Hello, I Love You escrita por Queen Of Peace


Capítulo 1
Take Me Out Tonight


Notas iniciais do capítulo

oie, espero que vcs gostem



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A foto de Gale piscava na tela do celular. Katniss não sabia se atendia ou não o telefone. Sabia o estrago que seria feito caso atendesse e ouvisse sua voz. Era melhor que Gale continuasse onde estava: Bem longe dela.

Os dois tinham terminado há algumas semanas e Katniss continuava sofrendo por ele. A desculpa de Gale pra terminar o namoro era que as coisas não estavam dando certo entre os dois. A química tinha morrido, eles viviam tendo problemas, Katniss era ciumenta demais... Disse que estava cansado de tentar fazer dar certo e que por ele estava tudo acabado. Katniss ficou arrasada. Gostava tanto dele que nos primeiros dias mal saía da cama e só conseguia chorar. Só Deus sabia como tinha sido difícil pra ela superar tudo aquilo e sair de sua cama.

Mas agora Gale queria voltar. Pelo menos era isso o que suas mensagens diziam. Ele insistia em ligar pra ela, mas ela nunca atendia. Morria de medo de ouvir o som da sua voz e acabar voltando pra ele. Se tinha acabado então era de vez. Não teria volta.

— Eu acho que você deveria atender. Ou pelo menos sair um pouco de casa e ver gente nova.

Rue apareceu na porta do quarto de Katniss. Estava toda arrumada e usava sapatos tão altos que a amiga não sabia como ela conseguia se equilibrar naquilo. Elas eram melhores amigas e moravam juntas. O apartamento era de Rue. Tinha herdado o imóvel dos avós e não precisava pagar aluguel. E talvez fosse justamente por isso que cobrasse tão pouco de Katniss pra que ela morasse ali.

— Eu não estou com a menor vontade de sair, Rue. Sabe disso. Além do mais, estou exausta. Acho que nunca precisei dançar tanto na vida. — Kat jogou-se sobre a cama, suspirando pesadamente e empurrando o celular pra baixo do travesseiro. Gale estava ligando outra vez.

— Amiga, por favor? Você precisa sair dessa. — Rue entrou no quarto e sentou-se na beirada da cama da amiga, apertando-lhe a batata da perna. — Você não pode ficar assim pra sempre. É sério. Quanto tempo faz? Dois meses? Já deu, chega! Você é jovem, bonita, e aposto que muitos caras matariam pra sair contigo. Anda, vamos lá. — Rue, que era uma mulher alta, negra e com um cabelo super enrolado, começou a balançar o corpo da amiga, tentando tirá-la da cama.

— Katniss! Por favor. Enzo vai chegar a qualquer momento. Nós vamos ao show de uns amigos dele que vão fazer sua primeira apresentação hoje num barzinho que não fica longe daqui. — Ela suspirou ao ver que a amiga não se mexia. — AGORA! SE LEVANTA E TROCA DE ROUPA QUE NÓS VAMOS SAIR!

Meia hora depois as duas estavam no banco traseiro de um táxi que rumava até o tal barzinho. Toda a produção de Katniss tinha sido feita por Rue, que insistira em vasculhar seu armário a procura de roupas "exuberantes". Mas suas opções não passavam de pares de calças jeans, camisetas e uns poucos vestidos. Acabou usando calças jeans em um tom escuro, quase pretas, uma camiseta de alcinha sem estampa e uma jaqueta. Rue emprestara um de seus sapatos altos e Katniss se sentia ridícula com aquilo. Ela já era alta, não precisava de tudo aquilo.

O barzinho era um lugar razoavelmente grande. Lembrava um pub, mas ainda faltavam algumas coisas bem características pra torná-lo um pub. Os três se sentaram numa das mesas bem próximas ao palco improvisado e Enzo sorriu pra um rapaz que afinava sua guitarra.

— Devemos agradecer à banda por essa mesa. Um dos caras "reservou" pra mim. — Ele fez aspas no ar com os dedos ao dizer "reservou". Não era realmente possível fazer reservas ali como num restaurante. O cara da banda provavelmente deve ter passado a noite espantando as pessoas que tentavam sentar naquela mesa.

— Vou buscar algumas cervejas pra gente. — Enzo deu um beijo em Rue e deixou a mesa com um sorrisinho no rosto. Kat gostava de ver como os dois pareciam tão bem e felizes mesmo depois de tanto tempo juntos.

Queria saber a fórmula certa pra conseguir ter um relacionamento duradouro e que lhe fizesse tão feliz quanto Rue e Enzo pareciam ser. Seus namoros - ou qualquer tipo de relacionamento - sempre acabavam da pior maneira possível. Gale era uma prova viva disso. Ela não conseguia entender como um namoro que tinha começado tão bem poderia terminar tão mal.

Enzo voltou com três cervejas e eles começaram a beber. O papo entre os três fluía com tamanha facilidade que quando se deram conta já estavam na quinta rodada de cerveja, e tudo isso em menos de meia hora.

Rue e o namorado não eram do tipo que ficavam todo o tempo se agarrando e fazendo com que as pessoas que estivessem com eles se sentissem desconfortáveis. Eles trocavam sorrisos e olhares apaixonados, e talvez isso deixasse Katniss mais desconfortável do que as trocas de beijos. Sentia um pouquinho de inveja da relação que os dois tinham, e não cansava de se perguntar se um dia teria algo meramente parecido com aquilo. Talvez seu destino fosse ser solteirona pro resto da vida.

— Acho que somos beberrões mesmo. Não posso me juntar com vocês. Ficarei destruída amanhã. Sorte que é sábado. — Os três riram e Katniss se levantou e sentiu uma ligeira tontura ao firmar os pés no chão. — Bom, a natureza me chama. Preciso ir ao banheiro.

Enzo lhe explicou que o banheiro ficava num dos corredores laterais - o mais escuro dos dois - e Katniss foi até ele. Tinha medo de acabar caindo de cara no chão por causa daqueles sapatos tão altos e a tontura que sentia, mas se manteve firme e caminhou devagar entre as pessoas até chegar ao corredor. A falta de luz ali era terrível, e o medo de cair voltou, principalmente por tropeçar em algo que não pudesse ver. Tentou aproximar-se da parede pra ser guiada pelo tato e acabou batendo em alguém que vinha correndo pelo corredor na direção contrária.

— Céus! Olhe por onde anda! — ela gritou, suspirando com alívio ao não ser jogada no chão já que um par de braços tinham a segurado pela cintura, evitando sua queda.

— Peço perdão. Eu sou um idiota. Não deveria ficar correndo por esse corredor. — A voz masculina encheu os ouvidos de Katniss, que ficou curiosa pra saber como seria o rosto do dono daquela voz. Nesse instante, uma porta bem ao lado dos dois foi aberta (a porta do banheiro feminino) e Kat teve um rápido vislumbre do rapaz que ainda a segurava pela cintura.

A luz que vinha do banheiro clareou um pouco o ambiente e ela podia ver que o rapaz loiro tinha lábios cheios e um rosto muito bonito. Queria vê-lo num lugar onde a luz não fosse tão precária só pra ter certeza se ele era tão bonito quanto parecia.

— Você está machucada? Parece meio chocada. — Ele riu e sua risada era ainda mais bonita do que sua voz. Kat agradeceu a falta de luz porque estava incrivelmente corada naquele momento. Ajeitou sua postura, saindo do aperto dos braços do rapaz e recostou-se contra a parede.

— Eu estou bem. E não precisa se desculpar. Acho que eu bebi mais do que deveria.

Os dois se encararam por alguns segundos enquanto o som de algo sendo quebrado ecoava pelo corredor, e xingamentos eram proferidos enquanto pessoas corriam de lá pra cá.

— SEU VIADINHO, NÓS VAMOS NOS ATRASAR!

Um grito masculino veio do final do corredor e fez com que o loiro se virasse. No fim do corredor havia uma porta e um rapaz cabeludo estava com a cabeça pra fora do cômodo e gritava e gesticulava na direção de Katniss e o loiro.

— Meus amigos... Eu sou da banda. Nós vamos começar a tocar daqui a pouco. Preciso ir.

Kat deu uma espiada no final do corredor, onde agora mais de um rapaz colocava a cabeça pra fora do que provavelmente era o camarim, e gritavam coisas obscenas pro rapaz que lhe fazia companhia.

— EU VOU COMER SEU CU SE VOCÊ FIZER A GENTE SE ATRASAR!

— VOCÊ PODE NAMORAR DEPOIS, PEETA! ANDA, TRAGA SUA BUNDA GORDA JÁ AQUI!

Os dois riram, o rapaz principalmente, sem graça com aquela situação.

— É melhor eu ir. Não quero perder minha virgindade anal dessa forma.

Katniss riu mais ainda, levada pela quantidade de cerveja que já alterava seu comportamento.

— Vá. Não quero ser a culpada por sua perda de virgindade anal.

Antes de se afastar, o loiro deu uma boa olhada na menina à sua frente, considerando se deveria ou não dizer o que tinha em mente. Mas antes mesmo que pudesse considerar o contrário, seus lábios começaram a se mover e formar as palavras que rondavam sua cabeça.

— Sei que pode parecer loucura, mas... Aceita beber alguma coisa comigo depois? O show não vai ser muito longo, nem é um show propriamente dito... Enfim. Você aceita?

Ela podia ouvir a voz de Rue em sua cabeça lhe dizendo pra aceitar o convite. "Você não pode viver pra sempre pensando em Gale." "Você precisa sair e viver." Era o tipo de coisa que ela com certeza diria.

— Aceito. Me procure quando acabar sua apresentação.

O rapaz deu uma risada e se afastou, seus amigos ainda gritando apelidos horríveis pra que ele fosse mais rápido.

Ela tinha um sorrisinho sutil nos lábios quando voltou pra mesa. Enzo e Rue conversavam animadamente sobre alguma coisa que ela nem mesmo se preocupou em prestar atenção. Sabia que deveria ter uma expressão idiota no rosto, e só podia imaginar o que Rue diria se soubesse que ela tinha acabado de aceitar tomar uns drinks com um rapaz.

Estava tão alheia que não percebeu toda a movimentação em cima do palco, e logo a banda estava tomando seu lugar. Enzo levantou e começou a assoviar e a bater palmas enquanto o vocalista saudava as pessoas que estavam no bar. O garoto sorriu, mas não dava pra saber se estava envergonhado com a atitude de Enzo ou se estava feliz por receber o apoio do amigo. Quando ele se sentou, um sorriso enorme se espalhou por seus lábios e ele deu um beijo estalado na bochecha de Rue, que riu feito uma colegial.

Katniss não deixava de olhar o loiro que ela descobriu ser o guitarrista da banda. Ele também já tinha visto a morena ali, bem de frente ao palco, e sorriu em resposta ao sorriso dela. Enzo percebeu essa rápida troca de sorrisos mas ficou calado. Não seria ele o culpado a estragar uma possível chance de Katniss largar aquela depressão pós-término de namoro.

O som de guitarras logo encheu o bar. Katniss ficou surpresa ao constatar que o repertório da banda era repleto de músicas que ela adorava. Muse, Franz Ferdinand, The Smiths... Era como se aquela apresentação fosse feita especialmente pra ela e apenas pra ela. Rue reparou sua empolgação e o modo como Katniss não parava de olhar pra um dos rapazes da banda.

— Parece que você vai comer ele com os olhos — ela disse à amiga, dando um gole em sua cerveja em seguida.

Katniss corou ao perceber que Rue tinha flagrado os olhares que ela lançava pra cima do palco. E ela também tinha percebido que o garoto que era alvo dos olhares da amiga também não parava de sorrir sempre que olhava pra ela.

Rue sorriu. Será que Kat finalmente conseguiria se esquecer de Gale e começar a se permitir sair com outras pessoas? Ela não precisava necessariamente começar a namorar ou engatar um outro relacionamento, mas não via problema algum em sua amiga dar uns beijos em um guitarrista bonitinho.

A banda terminou de tocar uma música do Arctic Monkeys e o rapaz loiro rapidamente se aproximou do vocalista, cochichando algo em seu ouvido antes de voltar à sua posição inicial. O vocalista sorriu, ajeitou seu microfone e segurou seu baixo, pronto pra começar a tocar.

— Meu guitarrista gostaria de dedicar a próxima música à uma menina muito bonita que ele conheceu hoje. — E ainda sorrindo de um jeito meio sacana, ele começou a tocar e a cantar "Take me out tonight..." e Katniss estacou na cadeira, com os olhos arregalados enquanto ouvia a melodia de There Is A Light That Never Goes Out enchendo o bar.

Era uma de suas músicas favoritas.

E ela tinha quase certeza de que a música estava sendo dedicada pra ela.

Fazia todo o sentido.

Katniss levantou e puxou Rue pelo braço pra que ela também se levantasse. A amiga também conhecia aquela a música e logo as duas estavam cantado feito loucas juntas com o vocalista que sorria satisfeito de cima do palco. Aquele só poderia ser o melhor primeiro show de todos os tempos!

Quando a música acabou, o vocalista agradeceu a empolgação de Kat e Rue, agradeceu a todos que estavam no bar e a banda deixou o palco. Antes de sumir pelo corredor escuro, o guitarrista loirinho ainda sorriu uma última vez pra Katniss que sentiu um frio no estomago.

— Ele me chamou pra beber alguma coisa com ele — ela confidenciou à Rue antes que perdesse a coragem de dizer. — Não sei se aceito.

— VOCÊ ESTÁ LOUCA?! — A amiga gritou, segurando os ombros de Katniss e balançando-a com força. — É óbvio que você vai aceitar! — Elas se sentaram e Rue virou-se para Enzo, uma expressão muito séria dominando seu rosto. — Como é o nome do guitarrista? O loiro.

— Peeta — Enzo respondeu, arqueando uma das sobrancelhas. — Não está pensando em me trocar por ele, está? Não pensei que você gostasse de guitarristas.

— Deixe de ser idiota, Enzo. — Rue revirou os olhos. — É a Kat. Ele a convidou pra tomar uns drinks.

— Ele é um cara legal, Kat. Você deveria aceitar.

Mil coisas passavam pela cabeça de Katniss. Aceitar beber com Peeta não significava que ela estaria seguindo em frente e esquecendo Gale, ou significava? Peeta era bonito, claro, mas não conseguia se imaginar ficando com ele ou qualquer coisa do tipo. Os beijos de Gale ainda era lembranças frescas em sua memória e ela tinha certeza de que não deixaria de pensar nele tão cedo.

— Vamos. Não vou deixar que você comece a se lembrar de Gale e acabe desistindo de ir se encontrar com o loirinho. — Rue se levantou e arrastou a amiga até o bar. Antes de deixá-la sozinha, a mulher ajeitou os cabelos de Katniss e beliscou suas bochechas pra dar um rosado à sua face. — Pronto, você está ótima. Vai arrasar, gata. — Deu-lhe um beijo na bochecha, um sorriso e foi embora.

Sentia-se tão nervosa que pediu uma dose dupla de tequila e ignorou o sal e os limões oferecidos pelo barman. Esperava que aquilo pudesse amenizar seu nervosismo.

Peeta's POV

— Cara, você precisa ver se está tudo no lugar. Eu estou chapado demais pra conseguir me mexer agora — Finnick riu, batendo no ombro de Peeta enquanto passava o cigarro pra um cara desconhecido que tinha se metido pra dentro do apertado "camarim".

— Claro, claro. — Peeta era contra as drogas. Na verdade, era contra qualquer coisa que pudesse afetar a cabeça das pessoas. "Menos bebidas", corrigiu-se mentalmente, dando um sorriso. Seu pai tinha o ensinado a beber assim que ele completou 15 anos. Era ilegal, óbvio, mas o que se fazia dentro de casa era problema deles. Pelo menos era isso o que o pai costumava dizer.

Levantou-se e deixou o camarim. A salinha pequena que fora transformada em um camarim temporário ficava no final do corredor onde estavam os banheiros. O cheiro ali não ficava muito agradável depois das três da manhã, principalmente o cheiro do banheiro masculino que era bem ao lado do "camarim". O lugar era pequeno e o dono do bar tinha sido legal o bastante pra colocar um sofá e umas cadeiras no lugar pra que ele e os rapazes da banda pudessem descansar ou simplesmente ficar de bobeira.

O dono do Devil's Bar era tio de Finnick, e os dois tinham feito um acordo pra que a banda deles pudesse tocar ali todos os finais de semana. Não era uma coisa que renderia muito dinheiro pra eles, mas pelo menos eles estariam tocando em um lugar que não fosse a garagem de Finn.

Começou a caminhar num ritmo rápido, querendo deixar aquele corredor o mais rápido possível. Tinha certeza de que todos os instrumentos estavam em seus lugares certos e que tudo não passava de uma viagem de Finn achando que nada estava certo. Mas não recusaria uma oportunidade de deixar aquela sala que cheirava a maconha e cigarro barato. Poderia até mesmo ficar uns minutos fora do bar, respirando o ar "puro" da cidade antes de voltar a enfrentar o cheiro de cigarro e bebida que enchia o bar.

Estava tão distraído com seus pensamentos que acabou trombando em alguém. O encontrão não foi sutil e ele foi rápido o suficiente pra segurar a pessoa - uma mulher - pela cintura antes que ela atingisse o chão. Sentiu a cintura pequena em seus braços e o cheiro de cerveja e um perfume doce que emanava dela.

— Céus! Olhe por onde anda! — a mulher gritou, e Peeta deu um sorriso ao ouvir sua voz. Por estar sempre pensando em música, sempre tentava imaginar uma pessoa cantando quando ouvia sua voz, e tinha certeza de que aquela pessoa daria uma ótima cantora.

— Peço perdão. Eu sou um idiota. Não deveria ficar correndo por esse corredor. — Ele tentava ver o rosto da menina, mas a falta de luz dificultava tudo. Parecia até mesmo que Deus ou qualquer outra entidade existente estava ouvindo seus pensamentos e naquele instante a porta do banheiro logo ao lado deles se abriu e Peeta pôde ver o rosto da pessoa que tinha em seus braços.

Era linda. Os cabelos castanhos se avolumavam ao redor do rosto e seus lábios estavam ligeiramente separados, naquele jeito meio grogue que as pessoas costumavam ficar depois de beber algumas cervejas.

Ela permaneceu calada, encarando-o da mesma forma que ele a encarava. Provavelmente estudando seu rosto assim como ele estudava o dela.

— Você está machucada? Parece meio chocada. — Ele riu, seus braços se estreitando ao redor da cintura inconscientemente. Ela deve ter percebido o movimento porque logo se livrou de seus braços e encostou-se na parede. Parecia um pouco envergonhada.

— Eu estou bem. E não precisa se desculpar. Acho que eu bebi mais do que deveria.

Peeta deu um sorriso, e logo deixou de ver o rosto da morena já que a porta do banheiro voltou a ser fechada. Sentiu-se incomodado. Gostava de olhar pra ela.

Os gritos começaram logo em seguida. Era de se esperar que Finnick começasse a dar seus ataques de impaciência já que o horário do "show" se aproximava com rapidez. Só mesmo aqueles caras pra conseguirem estragar aquele momento.

— Meus amigos... Eu sou da banda. Nós vamos começar a tocar daqui a pouco. Preciso ir. — Sua voz soava desanimada, até porque era como ele se sentia. Queria continuar ali e descobrir o nome daquela garota e talvez convidá-la pra tomar alguma depois do show.

A morena se moveu, olhando em direção ao camarim. Não sabia se era tão possível se sentir envergonhado como estava se sentindo naquele momento. Maldito Finnick.

— EU VOU COMER SEU CU SE VOCÊ FIZER A GENTE SE ATRASAR!

— VOCÊ PODE NAMORAR DEPOIS, PEETA! ANDA, TRAGA SUA BUNDA GORDA JÁ AQUI!

Os dois riram. A morena divertida e ele envergonhado com a situação. Queria cavar um buraco no chão e enfiar sua cabeça nele.

— É melhor eu ir. Não quero perder minha virgindade anal dessa forma.

A garota riu outra vez, de um jeito meio bêbado que Peeta achou uma graça.

— Vá. Não quero ser a culpada por sua perda de virgindade anal.

Ele tentou visualizar seu rosto outro vez, relembrando a cor dos seus olhos e o formato de seus lábios. Queria muito chamá-la pra sair, mas tinha medo de levar um fora como acontecia todas as vezes.

Era de se esperar que estar tocando guitarra numa banda fosse lhe render muitos encontros, mas não era exatamente isso o que acontecia. Peeta era o mais ofuscado da banda. As meninas preferiam Finn e Jim, o baterista.

— Sei que pode parecer loucura, mas... Aceita beber alguma coisa comigo depois? O show não vai ser muito longo, nem é um show propriamente dito... Enfim. Você aceita? — Sentia-se nervoso. Só ficava repetindo mentalmente "diga sim, diga sim, diga sim", sabendo que seria terrível levar um fora de uma garota como aquela.

Ela ficou em silêncio pelo o que pareceu ser uma eternidade e ele tinha certeza de que ela lhe diria que não quando finalmente ouviu sua voz.

— Aceito. Me procure quando acabar sua apresentação.

Peeta ficou tão chocado com a resposta que só conseguiu dar uma risada nervosa antes de sair andando pelo corredor em direção ao camarim.

— Cara, você não vai acreditar no que acabou de acontecer — ele começou a dizer assim que botou os pés pra dentro do camarim. Finnick enlouqueceria quando soubesse que ele tinha um "encontro".

***

A setlist do show estava grudada no chão próxima aos pés de Peeta. Cada integrante tinha sua cópia da setlist, só pra garantir que nenhum deles começasse a tocar a música errada. A primeira música a ser tocada foi uma canção antiga dos Smiths, uma que Peeta particularmente adorava, e ele não conseguia prestar atenção no que estava fazendo porque seus olhos insistiam em fazer todo o trajeto até a mesa onde a menina que conhecera há poucos instantes estava sentada. Ele sorriu satisfeito ao ver que ela parecia aprovar a música que eles tocavam, e perguntou-se se ela seria também fã dos Smiths.

As músicas que eles tocavam variavam bastante. Depois de tocarem The Smiths, eles pularam pra uma baladinha indie rock do Franz Ferdinand que fez com que umas três pessoas lá no fundo do bar começassem a gritar e dançar com suas cervejas nas mãos. Mas, outra vez, ele não prestou muito atenção neles. A única pessoa que lhe interessava, naquele momento, era a morena que estava na primeira mesa.

Antes de tocarem a última música, Peeta se aproximou do vocalista, seus dedos tremendo de nervosismo por causa da ideia completamente maluca que acabara de ter.

— Faz um favor, Finn. Dedica essa última música pra uma pessoa. Diz que eu quero dedicá-la a uma garota que conheci hoje. — Falou tudo rápido demais, com medo que o microfone pudesse captar suas palavras. Voltou à sua posição e esperou. O nervosismo fazia seu estomago se contorcer.

— Meu guitarrista gostaria de dedicar a próxima música à uma menina muito bonita que ele conheceu hoje. — Fred deu um sorrisinho e logo os primeiros acordes de There Is A Light That Never Goes Out preencheram todo o bar.

Peeta não conseguia tirar os olhos da garota sentada bem ali, quase de frente pra ele. Não estava nem se importando se erraria algum acorde na hora de tocar. Ele simplesmente não conseguia parar de olhar pra ela.

Ele reparou em como seus olhos pareciam estar arregalados. Não sabia se ela estava surpresa com a escolha da música ou não. Era difícil interpretar sua expressão. Ela tinha gostado da música? Será que ela detestava aquela música? Achava difícil alguém com um pingo de bom senso não gostar daquela canção em particular, mas merdas poderiam acontecer. Ele só conseguiu relaxar quando viu que ela se levantava e puxava a amiga junto. Logo as duas estavam cantando tão alto quanto Finnick, fazendo Peeta sorrir satisfeito mais uma vez.

A banda deixou o palco e Peeta quase empurrou todos pra dentro do camarim. Finn riu do seu nervosismo e estendeu um cigarro "suspeito" em sua direção. Peeta apenas arqueou as sobrancelhas e negou a oferta com um balançar de cabeça. Eles já estavam cansados de saber que ele não curtia aquele tipo de coisa.

Trocou de camisa e jogou uma jaqueta preta por cima, rezando pra que não parecesse arrumadinho demais ou pra que não estivesse fedendo a suor pós-show.

— A boneca está toda arrumadinha — zombou Jim, o baterista. — Anda logo, seu viadinho. Você não precisa se arrumar todo só pra tomar umas cervejas com uma garota. Ela nem vai perceber o que você está vestindo.

Peeta ignorou o comentário de Jim e deixou o lugar, batendo a porta ao passar. Seus companheiros de banda às vezes conseguiam deixá-lo extremamente aborrecido. Todos eram tão infantis às vezes que ele nem ao menos sabia como conseguia aturá-los. Mas fazia tudo pela música. Adorava estar numa banda, mesmo que essa banda fosse formada pelos caras mais idiotas do planeta. Finnick ainda conseguia ser legal, mas quando estavam todos juntos, ele assumia sua versão idiota pra interagir com os amigos.

Assim que chegou no salão, Peeta percebeu que a mesa onde Enzo estava sentado com a morena e uma outra garota estava vazia. Será que ela tinha ido embora e desistido de beber com ele? Não seria a primeira vez que isso aconteceria com ele.

Sentiu um peso enorme sobre seus ombros e andou meio carrancudo até o bar. Tomaria uma cerveja e iria embora pra casa. A noite pra ele já tinha acabado.

Mas assim que encostou no bar, ele reconheceu a cabeleira castanha da garota. Ela estava sozinha, encarando as dezenas de garrafas de bebidas que enchiam as prateleiras da parede. Ele sorriu e chamou o barman, Andrew, que secava alguns copos ali perto. Pediu uma caneta e pegou um guardanapo pra que pudesse escrever o que tinha em mente. Rabiscou (com sua letra horrível) um trecho de There Is A Light That Never Goes Out e pediu que Andrew entregasse à garota do outro lado do bar. Antes que ele se fosse, pediu duas cervejas e ficou esperando pra que ele entregasse a sua mensagem.

No papel estava escrito: "Take me out tonight" ("me leve pra sair hoje à noite").

Era uma cantada muito idiota, mas ele esperava que funcionasse.


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Notas finais do capítulo

comentem ♥♥♥



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