Guerra de Gemas e Rosas escrita por Autor Misterioso


Capítulo 4
Inferno




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A escuridão saboreava os céus quando uma figura solitária desceu as escadarias do Grande Salão. Uma aura dourada clareava o piso pálido conforme caminhava solenemente em direção aos pátios. Uma claridade azulada iluminava o ambiente. Acima das montanhas que desfilavam no horizonte, uma lua deserta oscilava na dança noturna das estrelas. A figura acomodou-se sobre um enorme cristal depositado nos limites do pátio.

Uma angústia perniciosa atormentava os pensamentos da soberana de Homeworld. Sua pedra iluminava um rosto sombrio, entremeado por uma expressão de dúvida e desespero. As notícias da rebelião haviam gerado grande incerteza sobre o planeta e sussurros de guerra passaram a circular pelas ruas silenciosas, acentuados pelas medidas de prevenção adotadas pela liderança.

Enquanto observava o lago tocar a pequena marina da cidade, Diamante Amarelo percebeu a aproximação de uma enorme sombra. Passos firmes ecoaram através da escadaria. Um véu negro parecia cobrir o rosto do estranho e sua pele branca estava coberta por uma capa cinzenta.

— O que deseja? – perguntou.

— Senhora. – respondeu uma voz obediente e suave. – Acabamos de receber uma transmissão da Nave Imperial. Uma das oficiais informou que o sinal de posição da nave utilizada pela líder Diamante Azul foi perdido nas proximidades de uma área florestal do planeta ocupado.

Diamante Amarelo cerrou os lábios e um ódio profundo assumiu sua face.

— Quartz... – concluiu.

A estranha mulher caminhou através do pátio. A capa movia-se com a brisa fria e seus cabelos volumosos cobriam as costas como uma rede negra de carvão. Ao se aproximar da imponente líder sentada acima do cristal, ajoelhou-se em uma profunda reverência. O quartzo negro em seu abdômen emitiu um brilho fraco e malicioso.

— Quando meus serviços serão necessários? – perguntou.

— Assim que a nova frota for concluída. – respondeu Diamante.

A mulher levantou-se e retornou a escadaria. Às portas do Salão, por um minuto, a escuridão selvagem do espaço que cobria o céu tornou-se mais intensa. Um sorriso surgiu em seus lábios negros. Em seguida, continuou a caminhar pelo assoalho de pedra. O som tenebroso da morte seguindo seus passos pesados.

***

As chamas atenuaram-se sobre as folhas úmidas da floresta. Inúmeras Gems desciam dos escombros fumegantes da Nave, hasteando suas armas contra Pérola e suas aliadas. As rebeldes responderam ao movimento, avançando através da senda com brilhos assassinos em suas lâminas. Rose, porém, estendeu a mão para o ar, sinalizando uma pausa no confronto. Diamante Azul repetiu o ato, ordenando que as tropas continuassem próximas à nave. Em seguida, retirou uma enorme foice de sua pedra, erguendo-a contra Rose. Sob seus pés, Garnet gemia com a pressão.

A Gem tocou suas costas com a extremidade da lâmina e sorriu para Rose. Uma expressão sádica em seus olhos azulados. Agarrando a prisioneira pelos grossos cabelos, arremessou seu corpo fraturado em sua direção. Pérola e as demais a recolheram e a conduziram para um local seguro, além das rochas que abriam-se para a cratera gerada pela nave na fenda.

Rose fincou a lâmina da espada no chão, depositando as mãos sobre a guarda. Em seguida, fechou brevemente os olhos e concentrou-se nos sons que a cercavam. Ao abri-los, sua expressão tingiu-se com uma determinação mortal, beirando os limites do ódio. Retirou sua espada do solo rochoso e avançou sobre a inimiga. A lâmina rosa chocou-se contra a haste da foice, forçando a usuária a saltar para trás. Rose, porém, a seguiu, movendo a espada com um mortífero movimento circular, rapidamente interrompido com uma pequena chuva de faíscas pela lâmina adversária.

Diamante moveu-se pela lateral, erguendo a arma pela haste e a apontou para o dorso de Rose. Antes que o tocasse, porém, um enorme escudo projetou-se no ar, segurando o impacto da foice. O ar tremeu com o golpe e Rose empurrou o escudo contra a adversária, atingindo seu rosto. A inimiga interrompeu a queda, firmando-se sobre a foice e avançou contra ela, brandindo a arma pelo ar. A lâmina tocou o rosto de Rose, formando um pequeno talho em sua pele. Ela girou a guarda, cortando o abdômen da inimiga.

Diamante Azul ajoelhou-se sobre o solo, gritando em uma mistura sinistra de dor e ódio. Em seguida, ergueu a mão para o ar e cerrou o punho para Rose. Um vento repentino golpeou a Gem, lançando-a contra as paredes escuras do Jardim. O impacto ergueu uma nuvem de poeira pelo ar. Pérola gritou em desespero e tentou avançar para a batalha quando, porém, Garnet a segurou.

Diamante Azul saltou para o ar e ergueu a foice mais uma vez. A lâmina subiu, pronta para terminar a batalha, porém, a centímetros do rosto inimigo, algo interrompeu o corte. Uma vinha erguera-se do solo, segurando o braço da assassina. A brisa agitou-se, decepando a planta quando, Rose recobrou a consciência e golpeou com o soco.

Horrorizada, um Gem saltou da nave, amparando a líder em seus braços esverdeados. Uma enorme esmeralda brilhava no centro de sua testa. Ela, porém, recusou o auxílio, girando a foice para trás, decepando a cabeça da aliada. Quando sua pedra caiu, ela a esmagou, impiedosa e solene.

— Você é um monstro! - gritou Rose e avançou contra ela, apontando a lâmina contra a adversária.

As lâminas cruzaram-se novamente no ar, saltando sobre as rochas. O confronto tornou-se cada vez mais violento, abrindo longos ferimentos nas combatentes e arruinando o solo com pequenas crateras. Foice e espada exigiam vidas e as chamas assistiam ao espetáculo, bebendo o líquido da vida que escorria pela floresta moribunda.

***

Jasper caminhou através da trilha escura que serpenteava abaixo do dossel cinzento da floresta. O som de sua aproximação ecoava através dos galhos tortuosos que cobriam os cipós esverdeados que cobriam as altas copas. No horizonte, a claridade pálida do luar informava a presença de uma pequena clareira na vegetação.

No centro da relva, ainda intacta, uma mulher admirava as estrelas que resplandeciam acima do clarão avermelhado do incêndio que cercava as proximidades do Jardim. Uma gema cristalina pendia de suas costas nuas. O longo vestido rendia-se à brisa. Suavemente, ela ergueu-se para observar a insólita visitante. Ambas entreolharam-se por alguns minutos, sentindo o mesmo desejo de vingança percorrer o ar frio que as separava para fundir-se em uma única vontade.

— Rose Quartz... – sussurrou Jasper.

— Destruiu dezenas de nós para salvar esse planeta miserável e traiu não apenas sua própria espécie, mas também o mundo onde foi gerada. – continuou Lápis. Lágrimas escorreram de seu rosto.

— Podemos obter nossa vingança. Juntas. – respondeu Jasper.

— É uma promessa. – concluiu Lápis.

— Uma promessa de sangue. - disseram ambas.

A relva moveu-se, misteriosamente, soprada por uma ventania repentina. Aquela história não terminaria tão cedo e as consequências daquele juramento ainda trariam grande sofrimento. Um sofrimento que atravessaria a eternidade, fundindo sacrifício e vingança como irmãs de um voto perpétuo da maldição do amor.

***

Pérola observava, temerosa, o duelo entre as líderes rivais. O som dos golpes ecoava em sua mente como uma sinfonia sinistra de dor e tragédia e suas mãos percorriam, trêmulas, a pequena bainha de sua espada. Ao longo desses rápidos instantes, Garnet pousava a mão sobre seus ombros, consolando-a em seu desespero. Porém, mesmo ela era incapaz de prever os próximos eventos do violento duelo. A perícia das combatentes distorcia as possibilidades, gerando como única certeza, o fato de que uma cairia, derrotada, aos pés da inimiga.

Em sua mente, os pensamentos de Rubi e Safira, ainda separados, conversavam entre si, traduzindo-se, por fim, em única voz. Seu som misturava dois desejos em um só. O desejo de existir. Se Rose caísse, ela estaria pronta para liderar o restante e continuar servindo seu ideal. Caso contrário, daria sua vida ali mesmo para salvá-la e, com isso, protegendo, no silêncio da morte, inúmeras vidas que ainda iriam surgir.

Atrás, as aliadas vigiavam as oficiais prisioneiras do Jardim, selando-as em um perímetro guardado por suas armas. Na eventualidade de que sua líder caísse na batalha, elas a vingariam para então unir-se honrosamente à ela, na morte, pela eternidade. Esse sentimento de lealdade era compartilhado pelas Gems que aguardavam a vitória de sua capitã na nave destruída. Apesar disso, uma sensação de revolta ardera em seu coração ao observar a companheira sendo destruída pela insanidade. O temor pelos Diamantes, porém, era mais intenso e o ódio pelas rebeldes, evidente.

O duelo descortinava-se entre esses pensamentos. A noite, em breve, cederia o céu para a claridade pálida do dia. A floresta aguardava, ansiosa, o fim do inferno que a consumira.

***

Exausta pelo longo duelo, Diamante Azul saltava através do ar, girando a foice com uma hélice mortífera. Rose bloqueava o avanço usando seu escudo, porém, a arma logo não suportaria outros impactos e uma enorme rachadura estendia-se ao longo de seu diâmetro. Enquanto isso, a Gem movia sua espada pelo ar, na tentativa de romper a haste da arma inimiga e perfurar o corpo da adversária.

Reconhecendo a perícia de sua adversária, Diamante utilizava seu poder para controlar a brisa e reduzir a área de movimento da inimiga. Para evitar essa influência, Rose a atraia, por meio de saltos furtivos, em direção às enormes rochas lancinadas pelo laser de perfuração. Uma vez entre elas, a brisa tornou-se eficaz, forçando Diamante a segurar a foice pelas mãos e utilizar de sucessivos golpes para romper a defesa de Rose.

Rose, porém, conseguiu afastar-se do alcance inimigo. O cansaço doía-lhe o corpo e ela atirou-se exaurida, sobre o solo. A adversária se aproxima e acerta-lhe com a haste da foice.

Desperta pela dor, Rose usa a lâmina e intercepta o próximo golpe, forçando a rival para trás, no que os cipós atravessam o ar e empurram-na em direção ao paredão, comprimindo seu rosto contra a face cortante. Possuída pela fúria, Diamante rasga os cipós e lança uma forte rajada que golpeia Rose acima, do seio, atordoando-a com a queda. Porém, quando aproxima-se para desferir o golpe final, Rose chuta-lhe o rosto e ergue-se com um salto, atirando a foice para longe. Rapidamente, Rose imobiliza a inimiga e decepa-lhe o tórax, forçando-a para sua pedra.

Ela recolhe o pequeno diamante, azul como as profundezas do oceano, e o fecha entre seus dedos como se fosse esmagá-lo. As aliadas da líder caída suspiraram em agonia. Rose, porém, apenas abriu a mão. A pedra flutuou no ar, envolvida por uma cápsula de cor rosa. Suas companheiras ergueram as armas em vitória. Pérola e Garnet a acompanharam em retorno ao grupo, quando um grito de puro lamento varreu o Jardim. Inúmeras Gems saíam das proximidades da nave, erguendo suas espadas em um hino de vingança. As prisioneiras responderam ao chamado, contaminando a noite com o grito de suas vítimas.

***

O Grande Salão iluminava-se com as primeiras luzes do dia, quando Diamante Amarelo caminhou, atordoada e cambaleante, através do assoalho de pedra. Uma dor insuportável emergia de sua pedra e seu grito de ira misturava-se, através do espaço, aos espasmos de agonia que Diamante Branco despertava através dos corredores da Nave Imperial. O primeiro Diamante havia caído, porém, a Guerra estava apenas se iniciando e muitos seres ainda pagariam com suas vidas até que ela terminasse.

***

Na floresta, Jasper percebera os gritos de revolta das companheiras e, trajando seu capacete, retornou ao Jardim. Lápis, porém, continuou sentada na relva da campina. Sua vingança ainda era distante e menos sangue era exigido por isso.

***

Garnet saltou em direção às adversárias, golpeando-as com suas manoplas. Com a intensidade dos impactos, eram arremessadas contra as rochas, retendo-se em suas pedras. Enquanto isso, Rose segurava firme a cápsula que retinha o diamante, caminhando com o auxílio de Pérola em direção às companheiras.

— Rose. – disseram elas. – Você deve ir para o transportador. Nossas prisioneiras rebelaram-se e para unir-se às companheiras na outra extremidade do Jardim, exterminaram muitas de nós.

— Mas e quanto a vocês? – perguntou ela.

— Possibilitaremos sua fuga. Quando Garnet retornar, vocês devem ir. – responderam.

— Mas...

— Não há tempo! Ela não pode segurar todas assim, sozinha.

Em resposta, Garnet gritou:

— Eu nunca estou sozinha! – e saltou para o campo adversário, disparando suas manoplas.

Rose e Pérola subiram a encosta e caminharam para o interior da floresta. As companheiras ergueram as mãos e hastearam suas espadas, juntando-se à Garnet no confronto. Quando empurram as adversárias em direção à Nave, gritaram para ela:

— Vá! Agora!

— Esperem! – respondeu ela.

— Agora!

Relutante, Garnet saltou sobre as paredes e pousou na clareira. As marcas do confronto entre Rubi e Jasper ainda arruinavam o local. As chamas haviam se extinguido. A Gem caminhou para Rose e elas embarcaram no transportador. No último minuto, ela observou as aliadas. Apesar das lágrimas, ela sentia que novamente se encontrariam. O transportador ativou-se e a coluna de luz envolveu o grupo, abrindo-se para um enorme mar de dunas. Um deserto abria-se diante das Gems e, entre suas felizes miragens, um perigo mortal escondia-se. O inferno não havia sido deixado para trás. Em uma guerra, sua corrente sempre acompanha aqueles que lutam com a imagem onipresente da morte, aguardando sua próxima vítima no silêncio da eternidade.


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