Ele voltou na outra semana, e na outra, e na seguinte, até que nos víamos pelo menos duas vezes durante a semana. Eu nunca tinha me apaixonado por ninguém, nunca tinha me sentido daquela forma. Com Naruto, no entanto, era impossível não se apaixonar.

Ele era gentil, bondoso, sorria com facilidade e, apesar de não poder ver, emanava uma luz quente que sempre me envolvia. Logo ele se tornara o ponto de luz em meio a minha escuridão. E a cada dia eu queria ficar ainda mais próxima dele, para ouvir sua voz, sentir o calor que ele emanava, seu perfume, sua risada. Naruto se tornou uma necessidade em minha vida.

Contudo, como já tinha mencionado, tudo o que a vida dá, ela tira. Uma semana, Naruto não apareceu. Nem na outra. Até que ele parou de vir de uma vez por todas.

Eu não entendi. Fiquei preocupada, com medo que algo pudesse ter acontecido com ele. Perguntei aos secretários da escola se sabiam de algo, mas ninguém fazia ideia.

Um mês se passou até que eu tivesse notícias dele novamente.

Era tarde, e eu estava no meu intervalo, bebericando um café, quando ele apareceu.

— Hinata, sinto muito por ter sumido... eu-eu preciso falar com você.

Meu coração pulou de alegria, minhas mãos suaram, e eu tinha certeza que um sorriso estava estampado em meu rosto. Fomos a uma sala vazia qualquer, só eu e ele. E, enquanto eu estava com o coração acelerado, Naruto se remexia de um lado para o outro. Estava nervoso.

— Eu vou parar de vir.

Foi um balde de água fria. Um tapa na cara. Uma facada no peito.

— Por- por que? Eu fiz algo de errado? O que aconteceu?

— Eu não posso mais. – Ele suspirou, passou a mão pelos cabelos. — Não posso.

— Por que não? – Eu estava no limite de quebrar, com o coração na boca.

— E- eu me apaixonei por você.

A voz dele estava baixa e soturna quando ele deu a notícia que me perseguiria por meses. Por um momento, senti esperança. Mas, foi apenas por um momento.

— E- eu também gosto de você. – eu resolvi dizer, engolindo em seco. — Eu te amo.

Naruto prendeu a respiração.

— Isso não pode acontecer.

— Por que não? Eu n-não entendo.

— Sou casado.

E, ali, naquele momento, senti a vida puxando a luz dos meus braços, arrastando porta a fora, junto com o chão sob os meus pés. Eu nunca tinha me sentido daquela forma antes. Nunca tinha amado, tampouco tido meu coração partido.

Fiquei em silêncio, mas meus olhos choraram. Meu coração chorou. Eu chorei.

— Sinto muito. Não posso deixa-la... nós temos uma família juntos e eu...eu a amo, Hinata.

Eu não entendia o porquê dele continuar me ferindo tanto, mas ali estava ele, enfiando a faca cada vez mais forte.

— Sinto muito.

Ele repetiu, antes de se virar e ir embora.

E eu? Fiquei chorando, sem mover um dedo.

O que a vida dá com uma mão, ela tira com a outra.


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