Sofia

Já estávamos no 3° dia de prova: Química e Geografia e, como se isso não bastasse, o Sr. Fredericksen aplicaria as provas. Todos estavam uma pilha de nervos, já tinha revisado minhas anotações várias vezes, as mãos soando, o pânico quase me dominando...

– Ei, calma, vai dá tudo certo. Não será tão difícil. – disse Heitor tentando me acalmar.

– Eu sei mas e se eu esquecer de alguma fórmula e se eu errar em conta, e se... – eu disse enquanto andava de um lado para o outro.

Heitor segurou meus braços e olhando nos meus olhos falou:

– Pare de ficar sofrendo por antecedência. Eu confio em você.

– Chega de conversa fiada, em seus lugares! – gritou Sr. Fredericksen. - Na mesa somente caneta, lápis e borracha. Mochila no fundo da sala e estojo no chão. Vocês têm duas aulas para resolver as provas, sem tempo extra.

Acomodamo-nos e o professor começou a distribuí-las. Não sabia por qual começar. Optei pela de Geografia, estava mais tranquila, consequentemente consegui responder rapidamente sem problema algum. Depois de terminar, fui para Química porém antes de começar Sr. Fredericksen parou ao meu lado e perguntou:

– Srta. Clark, o que são esses papéis embaixo da mesa?

Não fazia a mínima ideia do que ele estava falando. Olhei para baixo de minha mesa e vi os tais papéis, peguei-os e analisei, eram as fórmulas e exercícios resolvidos de química.

– Mas o que significa isso? A senhorita estava colando? – o professor perguntou tomando os papéis de minhas mãos.

– Não senhor, nem sei como esses papéis vieram parar aqui e essa letra nem é minha! – tentei argumentar.

– Explique-se para a diretora. – ele respondeu e me tirou da sala com material e tudo.

Resultado: um zero bem redondo na minha prova de Química e metade da nota para Helena, Luciano, Alice e Pedro pois “foram eles quem me ajudaram a colar”. Meus amigos me abordaram, na hora do almoço, com milhões de perguntas e eu sempre respondia da mesma maneira que não tinha colado e não fazia ideia de como aqueles papéis apareceram. Todos estavam furiosos pela atitude da diretora.

Estava indo ao meu quarto quando passei pela sala de Química e vi Bianca pegando as colas e colocando em sua bolsa. Esperei ela sair e, tentando ser o mais civilizada possível, falei:

– Bianca, você só pensa em si mesma não é?

– Do que você está falando, garota?

– Pra que tudo isso? – disse apontando para os papéis.

– Simples. Todos começaram a agir de modos diferentes, começando a me tratar como uma pessoa normal! -ela explicou.

– Dane-se que sua preciosa pirâmide social desmoronou, a escola está bem melhor assim. Somos livres para fazermos nossas próprias escolhas. – argumentei.

– E essas escolhas acabaram interferindo muito mal na vida do Heitor. Pensa que eu não sei que você influenciou ele para matar aula. Eu tive que intervir para salvar sua reputação.

– Eu não estou interessada no que você está fazendo pelo Heitor. Isso é entre você e ele. Mas mexer comigo e com meus amigos, isso eu não vou admitir.

– Você não quer aceitar o fato de que eu venci.

– E qual é o prêmio? Heitor? A popularidade? Você é muito boa no jogo do qual eu não quero participar. Te aturei até aqui, agora já chega! – e antes de ir embora avisei - Só um conselho: fique longe do espelho para não ver o rastro de ódio que você vai deixar por onde passar.

Estava com a cabeça fervendo. Fui até meu quarto, tomei um banho e fui andar pelo jardim. No meio dessas andanças comecei a pensar em tudo o que me acontecera. Quando cheguei, estava um pouco nervosa por medo de não conseguir me adaptar. Os dias foram passando, fiz novos amigos que com certeza irei levar pela vida inteira, quebrei o status quo da escola, quebrei regras (coisa que nunca fiz), eu mudei completamente. Depois dessa briga com a Bianca, não me sinto mais insegura como antes. Essa briga foi a prova de que aquela menina tímida que morava dentro de mim desapareceu. Agora sou uma nova Sofia, que nunca será dominada por ninguém, uma garota de atitude.

Estava tão distraída que acabei trombando com alguém. Olhei e era Henrique, ele estava de cabeça baixa, arrisco dizer que estava triste, então eu perguntei:

– Está tudo bem?

– Eu fui um completo babaca. – ele respondeu – Sinto muito Sofia. Confundi as coisas e acabei jogando nossa amizade no lixo. Você me perdoa?

– Claro que sim. – respondi e dei um abraço de urso.

– So-sofi-sofia, não con-sigo res-pirar. – ele falou.

– Desculpe. – eu pedi enquanto saia do abraço – É tão bom ter meu irmão de volta. Mas me diga, o que aconteceu?

– Bianca estava apenas me usando; a propósito você terá outra chance para fazer a prova de Química e o pessoal não ganhará metade da nota. Contei tudo para a diretora, Bianca levou uma suspensão. – ele explicou.

– Justiça seja feita! Venha vamos tomar um sorvete.

Fomos até a lanchonete compramos dois picolés. Encontramos nossos amigos em uma das mesinhas, sentamo-nos lá e contei a novidade. Eles ficaram super felizes e deram altas risadas quando contei sobre a briga. Depois deu a hora da janta, jantamos e fomos dormir.

Sábado

Nem acredito que as provas finalmente acabaram. Agora graças ao conselho estudantil teremos essa semana de folga. O nosso sábado amanheceu chuvoso, ou seja, nada de atividades ao ar livre. Estava um dia perfeito pra ficar embaixo das cobertas vendo um filme com pipoca e chocolate quente pena que dessas 4 opções a única acessível era “ficar embaixo das cobertas”. Eram quase 10:30 quando Cabdace, Lorena e Melissa adentraram nosso quarto.

– Que isso? Invasão? – perguntei enquanto tirava minha cabeça do travesseiro. (Sim eu ainda estava deitada, não eu não tinha me levantado).

– Vocês ficaram nesse quarto a manhã toda! Precisam tomar um pouco de sol. – falou Lorena.

– Amiga, está chovendo. – retrucou Alice.

– Que seja, vocês precisam de ar puro. Siar desse quarto. – argumentou Melissa.

– Eu preciso de mais uma hora de sonos isso sim. – resmungou Helena.

As três garotas entreolharam-se, dividiram-se e um piscar de olhos tiraram nossas cobertas e abriram a janela.

– Fecha esse troço! Tá frio!! – pedi.

– Só se vocês trocarem de roupa e virem conosco. – Candace pediu.

Trocamos de roupa um pouco sonolentas e fomos até uma sala de jogos que não sabia que existia. Os meninos estavam jogando sinuca e as meninas lendo revistas. Me surpreendi ao encontrar Vicky e Rebecca sentadas no sofá. Elas pediram desculpas pelo comportamento de Bianca dizendo que essa mudança foi um choque muito forte para ela.

– Sem problemas, são águas passadas. – respondi.

– Ei pessoal, o que acham de jogarmos UNO? – perguntou Alice.

– Boa ideia. – concordou Felipe.

Só uma coisa: prevejo uma 3ª Guerra Mundial a caminho.

Continua...