Esta não é uma história de amor escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 27
Capítulo 26 - Doce tentação




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Depois do encontro com James, fiquei totalmente sem chão. É incrível, e ao mesmo tempo terrível, como alguém pode te despertar tanta coisa ao mesmo tempo. Como alguém pode permanecer em seu coração por tanto tempo. E desejar James dessa maneira, fez com que eu me sentisse culpada. Afinal, eu tenho um namorado. Na verdade, Willian é mais que meu namorado, visto que nós estamos morando juntos há algum tempo. Querendo apagar James da minha mente a todo custo, eu decido ir para minha casa, e esperar por Willian. É isso que eu vou fazer. Saio da estrada principal, e pego um atalho por uma estrada esburacada de terra, para chegar mais rápido em casa. Em condições normais eu jamais submeteria meu carro novo a uma estrada dessa. Mas eu sequer estou raciocinando direito. Me sinto uma bomba-relógio prestes a explodir. Acelero o máximo que posso. Na verdade, é melhor eu fazer uma surpresa e invadir a reunião de Willian. Eu preciso vê-lo. Ele é a única pessoa que pode conseguir fazer com que meu coração pare de bater tão acelerado. Ele é o único, que pode fazer com que eu esqueça, ao menos por alguns minutos, a sensação da mão de James na minha, e os seus olhos esverdeados me fitando. E só quando meu carro para de repente, numa escuridão mortal, no meio do nada, é que eu me dou conta de que eu não abasteci. Meu primeiro impulso, é socar o volante, até minhas mãos doerem. Meu segundo impulso, é gritar, como se assim, fosse possível tirar toda essa raiva, frustração, esse desejo inalcançável de ter James, de dentro de mim. Meu terceiro impulso é chorar, derramando por meu rosto, todos esses anos de um amor que mesmo correspondido, se tornou impossível. Meu quarto impulso é atender ao meu celular. E nem em um milhão de anos, eu poderia imaginar que o número desconhecido, piscando no visor, era na verdade de alguém que eu conhecia muito bem. James.

Quando termino de falar com ele, após tentar explicar onde eu vim parar no meio da noite e sem gasolina, me forço a controlar minha respiração. James está a caminho. Acendo a luz interna do carro, e me olho no espelho. Tirando meus olhos avermelhados, eu não estou tão terrível assim. Santo rímel a prova d’água. Pelo tanto que chorei, era para eu ter rímel pelo rosto inteiro.

– James está vindo – sussurro para meu reflexo no espelho. Parece que só pronunciando as palavras, elas se tornam reais.

E apesar da minha vontade de chorar continuar sendo enorme, eu consigo me controlar. Tento não pensar no que vou fazer ou falar quando ele aparecer. Pois na hora, eu sempre acabo falando o que não devo, fazendo o que não posso... Enfim, não dá pra planejar esse tipo de coisa. Mas só o fato de ele ter ligado para mim tão depressa, e de ter me dito aquelas coisas no posto, faz com que meu coração acelere. Será que aqui, sozinhos, no meio do nada, conseguiremos resistir um ao outro? Willian e Andy não merecem isso. Eu sei. E eu também sei que eu sou uma pessoa terrível, por ter quase certeza, de que eu não me importaria com nenhum dos dois, se acabasse acontecendo algo entre James e eu.

Apenas alguns minutos se passam, quando avisto faróis na estrada. Desde que meu carro parou, nenhum veículo passou por aqui. Só pode ser James. Começo a sentir um pouco de medo. E se não for ele? Mas meu medo logo vira apreensão, quando um carro muito velho para atrás do meu, e James desce dele. Resolvo descer do meu carro também, sem me dar conta que eu estava esquecendo de algo muito importante, mais uma vez.

– Oi, morena – ele diz, com a sua habitual voz rouca, me fazendo viajar no tempo, quando éramos apenas adolescente, e ele me cumprimentava assim.

– Você ainda lembra disso? – eu pergunto, evitando me aproximar demais dele. Evitando tremer de frio, e de nervosismo.

– Eu me lembro de tudo que se relaciona a nós dois – ele diz, e dá mais um passo para perto de mim. Mas em seguida, como se estivesse num dilema, ele dá um passo para trás e coloca as mãos no bolso.

Pigarreio.

– Então... Fiquei sem gasolina. Será que você pode me ajud... – paro a frase no meio, quando escuto o barulho dos vidros automáticos do meu carro. Viro para trás, a tempo de ver o vidro acabar de fechar, e o alarme fazer aquele barulhinho irritante de quando as portas estão sendo trancadas. – Essa não.

– O que foi? – James pergunta, e sua expressão, antes sombria, vira de divertimento.

– Eu simplesmente me esqueci de que essa droga de carro se tranca sozinho – eu grito, pensando em como tanta coisa bizarra está acontecendo comigo num só dia. E a mais bizarra é estar aqui, com James parado na minha frente.

– E qual é o problema? Isso não era para ser uma coisa boa?

– Era! E seria ótimo, se minha bolsa, meu celular, e a droga da chave com o controle do alarme, não estivessem trancados dentro do carro – eu murmuro. Me sinto a beira das lágrimas. Me sinto um furacão desvairado de emoções, tudo isso por estar tão perto de James.

A risada dele capta minha atenção. Tinha me esquecido como o som dessa risada podia ser tão reconfortante. Nem percebo quando começo a rir também. Logo nós dois estamos rindo. E no meio dessa explosão de risadas, acabamos indo parar ainda mais perto um do outro. Não sei ao certo se foi eu ou ele, quem deu os passos acabando com a distância entre nós. A vontade de beijar seus lábios, me sufoca. Dói, de verdade. Mas eu não vou tomar a iniciativa. Eu vejo o desejo em seus olhos. Nossa risada cessa. Por favor, James, me beije, é tudo o que eu consigo pensar. O vento roça minha pele, fazendo meus pelos já arrepiados de desejo, se arrepiarem ainda mais. Sinto uma pequena gota caindo sobre minha bochecha. James a limpa, lentamente. Até suspiro ao sentir seus dedos roçando minha pele. Mas... espere. Gota? De onde veio essa gota? E antes que eu comece a raciocinar, o mundo desaba sobre nós, em forma de chuva.

– Vamos para meu carro – ele grita, enquanto segura minha mão e me puxa. Andamos com dificuldade até o seu carro, pois a chuva cai com uma ferocidade assustadora. Entramos, e fechamos os vidros. Pelo menos eu, estou ensopada, e morrendo de frio.

– Mais um reencontro na chuva – eu digo, enquanto meus olhos tentam se acostumar a escuridão dentro do carro. James acende a luz interna, que é muito fraca, mas já é alguma coisa. O rosto dele, se tornou uma máscara indecifrável. Mas mesmo com todo seu esforço, consigo ver a sua dor. Afinal, anos atrás, numa noite chuvosa, nós nos reencontramos, e nos entregamos um ao outro, pela última vez.

– A diferença é que aquela noite não estava tão fria como essa – ele diz, e para de me olhar. Ficamos sentados um ao lado do outro em completo silencio. James leva a mão ao volante e suspira.

Meu corpo treme de frio, e eu me distraio, tentando fazer com que meus dentes parem de bater, enquanto tremo. Percebo que James também treme. Percebo que ele está encharcado como eu. Percebo o contorno do seu corpo moldado perfeitamente pela camiseta molhada. Ele me pega no flagra o olhando, e resolve me olhar também. Seus olhos observam meu corpo, e quando acompanho seu olhar, percebo que meu vestido está um pouco transparente. James morde o lábio inferior e segura o volante com mais força.

– Acho melhor irmos embora daqui. Você precisa trocar de roupa ou vai acabar ficando doente – ele diz, e dá partida no carro.

Mas o carro não pega. Ele tenta dar partida, repetidamente, e nem sinal do carro ligar.

– Talvez devêssemos ligar para alguém vir nos socorrer. Ou para um chaveiro vir destrancar meu carro – eu sugiro, enquanto me encolho no banco. De onde está vindo esse frio?

James pega seu celular no bolso, e encara a tela por alguns segundos.

– Ou talvez devêssemos esperar a chuva passar, e ir andando até a estrada principal e conseguir uma carona até a cidade – ele diz e mostra seu celular com a tela apagada, para mim. – Sem bateria.

Isso está mesmo acontecendo?

– Alguma força sobrenatural está afim de nos unir essa noite – eu digo, enquanto balanço a cabeça e não consigo evitar sorrir.

– E elas estão conseguindo. Mas isso não vai adiantar nada, se você acabar morrendo de frio. Vem aqui – James diz, e estende os braços para mim. Eu hesito por um mínimo segundo, antes de me jogar em seus braços, e sentir eles me envolvendo. E apesar de ele ter se molhado como eu, sua pele é quente, e me aquece imediatamente. Ou então, é o desejo fervendo em minhas veias que acaba me aquecendo. Encosto minha cabeça em seu peito, escutando seus batimentos acelerados. James acaricia meus braços, suavemente, como se tivesse medo de me tocar. Eu me aninho ainda mais em seu abraço, desse modo nossos corpos ficam colados. Hesitante, as mãos de James descem por minhas costas, e roçam o zíper do meu vestido. Vai acontecer. É claro que vai acontecer. Sem conseguir mais aguentar, eu levanto minha cabeça abruptamente e encontro o caminho para os seus lábios. Depois de um beijo demorado, cheio de amor, e desejo, deixamos que a paixão aprisionada dentro de nós, se libertasse, experimentando mais uma vez, uma sensação única de entrega total de corpo e alma. Perdemos a noção do tempo, enquanto percorremos o corpo um do outro, enquanto o sinto dentro de mim. Quando nos esgotamos por inteiro, percebemos que a chuva já passou, e que estamos ensopados, mas dessa vez é de suor. Me enrosco em seu corpo nu escorregadio, com medo do que vem depois. Com medo de não suportar ouvi-lo dizer mais uma vez que não pode ficar comigo.

– Eve... eu não... – ele começa.

Prendo minha respiração, e o abraço ainda mais forte. Não faça isso comigo, de novo não, James. Como você pode não ficar comigo, depois do que aconteceu aqui? Só eu sinto esse amor que transcende qualquer barreira?

– Eu não posso mais ficar sem você. Eu simplesmente não posso – ele diz após alguns segundos, enquanto beija o topo de minha cabeça.

Eu o encaro, e sinto lágrimas quentes em meus olhos. Vejo lágrimas nos olhos dele também, mas em seus lábios há um enorme sorriso.

– Só me resta saber se você está disposta a abrir mão de um monte de coisas para ficar comigo – ele diz, e eu sinto a tensão em seu corpo.

– Eu sempre estive – eu digo, enquanto lágrimas escorrem por meu rosto, morrendo em meu sorriso. – Mas... E seu filho? E se Andy, sei lá, entrar na justiça e te proibir de ver ele?

– Bom... Você é uma ótima advogada. Pode dar um jeito de fazer com que eu possa vê-lo sempre – ele diz, ainda sorrindo, mas posso ver o medo em seus olhos.

– Pode ter certeza, que eu daria um jeito. Mas eu não sou uma ótima advogada coisa nenhuma – eu rebato, e dou um beijo estalado na bochecha dele, sobre a cicatriz, que permanece ali, ainda avermelhada.

– Pois é. Na verdade, você é uma advogada brilhante, maravilhosa – ele diz, e retribui o beijo, enquanto afasta meu cabelo do rosto.

– Como você pode afirmar dessa maneira que eu sou tão boa assim?

– Porque você é brilhante, maravilhosa, em tudo o que você faz – ele responde, e sorri com malícia.

Fazemos amor, mais três vezes, como se nunca fosse o suficiente, para matar nossa vontade um do outro. Deve ser de madrugada, quando o sono nos abate, e decidimos nos deitar no banco de trás, enquanto deixamos nossas roupas esticadas nos bancos da frente, para secar.

– Eve – James sussurra em meu ouvido. – Eu preciso te dizer uma coisa.

Estremeço. Ai meu Deus... não mude de ideia.

– Pode falar – eu sussurro, sentindo seus braços ao redor da minha cintura, afrouxar um pouco o aperto.

– Meu celular... Ele não estava sem bateria. Eu o desliguei.

Sorrio. Mas pela primeira vez, Willian me vem a mente. Não consigo dizer nada a James. Fico apenas imaginando, Willian dormindo em nossa cama king size, naqueles lençóis gelados. Mas não consigo sentir culpa. Sinto apenas uma tristeza. Grande. Mas ele arrumará alguém que o ame de verdade. Eu não quero mais desperdiçar nenhum segundo da minha vida longe de James.

– Você está brava? – James sussurra, trazendo meus pensamentos de volta para o presente.

– Brava? – Repito, e dou risada. – Não... eu estou é completamente apaixonada. Por você. Desde os meus quinze anos.

Ele dá risada, e seu hálito faz cócegas em minha nuca.

– Dessa vez vai dar tudo certo – ele diz, e beija meu pescoço.

Me deito de frente para ele, me equilibrando para não cair do banco do carro.

– Vai sim. Eu te amo, James – eu digo, e em seguida bocejo.

– Eu também te amo, Eve – ele diz, e cola seus lábios nos meus, num beijo envolvente.

Após esse beijo de boa noite, que me deixou sem fôlego, adormeço sorrindo. Eu nem podia imaginar que na verdade, nada ia dar certo. Não dessa vez.


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