Esta não é uma história de amor escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 2
Capítulo 1 - O início de tudo




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Eu me considero uma garota comum. Não tenho nada em especial que possa chamar a atenção de alguém. E ser tão comum, faz com que eu passe despercebida pela maioria das pessoas. Não que isso me incomode. Eu só acho estranho, uma garota loira com grandes olhos azuis, passar na frente de um bar e os homens parecerem um bando de abutres, enquanto eu, se passo logo em seguida, chamo menos atenção que uma mosca morta. O fato de eu ser reservada e contida também contribui para minha invisibilidade. Na escola, com meus amigos eu consigo me soltar e ser até um pouco escandalosa e extrovertida. Mas com estranhos.... A coisa é totalmente diferente. Mas nada disso me impediu de arrumar um trabalho. Bom, na verdade eu trabalho no escritório da minha tia, então isso não é necessariamente um grande mérito. Meu trabalho é legal. Tenho um computador só pra mim, e as redes sociais não são bloqueadas, como são nos empregos das minhas amigas. Porém eu passo a maior parte do tempo na rua, entregando documentos nas lojas dos clientes da minha tia. Isso fez com que eu me tornasse observadora. O que dependendo do ponto de vista pode ser uma qualidade ou um defeito. São 10:00 da manhã, agora. E eu já devo ter andado 1 km nas ruas da cidade, batendo de loja em loja. Não sei porque as pessoas precisam de tantos documentos. Eu ando a passos lentos, pois faz muito calor. E ficar toda suada logo no começo do dia, não é uma boa opção. Estou quase chegando no escritório, quando escuto um “psiu”. Olho para o lado, e me deparo com o cara mais gato que eu já vi na minha vida. Ele dirige um carro de autoescola. Ele aparenta ser novo, então é provavelmente um aluno. Sua cabeleira é desgrenhada com cachos largos, o que o deixa estranhamente sexy. Ele usa óculos escuros de armação verde, o que parece um pouco gay, mas fica bem nele. Suas bochechas são rosadas, e eu me pergunto se elas sempre estão dessa cor, ou se ele está ruborizado. Ele passa devagarinho ao meu lado e sorri. Eu me vejo presa por aquele sorriso. Mas minha reação seguinte, não é sorrir de volta como qualquer garota em sã consciência faria. Eu olho para meus pés, para meu gasto par de All-star branco e continuo andando. E então o carro se afasta, e eu sinto que nunca mais verei aquele garoto. Olho ao meu redor, e constato que sou a única pessoa do sexo feminino num raio de uns 500 metros. Então ele de fato, fez o “psiu” para mim. Mas o que levaria um garoto aparentemente lindo como aquele, mexer comigo, assim, no meio da rua, como se eu fosse ao menos bonita? Ele pode ser louco. Ou mais um daqueles meninos lindos de morrer que não valem nada, só querem pegar meninas e acumulá-las como se fossem títulos. Chego até o escritório, irritada por minhas pernas estarem descoordenadas e ignorando os comandos do meu cérebro para andarem em linha reta. Mal consigo tocar na minha comida na hora do almoço. O que é estranho, pois eu costumo me alimentar mais do que meu corpo magro transparece. Passo o resto do dia no computador, pois minha tia me deu uma pilha de contratos para serem redigitados. As horas passam devagar. Me sinto inquieta. O garoto das bochechas vermelhas não sai da minha mente. Eu nunca o vi na cidade. E olha que moro numa cidade extremamente pequena. Ele definitivamente não é daqui.

– Eve? – Sidney, a garota que senta na mesa ao lado me chama. – Você está bem?

Pisco, a fim de afastar aquele sorriso maravilhoso dos meus pensamentos.

– Estou sim, Si.... Porque? – respondo.

– É que... Já deu seu horário, faz uma meia hora, e você ainda está aí sentada, e sorrindo como uma boba.

Só então me dou conta de que estou mesmo sorrindo para a tela apagada do computador. Sidney é, um pouco mais velha que eu, na verdade bem mais, visto que ela tem 24 anos, e eu apenas 15. Mas apesar disso, ela sempre me tratou muito bem, e ama dar conselhos sobre relacionamentos, mesmo que a vida romântica dela seja um desastre.

– É um garoto, não é? – Ela logo pergunta, chegando sua cadeira para mais perto da minha.

Dou de ombros. Gostaria de contar para alguém sobre ele. Mas, soaria tão estúpido. Um garoto na rua fez “psiu” e sorriu para mim. Si provavelmente me acharia retardada.

– Não, é só que... – começo, sem saber o que inventar.

– Ah, se não é sobre garotos então deixe para lá – ela diz, e faz um gesto com a mão, balançando suas longas unhas esmaltadas de vermelho na minha direção. – Você já está na idade de arranjar um namoradinho.

– Eu sei Si.. – digo, e levanto, pegando minha bolsa para ir embora. – Até amanhã.

Ela não me responde, pois seu celular toca, e pela sua expressão é algum dos seus paqueras que logo fará ela ficar chorando por uma semana, pelo rompimento da relação, por algum motivo bem estúpido. Chego ao ponto de ônibus, para enfrentar mais uma viagem de 15 minutos apertada entre um monte de gente, e odores na maioria das vezes desagradáveis. Mas dessa vez, a viagem passa tão rápido que eu mal percebo. Chego em minha casa, ainda deserta pela ausência dos meus pais que ainda estão no trabalho. Vou direto para o chuveiro, que é onde gosto de pensar sobre a vida. Enquanto a água morna cai sobre meu corpo, eu finalmente consigo entender porque esse garoto mexeu tanto comigo. Ele fez eu me sentir especial. Ele fez com que de alguma forma, eu não me sentisse mais invisível. E ao contrário do que eu imaginava, aquela não seria a única vez que ele faria eu me sentir assim.


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