Apartamento 17 escrita por Alex Baggins


Capítulo 1
Pelo Menos Não Pegou AIDS!




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Eu não sei quando foi que a minha obsessão com cidades grandes começou. Arranha-céus, avenidas lotadas e vida noturna ativa faziam parte dos meus sonhos desde... Bem, desde sempre. Era por isso que eu assistia Gossip Girl (por isso e pelo Chuck Bass, é claro), era por isso que eu lia qualquer livro da Meg Cabot que eu encontrasse e era por isso que eu tinha me mudado para São Paulo assim que tive a chance.

Eu vinha de uma cidade ridiculamente pequena do interior da Bahia, com mais ou menos cinco mil habitantes, três avenidas, algumas lanchonetes e muitas, muitas igrejas. Havia morado lá minha vida inteira, sem nunca sair dali, a não ser para visitar algumas cidades vizinhas igualmente minúsculas e igualmente chatas. Minha vida era simples, com uma rotina entediante e pais sufocantes, tudo isso sendo fatores decisivos que ajudaram na minha decisão de fazer as malas e pegar um avião para a liberdade. Desnecessário dizer, meus pais simplesmente enlouqueceram quando eu anunciei minha mudança. Foi preciso fazer minha mãe sentar e beber um copo cheio de água com açúcar. Foi completamente ridículo e eu revirei meus olhos pelo menos 17 vezes. Mamãe chorava e soluçava e perguntava aonde havia errado. Fala sério, né? Aquilo era puro drama: ela não havia reagido assim nem quando Danah, minha irmã mais velha, havia anunciado que estava grávida de seu namorado idiota (as pessoas daquela cidade não reagiam do modo correto quando se tratava de gravidez na adolescência). Na verdade, minha mãe abrira um sorriso enorme e dito pelo menos não pegou AIDS!.

Sério, mamãe? Sério mesmo?!

De qualquer forma, eu havia ignorado completamente os dois, cantarolando Taylor Swift mentalmente enquanto eles me passavam um sermão de duas horas sobre os perigos de São Paulo, a 25 de Março e o PCC. No entanto, nenhum desses avisos mudou minha escolha e eles sabiam que nada que pudessem dizer que o faria. Então eles me apoiaram. Ajudaram-me a empacotar as minhas coisas e conversaram com uma amiga que morava em São Paulo, que concordou em me receber enquanto eu procurava por um apartamento que não custasse mais rins do que eu podia vender sem morrer ou ser presa. Antes mesmo de partir eu já tinha pesquisado mil apartamentos em grupos de universidades no Facebook e achado alguns que me interessaram. Um em particular, era bem grande, maior do que o preço sugeria, e ficava bem no centro da cidade. Lá moravam outras três garotas e eu dividiria o quarto com uma delas. Muitas outras meninas se candidataram para o lugar e as meninas insistiam em conhecer todas. Eu então mandara uma mensagem e marcado uma visita, partindo então no próximo voo disponível.

Lá estava eu então. Semanas depois, parada na frente da porta de madeira simples do apartamento 17. Eu estava nervosa, era inegável. Aquela parte da cidade era tão... Estranha. Os prédios eram tão altos, as ruas tão cheias... Engolindo meus medos, eu levantei o dedo e apertei a campainha. Esperei um pouco e... Nada aconteceu. Olhei para os lados, meio perdida, como se esperasse que alguém fosse sair das portas vizinhas, mas ninguém o fez. Apertei a campainha novamente e dessa vez ouvi o som de algo se quebrando e um xingamento. Alguém gritou:

–Um segundo!

Eu esperei, limpando na lateral das minhas calças minhas mãos suadas e repassando a apresentação que havia preparado: Oi, meu nome é Clara, acabei de me mudar da...

A porta se abriu com um estrondo, interrompendo meu discurso mental e revelando uma menina. Ela era... Diferente, no mínimo. Relativamente alta, com grandes olhos verdes e cabelos de um tom gritante de rosa. Usava uma espécie de macacão felpudo que se parecia com um urso, uma mistura de pijama e fantasia. Ela não me cumprimentou de imediato, ao invés disso colocou a cabeça colorida para fora do apartamento, olhou para os dois lados e sussurrou em tom de conspiração:

–Entre. - quando eu hesitei ela disse com mais urgência - Rápido!


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Notas finais do capítulo

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