Música para o mundo – Imaginação escrita por Krieger


Capítulo 5
Pathetique


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi inspirado na música Pathethique de Beethoven. Esse é o terceiro movimento, chamado Adagio cantábile. Escute-a aqui: https://www.youtube.com/watch?v=iCL5sHzlDOI (e sim, se for escutar a obra inteira, é grande -q)
Sobre o foco dessa história, queria primeiramente me desculpar pelo excesso de pessimismo expresso, apenas quis demonstrar bastante a ironia de tal assunto, levando em conta também o título da obra e sua melodia. Mais uma vez, é apenas mais uma crítica, pois quero deixar claro que a música era, naquela época, um dos meios mais usados para se expor.



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Nós já esperávamos pelo dia em que a tristeza se tornaria a mais perigosa epidemia do mundo, só não estávamos prontos. E, o pior, ninguém nunca havia percebido. A medicina é avançada para nos curar das doenças que levam a morte, mas ela nunca conseguiu cura-la. Há sempre histórias que nos dizem que a tristeza é apenas uma praga da própria Morte, e por isso nunca conseguimos controlá-la, pois está sempre evoluindo, os métodos de precedência são imprevisíveis e suas causas são tantas que ainda prevalecem desconhecidas. Talvez a melhor solução seja virar as costas e fugir, dizendo que está tudo bem.

Minha vida foi repleta de doentes, e poucos foram os que conseguiram ser curados. Tudo tornava difícil de lidar, porque curar algo que você enxerga apenas por cima acaba sendo mais fácil, mas quando apertar os olhos para olhar mais profundamente... Ah, que diferença. Não há vacina que consiga defender ou atacar. Mas, tudo se tornou interessante quando resolvi desistir de todas as pessoas.

Todos os sofridos que vinham até mim aos prantos apenas vomitavam todas suas mágoas e tudo o que poderia fazer foi apenas lhes dizer para não pararem. A cada confissão, recusava um abraço de consolação. Estava aprendendo tudo o que os médicos não aprenderam sobre a tristeza e, por sorte, poderia futuramente encontrar a cura. Sabia que a doença acontecia de um jeito diferente em cada um, e estava surpreso por conta de tanta informação. A certo ponto comecei a classificar-me como louco, não conseguia fazer nenhuma conexão a não ser apenas aceita-las.

Houve uma última sessão, onde uma menina não derrubou nenhuma lágrima em meu sofá. Ela apenas dizia todas sua palavra sobre estar cansada de si mesma em uma voz rouca. Seus sentimentos eram maiores que sua própria pessoa, e os mesmos conseguiam controlar seu corpo a cada dia que passava. Chegou uma hora em que se viu escrava das coisas que vinham de dentro, e a cada tentativa de mata-los, ela se arranhava por fora. Era uma luta cansativa que não se tratava apenas da tristeza, pois ela havia trazido companhia junto de si. Ela olhava para mim e dizia: “Você conhece o Amor? O Estresse? A Neurose? A Paranoia? O Cansaço? A Depressão? Eles comeram o meu Coração.”. Foi uma praga intensa, pois a menina morreu dias depois. De certo ponto de vista, a culpa realmente foi minha, já havia sido avisado. Ela me disse, no nosso último encontro, se um dia a encontrassem morta, foi porque seu Coração se vingou por ter sido maltratado. Ele daria um tiro em sua cabeça.

Senti como se a Morte fosse sentir inveja de mim por tê-la aceitado tão facilmente depois disso. Por que todas as pessoas querem se livrar da tristeza e sempre gritar por ajuda? Elas se tornam mais cegas do que as próprias pessoas que aceitam ajuda-las. A tristeza existe para viver dentro de cada um, ela nunca foi ausente. Enquanto você está crescendo, ela está evoluindo, e não há nenhum culpado por isso, pois é apenas uma consequência da vida. Ela é necessária para viver, então para a mesma não existir há uma rápida e simples solução.

Essa semente que cresce e floresce aqui dentro dá as mais cheirosas flores. Quando a tristeza atravessa o solo e vai para fora, nos vemos em absolutas magoas e dispostos a desabafar todos os nossos erros e sentimentos. É nesse momento que encontramos quem realmente somos. Nós conseguimos ser lindos quando estamos tristes, não há nada mais verdadeiro do que o momento das lágrimas. Nossa beleza é tão intensa quando nos abrimos que nossa profundidade fica visível para todos, sem todas as camadas de máscaras que a esconde. Esse dom não é nada mais que nossa alma.

Após dar meu antídoto para todos os meus doentes, pude ver e aproveitar suas belezas. Alguns não aceitaram e decidiram se livrar de tudo isso, então fiz suas vontades. Infelizmente, tive que ser julgado por minhas ações.

Estou vivendo bem com minhas flores sendo cultivadas ao redor do meu coração, porém às vezes quero arranca-las pela raiz. Teve um dia que me senti triste por não conseguir ajudar aquela menina. Quando todos queriam me condenar pelos meus atos, lembrei-me de suas palavras. Sim, o Coração de todos estavam querendo se vingar, e existia apenas uma pessoa disposta.

Fui obrigado a arrancar minhas flores e, ao arrancar as raízes, percebi que arrancara junto a felicidade. Ah, sim... As raízes. Como não pude perceber isso antes? Só havia me lembrado das flores, e agora já era tarde demais para combater a solidão. Arranquei junto o coração.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem até aqui!



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