Houve muitos momentos nos quais ele quis matar alguém. Houve poucas pessoas que ele já quis matar. Snape, os gêmeos Prewett, Melinda Clarkson e sua língua fofoqueira, seu tio Marcus. Mas, nunca, nunca, os seus amigos. E o engraçado era que ele nunca tinha sentido que poderia tanto matar alguém.

Não que James fosse avesso a brincadeiras, mas aquilo era maldade.

_Potter?

Ele segurou a ânsia. Sem chance.

Malfoy o olhava como a uma mosca, impávido feito um pavão. Não que James ficasse surpreso que alguém gostasse dele, ele era James Potter, afinal. E todas as pessoas, excluindo sonserinos e Lily Evans, gostavam dele.

Aquilo era doente. Ele nem queria guardar aquilo como arma ou fonte de risadas, não. Ele iria embora imediatamente.

Estava prestes a fazer isso quando uma voz melodiosa chegou aos seus ouvidos.

_James?

Se fosse possível, a expressão nojenta de Malfoy se acentuou.

Mas James não estava dando a mínima para ele, e sim para a dona daquela voz. Quando se virou, buscando-a, ele quase engoliu a língua.

Dizer que ela estava bonita era eufemismo. Ela estava linda, magnífica, exuberante em seu vestido verde, de um ombro só. Ele pode ter choramingado. Não era culpa dele, não quando ela parecia uma deusa. Os olhos acentuados, os lábios vermelhos, o colar... O colar era de uma vassoura?

Malfoy deve ter saído dali, James só não o ouviu. Seus olhos estavam presos na garota à sua frente. Na sua garota. Ela tinha de ser.

Lily deu mais alguns passos para frente, um sorriso discreto nos lábios.

_Surpresa.

E que surpresa. James não conseguia envolver seu raciocínio em torno disso. Ele queria pedir que ela o deixasse pensar por um momento, mas não conseguia encontrar sua voz.

_Você não está desapontado, não é? Digo, os garotos garantiram que você não ficaria, mas eu não tinha certeza.

Ele balançou a cabeça enfaticamente. Desapontado? Merlin, ele estava bem longe de se sentir assim.

_Eu sei que é uma surpresa – ela correu os dedos pela árvore ao lado – mas eu estive querendo que você me beijasse há meses.

James engasgou.

_Você... Que eu a beijasse?

Sim, ele tinha de soar tão imperfeito. Isso sempre acontecia perto dela.

Lily assentiu solenemente, mordendo o lábio inferior.

_Eu achei que estivesse visível – James negou lentamente – bem, sim, eu não sabia se você não estava vendo ou se apenas não me queria mais.

James bufou. Como se isso fosse possível. Ele olhou para as mãos dela, retorcendo-se contra si. Ela poderia estar nervosa? Por quê? Ela não sabia que ele pertencia a ela?

_Então, eu decidi arriscar – ela sorriu agora – aposto que você nem pensou em mim quando recebeu os bilhetes, mas Remus garantiu que era uma boa ideia. Retirar as coisas ruins que disse sobre você. E Sirius me disse que ele apoiava desde que eu nomeasse o nosso primeiro filho com o nome dele.

Os olhos dela se arregalaram. As bochechas avermelharam e ela engoliu em seco.

_Não que nós vamos ter um bebê. Talvez a gente nem se case ou namore, não é como... Não que eu tenha imaginado isso milhares de vezes na minha cabeça. Eu não pensei em nós dois casados, com filhos, vivendo em algum lugar tranquilo ou...

Foi tempo suficiente para James recobrar o domínio sobre sua mente. E todas as palavras dela só o encheram de calor. Sorrindo imensamente, ele andou até ela, segurando seu rosto com ambas as mãos. Ela era linda e nunca tinha sido tanto quanto naquele momento, olhos arregalados de surpresa. Com um suspiro de prazer antecipado, ele cobriu os lábios dela com os seus.