Viagens escrita por Silas Moreira


Capítulo 6
Capítulo 5 - O Despertar do Luar


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá. Welcome to my tale.
Primeiramente, mil perdões por demorar para postar. Correria com vestibular, mas vou tentar ser mais rápido para o próximo capítulo. Ingressei em uma faculdade e talvez isso me ajude a parar para escrever mais.
Enfim, quanto ao capítulo: "Cappy debate em seus últimos segundos de vida, e Merly têm que se arriscar diante essa doloroso decisão da amiga. Marcos e André continuam tentando entender um pouco mais sobre essa fantástica aventura."
Para o próximo capítulo, finalmente encontraremos Lanuf e o Velho Carvalho. O desenrolar dessa história promete ser encantador!
Espero que gostem e boa viagem!



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A garota de vermelho guinchou de dor. O sangue rubro escorria por suas mãos alvas. A estaca perfurava fundo em seu peito fazendo sua pulsação falhar. Os olhos vermelhos fecharam-se procurando forças enquanto os lábios cerrados impediam de sair um grito dolorido. Prostrada no asfalto, pernas e braços vacilavam, tentando suportar a si mesma. Em sua mente, as trágicas memórias faziam-na sentir uma angústia ainda mais profunda. Como pôde? Era o próprio pai! Uma lágrima de sangue manchou o rosto, gélido como a morte, e então sua mente esvaeceu e ela não sentiu mais nada.

Cappy não estava mais ali. A capa vermelha soltou-se e caiu pesada no chão revelando os longos cabelos de noite estendidos por suas costas. A Morte cobriu-a com uma nova capa, negra, e seu coração parou em um último batimento, sofrendo pelo golpe do punhal. Em um momento de pânico, em algum lugar muito distante dali, a descendente de Merlin berrou em desespero pela aliada. A amiga não conseguira sobreviver. E só então, quando não havia mais volta, toda a magia que estava no interior da menina, agora morta, eclodiu: a Maldição da Lua.

Os ossos das mãos e pés começaram a se atrofiar e suas unhas cresceram, transformando-se em garras negras, prontas para matar. O rosto frio e etéreo se transfigurou em uma feição bestial e assassina enquanto a porção inferior se projetava à frente, e o nariz achatava-se formando uma espécie de focinho com características humanas. A boca aberta dividiu-se no centro e mostrou, na lateral, os afiados caninos. As orelhas se alongaram e a parte de baixo se fundiu com a pele da cabeça, adquirindo uma forma animalesca. As roupas iam sumindo à medida que brotavam pelos por todo o corpo e o cabelo, antes comprido, agora se convertia em uma extensa mancha negra que fazia destaque em meio à pelagem esbranquiçada. As pernas se retorceram, as garras afiadas arranharam o solo, os olhos de sangue se abriram sedentos enquanto o lobo branco de quase dois metros se ergueu em duas patas e uivou numa explosão de ferocidade.

Cappy realmente não estava mais ali, mas a besta bípede mantinha seu espírito amaldiçoado ainda vivo, embora que adormecido. A barreira que antes protegia a garota quebrou-se em partículas prateadas quando a luz foi interrompida, porém, agora, a força poderia finalmente vencer. A fera destroçava as máquinas que subiam por suas pernas, agarrando várias de uma só vez, partindo-as e então lançando-as para longe. Abocanhava mais alguns pares de inimigos e os esmagava com a força da mandíbula feroz. Mais adversários se aproximavam e aqueles que tinham sido arrebentados pela força sobrenatural do bicho uniam suas partes rapidamente, consertando-se de alguma forma e voltando à ativa, apenas para serem deixados em pedaços novamente.

As aranhas robóticas encravavam suas perninhas afiadas no couro branco, mas agora eram seus ataques que se mostravam inúteis. O monstro não externava nenhum indício de dor enquanto o som de sua respiração, ofegante por conta da adrenalina, e o barulho de metal caindo no chão e despedaçando-se transformavam a animada noite de ano novo em uma batalha mortífera. Os habitantes da pequena cidade não pareciam preocupados com o que acontecia nas ruas. Talvez pensassem que fosse um desentendimento em alguma festa, comum em datas como esta, ou simplesmente não percebiam nenhuma agitação, seja por causa da bebida excessiva, seja por motivos ainda ocultos. A luta já estaria ganha se aquelas malditas máquinas pudessem se manter quebradas, mas elas insistiam em retornar dos destroços e isso colocava os adversários em uma posição quase equilibrada, com uma única falha: a criatura era forte, mas não imortal. Era questão de tempo até que descobrissem como aniquilá-la.

* * *

— Thornton! Eu preciso do estabilizador de P.I.T.E. pronto agora, por favor! — disse Merly em passos largos, numa tentativa fracassada de parecer irritada enquanto algumas sílfides apressavam-se atrás dela tentando amarrar alguma espécie de mochila médica.

— Merly, mas o que significa isto? Chamaste a mim para receber-me com escândalos? Além de tal, deverias estar repousando e repondo as energias. Essas viagens descontroladas têm exigido-te grandes quantidades de vigor.

— Em primeiro lugar, esta mochila está cheia de mana e ligada à minha aura. As sílfides nunca iriam me deixar sair sem o suprimento necessário — os seres do ar acenaram e sorriram, como se discussões como aquela fossem muito comuns ali — E depois, Cappy está em sérios problemas. Ela recorreu à Maldição para poder escapar! Preciso ajudá-la!

Thornton arregalou os olhos na entrada do sétimo andar. Logo à frente, Merly tentava lançar-lhe seu melhor olhar de petição enquanto as sílfides arrumavam sua mochila de mana. André permanecia mais atrás gritando "Ela morreu!?" para todos os pacientes, incomodando-os, mas sem receber respostas. Marcos, sentado na cama que antes pertencia à Merly, parecia em outro lugar. Sua mente viajava pelas inúmeras questões que fizera a si mesmo nos últimos anos e que agora poderiam ser respondidas — mas será que ele gostaria das respostas? Estava atônito, estupefato, tão fora da realidade que nem percebia os ventos coloridos ao seu redor, tentando medir-lhe a pressão e fazer alguns exames de rotina.

— O estabilizador não está totalmente preparado para isso — começou Thornton — Como eu te disse antes, a primeira viagem estava marcada para apenas daqui seis anos! O fato de terdes conseguido sobreviver à viagem ao Cosmus e ainda voltado com mais dois terranos foi apenas sorte e talvez graças a algum auxílio do Destino. Posso tentar realizar uma sobrecarga no gerador e talvez isso seja o suficiente para levar-te e também para que voltes com Cappy em segurança sem que haja uma perda significativa de mana. Isso! Claro! Talvez se eu inverter alguns dos cinco pontos de tensão eu consiga um bom efeito. Venha, siga-me. Que o Primordial nos ajude.

O grandalhão azul seguiu para o elevador. A garota olhou para trás, a fim de ver como os meninos estavam, e os viu em estados deploráveis — talvez o acúmulo de novas informações tenha os chocado demais. Um pouco de cuidado das enfermeiras faria bem a eles. André tinha recebido uma boa dose de anestésicos e agora estava deitado numa maca com a cabeça balançando e os olhos perdidos em algum lugar acima enquanto murmurava coisas sem sentido como "Morreu" e "Vômito de Toby". Marcos, por sua vez, parecia estar passando por uma sessão de tratamento psicológico. Uma sílfide estava sentada ao seu lado, ouvindo atentamente enquanto o garoto falava. Pode ter sido apenas impressão, mas Merly notou que a enfermeira chefe apontava para os dois, dando passagem a uma moça que levava duas seringas com "Morfeu LTDA." gravado do lado.

O elevador subiu até o quadragésimo nono andar. Ali havia sido instalada uma sala dedicada exclusivamente para casos como o que enfrentavam. Ao contrário de outras salas, aquela tinha pouca movimentação. Não havia ninguém além de Thornton e Merly. Era bem alta, e no fundo uma espécie de passagem – como de uma porta - com três metros de altura se projetava entre seis grandes cilindros metálicos com painéis, botões e alavancas aos montes.

— Criança, tu sabes que o P.I.T.E. está todo bagunçado — disse Thornton trocando, apressado, alguns cabos da largura de um braço — Será necessária uma maior concentração.

— Confie em mim, grandão. Eu consigo. Eu preciso! Não vou demorar muito. Assim que passarmos pra cá, desligue.

— Sem problemas. Preparada? — a mão do ferreiro estava segurando uma alavanca no terceiro cilindro da direita.

— Pode ligar – os olhos de Merly brilharam intensamente em branco. Suas mãos criaram duas esferas de poder que tremeluziam fortemente. O mana, na mochila, começou a irradiar uma intensa luz azulada. Ela estava realmente preparada.

Thorton abaixou a pesada alavanca com uma única mão, e um zumbido começou a emanar dos cilindros da sala. Raios vacilantes entre azul e roxo escapavam a todo instante, dançando no ar, gerando faíscas e deixando um cheiro de queimado. O grande arco luziu intensamente e um brilho começou a nascer no centro da passagem, que, rapidamente, foi tomada por uma espécie de névoa densa e arroxeada.

— O portal está pronto, Merly! Sua vez! – gritou Thornton em meio ao zumbido da máquina.

— Já volto! — disse; e correu ao encontro do portal, sumindo logo em seguida.

Agora estava ao ar livre. O céu azul brilhava radiante. Pequenas ilhas, do tamanho de carros, flutuavam aos milhares. Cada uma trazia consigo uma passagem em forma de arco e uma escada à frente. Inclusive a garota estava numa dessas, de costas para um portal que a levaria de volta a Thornton.

O lugar era encantador, mas não poderia parar e apreciá-lo. Tinha que se concentrar e chamar o portal correto. Sua amiga estava dependendo disso. Merly olhou em volta, procurando algo que lhe parecesse certo, até que uma das passagens emitiu um pequeno brilho vermelho. Certamente era aquele. Estendeu as duas mãos naquela direção e a pequena ilha começou a flutuar para perto, até que as duas escadas se encaixassem.

* * *

A besta canina continuava gerando seus destroços. Sua energia era incontrolável e capaz de matar qualquer alma por perto. Assim como ela, os R-CET também se mostravam inabaláveis. Mantinham o ataque em alta energia e se negavam a recuar. Mas o reforço viria em favor da fera de pelos brancos. O muro no final da rua sem saída começou a se distorcer e revelar o auxílio. Um portal azul surgiu, e Merly emergiu dele. Flutuava um pouco acima do chão, radiante como antes. Estava indo em direção à amiga. Várias das pequenas máquinas sentiram a distorção e partiram para cima da maga, mas com um rápido movimento de mãos, ela facilmente as imobilizava no espaço. Uma pequena fração do fantástico poder de uma Merliniana. Um a um, os robôs foram se tornando inúteis, porém, estavam em milhares. Elas tinham que sair dali rapidamente.

Merly se aproximou da fera e conseguiu levitá-la, tirando-a de perto dos bichos mecânicos. Segurou o punhal encravado no peito sangrento com as duas mãos, e disse com uma poderosa voz ecoante:

Até que doutro a morte o venha livrar— e arrancou a adaga. Um uivo estridente se ouviu e Cappy havia voltado. Não o lobo, mas a garota de pele branca e olhos vermelhos.

A menina caiu desacordada, mas Merly a manteve flutuando acima dos robôs inimigos, e qualquer um que se atrevesse a atacar, parava em pleno ar. A raiz de Merlin levou as duas em direção ao portal sem grandes problemas.

— A... Capa. — resmungou Cappy apontando para o chão adiante, onde seu capuz vermelho estava caído.

Merly o levantou do chão com sua magia e o trouxe para perto da amiga. Então, as duas sumiram dentro do portal no fim da rua.


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Notas finais do capítulo

Novamente, perdão pela demora, o próximo capítulo será postado em breve - eu espero!
Espero que tenha gostado. Diga nos comentários o que tem achado, eles me ajudam e me motivam a continuar escrevendo. Também diga suas especulações, o que acha que vai acontecer a partir de agora? O que achou dessa reviravolta?
Agradeço a leitura e até a próxima viagem!



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