Teoricamente, o fim do mundo! escrita por Miss Addams


Capítulo 4
Four




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Como vai você? Que já modificou a minha vida, razão de minha paz já esquecida, nem sei se gosto mais de mim ou de você.”

“Esses dois nunca me enganaram”

“Eu sabia que teria algo especial para nós, trendys hoje”

“Não acredito nisso, esses dois me matam!!!”

“Amo demais”

“É trendy porra!!! Chupa!!!”

“É real doa a quem doer. Ganhei minha noite. xD”

“Beijos da realidade, Dulce y Poncho! ♥”

A cada momento eu ria mais com os comentários de diversos idiomas deixados pelas pessoas no Twitter. Nessa noite de Terça-feira, estava na minha sala depois de ter tomado um banho relaxante e colocado uma roupa confortável e quente, naquela noite fria.

Hoje eu fiz uma sessão de fotos para a revista Glamour que tomou o dia inteiro, algumas externas a noite também foram feitas, estava cansado, ontem gravei a matéria para o especial do Rbd, aos poucos eu estava retomando a minha aquela rotina maluca sem pé nem cabeça, que eu gostava apesar dos pesares.

Foi em Televisa que eu tirei as últimas fotos, numa pausa entre as fotos, fui tomar um café. E foi lá que encontrei com Dulce que não via desde quarta passada, na verdade, foi ela que me encontrou. Eu estava de costas e ela deu um assovio provocativo para chamar minha atenção, conversamos rápido ela já estava de saída e eu tinha que voltar ao trabalho. Mas, antes dela ir. Pediu para tirar uma foto comigo, não tinha entendido até agora.

Depois de me atualizar em todas as redes sociais minhas, deixei o Twitter por último e quando entrei fui bombardeado a todo instante com menções, de pessoas comentavam a foto que Dulce insistiu que nós tirássemos.

Ignorando por um momento todos os comentários, eu deixei um pedido de desculpas por conta do meu sumiço e comentei o quanto aquela noite apesar de fria estava alegre. Sei que foi uma indireta e que foi prontamente entendida.

“Que feliz eu estou por você ter voltado. Feliz dia Trendy10años, felicidades a vocês @ponchohd y @DulceMaria razões da minha vida. *-*”

Esse foi o primeiro comentário que eu recebi e li. Agradeci mentalmente por saber que tem pessoas que querem o meu bem e que não me deixam sozinho. Demorei a dormir fiquei na cama pensando nos últimos 10 anos. Fui dormir pensando nela.

...

Por Deus por que ela tinha que demorar tanto? Eu estava sentindo até falta de ar por está ali sozinho. Me sentia sufocado naquele lugar, as pessoas passavam distraídas a minha presença e piorei meu mal estar ao sentir que estava sendo vigiado.

Comecei a respirar fundo, para me lembrar que isso era essencial, vou esperar só mais um pouco disse para eu mesmo mentalmente. Se ela não voltar eu ligo para ela. Olhei incomodado as pessoas passando, como é torturante ficar esperando, até levei um puxão no pulso onde estava amarrado a coleira.

:- Calma Rosetta! – a puxei de volta para onde eu estava e me abaixei para brincar um pouco com ela e esquecer onde eu estava, principalmente em que data eu estava.

Hoje é uma sexta-feira gelada, o céu estava mais nublado que o normal e com previsões de tempestade assim como no meu pesadelo. Eu passei o dia inteiro com a Dulce, ela me fez esquecer que dia era hoje, conseguiu diminuir o meu medo, mas nesse momento em que ela me deixou sozinho. Tudo veio à tona, me pegava pensando no meu pesadelo e cultivando meu medo, alimentando ele.

Meu desejo era só que ela voltasse que eu não ficasse sozinho.

:- Por que Dulce não vem logo, hein Rosetta? – sensação de tem alguém me observando estava forte, não me arriscava a olhar ao meu redor, ainda mais que estava de noite.

Quando pensei em pegar meu celular para chamar Dulce, escutei sua voz atrás de mim.

:- Cheguei, Desculpe a demora não pensei que demoraria tanto. – ela chegou ficando atrás de mim. Tocou no meu cabelo. – ela se comportou? – se referiu a Rosetta.

Que estava tranquila nos olhando e respirando com a língua para fora.

:- Sim. – eu sorri me levantando, sentindo mais aliviado por ela finalmente chegar, mas congelei ao ver o outro lado da rua. – Dulce podemos ir embora, por favor? – eu estava começando a ficar suado.

:- Claro. – ela olhou na mesma direção que eu. – Eu concordo com ele.

Eu forcei minha vista para ler o que o cartaz de papelão dizia e balancei a cabeça, ele me olhava e mesmo de longe me reconheceu, deu um singelo aceno e continuou parado me olhando. Retribui o aceno e do meu lado tomei a mão de Dulce a puxando para andar, só depois que viramos a esquina onde estava estacionado meu carro, eu conseguir respirar direito.

:- Poncho você está bem? Está chateado por que eu demorei?

:- Eu sei que precisava sair um pouco, respirar e esquecer. Mas, você me deixou esperando num lugar que eu não devia ter ficado, também não pudia sair por que você já tinha ido. – Parei ao chegar no meu carro e soltei a mão dela para pegar as chaves.

:- Rosseta, você vai aqui! – ela colocou a cachorra no banco de trás e abriu a janela por que ela gostava. E só agora vi que ela carregava uma caixa média. – Poncho me desculpe, eu pensei que não demoraria, fui conversa com a Renata, veterinária da Rosetta, porém esse é um outro assunto. Por que você não podia ficar lá? – ela me seguiu quando dei a volta no carro para abrir à porta do passageiro e dei espaço para ela entrar, voltando pelo caminho para finalmente entrar no carro.

:- Por que foi ali que eu sonhei onde o meu carro caia numa cratera e se destruía, por que hoje vai chover muito assim como no meu pesadelo. Por que é perto da praça principal... – eu comecei a falar, como se as palavras aliviassem minha sensação de pavor.

:- Poncho, eu...- ela começou a falar culpada agora e aquilo era tudo o que eu não queria por que ela não tinha culpa, ninguém tinha. Ainda mais ela que me ajudou a esquecer do dia de hoje, por isso antes que ela seguisse falando eu continuei.

:- Por favor, não se sinta culpada. – suspirei – E além do mais aquele homem do outro lado da rua, foi o homem com quem sonhei.

:- O mendigo?

:- É o nome dele é Alfonso.

:- Alfonso?

:- Sim. – olhei para ela.

:- Se acalma tudo bem? No seu sonho você estava sozinho e agora eu estou aqui. – ela passou a mão no meu ombro e braço tentando me dar conforto.

:- Ok. – tentei dar um sorriso a ela. – Agora vamos para casa, antes que Rosetta fique brava por não sentir os seus pelos brancos voando no caminho. – eu brinquei para tirar minha tensão.

Liguei o carro, tentando esquecer a mensagem mal feita e impactante de Alfonso, estava mostrando para quem quisesse ver, num papelão. Andando sem destino e com sua inseparável marreta.

“Ele terá piedade de nós.

Basta você merecer!

21/12/12”

Ainda no caminho para chegamos em sua casa, Dulce conversou comigo vendo que ainda estava nervoso, mas antes que chegássemos à chuva veio primeiro. E eu me assustei quando as gotas começaram a tocar meu carro, olhei para o lado e Dulce brigando com Rosetta que latia para os carros ao lado.

Me concentrei para dirigir em segurança, cheguei na casa de Dulce rápido diante da situação que me encontrava. Saímos do meu carro às pressas depois que eu o estacionei, Rosetta estava agitada latindo muito e corremos para a entrada da casa antes que nos molhássemos muito.

:- Rosetta, Para já com isso! – Dulce brigava com a cachorra que arranhava a porta se balançando espirrando água na gente para se secar - Poncho segura isso. – ela me passou a caixa, enquanto procurava a chaves na sua bolsa.

Segurei e ela finalmente encontrou as chaves, quando abriu a porta Rosetta entrou em disparada correndo em direção a um lugar escuro. E eu fiquei inseguro de entrar, por que fazia muito tempo que não pisava ali. Hoje Dulce e eu ficamos no meu apartamento levou Rosetta que por incrível que pareça se deu bem com Miau. Por fim deixei minha bobagem de lado e entrei, Dulce também já tinha sumido por algum cômodo da casa e por onde passou ligava todas as luzes.

:- Poncho onde você está? – ouvi sua voz gritando de algum lugar, enquanto eu ainda reparava em alguns detalhes na decoração que não existiam antes e reconhecia outros. – Na sala. – respondi.

:- Vem até aqui. – ela gritou. – Trás a caixa que eu te dei.

Caminhei incerto pela casa, sem saber onde ela estava, passei pelo banheiro, seu quarto, seu esconderijo, na cozinha, no quarto de hospedes, no final encontrei com ela no fundo da casa num lugar que antes não tinha. Ela e Rosetta olhavam para algo e só fui entender quando me aproximei.

:- Aqui está você, me de a caixa! – ela apenas me deu as mãos para que eu entregasse.

:- O que é isso? – Perguntei curioso.

:- Na verdade, quem são. – ela disse rindo abrindo a caixa e tirando um pequeno tronco de madeira e algumas nozes – Poncho eu te apresento a Juan e Maria.

Havia duas gaiolas ali uma do lado da outra, da esquerda saiu um pequeno esquilo com uma faixa mais escura na cabeça e da direita não apareceu nada até que o esquilo da esquerda foi na grade que divida as duas gaiolas e ficou esperando então timidamente saiu outro esquilo menor que o primeiro ele não tinha faixa na cabeça apenas no pequenino corpo. Fiquei encantado com a delicadeza deles, mas confuso por não saber qual era o macho ou a fêmea.

Quando o (a) outro (a) esquilo (a) saiu, Rosetta deu um latido e se aproximou da gaiola, porém foi contida por Dulce.

:- Rosetta, Não! Sabe que não pode latir perto deles, isso é feio menina má. – Dulce brigou com ela apontando o dedo o que me fez rir os dois esquilos se esconderam de medo.

:- Qual é o Juan e qual é a Maria? – eu perguntei voltando a olhar para as gaiolas.

:- Juan é o da esquerda e com a faixa na cabeça e Maria é a menor da direita. – Dulce explicou olhando para o Juan que agora saia de novo vendo que não tinha sinal de perigo e voltou para o limite de sua gaiola para esperar ou avisar a Maria que saísse também.

Dulce abriu a gaiola de Maria e colocou uma noz lá, ela não saiu do seu esconderijo, depois foi na gaiola do Juan e colocou o pequeno tronco ali sob a observação dele desconfiada. As gaiolas eram bem organizadas e equipadas, apesar de que da Maria era mais.

:- Vem vamos deixar os dois ali, ela deve está com fome, mas não sai por que estamos olhando. – Dulce me puxou pelo braço e chamou Rosetta que não queria vir. – Passa Rosetta.

Antes de voltar para a sala ela passou no quarto e pegou uma toalha para que me secasse.

:- Quer tomar um banho? Acho que ainda tem alguma roupa sua perdida por aqui. – ela me entregou a toalha.

:- Não se preocupe estou bem, já estou seco. – passei rápido a toalha sobre mim. – Desde quando tem esquilos em casa? E um casal ainda por cima.

Ela riu indo para a cozinha procurando alguma coisa para comer.

:- Não faz muito tempo, na verdade eu ganhei os dois. E no começo todo mundo pensava que eram dois machos. – ela abria a geladeira para ver o que tinha. – Eu ganhei da Renata, veterinária da Rosetta na última vez que fui lá. Ela os trouxe do Japão e sabe-se lá como ela descobriu que meu apelido era esquila então...- deu os ombros enquanto tirou um vinho da geladeira.

:- Nossa, e de que espécie eles são? – eu ainda ria pelo seu comentário anterior, mas do pouco que eu sabia esquilos não tem raça.

:- Sciuridae, a origem é da Sibéria, mas são encontrados no Japão, China, Coréia. Mas, esses são especiais. – ela encontrou vários salgados e guloseimas, e eu juntei a sobrancelha prevendo a mistura que ela faria com vinho e aquelas bobagens.

Ela levou tudo para a sala e eu a segui.

:- Dulce que mistura é essa? – perguntei olhando para tudo aquilo.

:- Estou com vontade, além do mais se não quiser comer isso pode ir cozinhar. – ela forçou um sorriso. – Olha só, já que é o fim do mundo por que não comer o que eu quero? – ela riu da própria brincadeira sem graça.

:- Por que os esquilos são especiais? – ignorei o que ela disse abrindo um salgado para comer.

:- Ah sim, quase me esqueço do estava contando. Então, Renata os encontrou feridos num parque do Japão, alguma brincadeira de crianças com estilingue, ela os salvou e os trouxe para o México, acho que esse acidente ocorreu com eles mudaram suas personalidades.

:- Como assim?

:- Os esquilos domesticados não são sociáveis, demora muito para se conseguir a confiança deles. Ainda mais os da natureza, mas o Juan em 2 dias que estava comigo ele já aceitava pegar comida na minha mão, Maria é um pouco tímida com pessoas que ela não está acostumada mesmo assim ela também pega a comida quando quer. – ela tomou um pouco do seu vinho – Acho que tudo isso se deve ao tratamento que a Renata teve com eles.

:- Entendi, mas como descobriu que Maria não era macho?

:- Foi engraçado porque num dia eu cheguei em casa e fui ver se estavam bem e quando cheguei perto eles estavam... – ela desviou o olhar e riu e eu gargalhei quando ela ficou vermelha. – Enfim, depois eles comeram a brigar e tive que separá-los depois eu e Renata nos surpreendemos ao ver que ela era fêmea. Maria tem personalidade apesar de tímida ela não o aceita enquanto não estiver no cio então eles brigam demais.

Gargalhei novamente vendo ela ainda vermelha.

:- Pensei em te dar um deles.

:- Me dar?

:- Sim, seria bom para eles talvez não brigassem mais por que mesmo em gaiolas separadas eles ainda brigam. – e eu sorri por que eles pareciam com um certo casal que eu conheço.

:- Tem certeza que a distância é o melhor para os dois? – Sei que ela percebeu o duplo sentido da pergunta por que ela me encarou séria.

:- Talvez sim. Talvez não. Por que da mesma forma que eles brigam muito eles não podem viver um sem o outro. Vejo isso quando Juan fica preocupado andando de um lado para o outro quando ela não sai do seu ninho. Ou quando Maria divide sua comida com ele mesmo correndo o risco de ficar sem. – ela deu os ombros ainda me encarando e tomando o seu vinho. – É como um elo entre eles.

E quando ela terminou de falar eu não soube dizer se ela ainda falava sobre os esquilos.

:- Vou pensar nisso depois. Mas, se eu ficar com um eu quero a Maria. – desviei o olhar dela para tirar o meu tênis e ficar descalço mais confortável, ainda sem olhar ela peguei uma almofada grande e deitei minha cabeça para deitar depois todo o corpo.

:- Por que a Maria? – ela também deitou ficando mais à vontade e descalça. Nos dois ficamos encarando o teto um bom tempo até eu responder.

:- Por que eu tenho mais intimidade com fêmeas. – ela me deu um tapa forte no peito e eu ri por isso. – Não é certo, por que vi que tem mais intimidade com o Juan e eu me encantei pela Maria e acho que Miau teria mais problemas com Juan, não sei. Até por que se num futuro, se ele existir, eu queria ter um cachorro macho.

:- Eu também. Futuramente quando me mudar para outra casa, uma maior, eu quero ter espaço para mais cachorros. – Ela comentou.

E estando ali com ela eu senti uma paz tão grande nos rondando, deitados, tomando vinho e vez ou outra ela timidamente passava o pé dela no meu. E percebendo sua aproximação eu juntei mais o meu corpo com o dela, ficando lado a lado e ela não se afastou até passou uma mão livre para me fazer um cafuné calmo enquanto eu que acariciava o pé dela com o meu. Estávamos conversando durante muito tempo sobre nossos desejos e sonhos para o futuro. O que eu estranhei por que sequer sabíamos se teríamos um futuro.

Dulce decidiu por nós dois que era melhor não vermos nenhum meio de comunicação hoje, por que eles só me deixariam mais nervoso, ainda mais por que só falavam sobre o fim do mundo. Eu comecei a pensar no meu pesadelo o quanto até agora as coisas se saírem bem, foi o ano bem difícil em várias questões, mas nada tão catastrófico como eu sonhei. Mesmo assim o pensamento de que se Deus quisesse ele acabava com tudo de uma hora para a outra, sem mais nem menos, me amedrontava.

:- Eu estava lendo sobre sonhos e pesadelos... – Dulce me despertou dos meus pensamentos, falava com uma voz calma.

:- E o que descobriu?

:- Que o seu pesadelo, pode ter um significado.

:- Claro, o fim do mundo. – eu disse óbvio.

:- Não, Poncho. Eu li que quando sonhamos somos bombardeados de várias informações sobre o que queremos ou desejamos ou até sobre alguns fatos que estariam acontecendo e não vemos com clareza quando estávamos acordados. – ela prosseguiu falando e eu escutava quieto. – Como Platão, falou a muito tempo existe a realidade metafísica e a sensível que é a nossa, ela é projetada feita de sombras e ilusões, enquanto a metafísica pertence as nossas almas. Podemos ir para a metafísica quando sonhamos.

Fiquei pensando no que ela disse.

:- Que inteligente você é. – eu impliquei com ela que riu. – Então, talvez o meu pesadelo pode ter um outro significado.

:- Sim, vai depender de como você o interpreta. Ele pode ter outro significado, que você não consegue ver claramente quando está acordado. – Voltei a pensar no meu pesadelo, tentando pensar em algum outro significado, mas tudo o que me veio na cabeça foi à parte que ela não sabia e que naquele instante eu senti vontade de contar a ela.

:- Tem uma parte que eu não te contei do meu sonho. – a senti virar para o meu lado, mas eu não olhei para ela.

:- Qual é?

:- Antes deu cair no abismo, eu via sua família. Vi todos abraçados com aqueles que eles amavam seu pai e sua mãe, sua irmã o bebê e o marido abraçados, enfim, mas o que mais me machucou foi ver que você estava abraçada com o seu namorado.

Ela não falou nada e ainda sentia que me observava enquanto eu contava a ela.

:- E eu senti muitas sensações, senti ciúme, senti raiva, senti medo por que naquele momento eu percebi o quanto estávamos distantes e tudo é contraditório porque eu quero que você seja feliz, Dulce.

:- Eu também me sinto assim com relação a você. – ela falou depois de um riso desconfortável.

:- Meu quadro ainda está aqui? – senti curiosidade.

:- No meu esconderijo. – ela respondeu – Lá ficou trancado durante muito tempo, mais que nunca somente eu poderia entrar ali.

:- Hum. – foi tudo que respondi entendendo o significado do que ela acabou de contar.

Só naquele momento de silencio depois de muito tempo que estávamos ali conversando, ouvi o barulho lá fora a chuva virou tempestade e estava muito forte. Às vezes um raio ou trovão soava e rasgava o céu o iluminando.

:- Eu demorei a entender quando tudo aconteceu. – ela cortou o silêncio.

:- Tudo o que?

:- Quando você se afastou de mim. Finalmente fez o que eu mais pedi durante muitos anos e que nunca tinha coragem de fazer. Me acostumei ao que vivíamos, me apeguei a tudo. Então vi que você estava bem e que estava feliz e me permiti também viver bem e feliz. – ela se aproximou mais colocando sua cabeça no meu peito, vendo que eu não olharia para ela – Sabia que tínhamos cada um viver sua vida sem o fantasma do outro. Se apaixonar, errar num relacionamento, aprender com o outro. Mas, no fim das contas olha onde estamos?

Ela passou o braço pela minha barriga e me apertou. Só percebi agora que também a abraçava.

:- Nos braços um do outro. – ela suspirou. – Não temos jeito, somos um caso perdido. E sabe quando eu percebi isso? – eu neguei – Quando depois de viver muito tempo separada de você, senti saudade mesmo namorando, percebi isso quando eu esbarrei com você no shopping e vi que toda a distância não valeu de nada, por que ela foi por água abaixo perto das emoções que senti em revê-lo.

Não tive tempo de responder, nem de reagir, menos ainda de agir.

O céu foi cortado lá fora por um trovão mais forte que os outros, depois do clarão inicial e do estrondo absurdo teve. Ficamos no escuro, todas as luzes foram apagadas, os eletrodomésticos também deixaram de funcionar. E eu pego de surpresa pelo susto só abracei mais a Dulce, a saliva na minha boca veio mais amarga e comecei a respirar mais rápido sentindo sensações horríveis.

Dulce tinha se levantado há muito tempo para ver como estava Rosetta, Juan e Maria. Não conseguia levantar minhas pernas estavam fracas demais, ainda chovia muito, dava para ver pela janela além do embaraço, dava para escutar entre os raios e trovões e ainda estava lá fora e tudo escuro.

Completamente escuro.

:- Rosetta está dentro da sua casa e não sai de lá por nada, Juan conseguiu passar por entre as grades da gaiola e foi para dentro da Maria, estão juntos. – Dulce chegou na sala falando e sei lá como conseguia andar pela casa. – Eu não tenho velas Poncho, o único aparelho que mal funciona aqui é meu celular.

Eu com dificuldade por conta das minhas sensações, me senti acima de tudo aliviado por que não importava o que acontecesse, ela estava comigo. E eu não estava sozinho.

:- Dulce? – Eu chamei fraco e ela não pareceu ouvir por que continuou falando.

:- Mas, ele está com pouca carga, não vai demorar para descarregar.

:- Perdão. – eu falei mais alto e ela escutou.

:- O que?

:- Perdão. – eu repeti – Durante os meus momentos de carência eu falei tudo o que sentia para as pessoas que eu quero e pedi perdão para elas, pelos meus erros. Mas, faltou você.

:- Poncho, Por Deus, só faltou energia o mundo não vai acabar.

:- Que horas são?

:- Não vou contar.

:- Por favor. – ela sentiu o meu tom de voz.

:- 23 e 45 min. – ela respondeu se rendendo.

:- Ok, eu tenho pouco tempo. Eu só quero que me perdoe por tudo o que eu já fiz você passar, por que eu sei que fui o cara que mais te machucou.

Só senti que ela correu a distância quando senti suas mãos apertando meu rosto, minhas mãos apertando os braços dela, sua respiração tão perto da minha.

:- Para com essa paranoia. O mundo não vai acabar agora. – eu não a respondi neguei com a cabeça teimoso ao que ela dizia. – Eu te perdoo, mesmo sem ter o que perdoar por que eu também te machuquei muito.

:- Eu gosto tanto de você. – passei a minha mão trêmula de medo pela sua bochecha. – Não sei quanto tempo eu ainda tenho mas, eu amo voc...

Ela me calou.

Me beijou segura do que fazia, exigindo que eu correspondesse e foi o que eu fiz. O beijo que começou calmo, porém foi dando espaço para a saudade que sentimos um do outro e ela passou a exigir mais deslizando sua língua buscando a minha. E eu comecei a ficar sem ar, Dulce sugando o ar que eu tinha, ela subiu a mão que estava nas minhas costas com receio que eu me afastasse e subiu para o meu cabelo apertando. E ela terminou o beijo puxando meu lábio com dentes e eu fiquei tonto, mal respirava e ainda tinha os olhos fechados.

Ela se reaproximou e começou a distribuir beijos no meu rosto começando pela boca e eu fiquei parado pela surpresa.

:- A propósito. Eu também amo você. – ela sussurrou perto de mim. Depois riu provocativa, ainda com os olhos fechados a senti ligar o celular e voltar a falar comigo. – E segundo meu celular, já passa da meia-noite então feliz dia 22 de Dezembro de 2012. – ela me abraçou pelo pescoço e eu abri os olhos.

Foi assim que a luz voltou estava com Dulce me abraçando pelo pescoço, me olhando divertida e quando viu o estado que eu estava começou a rir. O meu cabelo estava desgrenhado, a camisa amassada, os lábios vermelhos e os olhos surpresos. Tudo por culpa dela.

:- Você...- eu comecei a falar com uma voz estranha – Você não está falando isso para me enganar não é?

:- Claro que não. Olha aqui – ela me mostrou o celular e assim que vi a hora sorri feliz.

:- E o que você quer fazer nesse dia que começou? – Abri ainda mais o meu sorriso. Puxei ela de encontro ao meu corpo e apertei sua cintura. Minha boca foi na direção da sua e quando a vi entreabrir, mudei o caminho para a sua orelha.

:- Amar você. – Voltei para o seu rosto para beijá-la.

“Vem, que a sede de te amar me faz melhor. Eu quero amanhecer ao seu redor, preciso tanto me fazer feliz...”


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