Esta não é uma história de amor escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 29
Capítulo 28 - Irreversível




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638799/chapter/29

Eu não terminei com Willian. Mesmo sabendo como isso é errado, eu não consegui terminar com ele. E não é por amor ou coisa do tipo, apesar de eu gostar muito dele. É porque, eu não suportaria, passar algumas poucas horas com James, em seguida saber que ele ia voltar para sua esposa e eu ficaria sozinha em casa. Por isso, ainda estou com Willian, e é para ele que eu volto, enquanto tento não pensar no calor do corpo de James sobre o meu. Eu sei que eu sou uma pessoa terrível. Estou ficando completamente louca. E com medo. Não quero que Willian descubra que estou fazendo isso com ele. Mas os sinais são tantos... Até no trabalho eu me pego distraída, pensando numa solução que eu sei que não existe. James ficará ao lado de Andy, até ela se curar. Ou até ela... não que eu deseje isso, nunca, mas... ou até ela morrer. Apesar de saber que ele está fazendo o certo ao não a abandonar, não consigo aceitar isso. Não consigo acreditar que justo quando íamos ficar juntos, essa desgraça acontece. Ao menos eu ainda consigo passar algum tempo com ele. Qualquer hora, minuto, em que seja possível nós nos encontrarmos, nem hesitamos. E esse nosso caso, já dura quase um ano. Imagine só, um ano, se encontrando as escondidas, com o amor da sua vida? Sem poder ir no cinema com a pessoa, sem poder almoçar num restaurante qualquer, ou tomar um sorvete fim de tarde numa lanchonete?... Um ano, inventando desculpas para Willian, ao mesmo tempo James inventando desculpas para Andy, para podermos nos encontrar em ruas vazias, motéis, e locais isolados. Em meu carro o cheiro de James está impregnado de tanto que andamos usando ele para fins sexuais. Não que Willian perceba. Na verdade ele não parece perceber muita coisa além de o seu reflexo no espelho. Depois de achar que o perigo de eu ter uma recaída por James, passou, ele voltou a ser o usual babaca de sempre. Só que agora eu conheço seu lado mais humano, e romântico. E estou com ele a tanto tempo... Quando paro pra pensar, tenho vontade de me dar uma surra. A questão é: Quando isso vai acabar? Quando eu vou poder ficar com James, de verdade, ou conseguir tirar esse amor de dentro do meu coração? A campainha do meu apartamento toca. Esfrego meus olhos que eu mal percebi estarem úmidos, e vou até a porta. O meu problema, é ficar sozinha. Aí em pleno sábado a tarde eu fico jogada na cama, remoendo esse pequeno caos que está minha vida, desde que James apareceu. Quando abro a porta, para minha surpresa e um pouco de choque, me deparo com Peter, e uma garota ao seu lado.

– Peter – eu grito e dou um grande abraço nele. Que espécie de irmã eu sou?... Tão absorvida no trabalho e nesse drama com James, que fiquei um bom tempo sem ir vê-lo. E como ele cresceu... Me sinto velha, de repente.

– Oi Eve – ele diz, e parece estar envergonhado com alguma coisa. – Hum... Essa aqui é a Rebecca. Minha... namorada.

A menina, bem bonita por sinal, sorri para mim com seus dentes metálicos, e suas bochechas ficam coradas.

– Oi Rebecca – eu digo. Mas só aí a ficha cai. Namorada? Meu irmãozinho está namorando? Faço uma prece silenciosa para que Deus não permita que ele sofra por amor. Nunca. Fico ali parada, muito impactada pelo choque.

– Não vai nos convidar para entrar? – Peter pergunta.

– Ah, é claro. Entrem – eu digo, e dou uma risada forçada, quando na verdade inexplicavelmente sinto vontade de chorar. E olha que eu nem estou de TPM. Na verdade, era para eu estar por esses dias, nessa fase louca do mês. Estranho. Talvez eu esteja mesmo.

– Uau! Sua casa é linda – Rebecca diz, enquanto olha ao redor, com grandes olhos azuis curiosos.

– Eu te disse – Peter diz, enquanto a olha com devoção, e coloca uma mecha dos cabelos castanhos encaracolados atrás da orelha dela.

– É... Obrigada – eu digo, em dúvida, se eles perceberam que eu ainda estou aqui. Eles parecem tão envolvidos um com o outro, como se estivessem num mundo só deles.

Pigarreio.

– Quando você começou a namorar, Pete? – eu pergunto, trazendo a atenção deles de volta para mim.

– Ah, fazem alguns meses – Rebecca responde. Alguns meses? E ninguém me fala nada? É o que eu tenho vontade de gritar. Ele parece ler minha mente.

– Eu ia te contar logo, mas você esteve meio ocupada ultimamente – Pete diz, e dá de ombros, num pedido silencioso de desculpas. E ele tem razão. A culpa na verdade é minha.

– Fico muito feliz por vocês – eu digo sinceramente. – É... querem comer alguma coisa? Beber?

– Ahn... Eu gostaria de usar o banheiro – Rebecca diz timidamente.

– Ela vai aproveitar para espiar o resto do apartamento – Pete sussurra, e Rebecca dá um tapa de leve na perna dele, e fica muito vermelha.

– Fique à vontade – eu a incentivo, querendo um minuto a sós com meu irmão.

Assim que ela sai da sala, eu vou para o lado dele, e o abraço mais uma vez, bem forte. Só posso estar na TPM.

– Está tudo bem, maninha? – Pete pergunta, e sorri, escondendo sua expressão de preocupado, não totalmente.

– É... Está, claro que sim... – Mas minha reação trai minhas palavras quando lágrimas ameaçam escapar de meus olhos. – Eu só estou muito feliz por você... Ela é uma garota linda, e vocês parecem se gostar de verdade.

– É claro que nos amamos! – ele diz firmemente. – Senão, não estaríamos juntos.

Sem ser intencional, suas palavras são como um tapa no meu rosto. Me contraio.

– Está tudo bem, de verdade? – ele insiste.

– Na verdade não – eu por fim admito, e deixo as lágrimas escaparem. – Está tudo um terrível desastre, e eu não posso fazer nada pra consertar as coisas.

– Ainda complicando tudo, Eve? – ele pergunta, e enxuga minhas lágrimas gentilmente.

– Pior que dessa vez, a culpa não foi minha. Não foi de ninguém na verdade. Apenas do destino.

– As coisas não vão bem com Willian? – Pete pergunta, mas algo em sua expressão, deixa subentendido que ele sabe que Willian não tem nada a ver com tudo isso.

– Vão sim. Na verdade... – começo...

– É aquele outro cara, não é? O primeiro? – ele me interrompe.

Como Pete consegue lembrar sobre isso? Faz tanto tempo que eu lhe confidenciei isso. Me limito a assentir.

– Nossa. Você é sortuda de certa forma.

Arregalo os olhos.

– Você não está me entendendo, Pete.

– Não, eu sei que pelo jeito nada está dando certo, senão você estaria com esse cara. Mas se considere sortuda, por amar alguém dessa maneira. Tem gente que nunca vai conseguir sentir nem metade do que você sente por esse cara. Isso sim é uma pena.

As lágrimas me arrebatam com força total.

– Queria ter um pouco dessa sua maturidade, sabedoria, ou seja lá o que você tem aí dentro dessa sua cabecinha – eu digo, e consigo sorrir.

Pete sorri também, e eu sinto vontade de abraça-lo de novo. Mas me contenho. Apesar de ele já estar namorando, conhecendo o amor, ele sempre será meu irmãozinho.

– Ele te ama também? O outro cara? – ele pergunta, ficando sério novamente.

– James – eu digo, achando que já passou da hora de Peter saber o nome dele. – James também me ama, tanto quanto eu amo ele.

– Bom... Eu não sei porque vocês não estão juntos. Mas, apesar de eu gostar de Willian, acho que você deveria ir atrás desse James, e ficar com ele de uma vez.

– Mas nesse momento... Não é a coisa certa a se fazer. Você nem imagina o que está acontecendo.

– Eve, nunca vai deixar de ser a coisa certa, quando se trata de amor.

Nesse momento, Rebecca volta, e pela demora, ela deve mesmo ter bisbilhotado o restante dos cômodos. Ela olha de mim para James, mas apenas sorri, enquanto senta graciosamente no sofá, e ajeita seu vestido.

– É realmente um prazer te conhecer, Eve. Peter fala de você o tempo todo – ela diz, puxando conversa.

Ah, malditas lágrimas, vão embora.

– Sério? Ele fala bem, pelo menos? – eu brinco, tentando disfarçar minha voz embargada.

– Você tem dúvida? Você é tipo, uma “ídola” dele – Rebecca diz, e eu me pergunto se ela está sendo sarcástica. Eu nunca fui um bom modelo de irmã, muito menos recentemente.

– Essa é nova para mim – eu digo, e dou risada. Mas Pete permanece sério.

– É sério, Eve. Você é a melhor irmã que eu poderia ter – ele diz, me deixando completamente emocionada. Tenho que me segurar muito pra não cair no berreiro na frente de Rebecca.

– E você sabe que você sempre vai ser meu irmãozinho. O melhor que eu poderia ter, também – eu me limito a dizer e pisco para ele.

E depois de conversarmos sobre outras coisas, dissipando aquele papo emocional, me sinto muito melhor. Eles vão embora antes de anoitecer, me deixando mais uma vez sozinha, mas dessa vez eu não me rendo a melancolia. Coloco uma música alta no rádio, enquanto danço na cozinha, preparando o jantar. Evito a todo custo pensar em James. Eu vou ter pelo menos uma noite sem ele povoando meus pensamentos. Para completar minha felicidade, Sidney resolve aparecer em casa, e eu calculo que teremos pelo menos uma hora até Willian aparecer. Na verdade, minha felicidade é entremeada por culpa, pois eu não tive coragem de contar para Sidney do meu caso com James. Esse meu caso é realmente o que chamamos de segredo.

– Que ótimo você aparecer aqui – eu digo, enquanto vamos até a cozinha, onde eu termino de preparar meu prato preferido: arroz de forno.

– Senti o cheiro, lá de casa – ela brinca. – E você acha que eu não sinto saudades da minha pestinha?

– É, me desculpe, tenho estado um pouco ausente, mesmo, mas vou compensar com esse meu arroz de forno – eu digo, enquanto retiro a travessa do forno e coloco sobre a mesa.

– Então, vamos atacar a comida, enquanto fofocamos. Rich agora inventou que quer ser pai.

– Não brinca? – eu digo, enquanto sirvo o prato de Si, e dou risada quando ela faz sinal para eu colocar mais, mesmo o prato já estando cheio – E aí, o que você disse?

– Ah, o que você acha? Eu disse que realmente, tem um monte de mulheres por aí, que poderiam dar pra ele com muito prazer e ser mãe de um filho dele – ela responde indignada.

– Coitado Si – eu digo, e começo a servir meu prato. – Porque essa braveza com ele? Ele faz de tudo por você, até se tornou voluntario naquela ONG de cachorros, sendo que ele não gosta muito de animais.

– Tá, isso foi realmente legal, tinha até me esquecido. Mas, ele está pulando uns números a frente.

– Hum, agora você vai ter que me explicar. Pulando números?

– É, sua tolinha. As pessoas se casam, antes de terem filhos. E pelo jeito ele não está nem pensando nessa hipótese de me pedir em casamento – Si diz, e enfia na boca uma garfada do meu arroz de forno que pela aparência está delicioso.

Dou risada, e estou prestes a fazer o mesmo que ela, quando o cheiro da comida penetra minhas narinas, fazendo meu estomago revirar completamente. Só tenho tempo de correr para o banheiro como uma louca, antes de vomitar na privada o pouco que ingeri de alimentos hoje. Dou descarga, e me encosto na parede confusa e com uma fina camada de suor brotando em minha testa. Si aparece logo atrás de mim, e cruza os braços me olhando enigmaticamente.

– Pulando os números? – ela pergunta.

– Hã? – eu murmuro, controlando uma nova onda de ânsias.

– Você está gravida, Eve? - ela dispara, me deixando ainda mais enjoada.

– Claro que não – eu praticamente grito. Mas começo a me questionar a mesma coisa.

– Vamos ter a certeza – Si diz, enquanto sai correndo, e volta remexendo em sua enorme bolsa azul. Dali, ela tira uma caixinha, que eu leio ser um teste de gravidez.

– Porque diabos você carrega um teste de gravidez na bolsa? – eu pergunto, ofegante, enquanto meu estomago se contrai diversas vezes.

– Nunca se sabe, é bom estar preparada – ela diz na defensiva, enquanto dá de ombros.

– Estar preparada é carregar um guarda-chuva na bolsa, um absorvente, não um teste de gravidez – eu retruco, antes de não conseguir me conter e vomitar mais uma vez. O que está acontecendo comigo?

– Cada um se previne do jeito que quer, agora abra logo essas pernas e trate de fazer xixi nessa coisinha, para descobrirmos logo se eu vou ser tia. Ah, sinto até as rugas me assolando, nem acredito que vou ser tia.

– Acalma essa empolgação aí. Eu não estou grávida – eu digo, enquanto vou cambaleante até a pia, e enxaguo minha boca.

– Eu não vou sair daqui enquanto você não fizer esse teste. Pode ser uma virose, ou outra coisa qualquer. Ou você pode mesmo estar gravida. Vamos excluir as possibilidades. E... Só por curiosidade, sua menstruação está em dia?

Eu bufo, como uma criança fazendo birra. E não respondo a sua pergunta, pois minha menstruação está realmente atrasada alguns dias. Mas isso é perfeitamente normal. Pego o teste em suas mãos, e mesmo sem muita vontade, faço xixi. Sidney não me dá nenhum pouco de privacidade, enquanto observa atentamente junto a mim, a tal da fita. Segundo as instruções, se ficar azul, vou ser mãe. Mas a fita permanece vermelha. Quase não consigo conter meu suspiro de alívio.

– Viu? Você é doida, supor que estou grávida só porque passei mal com alguma coisa que comi – eu digo e estou prestes a jogar o troço no lixo, quando si segura firmemente meu pulso.

– Você tem que ser mais observadora, e paciente – ela diz, com um sorrisão nos seus lábios vermelhos e lágrimas nos olhos.

Crio coragem e olho para o teste em minhas mãos. O olho por infindáveis segundos, alheia a presença de Sidney gritando de euforia ao meu lado, enquanto a fita vai ganhando um tom diferente, até ficar completamente azul.

– Vamos ligar para Willian, agora – ela grita, enquanto me abraça, e da risada, ao mesmo tempo que lágrimas rolam por seu rosto. Mas seu sorriso logo diminui, quando ela percebe as minhas lágrimas, que definitivamente não são de felicidade.

– Hey, o que foi querida? – ela pergunta, e olha bem nos meus olhos, procurando respostas. E essa é a hora inevitável em que terei que contar tudo para ela. Pois não há outra forma de explicar, a não ser com a verdade.

– Acho melhor não ligarmos para Willian. Pois existem grandes chances de ele não ser o pai dessa criança – eu digo, ainda descrente, olhando o teste em minha mão. Ai meu Deus. O que eu vou fazer?

Si arregala os olhos, e mesmo sem eu ter dito nomes, vejo que ela sabe que estou falando de uma pessoa, que só pode ser James.

– Me conte tudo, Eve – ela diz, tão perplexa quanto eu.

– Acho que eu também mereço algumas explicações – uma voz ecoa até nós, e eu me deparo com Willian parado no corredor do banheiro, me olhando com uma expressão dura como pedra. Mas com a tristeza bem visível em seu olhar.

E assim, de uma maneira irreversível, minha vida estava prestes a mudar completamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Esta não é uma história de amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.