A Música Que Ela Ama escrita por Mary N Braga


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi!

Novamente, espero que gostem da fic. Deixem suas opiniões, o que gostaram, ou o que posso melhorar. Se quiserem fazer amizade, chamem por MP, que eu amo quando gente me chama por MP querendo ser abiguinho(a).
Boa leitura!



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Joshua esfregou os olhos e passou a mão esquerda pelos cabelos impacientemente. Eram duas horas da manhã, já na madrugada de terça-feira, e ele continuava sentado em frente ao computador.

Idiota”, ralhou consigo mesmo.

Destravou o celular pelo que pareceu a milésima vez durante suas três horas de pesquisa, as mensagens de Kyra pulando para seus olhos de modo automático.

Não conteve o sorriso fácil que seus lábios formaram, pois sabia que ele viria, como sempre quando ela estava por perto. Havia muito tempo desde que aceitara, por fim, o fato de que não podia segurar totalmente a euforia que a presença de Kyra causava nele. E, perceptiva como ela era, esconder todo o seu entusiasmo tornava-se cada vez mais impossível.

Olhou outra vez para a tela do computador. O sorriso foi substituído por uma expressão um tanto carrancuda. Joshua leu o que estava escrito na barra de pesquisa: “Como conquistar uma garota?” Tudo inútil. Os resultados diziam sobre confiança, coragem para falar com “ ela”, boa aparência e higiene, e ser amigo e dar atenção a ela sem, contudo, deixar de viver a própria vida.

O problema? Joshua e Kyra já eram melhores amigos. Aliás, ela era uma das poucas pessoas com quem ele sentia-se confortável em conversar, de modo que Joshua não tinha muito como “viver a própria vida” sem ela. Claro que ele cuidava de sua higiene — disso ele não precisava como conselho —, mas e a aparência? Quando se olhava no espelho, tudo em Joshua dava a ele a impressão de ser tímido, introvertido, exatamente como era. O cabelo escuro caía sobre seus olhos de um azul vivo, escondendo-os. Os ombros sempre ligeiramente caídos, a postura reservada. Talvez pudesse ser considerado atraente, mas Kyra nunca dissera nada a esse respeito. E por que diabos ele diria algo a ela? Acabaria estragando a quase inexistente chance que tinha com a garota.

Exasperado, fechou a página e desligou o computador de qualquer jeito, sem preocupar-se em seguir o procedimento correto para tal. Deitou-se em sua cama, com raiva de si mesmo por ter feito algo tão estúpido quanto procurar por dicas de conquista no Google.

Havia noites em que Joshua caia no sono com um sorriso, pensando que, afinal, talvez ele e Kyra fossem ficar juntos. Que ele fosse ter a chance de fazê-la feliz, de amá-la como ela merecia. Mas, na maioria das vezes, adormecia sentindo seu coração afundar e perguntava-se por quanto tempo aguentaria estar tão perto dela e, ao mesmo tempo, tão dolorosamente longe.

Essa era uma daquelas noites.

***

A escola não era longe da casa de Joshua. Ele podia fazer o trajeto a pé tranquilamente, o que sempre dava a ele tempo para pensar — Joshua gostava do silêncio que a caminhada lhe proporcionava.

Chegou ao colégio mais ou menos quarenta minutos antes da primeira aula, como de costume. Foi até o jardim interno, esperar por Kyra. Mas, naquela manhã, ela já estava lá.

Joshua entrou pela porta de vidro no jardim e largou a mochila no chão, próximo ao banco de concreto em que os dois sentavam-se todas as manhãs. Uma sensação de conforto e calor indesejada — porém já esperada — instalou-se nele. Kyra sorriu para ele.

— Oi, Joshua.

Ele teve de sorrir de volta. Kyra, mesmo após anos de amizade, nunca o chamara por outro nome que não Joshua. A maioria das pessoas insistia em apelidar-lhe de Josh, menos ela. Ela uma vez dissera que Joshua era quem ele era. Não Josh, ou qualquer outra coisa. Que não queria conhecer nada que não fosse ele realmente. E ele a amava por sentir a necessidade de ver o que ele de fato era, e não uma farsa.

— Como se conquista uma garota, Kyra?

A pergunta saiu por seus lábios antes que percebesse. Até cogitou se havia sido ele a falar, e não outra pessoa que não tivesse notado no jardim.

Kyra não riu, como ele achou que faria. Como qualquer um teria feito. Ficou calada por alguns segundos, olhando para a frente, sem de fato observar algo. Joshua esperou por um, dois, cinco minutos, e ela continuava calada. Achou que ela tivesse se esquecido de sua pergunta, perdida em pensamentos, e não disse nada — não queria trazer o assunto de volta à tona. Porém, Kyra respondeu:

— Cada garota é diferente, Joshua. Eu não sei o que cada uma quer, e não tem uma fórmula ou coisa assim, mas posso dizer algo que acho que funcionaria. — Ela o encarou, como se esperasse por uma confirmação. Joshua balançou a cabeça uma vez, pedindo que ela continuasse.

Por mais ou menos um minuto e meio, ela ficou em silêncio outra vez. Quando voltou a falar, parecia ainda estar organizando as próprias ideias.

— Depois de todo esse tempo, você deve conhecer algumas das músicas às quais eu ouço, certo? — ela perguntou.

Joshua afirmou novamente. De fato, ele podia citar cada uma das músicas na playlist de Kyra.

— Bom, aí está. Descubra algumas músicas de que ela goste e analise as letras. Se fizer isso com as minhas, por exemplo, vai notar algum padrão.

Joshua não queria estender mais ainda a conversa, mas não pode evitar em questioná-la sobre o que queria dizer. Ela suspirou, uma ruga suave entre suas sobrancelhas, denunciando sua concentração. Após algum tempo pensando, a expressão suavizou-se. Kyra pousou os olhos azuis em Joshua pela primeira vez naquela manhã, um sorriso brincando delicadamente em seus lábios.

— Eu ouço a muitas músicas que falam sobre amor, Joshua. Pessoas que se amam incondicionalmente. Que são apaixonadas por cada coisa um no outro. Que lutariam contra o mundo, o tempo e suas próprias possibilidades por uma pessoa com quem passariam toda uma vida. Mostre à garota que você pode ser a música que ela sorri quando ouve e você a ganhou.

Os dois se olharam sem dizer nada, apenas sorrindo, por um tempo.

Kyra queria ser amada por alguém que estivesse lá para ela. Que precisasse dela tanto quanto ela precisaria dessa pessoa. Ansiava por quem a impediria de cair se ela tropeçasse, quem a faria sentir-se em casa quando tudo o que ela mais precisasse fosse o calor e a luz que vinham da lareira, mas ela não os tivesse. E ela desejava ser capaz de retribuir tudo aquilo com a mesma intensidade.

Kyra precisava de muito, mas, ao mesmo tempo, de tão pouco. De milhares de canções. De apenas uma.

E, se ela precisava de uma música, Joshua poderia ser uma.


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Notas finais do capítulo

Meu mais sincero “muito obrigada”:

A Heaven Southfield, por seu incrível depoimento sobre como é estar apaixonado pela perspectiva de um garoto tímido;

À Anna Petrova, por ter pirado quando eu disse que estava com algo novo no forno, quase pronto para sair, e pela opinião estética para esta capa e algumas outras que tentei fazer — opinião que eu raramente sigo, porque sou teimosa;

À minha beta, Lisbeth Salander, por ter me ajudado e por ter sido tão fofa ao dar sua opinião;

E a você, leitor ou leitora, que me acompanhou até aqui. Eu não seria nada sem você, e espero que tenha gostado de ler tanto quanto amei escrever cada palavra disso aqui.