Esta não é uma história de amor escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 26
Capítulo 25 - Atraídos pelo destino




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JAMES

Minha vida tomou um rumo completamente diferente de qualquer coisa que eu poderia ter imaginado. Isso não é necessariamente uma reclamação. Apesar de tudo pelo que passei, não posso simplesmente ficar me lamentando. Tenho que olhar para as coisas boas. E meu filho, David, é uma delas. Eu jamais imaginei existir um amor tão incondicional como esse. Me vejo ainda embasbacado, por cada movimento dele. E como passa rápido. Ele já tem 3 anos. E além de servir como uma fonte de alegria para minha vida, David também fez com que eu me reaproximasse de Thomas. Ele nos uniu. Thomas se revelou um tio muito babão. Mas é inevitável, meu filho é realmente encantador. Mas em contraste com essa dádiva que me foi concedida de ser pai, sempre haverá coisas ruins também. E tudo começou no dia do meu casamento. Lembro de ter acordado ás 4 da manhã, apavorado. Eu havia tomado a minha decisão, mas isso não significava que tornaria mais simples fazer isso. Me casar com Andy, significava banir Eve da minha vida. E tinha que ser para sempre. Essa ideia me enjoava e fazia meus olhos encherem de lágrimas. Mas ao olhar para o lado, e para a barriga enorme de Andy, eu tentava me convencer de que pelo menos uma vez na vida, eu tinha feito a escolha certa. Por mais que essa escolha tivesse despedaçado meu coração. E já no cartório, olhando para a bela jovem que seria minha esposa, o tal do “sim” custou a sair. Minha relutância, em aceita-la, em dizer aquela simples palavra, a magoou profundamente. Essa foi apenas a ponta do iceberg. Depois do nascimento do nosso filho, nós ficamos bem um com o outro novamente. Era muita felicidade, olhar para aquele ser pequenininho e saber que nós tínhamos feito ele. Mas isso durou pouco. Pois criar um filho, exige dinheiro. E conseguir emprego tinha se mostrado algo muito difícil para mim, pois apesar de ter voltado a andar, eu tinha minhas limitações. Andy tentou ser compreensiva, mas até eu estava ficando exaurido com tal situação. Mas isso não iria ter importância alguma, não geraria discussões, nem faria com que eu passasse a maior parte das noites no sofá. O real problema, era Eve. Ela pairava como uma sombra sobre meu casamento. E Andy sabia, que apesar de seus esforços, apesar dela ter me dado o maior presente que já ganhei, um filho, eu nunca poderia ama-la adequadamente. Eu juro que tentei faze-la feliz. Juro que tentei esquecer Eve. Mas eu acabei desistindo. Pois o que adianta passar o dia todo tentando afastar a pessoa do pensamento, se no meio da noite você acorda chamando o nome dela? Andy definitivamente não merecia isso. Eu evitava saber sobre Eve, pedi a Luna e a Sidney com quem eu mantinha um certo contato, para que não me falassem sobre ela, mas isso não adiantou, pois certa tarde, Andy chegou do trabalho na clínica com um folheto em mãos, me mostrando uma vaga para frentista no posto de gasolina da cidade. O posto de gasolina de Willian.

– Você deveria se candidatar a vaga – Andy disse, num tom que deixava claro que aquilo não era uma sugestão, era uma ordem.

Flashbacks do que havia acontecido tantos anos antes, quando Eve também quis que eu trabalhasse nesse mesmo posto, adentram minha mente.

– Eu não sei... Me dê um tempo, eu logo arrumarei um emprego – eu disse, estremecendo com a possibilidade de trabalhar para Willian.

– E quanto é logo, pra você? – Andy gritou, fazendo David acordar chorando. – Você não dá certo em nenhum lugar, não devia se dar ao luxo de escolher.

– Eu sei disso – eu rebati, sem argumentos, enquanto ia até David, que estava em nossa cama, e o pegava no colo. – Se eu não arrumar nada em uma semana, vou atrás dessa vaga. Eu prometo.

Andy balançou a cabeça, com um sorriso triste nos lábios.

– Ao menos uma vez, você podia pensar em mim e no seu filho, ao invés de ficar aí nutrindo esse orgulho de não querer trabalhar num lugar, porque o dono é namorado dela – ela disse, me pegando totalmente de surpresa. – Uma semana, James. E depois disso eu mesmo vou te candidatar.

E uma semana depois, eu estava na recepção do enorme escritório de Willian, aguardando para ser entrevistado, enquanto fazia uma prece silenciosa para que não fosse ele próprio o entrevistador. O que não adiantou, pois quando meu nome foi chamado e eu fui conduzido por um longo corredor, sabia exatamente para onde eu estava indo.

– Ora essa, James – Willian, em seu tom de voz mais arrogante do que o normal, me cumprimenta, quando adentro sua sala.

– Willian – eu digo, entredentes. Humilhação. Essa é a palavra que descreve o que sinto. Mas ela é rapidamente substituída pelo choque, que faz com que eu tenha que me sentar rapidamente. Na imponente mesa de Willian, de frente para mim, há um porta-retratos com uma foto de Willian, e Eve. Céus, como ela está linda. Diferente, mas linda. Willian percebe para onde está direcionado meu olhar, e pega a foto em suas mãos.

– Linda, não? – ele pergunta, enquanto acaricia a foto com os dedos. – Linda, com um apetite sexual voraz, e minha. Cara de sorte eu sou.

Suas palavras me atingem em cheio. Respiro fundo, desejando nunca ter adentrado essa maldita sala.

– Não se esqueça que ela foi minha primeiro – eu provoco, fazendo a expressão petulante do rosto de Willian, se diluir. Ele coloca a foto de volta na mesa.

– O que você veio fazer aqui? Veio me pedir emprego, de novo? - ele pergunta, e me lança um sorriso, cheio de ironia. – Dessa vez Eve não vai te ajudar, terá que ser por seu mérito.

Estou com a resposta na ponta da língua. Mas aí, penso em David e em tudo o que eu tenho vontade de lhe dar. Penso em Andy, e em como ela ficaria desapontada quando eu voltasse para casa, ainda desempregado, obrigando-a a fazer plantões e mais plantões para bancar as contas... Sou obrigado a engolir meu orgulho, e sem ter coragem de olhar para Willian, pigarreio, antes de falar.

– Não vim aqui para falar sobre Eve. Vim, pela vaga de emprego. Eu realmente preciso disso. Posso não ter estudo, posso ter problema com minhas pernas, mas eu faria o meu melhor, se você me desse esse emprego.

– E porque você acha que eu daria o trabalho, logo pra você? – ele indaga, e se levanta de sua cadeira, me encarando.

– Eu abri mão de Eve, e é por isso que ela está com você. De certa forma eu te ajudei. Seria bom se você pudesse retribuir isso de alguma forma – disparo.

Algo como tristeza atravessa seu olhar. Eu me mantenho firme, o encarando.

– Se isso é tão importante pra você, o emprego é seu. Mas você vai ter que trabalhar direito, pois eu não faço parte de nenhuma instituição de caridade – ele diz, e faz um gesto com a mão, me dispensando.

– Obrigado – eu digo, enquanto me levanto. – E cuide bem dela.

– Eu estou fazendo isso, melhor que você – ele cospe as palavras.

Depois que comecei a trabalhar, as coisas melhoraram relativamente. Andy parece mais feliz, trabalhando menos, e ficando mais tempo com David. E eu também me sinto melhor, por finalmente estar sendo útil. Até consegui comprar um carro para meu uso. Assim não preciso ficar pegando o de Andy. E graças a Deus, Willian nunca aparece no posto de gasolina. Tudo vai se ajeitar, é o que eu sinto. Está anoitecendo, quase na hora de eu ir pra casa, o posto de gasolina está deserto e eu conto os minutos para ver meu filho. Um carrão estaciona próximo a bomba com uma certa dificuldade. Meu colega de trabalho está indo até o carro, mas eu faço sinal para ele deixar que eu vou. Tento ser útil, o máximo que posso. E quando eu me aproximo, para pegar a chave com quem está dirigindo, vejo de perfil, a bela moça que está dentro do carro. E tudo parece desmoronar. Depois de todos esses anos... vê-la... de tão perto.... Meu corpo começa a tremer, de alegria, tristeza, choque, uma mistura maluca de sentimentos. Ela se vira para mim, e pelo jeito como me olha, o que ela sentia por mim, continua tão vivo quanto o que eu sinto por ela.

– Eve – sussurro.

Ela me fita, seus grandes olhos marejam instantaneamente.

– James – ela diz, após um breve silencio. E eu começo a me perguntar como pude viver todos esses anos sem ela.

– Você... está ótima – eu digo, tentando controlar minha voz e soar casual, por mais que minha real vontade seja arrancá-la de dentro do carro e abraça-la bem forte.

Ela sorri. E pisca diversas vezes.

– É.. Obrigada. Você também está... – ela diz. - Eu não sabia que você estava trabalhando aqui.

– É, acabou acontecendo. Não está muito fácil arranjar emprego hoje em dia. Ainda mais para alguém como eu... – eu digo de uma vez, revelando a brilhante vida que tenho, em vista da dela, que parece muito melhor. No final das contas, eu devo ter feito a coisa certa.

– Você sempre foi muito inteligente. Isso deveria bastar pra conseguir um trabalho. Estranho Willian não ter me falado nada sobre ter contratado você – ela diz, e coça a cabeça. Será que ela percebe o quanto estou tremendo? E, porque seus olhos insistem em marejar?

– Porque ele deveria falar sobre mim? – Eu pergunto, e uma certa amargura transparece.

– É... ele não deveria, mesmo – ela retruca, e passa as mão pelo rosto.

– Você pode sair do carro um minuto? – eu pergunto, num impulso.

Ela parece surpresa, e titubeia perante a decisão. Mas resolve descer. Ela está ainda mais linda, como se isso fosse possível. Só que há algo muito diferente nela. Devem ser os anos que se passaram em que ficamos longe. E eu nunca imaginei ver Eve sem estar calçando tênis e calça jeans. Agora, ela está num justo vestido preto, e de sapatos de salto. Ela morde o lábio inferior e cerra os punhos ao lado de seu belo corpo.

– Eve... eu... – começo, sabendo que não é certo falar sobre meus sentimentos a ela, depois de tanto tempo. Só que eu não consigo evitar.

– Não fale nada, James – ela me interrompe. E num gesto inesperado, segura minha mão, enquanto olha fixamente para minha aliança, que reluz, dourada. Permaneço em silencio, absorvendo seu toque. Porque temos que nos sentir tão atraídos um pelo outro? Porque depois de todos esses anos, o destino ainda insiste em fazer com que nos reencontremos?

– Você é feliz? – ela sussurra, e dá um passo na minha direção.

– Eu... sou. Apenas por causa do meu filho – eu digo, e percebo que essas palavras são de fato verdadeiras. – E você? É feliz, Eve?

Ela cobre a distância que nos separa, e baixa a cabeça, parecendo triste de repente.

– Você sabe... Acho que eu jamais serei feliz longe de você – ela sussurra.

– Você não devia falar isso, Eve. Tem sido tão difícil ficar longe de você, todos esses anos...

– Então você não me esqueceu? – ela pergunta, e levanta a cabeça, seu rosto a centímetros do meu.

– Você faz parte de mim. Eu nunca vou te esquecer. Você devia saber disso.

– Mas agora você está casado, tem um filho... Eu estou praticamente casada com Willian... As coisas mudaram – ela diz, e se afasta um pouco.

– Eu mudei. Você também mudou. Tudo mudou – eu digo, segurando seu braço. – Menos meu amor por você.

– E o que nós vamos fazer? Passar o resto da vida com isso dentro de nós, enquanto vivemos ao lado de outras pessoas? – ela diz, e agora as lágrimas escorrem em seu rosto.

– Não deveria ser assim – eu murmuro.

– Olha, é melhor eu ir. Se... Se você quiser me ligar um dia, pra gente conversar... sei lá... – ela gagueja, enquanto enfia o braço dentro do carro, e pega um cartão. – Esse é meu número.

E sem dar tempo pra eu falar mais nada, ela entra no carro, e sai cantando pneu. Completamente aturdido, percebo que ela nem abasteceu.

E após esse encontro, totalmente inesperado, meu horário de ir para casa chega. Mas eu não quero ir embora. Pego meu carro, que nem sei como anda, pois apesar de eu ter acabado de comprar ele é extremamente velho. Dirijo até a praça central e ao chegar lá, vou direto para o banco que sempre me fará lembrar de Eve, e do tempo que fui feliz com ela! Seguro o cartão com seu número em uma mão, o celular na outra... O que eu devo fazer? Porque cutucar a ferida? Não seria mais fácil fingir que eu não a vi, e tentar viver ao lado de Andy, pelo bem do meu filho? Mal percebo que estou digitando os números impressos no cartão, enquanto meus pensamentos são como um redemoinho em minha mente. Só agora vejo que na verdade, este é um cartão de visita. Ela se tornou advogada, então, penso todo orgulhoso. O telefone chama. Eu não deveria fazer isso. Estou prestes a desligar, quando ela atende.

– Alô! – Eve grita, parecendo irritada.

– É... sou eu – digo, sem saber exatamente porque liguei.

– James – ela grita, me interrompendo. – Graças a Deus você ligou. Estou no meio do nada... meu carro... acabou a gasolina.

O que digo em seguida, sai de minha boca antes que eu possa sequer pensar no que estou fazendo. . Eve tem esse poder sobre mim, me deixa totalmente desorientado, apenas sedento pela sua presença.

– Estou indo aí te encontrar. Me diga onde você está.

E enquanto ela me diz o nome da rua, sei que não haverá volta. Sei que ao ir encontra-la, estarei estabelecendo novamente essa forte ligação entre nós. Mas, de certa forma, nós nunca deixamos de estar diretamente ligados um ao outro. A diferença é que agora existem mais pessoas envolvidas, que podem se machucar seriamente, se nossa paixão contida, entrar em erupção como um vulcão que passa anos e anos, esperando para eclodir. E eu sinto que essa é uma coisa, que tem grandes chances de acontecer.


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