Vigilantes do Anoitecer escrita por Lady Angellique


Capítulo 27
Capítulo 26




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A lua crescia lentamente no céu, iluminando a noite com o seu singelo brilho. O vento balançava as arvores levando algumas de suas folhas consigo nessa noite que deixava vários corações e mentes inquietos, uma noite que parecia ter chegado cedo demais, embora muitos de nós – talvez todos – estejam ansiosos para finalmente passarmos pela cerimônia que aguardamos desde o dia que pisamos pela primeira vez na Ordem.

Hoje é o dia em que acontecerá a Cerimônia de Iniciação, ao qual faremos um juramento perante toda a Ordem e alguns nobres – pelo o que eu fiquei sabendo, apenas dois integrantes, mais ou menos, de cada Casa pertencente à Câmara dos Lordes irá comparecer a cerimônia – e iremos ganhar a nossa primeira faixa negra no braço. Todos nós estávamos muito nervosos com isso, embora todos tenham treinado e praticado o que teremos que falar na hora diversas vezes. Não tem como não se sentir nervoso.

Infelizmente meus pais não vão poder comparecer, pois meu pai não conseguiu uma licença no seu trabalho, mas os mesmos prometeram vir me ver – é claro que meu irmão também está incluso nisso – para me felicitar e é claro que matar a saudade, já que faz anos que eu não os vejo, mesmo que eu tenha mantido contado com eles por telefone e vídeo conferencia, não é a mesma coisa, e eu estou louca pra matar a saudade deles.

—Se você continuar se mexendo eu vou ter que refazer o seu penteado – Ally me alertou com a voz seria.

—Desculpe... – murmurei, tentando ficar quieta no meu lugar onde eu estava sentada há quase uma hora enquanto Ally fazia o meu cabelo.

—Tudo bem. Eu sei que esta nervosa, assim como eu e o resto de nós, é normal, afinal vamos ficar praticamente expostos na frente de toda Ordem e de desconhecidos que foram convidados para esse grande evento. – ela falava, enquanto colocava mais grampos na minha cabeça, provavelmente tentando me fazer ficar mais calma, embora não estivesse dando muito certo – Mas, por favor, colabore comigo, tenho que terminar o seu e ajeitar o de Skye, antes de ir fazer o meu, e não nos resta muito tempo.

—São nove e meia ainda, e nós só temos que estar lá às onze, no máximo onze e meia, porque a cerimônia só vai começar a meia noite que é quando a lua esta no seu auge – lembrei-a, na tentativa de acalma-la e fazê-la ir mais devagar, porque eu acho que ou ela vai perfurar a minha cabeça com um desses grampos ou vai arrancar alguns fios de cabelo meu, pelo tanto que ela está os puxando, o que eu não duvido nada.

—Você fala como se fosse tempo de sobra – retrucou.

—Porque é! Skye deve estar tomando o seu banho agora e daqui a pouco ela aparece aqui, e quando isso acontecer você já vai ter terminado o meu e o dela vai ser mais rápido ainda – eu acho,pensei, mas resolvi deixar essa parte de fora – E você já fez a minha maquiagem e a sua, e também está de banho tomado, e é só soltar os rolinhos da sua cabeça e ajeitar o cabelo um pouco depois que você vai estar pronta e só vai faltar vestir a roupa, o que é a parte mais fácil – ditei as coisas que já foram feitas e que precisavam ser feitas, tentando convencê-la de que vai dar tudo certo – E estaremos prontas e maravilhosas, então relaxe e respire fundo antes que não sobre nenhum fio de cabelo na minha cabeça.

—Desculpe – ela murmurou voltando a se concentrar em mim e não no que quer que ela estava pensando antes, soltando alguns fios que eu indiquei a ela, por estarem machucando minha cabeça pela forma como ela havia os prendido.

—Por que está tão nervosa? – questionei depois de um momento em silencio.

—Tenho medo de algo dar errado – desabafou ela – Sem falar que eu estou com uma sensação ruim no peito desde que acordei, e não sei o porquê disso.

—Não precisa ficar assim. Eu estou aqui com você e logo, logo seu irmão vai se juntar a nós, e nós dois vamos estar aqui pra te proteger caso aconteça algo – garanti girando a cadeira e a encarando – Além do mais ainda tem o meu irmão e Thomas que tenho certeza que vão estar do nosso lado, e se as coisas apertarem muito podemos recorrer a Skye. Não que ela vá ajudar em muita coisa, mas toda ajuda é bem vinda não é?

—Me ame menos, amiga – uma voz respondeu nas minhas costas, me virei e dei de cara com Skye que estava parada na porta do quarto, com os braços cruzados na frente do peito com uma roupa simples, e com um embrulho nas mãos o que provavelmente seria o seu vestido.

—Se eu fizer isso eu iria te matar, por que aí eu não teria obrigação nenhuma de ter que aguentar você.

—Você pode tentar – respondeu ela rindo enquanto entrava no quarto e depositava o seu vestido em cima da cama da Ally.

—Não me tente.

—Pronto! – Ally exclamou feliz batendo palmas como se estivesse satisfeita com o seu trabalho – Terminei!

—Posso olhar agora? – questionei curiosa, porque desde do momento que eu me sentei nessa cadeira pra que ela pudesse fazer a minha maquiagem e o meu cabelo ela não havia deixado eu me ver no espelho nem uma única vez e eu já estava morrendo de curiosidade.

—De jeito nenhum! Você só vai ver depois que colocar o vestido – afirmou convicta, e eu realmente não duvido que ela me impediria se eu tentasse retirar o pano que estava cobrindo o espelho da penteadeira que se encontrava atrás dela nesse momento.

—Okay, okay! – me rendi me levantando da cadeira cedendo meu lugar para Skye que prontamente se sentou e Ally começou a fazer a sua maquiagem.

Eu estava ali desde as cinco horas da tarde e Ally havia trabalhado em mim durante quase todo esse tempo, tirando o tempo que eu estava tomando banho – usando um monte de cremes, xampus e condicionadores diferentes que Ally havia me entregado – e ela por ela já ter tomado o seu ela havia começado a se produzir primeiro, fazendo a sua maquiagem e prendendo os seus cabelos loiros em pequenas mechas os enrolando e prendendo no alto da cabeça com grampos, de acordo com ela quando ela soltasse seus cabelos iriam estar totalmente cacheados. Ally já estava pronta praticamente, só tinha que soltar o seu cabelo e vestir a roupa, pra mim só faltava vestir a roupa, só faltava mesmo Skye que ficou enrolando e demorou a vir pro quarto de Ally pra deixa-la arruma-la.

Deitei na cama de barriga pra baixo, com o cuidado de não encostar a parte de trás da minha cabeça na cama para não atrapalhar o penteado que Ally levou algumas horas pra fazer e fechei os olhos relaxando, enquanto me preparava mentalmente para a cerimônia de mais tarde.

Passado alguns minutos, quer dizer, depois de pouco mais de uma hora, Ally terminou com a maquiagem e o penteado de Skye, e como já passava das dez e meia Ally mandou que nós nos aprontássemos enquanto ela soltava o seu cabelo. Eu me dirigi para o closet de Ally e retirei meu vestido do cabide, e logo tirei o roupão e o coloquei, essa noite eu faria um esforço pra ficar em cima do salto enquanto fosse necessário, afinal era uma noite importante nas nossas vidas e tínhamos que estar totalmente deslumbrantes quando aparecêssemos lá embaixo, palavras da Ally não minhas.

Quando terminei de me arrumar e de calçar o meu sapato de salto alto preto eu fui autorizada a olhar no espelho e eu fiquei totalmente chocada e deslumbrada com o que eu vi. Do fundo do meu coração, eu não esperava que iria ficar assim.

O vestido que Skye havia me ajudado escolher caiu como uma luva em mim, o vestido roxo escuro possui finas alças e o busto é em formato de coração, com uma renda preta em um fundo bege contornando o meu abdômen logo abaixo do bojo do busto, e logo abaixo disso ele se abria ficando soltinho em mim e indo até os meus joelhos. Para combinar com o vestido eu coloquei eu colar em formato de uma estrela, cheia de diamantes nela toda, uma herança de família que eu ganhei no meu aniversário de quinze anos e que só usava em ocasiões especiais, e acho que essa é uma ocasião que pode ser chamada de especial. Ally que havia ficado um bom tempo me arrumando, havia prendido os meus cabelos pretos em uma espécie de coque na minha cabeça com algumas mechas que caiam enroladas no meu rosto, embora eu não saiba como ela fez toda essa arrumação, e como ela conseguiu arrumar tudo com perfeição, colocando pequenos e delicados enfeites ao longo dele, deixando o coque ainda mais bonito. A maquiagem não estava muito forte, somente o básico, como eu havia pedido, com uma sombra marrom com preto nas bordas, como um sombreado, e um batom rosa clarinho, somente para não deixar minha boca sem nada. Ela havia feito um trabalho incrível. Realmente lindo.

—Pode falar, eu sou demais – Ally falou parando atrás do espelho que cobria toda uma parede do seu banheiro, colocando as suas mãos sobre o meu ombro e sorrindo docemente, feliz com o resultado.

Ally também estava linda com o seu vestido salmão tomara que caia com uma pequena rosa também salmão abaixo do seu busto que ia até um pouco abaixo dos joelhos e usando salto alto prata, e com seus cabelos loiros claros já soltos em cachos que caiam por seus ombros, deixando-a ainda mais fofa do que ela já é, e sua maquiagem estava cominando perfeitamente com o vestido, deixando tudo nela harmonioso como se fosse uma boneca de porcelana que eu guardaria infinitamente e não deixaria ninguém toca-la de tão fofa que ela está agora.

—É... Por ter conseguido me deixar bonita assim você realmente é demais – falei baixinho ainda admirando meu reflexo no espelho.

—Boba. Você é linda, eu só realcei isso.

Bufei em descrença e me virei para encara-la com uma sobrancelha erguida.

—Não me olhe assim, é a verdade, mas eu não tenho culpa se você não gosta de se arrumar.

—Por que em sã consciência eu sairia sempre produzida? Não é como se eu tivesse tentando conquistar alguém – retruquei me dirigindo de volta para o quarto, mas acabei topando com Skye que estava parada na porta de braços cruzados com um sorriso no rosto e uma das sobrancelhas arqueadas – O que foi?

—Nada – respondeu simplesmente e alargando ainda mais o sorriso como se estivesse se divertindo com uma piada interna – Vamos se não chegaremos atrasadas.

—Como se fosse muito longe – Ally falou enquanto nós a seguíamos pra fora do banheiro.

—Como você esta com essa calma toda agora, se há alguns minutos você estava desesperada porque não ia dar tempo? – questionei me virando para encara-la.

Ela deu de ombros – Porque agora já estamos todas prontas e ainda falta uns quinze minutos pra começar definitivamente a cerimônia, então não tem o porquê deu ficar estressada com algo assim agora.

Skye e eu rimos dela e eu balancei a cabeça em descrença, só Ally mesmo pra mudar de humor tão facilmente.

Skye também estava usando um vestido tomara que caia, mas diferente do de Ally o dela é vermelho e possui um pequeno laço abaixo do busto e ele vai até o chão, além dele ser o mais rodado de nós três. Sua maquiagem também era bem leve com apenas uma sombra dourada e um batom nude, e eu me surpreendi por ela ter deixado Ally fazer algo em seu rosto sendo que ela odiava maquiagem tanto ou mais do que eu. Seu cabelo estava preso em uma trança elaborada, muito bonita, o tipo de trança que você costuma ver em princesas em filmes medievais, embora Skye estivesse bem longe disso, e eu não possa dizer que ela esteja fofa igual Ally, não, Skye estava bonita, realmente muito bonita, mas não quer dizer que eu vou fazer tal elogio a ela.

—Tori, antes de irmos eu gostaria que colocasse isso – Skye estendeu o que pareceu ser uma tira de couro pra mim, quando eu a peguei eu percebi que era uma espécie de coldre embora não fosse pra colocar uma arma de fogo.

—Pra que isso?

—Para colocar isso – ela me estendeu um objeto preto que somente depois que eu o peguei que eu pude reconhecer a minha foice, ou melhor o meu bastão. Olhei pra ela a questionando, mas ela só deu de ombros – Eu só estou com uma sensação ruim sobre hoje, e eu gostaria que pelo menos uma de nós esteja armada caso algo aconteça.

Skye e eu nos encaramos durante um momento que apareceu infinito, e somente por causa dessa troca de olhares, eu soube que ela havia visto alguma coisa, mas pelo o que ela disse ela mesma não saberia dizer se iria acontecer hoje ou qualquer outro dia, e isso me deixou preocupada.

Escutamos um pigarro e nossa "conexão" de antes acabou, me virei pra Ally e ela parecia confusa e eu não podia ajuda-la com isso, porque eu também estava.

Ninguém ainda havia juntado dois com dois e percebido que Skye pode prever o futuro, e sinceramente eu não consigo entender como, porque as vezes é tão obvio de perceber que somente uma pessoa muito lerda não notaria que ela fica parada, olhando pro nada, os olhos desfocados e muitas das vezes prendendo a respiração quando ela previa alguma coisa, embora de certa forma fosse bom, ninguém fazer essa conexão dela com a Casa Gemini, porque nem ela e nem minha tia querem chamar atenção desnecessária pra cima delas e muito menos causar um escândalo, que é o que provavelmente o que aconteceria se alguém descobrisse, e por causa disso Skye tenta disfarçar o Maximo possível quando isso acontece e quando eu estou por perto eu ajudo a disfarçar. Por enquanto, o melhor é manter as aparências.

Rapidamente, antes que ficássemos mais atrasadas ainda, eu coloquei o coldre debaixo do vestido na minha coxa direita e peguei meu bastão da mão de Skye que ainda estava estendida e prendi o bastão no lugar certo, depois abaixei o vestido e o arrumei de modo que ninguém percebesse que tinha algo ali.

—Vamos? – perguntei, mas antes que elas respondessem escutamos uma batida na porta e quando eu abri, dei de cara com o meu irmão de smoking e com o cabelo quase tão preto quanto os meus estava lotado de gel arrumado pra trás, ele estava bonito, mas eu ainda prefiro o estilo badboy dele.

—Oi, bonitão – brinquei enquanto saia do quarto, ele sorriu encabulado e eu tive a impressão de que ele corou, mas antes que eu confirmasse ele desviou o olhar, escutei risadinhas atrás de mim e eu não precisava virar para ter certeza de que ambas, Skye e Ally, estavam rindo por causa do constrangimento do meu irmão.

—Idiota – ele reclamou baixo – Estão prontas?

—Claro, porque não estaríamos? – Ally perguntou se intrometendo na conversa e passando por mim seguida por Skye e logo depois fechando a porta.

—Porque eu conheço você Ally e sei que quando empolga com algo como um evento como esse, você fica muito indecisa e demora séculos pra se arrumar, que dirá arrumar três pessoas? – Alex respondeu e foi somente nesse momento que eu o notei encostado na parede ao lado da porta do quarto de Ally, com os braços cruzados e de olhos fechados.

Alex também estava todo arrumado e muito bonito, mas por um motivo ao qual eu não sei ele escolheu deixar os seu cabelo natural, ou seja todo arrepiado e bagunçado. Balancei a cabeça sorrindo,a cara dele fazer isso.

—Mentira, pura calúnia! – se defendeu ela.

—Ei! Essa frase é minha! – reclamei.

—Não é mais – Ally riu, um sorriso doce e fofo assim como ela, mas que no momento somente serviu pra me irritar, mas felizmente pra ela, antes que eu pudesse replicar de novo, Elric me interrompeu, entrando na minha frente e oferecendo o seu braço.

—Vamos? – perguntou ele de novo.

Respirei fundo, tomando coragem, e assenti aceitando o seu braço prontamente, Ally havia aceitado o braço do seu irmão e Elric acabou oferecendo o outro braço dele pra Skye que depois de um pequeno momento de hesitação o aceitou, e logo todos nós começamos a caminhar lentamente até o primeiro andar, em direção ao grande salão de festas que geralmente fica fechado e só é aberto em ocasiões especiais como essa.

No caminho nos encontramos com alguns outros Iniciados, alguns sozinhos outros acompanhados, todos devidamente arrumados para um evento de gala, como era o caso nesse momento, e assim como eu todos eles estavam bem nervosos, e a tensão era quase que papável no ar. Por sorte, a presença do meu irmão ao meu lado, me acalmava de formas que eu sequer podia imaginar, e inconscientemente eu acabei sorrindo abertamente pra ele ao pensar nisso e ele retribuiu com carinho, seus olhos dourados brilhando do que me pareceu felicidade enquanto o fazia e se Ally não fosse me matar, eu encostaria minha cabeça em seu ombro, mas isso atrapalharia o meu penteado e eu pretendo continuar viva até pelo menos o final da Cerimônia de Iniciação.

Eu sempre gostei de saltos, acho eles maravilhosos e tenho alguns pares em casa – na casa dos meus pais – que eu não achei necessário trazê-los para um lugar como esse, porque eles não combinam e nada com armas e com o uniforme que é todo preto, e eu agradeço aos céus por já estar acostumada a andar de salto, porque se não eu já estaria reclamando de dor nos pés e não aguentaria durante muito tempo permanecer com eles. Eu sou o tipo de garota que vive de tênis, mas que adora um bom salto alto em ocasiões especiais, embora muitas pessoas nunca imaginariam que eu gosto disso, Ally nem pode imaginar, se não ela vai querer sair comigo e ir fazer compras pra comprar somente salto alto, e se eu já não aguento suas excursões pra comprar roupas, quem disse que eu vou aguentar uma pra sapatos, e olha que eu amo sapatos.

Quando chegamos à escada, eu segurei mais forte no meu irmão e tenho quase certeza que Skye e Ally também fizeram o mesmo, com medo de que aconteça algum desastre antes de terminarmos de descer as escadas com classe.

Um passo de cada vez.

Um. Passo. De. Cada. Vez.

Tudo o que eu pensava era isso, e por mais que eu saiba andar de salto, não posso confiar muito nos meus pensamentos enquanto descia uma escada que não tinha fim, mas felizmente eu consegui chegar no final viva e inteira e acabei soltando um suspiro de alivio ao qual fez Elric rir. Bati minha mão livre no seu braço o repreendendo, mas acabei rindo também e logo seguimos o nosso caminho atrás de outros Guardiões que se dirigiam para o mesmo lugar que nós.

Ao nos aproximarmos do Grande Salão, como era chamado esse lugar, nós ouvimos diversos burburinhos de conversas indicando que já havia bastante gente no local, o que não de se surpreender, afinal todos da Ordem estavam presentes, muitas missões fora canceladas para que o maior numero de pessoas possíveis pudesse comparecer a esse evento, e quando adentramos no salão, eu pude constatar que realmente mais da metade da Ordem se encontrava no local, e por um momento o Grande Salão não me pareceu tão grande assim.

O Grande Salão tinha a forma retangular e possuía janelas em quase todas as paredes retangulares da mesma forma que o salão separado por colunas de mais ou menos dois metros – como eu sei disso? Não me pergunte, estou apenas supondo –menos o lado que fica a porta por onde entramos, visto que esse salão era a ultima sala que existe no primeiro andar da Ordem. As paredes eram todas de um bege claro, e as janelas, possuíam pequenos vidros em formas de arabescos que se juntavam pra formar cada uma das janelas, um enorme tapete vermelho se estendia exatamente no centro do salão, e mais pra frente, havia algumas mesas totalmente enfeitadas como se fosse pra um casamento – muito exagerado pro meu gosto – com toalhas cor de creme e um vaso com flores em cada mesa e pra terminar um enorme palco que cobria toda a parede oposta a porta de entrada. Realmente tudo muito luxuoso, e eu me pergunto se a Ordem tem tanto dinheiro assim pra fazer uma "festa" esse porte, porque não aumenta nossos salários, eu não iria reclamar.

Alguns rostos me eram familiares, outros – a maioria – eram totalmente desconhecidos pra mim. Todos, sem exceção, estavam vestidos com roupas de gala, os homens estavam todos de smoking, embora tivesse um ou outro que com certeza ficaria bonito de qualquer jeito, já as mulheres trajavam vestidos esvoaçantes e de todas as cores podiam ser vistos pelo salão, um mais lindo que o outro e eu já imaginava o quanto cada uma dessas mulheres haviam gastado nesses vestidos, fora todos os acessórios e sapatos e os quilos de maquiagem que cada uma tacou na cara antes de vir pra cá. Acho que elas erraram o caminho para o circo. Juro que fiquei tentada a falar isso pra uma mulher que passou do meu lado com o nariz empinado que estava com o cabelo arrumado em um coque alto – eu acho que é um coque, não dá pra definir direito o que é – com flores vermelhas decorando o seu cabelo e um vestido rosa choque cheio de laços e fitas, todo engomado, parecendo que a Barbie vomitou ela. Não é uma coisa muito agradável de se ver, juro que fiquei tonta de tanto olhar pro vestido dela e quase que eu vomitei um vestido tipo o dela.

Elric nos conduziu – a mim e a Skye – pelo salão, sob alguns olhares de pessoas presentes na sala, e nós acabamos parando em um canto da sala e ficamos conversando entre nós, observando o local e as pessoas transitando de um grupo a outro, conversando animadamente sobre algum assunto sem importância e que eu não me interessava nem um pouco em saber sobre o que era, logo percebi que muitas pessoas presentes aqui são socialites, pessoas ricas e com influência e que eu me perguntava o que realmente eles estão fazendo ali? Será que é somente pra marcar presença? Ou eles têm realmente algo haver com a Ordem? Mesmo que eu não consiga imaginar algum deles tendo algo em comum com os Guardiões.

Uma musica suave preenchia o lugar, por uma pequena orquestra que tocavam musicas clássicas de Andrômeda e da antiga Terra, intercalando uma com a outra, algumas pessoas até mesmo dançavam suavemente pelo salão, chamando atenção de algumas pessoas ao redor que olhavam fascinadas enquanto eles se exibiam como pavões na pista de dança.

—Hey! – uma voz animada nos saudou, nos viramos na direção da onde o som tinha vindo e vimos um alegre, talvez alegre até demais, Thomas vindo na nossa direção – Oi meninas! – ele cumprimentou quando chegou perto, me puxando pra um abraço e rodando comigo um pouco e eu só fazia rir, depois fez o mesmo com Skye que também deu altas gargalhadas, o que chamou atenção de algumas pessoas ao nosso redor que nos olhava com repreensão, mas foda-se, a vida é curta demais pra vivermos de acordo com as normas.

Por ultimo, Thomas fez o mesmo com Ally, que corou dos pés até o ultimo fio de cabelo, e eu tenho certeza que ela ficou da cor do vestido da Skye agora, ao constatar isso eu ri e alto, chamando novamente atenção de algumas pessoas do local, que é? Não pode rir mais não? É proibido agora? Eu estava começando a ficar tentada com a possibilidade mandar eles irem pra um lugar nem um pouco agradável, mas eu vou me segurar, pelo menos por hoje eu vou ser uma boa garota e vou me comportar, depois eu mando eles irem pastar se continuarem a me olhar torto.

—Você está muito linda, Ally – Thomas elogiou, fazendo a garota corar mais ainda e por um momento eu tive pena dela, pois a qualquer momento ela iria passar mal com toda essa proximidade de Thomas e eu não to afim de perder a festa depois da Cerimônia pra cuidar dela. Desculpa amiga, mas é a verdade.

—O-Obrigada – ela agradeceu meio gaguejando o que o fez abrir um sorriso de fazer qualquer garota perder o fôlego, e não é que aconteceu isso mesmo com a Ally?

Antes que pudesse fazer algum comentário, o clima animado e tranquilo do salão de repente mudou, e todos se silenciaram. Ally e Thomas se afastaram e eu percebi que Thomas franziu o cenho, antes de dar alguns passos pra trás e puxar Ally consigo, chegando perto de mim e do um irmão quase que encostando na parede, a reação de Elric também não foi muito diferente.

—O que foi? – questionei olhando o cenho franzido do meu irmão, que estava com o olhar fixo na entrada do salão.

—Eles chegaram – respondeu ele, com a voz baixa.

—Quem? – Ally questionou dessa vez.

—Os nobres.

Então eu os vi. Caminhando em uma fila organizada, um atrás do outro deixando espaços entre os casais que pra mim, pareciam ser exatamente do mesmo tamanho, eles andavam em pares, embora alguns fossem em trios, todos vestidos impecavelmente de branco, a única coisa que podia distinguir diferença nas roupas deles eram às singelas cores que apareciam aqui e ali, como por exemplo, um azul em uma gravata, ou um laço em um vestido de um dama. As mulheres pareciam flutuar enquanto caminhavam sobre o enorme tapete vermelho que se estendia pelo salão, apoiadas somente pelo braço por seus parceiros. Eles mantinham uma postura e refinamento que deixa qualquer uma dessas socialites que tiveram anos de aulas de etiqueta no chinelo, não podendo nunca se compararem a eles, que mantinham o rosto erguido e o corpo bem ereto enquanto desfilavam atravessando o salão, em direção as mesas mais chiques do salão que estavam reservadas pra eles, logo perto do palco, podendo ter uma visão bastante privilegiada da Cerimônia que iria ocorrer.

As pessoas abriram caminho para que eles passassem, até os mais metidos que estavam me encarando antes, abaixaram as cabeças enquanto eles passavam, e eu fui obrigada a repetir o gesto ao ver que todos, sem exceção o fizeram, embora tudo o que eu quisesse fosse olhar pra eles e tentar achar uma pequena imperfeição nessas pessoas que pareciam bonecos de porcelana em vez de pessoas de verdade.

O salão estava em um total silencio, todos com as cabeças baixas em uma reverencia a aqueles que passavam, e só chagavam a levantar quando todos eles terminaram de passar, e eu fui "autorizada" a levantar a minha cabeça bem a tempo de ver os Anciões surgirem do nada e os cumprimentarem. Um por um. Sorrindo abertamente pra eles, enquanto falavam coisas rápidas, que a essa distancia eu não conseguia identificar o que era, embora eu tenha quase certeza de que eles estavam fazendo elogios e os bajulando.

—Por que eles estão todos usando branco? – perguntei enquanto os observava serem conduzidos para os seus lugares por alguns Anciões ansiosos.

—Todos os nobres se vestem assim em quase todas as ocasiões – Elric respondeu, enquanto também os observava – É como se dissessem: "nós somos puros diferentes de todo o resto da população de Andrômeda, nossas famílias são privilegiadas desde que os Titanus apareceram e o branco que usamos representa isso".

—Mas todos eles têm alguma outra cor na roupa – ressaltei – Eles não estão completamente em branco.

—São as cores das casas deles, como os que estão usando amarelo e vermelho pertencem a Casa Gemini, e os que estão usando preto e vermelho pertencem a Casa Scorpius e por ai vai – explicou ele, mas depois que ele citou a Casa Gemini eu não prestei mais atenção no que ele falava, pois ao meu lado eu vi Skye tencionar os músculos e vi o seu semblante se fechar. De início achei que era porque seu pai pertence a essa casa, mas depois eu segui o seu olhar e deparei com tia Serenity, que estava em um canto do salão, perto do palco, olhando para um ponto fixo, segui o seu olhar, pelo menos tentei e vi um homem da Casa de Gemini, vestido igual aos outros nobres, branco dos pés a cabeça exceto pela gravata que é vermelha e os pequenos detalhes amarelos em seu terno.

—Você está bem? – perguntei a ela, enquanto entrava na sua frente impedindo de ver mais.

Ela picou como se saísse do transe e seus olhos se focaram em mim, provavelmente ela viu como eu estava preocupada e por conta disso ela suspirou fechando os olhos por um momento e quando os abriu um sorriso um pouco tímido apareceu no seu rosto.

—Eu estou bem, só não sei se minha mãe está.

—Ela vai ficar – falei embora eu não acreditasse plenamente nas minhas palavras, voltei meu olhar para a minha tia que havia desviado o olhar e agora seguia para perto de Matthew que estava mexendo em um pequeno tablet parado perto do palco parecendo estar super concentrado com algo, parando ao seu lado e falando algo ao ouvido dele, ele assentiu e logo subiu no palco.

Matthew subiu no palco, já com o microfone em mãos, ele se posicionou no meio dele se aprumou todo, balançando os ombros pra trás e se endireitando, e logo começou a falar:

—Boa noite – ele cumprimentou e todos responderam de volta – Eu gostaria de pedir que todos tomassem os seus lugares e que os Iniciados se posicionassem em fila sobre o tapete, porque já estamos prestes a começar.

Quando ele terminou de falar todos se dirigiram para suas mesas, o qual eu reparei já estavam todos marcadas com os nomes das pessoas, algumas andavam mais rápido dos que outras, como se estivessem com pressa pra se sentar, outra tentavam manter a pose de pessoas educadas e cultas e seguiam para seus centos com os narizes empinados, não que algum deles consiga superar em graciosidade e educação – pra mim todos podem ser chamados de metidos – dos nobres, que já estavam em seus devidos lugares, sentados todo conforme a etiqueta exige, olhando para o palco ou concentrados nas conversas baixas que mantinham entre as pessoas de sua respectiva mesa.

Antes de ir para o seu lugar, Elric se virou pra mim com um sorriso doce e seus olhos dourados apreciam estar brilhando de emoção, talvez por estar vendo sua irmãzinha se "formar" e entrar oficialmente em uma Guardiã, seu olhar me dizia tudo que mil e umas palavras não poderiam dizer, e por mais que ele seja um irmão muito chato e às vezes protetor demais, eu o amo, e a garota que conseguir conquistar o seu coração vai ser uma menina de sorte e vai ter que batalhar muito pra merecê-lo.

Todos os Iniciados se posicionaram em uma fila, cada um com a sua dupla ao seu lado, porque mais cedo Matthew – que estava terminando de organizar todos os preparativos – nos interceptou enquanto andávamos por um corredor aleatório e disse que a cerimônia iria ser realizada em duplas pra que a mesma para que tudo fosse mais rápido, porque de acordo com ele, da ultima vez que teve uma Cerimônia de Iniciação foi um de cada vez, então ia um lá na frente, fazia tudo o que tinha que fazer e depois ia o próximo, e por causa disso, a Cerimônia demorou mais de duas horas pra finalizarem os nobres acabaram se irritando com isso e pediram que da próxima vez eles agilizassem o processo, e como ninguém aqui parece querer deixar eles irritados, esse ano eles estão fazendo tudo da forma que eles pediram. Patético. Se submeter desse jeito a alguém é ridículo. Só acho.

Skye e eu nos posicionamos lado a lado, quase que no final da fila, e por um momento eu fiquei feliz que minha parceira é ela e não qualquer outra pessoa, porque pelo menos assim, eu consigo me sentir um pouco mais tranquila na hora de subir no palco e fazer o juramento, porque tenho uma amiga ao meu lado que deve estar sentindo o mesmo que eu nesse momento e não um completo estranho que eu não saberia o que está sentindo ou pensando em um momento crucial como esse.

Quando a lua estava no seu auge, a Cerimônia começou, com o Matthew e Mary Anne indo lá na frente e falando algumas palavras bonitas e que provavelmente forma ensaiadas na frente do espelho durante horas pra poder dar essa aparência natural, como se eles estivessem inventando tudo naquela hora. Eles sorriam alegremente enquanto falavam que estavam orgulhosos dos seus discípulos, que todos se saíram excepcionalmente bem, é claro havendo algumas exceções que surpreenderam eles mais do que eles imaginavam, mas de qualquer jeito eles estavam orgulhosos. É claro que também não poderia faltar eles citando os nossos deveres como Guardiões oficiais da Ordem, que devíamos proteger a tudo e a todos, vigiar as ruas em noites frias e silenciosas enquanto todos estão em suas camas...Mil e uma coisas forma ditas e eu juro que eu quase peguei no sono, mas não tenho a habilidade de dormir em pé. Ainda não., pelo menos.

Depois de um discurso enorme um dos nobres subiu no palco e se instalou no meio dele no exato dele e começou a fazer um discurso dizendo o quanto estava honrado por estar aqui representado todos os outros nobres que não puderam – não quiseram – comparecer e coisas do tipo. Ele nos elogiou, nos parabenizou e depois se despediu e voltou pra seu assento com uma salva de palmas o acolhendo, que sorriu em agradecimento antes de ajeitar o seu paletó e se sentar graciosamente cruzando as pernas.Ele realmente era muito bonito, como todos os outros nobres presentes aqui, embora ele parecesse ser bem mais novo que a maioria, com certeza não passando dos vinte e seis anos, possuindo lindos cabelos ruivos com uma barba pra completar e olhos dourados e felinos assim como os detalhes em seu palito terno que eram em discretos tons de dourado e laranja.

—Ele pertence a qual casa? – perguntei baixinho pra Skye enquanto ambas o observava, ele parecia alheio a qualquer um dos Iniciados e sua conversa com uma menina ruiva assim como ele parecia ser mais interessante do que a real Cerimônia de Iniciação que havia acabado de começar.

—Casa Lion.

—Imaginei.

—Ele vai substituir o pai daqui há alguns anos porque ele vai se aposentar – explico ela baixo – E parece que ele vai em pequenos eventos e que são um pouco mais particulares como esse no lugar dele, como se estivesse treinando pra quando assumir a liderança da Câmara dos Lordes.

—Então ele vai governar Andrômeda em alguns anos? – perguntei o olhando de relance.

—Provavelmente, e todos esperam grandes mudanças quando ele vier a subir no comando, ao que parece ele é um prodígio.

—E você sabe disso tudo porque...? – perguntei levantando uma sobrancelha a questionando depois que eu percebi que ela sabia muitas coisas sobre ele.

Ela deu de ombros – Coisas bonitas e interessantes devem ser apreciadas.

Skye voltou o seu olhar para frente, enquanto eu dava uma pequena risadinha com o seu comentário, parecendo ter perdido todo o interesse no cara da Casa de Lion, embora eu saiba que ela ainda tinha muito o que falar do cara, eu também iria desviar o meu olhar, mas quando eu ia me virar ele se virou e prendeu os seus olhos nos meus. Nós ficamos assim durante curtos segundos, nos encarando e lentamente eu vi um sorriso de canto surgir no seu rosto incrivelmente perfeito, seus olhos pareceram mudar, ficando iguais aos de um felino, mas eu não podia dizer isso com certeza e de repente eu senti uma enorme vontade de chegar mais perto e ver se seus olhos são realmente iguais aos de um gato, mas eu me senti sendo puxada pela mão, me forçando a andar e acabei quebrando o contato de nossos olhos, mas tendo um ultimo vislumbre dele e um sorriso largo se abrindo em seu rosto.

—Não durma em pé, eu sei que o seu horário de dormir já passou, mas você tem que conseguir ficar acordada só mais um pouco, tempo suficiente pra conseguirmos chegar lá na frente e fazer o nosso juramento – Skye brincou enquanto continuava a me puxar pela fila que estava andando vagarosamente.

—Idiota – xinguei baixinho arrancando a minha mão da sua – Eu não sou criança como você, querida.

Skye soltou uma risada baixa, mas não disse nada, parece que ela realmente está tão nervosa quanto eu nisso tudo, e à medida que o tempo foi passando e a fila foi andando – um indeterminável e longo tempo – nós íamos chegando mais perto de onde as mesas dos nobres estavam dispostas, e aos poucos que andávamos eu percebia que Skye ia ficando mais tensa, e seus ombros estavam levemente erguidos, como se fosse um gato e estivesse com o pelo eriçado, seu cenho franzido enquanto olhava na direção das mesas, na verdade uma mesa em particular, a mesa em que o seu pai estava sentado, pelo menos é o que eu suponho ser o pai dela.

Discretamente eu andei um pouco mais pra perto dela, quebrando discretamente a formação das duas filas que os Iniciados haviam formado e segurando sua mão, ela olhou pra mim com os olhos questionadores e eu lhe dirigi um pequeno sorriso.

—Não precisa ficar tão tensa só porque ele esta aqui – sussurrei em uma tentativa de tentar acalma-la – Ele não merece um terço de toda essa preocupação que você esta sentindo. E nem venha falar que é por causa da sua mãe, porque eu sei que não é.

Ela suspirou, e jogou a cabeça pra trás enquanto inspirava e espirava repetidas vezes, tentando se acalmar, depois de algumas vezes seus ombros relaxando e as rugas de preocupação que estavam surgindo na sua testa desapareceram como se nunca estivessem estado ali.

—Tem razão.

—Sempre tenho.

—Não tem o porquê me preocupar demais com ele. – continuou ela sem se importar com a minha intromissão, embora eu tenha certeza que ela estava morrendo de vontade de revirar os olhos e rir como ela sempre faz – Ele não é ninguém na minha vida e não significa mais nada pra minha mãe.

—E é exatamente por isso que você vai subir lá, linda e maravilhosa, dando uma de Ally e mostrar pra ele o que ele perdeu quando rejeitou sua mãe e sem saber rejeitou você também há anos atrás – falei baixo em seu ouvido, pra não correr o risco de ninguém mais escutar e não dar nenhuma polemica.

Me afastei de Skye, voltando discretamente para a minha fila, mas não antes sem apertar a sua mão mais um vez e vez um sorriso surgir no seu rosto. Skye se endireitou e olhou pra frente, com um sorriso confiante e olhar fixo no seu objetivo – seja ele qual fosse – voltando a ser a velha e boa Skye.

Um bom tempo já havia se passado desde que a Cerimônia começou. Alex e Ally já havia feito o juramento e agora estavam em um canto conversando e já com as faixas negras nos braços. Já eu e Skye que tínhamos nossas iniciais como as últimas do alfabeto esperamos um bom tempo a ser a nossa vez, e quando chegamos ao pé da escada para subirmos pro palco, meu coração estava batendo a mil por hora, como se eu tivesse acabado de correr uma maratona, mas eu tinha que continuar, então eu respirei fundo e subi a passos lentos mais ritmados ao lado de Skye.

No meio do palco, uma pira com o fogo aceso estava posicionada, cada uma de nós nos posicionamos de um lado da pira, de modo quem nos tivesse observando pudesse ver a nós duas, e aceitando uma adaga de Serenity – ela havia sido esterilizada por uma conjuradora da água, que se eu não me engano trabalha na enfermaria da Ordem, antes de ser entregue pra nós, eu perguntei quando soube que teríamos que cortar as nossas mãos durante a cerimônia – nós começamos a recitar o juramento que havíamos decorado há alguns dias atrás:

—À fidelidade, pela honra e a glória de Andrômeda e pela história de nossos povos. Eu juro pelo sangue de nossos reis, pelo meu sangue e por minha honra, tornar-me instrumento para a manutenção da paz em tempos de calmaria, tornar-me a arma da justiça em tempos de desavença e ser acima de tudo, um protetor, de meu povo e meus semelhantes, um protetor de meu planeta e de meus lordes, um vigilante da paz e um sentinela da ordem. Juro trabalhar a serviço da paz sob os olhos justos e certos dos deuses, e que eles nos guiem para sempre, para nunca sermos notados, para vigiar e proteger, para oferecer a mão e erguer aqueles que não podem se levantar sozinhos. Juro por minha vida, meu sangue e minha honra trabalhar segundo a Ordem e manter minha fidelidade à sua sabedoria.

Nossa voz preenchia quase todo o salão e durante todo aquele momento ele ficou em silencio, Skye e eu havíamos dado as mãos por trás da pira, de um ponto que ninguém conseguiria ver, enquanto segurávamos a adaga com a outra, só soltamos quando terminamos de proferir o juramento e pra finalizar nós tínhamos que cortar a nossa mão, um pequeno corte e jogar algumas gotas do nosso sangue na pira, que mantinha um fogo alto e vermelho, tremulando como se estivesse em uma dança e o vento leve o conduzisse.

Eu fiz o corte na minha mão, lutando pra não fazer nenhum tipo de careta com a pequena dor, porque por mais que o corte fosse pequeno, não é nada legal você fazer um na sua mão e de qualquer jeito dói, mas eu o fiz, assim como todos os outros que fizeram o juramento antes de mim, tanto os meus colegas Iniciados quanto todos os outros Guardiões da Ordem que tiveram que passar por tudo isso para se tornarem Protetores.

Enquanto o meu sangue pingava lentamente, gota por gota na pira, caindo e se misturando ao carvão que tinha no fundo da mesma, fazendo o fogo tremular mais forte ao receber de certa forma mais combustível pra ele, eu pensei em Dylan, como há muito tempo eu não fazia, e é por ele que eu estou aqui hoje, e por ele que eu vou continuar nesse caminho, para proteger outras pessoas que não podem se proteger sozinhas, que com essa guerra que vem se aproximando estão com medo e se sentindo desprotegidas, cuidar dos meus amigos e dos meus familiares e cuidar que nada, absolutamente nada aconteça com eles, vou fazer meu amigo se orgulhar de mim, seja lá onde ele esteja e se é que ele está vendo isso, e ver que sua morte pra me proteger não foi em vão.

Depois que algumas gotas caíram na pira o fogo que tremulava nela aumentou e em seguida ele nos envolveu, fazendo uma espécie de barreira no nosso corpo. Eu não consegui senti medo algum, por mais que fosse uma coisa totalmente estranha e diferente, pois sempre achei o fogo fascinante e magnífico, e vê-lo tomar essa forma e me cobrir como se fosse um manto protetor me deixou ainda mais fascinada, e o mais impressionante era que eu não senti nenhum ardor na minha pele, embora obviamente eu devesse estar sentindo pelo menos um desconforto, porque mesmo para conjuradores do fogo como eu, é quase impossível você ser totalmente imune a ele, pelo menos uma pequena ardência eu deveria sentir, mas eu não estava sentindo absolutamente nada. Assim como todos os outros que fizeram esse juramento frente à pira de fogo, ele ficou azul e eu senti uma pequena ardência no meu braço direito eu olhei pra o meu braço e vi uma faixa negra surgir nele lentamente, com cerca de dois dedos de espessura contornando o meu braço perfeitamente, e quando a faixa estava completa o fogo se retraiu e lentamente voltou para dentro da pira, tremulando lenta e calmamente como se nada tivesse acontecido.

É, eu devia ter prestado atenção na Cerimônia antes, porque assim eu teria me preparado pelo menos um pouco psicologicamente pra isso, e não estaria olhando para o meu braço totalmente abismada e encantada – se é que eu posso sentir essas duas coisas ao mesmo tempo – e eu só fui despertar do meu estupor, quando eu ouvi uma salva de palmas, assim como tinha sido com todos os outros Iniciados que já passaram pela Cerimônia, e eu me virei em direção a todas aquelas pessoas e junto com Skye eu curvei a minha cabeça minimamente pra eles antes de seguir na direção oposta do palco ao qual nós tínhamos subido.

Assim que descemos nos fomos recepcionadas por Mary Anne que pegou as adagas de nossas mãos e sorriu feliz pra gente dizendo:

—Bem Vindas a Ordem, meninas!

Antes que pudéssemos falar qualquer coisa ela deu as costas pra nó e foi para trás do palco desaparecendo em alguma passagem que havia lá e que eu não havia percebido antes. Virei meu rosto na direção de Skye, meus olhos fazendo uma pergunta silenciosa que ela respondeu dando de ombros antes que eu pudesse fazer a pergunta verbalmente:

—Também não faço a mínima ideia do que aconteceu aqui.

Um forte clarão atingiu o meu rosto e eu virei meu rosto na direção dele vendo mais dois outros Iniciados no palco, que tinha acabado de proferir o juramento e agora passavam pela mesma coisa que nós passamos há instantes atrás, o fogo os envolvendo como se fosse um abraço, e enquanto – eu imagino – o fogo fazia a faixa negra surgir nos braços dos dois Iniciados o fogo se tornou azul como se estivesse mais quente do que antes, embora eu saiba que não da pra sentir realmente nada. Vendo de fora era algo um pouco assustador, vendo duas pessoas serem engolidas pelo fogo dessa maneira e agora eu me espanto como eu pude manter a calma enquanto estava lá, por mais que eu esteja feliz por não ter feito nada extremamente vergonhoso na frente de toda essa gente.

—Tori – me virei ao som do meu nome sendo chamado e me deparei com meu irmão que se aproximava com um sorriso no rosto, sorri pra ele e corri pra seus braços que se abriram automaticamente quando cheguei perto dele. Nós nos abraçamos fortemente e ele sussurrou no meu ouvido – Você conseguiu.

—Por que eu não conseguiria? – questionei me afastando o suficiente pra olhar nos seus olhos com o cenho franzido.

—Por que com a sorte que você tem era bem capaz de um meteoro cair nesse lugar antes que você pudesse fazer o juramento – explicou ele rindo e eu escutei Skye rindo atrás de mim.

—Idiota.

—Mais um idiota lindo.

Me afastei dele e lhe dei um tapa no braço rindo, ele riu também e depois se dirigiu para perto de Skye a parabenizando também e a abraçando. Skye pareceu ficar tão surpresa quanto eu com a ação do meu irmão e eu acabei rindo da sua cara de assustada – com os olhos regalados e as bochechas ganhando um pouco de cor, talvez por causa do constrangimento ou talvez só esteja surpresa mesmo, vai saber – e quando meu irmão a soltou, por mais que o abraço tenha sido breve, ele fez cara de confuso por eu estar rindo, o que fez Skye corar mais e eu rir ainda mais.

—Vamos sair de perto do palco antes que alguém nos expulse por você estar rindo igual uma hiena – Skye proferiu se afastando do meu irmão que ainda nos olhava confuso, me puxando pela mão. Limpei as lágrimas que haviam se acumulado no canto dos meus olhos de tanto rir e disse, já um pouco mais controlada:

—Não roube minhas frases! Além do mais, se tivesse visto sua cara riria também.

—Riria nada.

—Riria sim.

Skye parou de andar e se virou pra me encarar, as sobrancelhas juntas mostrando sua frustração, ela ia dizer algo, mas pensou bem e respirou fundo, relaxando e depois voltou a andar parando ao lado dos gêmeos e de Thomas que mantinham uma conversa baixa mais aparentemente divertida na mesa que nós fomos colocados. Nós três nos sentamos nas cadeiras disponíveis – Elric havia nos seguido – e logo começamos a conversar todos nós enquanto esperávamos a Cerimônia terminar o que não demorou muito, já que eu e Skye já éramos umas das ultimas e depois que Matthew e Mary Anne proferiram amais algumas palavras no palco ele encerraram a Cerimônia e logo o baile começou.

A pequena orquestra de antes começou a tocar musicas típicas de bailes assim, e pouco a pouco as pessoas foram tomando parte do salão e começaram a dançar. Algumas danças eram ensaiadas e todos dançavam juntos e igualmente, como as valsas ou danças típicas da Terra que antigamente se denominavam quadrilha, uma dança que se não me falha a memória era dançada entre os séculos XIV e XIX, uma dança muito bonita e requintada que se eu soubesse dançar alguma dela eu já estaria lá, arrastando meu irmão ou Alex junto comigo, o que tivesse mais próximo.

O baile era somente mais um pretexto pra agradar os nobres que estavam ali presente, embora somente um terço – ou menos – estavam dançando, e esses que se encontravam na pista de dança continuavam tão firmemente elegantes e altivos que parecia que todos os outros dançarinos parecerem dançarinos de rua.

Em algum momento, a conversa da mesa chegou no que a gente iria querer fazer agora que a gente faz parte oficialmente da Ordem. Ally disse que queria participar do Esquadrão Beta, porque de acordo com ela, a maioria do pessoal desse Esquadrão são espiões, que se infiltram nos lugares para conseguir informações e coisas do tipo, e Ally vinha sendo uma aprendiz de uma Sentinela desse Esquadrão e ela havia amada cada uma das lições que ela tinha tido durante esses três últimos anos, e eu achei isso bem a cara dela, já que ela adora saber das coisas e sempre consegue descobrir algo quando quer, então faz muito sentido ela fazer algo assim dentro da Ordem.

Já Alex queria fazer parte do Esquadrão Ômega e trabalhar na Sala dos Problemas, algo que eu já imaginava porque ele sempre gostou de mexer com tecnologia, computadores, colher informações e outras coisas que eu não faço a mínima ideia do que são de verdade. Eles são meio que a equipe de apoio, e sempre mandam pessoas, objetos, informações e/ou coisas para ajudar os Guardiões que estão em missões, sempre atentos a atenderem todas as necessidades da Ordem, que são necessárias para o bom funcionamento de tudo e todos nesse lugar.

Skye e eu já éramos outro assunto bem diferente deles, nós duas queríamos participar de toda a ação – quando ocorresse uma de verdade – estar na linha de frente e lutar, lutar para salvar as outras pessoas e os que precisassem de nós. Nós duas não conseguimos ficar paradas e preferimos mil vezes ariscar o nosso pescoço todo santo dia do que ficar sempre trabalhando dentro da Ordem ou raramente saindo, e por isso decidimos participar do Esquadrão Alpha que é o encarregado de fazer coisas assim e mandar seus integrantes pra diversos tipos de missões, mas pelo o que eu fiquei sabendo ainda temos que passar por mais um teste aplicado pelo Capitão do Esquadrão pra ver se somos física e psicologicamente capazes de fazer parte de um Esquadrão desses. Suspirei só de pensar nisso, mais testes.

—Olá, Tori – uma voz diferente dos presentes na mesa me chamou, eu me virei e encontrei com uma Kayla sorridente atrás de mim.

—Kayla! Oi! Como vai? Há quanto tempo à gente não se vê? – eu me levantei e a cumprimentei com um abraço enquanto disparava perguntas pra cima dela.

—Já faz um bom tempo – ela retribuiu o abraço – A gente conversou algumas vezes, mas nunca dava tempo de ter uma conversa adequada não é mesmo? Eu estava atolada de coisas pra fazer e não tive tempo de ir ver você – desculpou-se enquanto se afastava.

—Ah, sem problemas. Eu consigo imaginar, pois não tem como ficar sem fazer algo nesse lugar.

—Realmente.

Ela estava muito bonita, com um vestido reto colado no corpo indo até os joelhos, quase não possuindo decote, mas em compensação o decote nas costas dela era enorme, ela estava usando salto alto também preto com uma bolsa de mão prata e alguns acessórios aqui e ali, além da sua maquiagem preta e marcante, e seu cabelo – que agora ultrapassava os ombros – caia nas suas costas em cascatas onduladas, dizer que ela estava vestida pra matar era pouco.

Kayla e eu começamos a conversar animadamente, pois tinha realmente muito tempo que não nos víamos, e desde que eu havia voltado eu não havia a visto, e me martirizei mentalmente por se quer ter me lembrado dela, sendo que ela foi uma grande amiga e que me ajudou muito no período que eu estive aqui e que tinha acabado de chegar, mas é que são tantas coisas acontecendo recentemente que não tem como eu lembrar de todo mundo que eu conheço de uma vez, mas eu nunca vou admitir isso em voz alta, pode magoar pessoas, embora eu tenha vido ela um meia dúzia de vezes e trocado apenas algumas palavras, mas nunca nós sentamos e paramos pra conversar realmente, e eu me sinto culpada de certa forma.

De repente, eu vi Thomas se levantando e estendendo a mão para Ally, pedindo que ela dançasse com ele, novamente a menina ficou da cor do vestido da Skye, mas gaguejando algumas palavras que eu não consegui decifrar ela aceitou a mão dele e ele a levou para a pista de dança, onde todos dançavam ao som de uma valsa.

Via Alex franzindo o cenho ao ver sua irmã sair com Thomas e logo depois ele também se levantou provavelmente pra ir atrás dela e se certificar que seria somente uma dança, ri baixinho balançando a cabeça discretamente. Alex sendo Alex.

—Bom, eu já vou. Ainda tenho umas pessoas pra cumprimentar – Kayla disse se levantando da cadeira que estava sentada ao meu lado, e se inclinando pra dar um beijo em cada lado da minha bochecha – Vejo você depois.

—Até.

A cadeira ao meu lado se arrastou do anda, fazendo um barulho enquanto arranhava o chão pelo movimento brusco e eu acabei me virando assustada pra ver o que estava acontecendo e vi Skye se dirigir pra mesa onde estava alguns comes e bebe – mesmo que tenha garçons transitando entre as mesas servindo a todos – um pouco vermelha e com certeza alterada por alguma coisa que havia acontecido nessa mesa sem que eu tivesse percebido, me virei novamente pra ver quem ainda estava na mesa e vi meu irmão parado que nem estatua olhando na mesma direção que Skye havia ido, com a boca aberta como se tivesse sido interrompido no meio da sua fala.

—O que você fez?

Ele piscou, saindo do seu transe e seu olhos se fixaram em mim – Eu... Não sei.

—Como assim não sabe? – franzia as sobrancelhas confusas, se ele fez algo para irrita-la ele devia saber o que foi, não?

—Nós estávamos conversando e de repente ela surtou – explicou ele levantando as mãos pro alto como se estivesse dando efeito pra sua frase.

—Alguma coisa você deve ter feito, Skye não é de agir que nem uma garota mimada e fazer uma saída dramática dessas – falei enquanto pegava um champanhe da bandeja de um garçom que havia passado perto de mim, e bebericando a bebida.

—Mas eu...

—Nada de "mas", vá atrás dela e peça desculpas pelo o que falou – mandei apontando discretamente com a cabeça na direção que eu a vi pela ultima vez.

—Mas eu não sei o que eu disse!

—Já disse nada de "mas", agora vai – dessa vez apontei com o braço esticado e ele meio contrariado se levantou e foi atrás dela.

Balancei a cabeça bebericando o champanhe mais uma vez, o que será que Elric aprontou pra Skye sair daquele jeito da mesa? Deve ter sido algo serio, porque ela não é de fazer isso.

Suspirei. Parece que as coisas vêm ficando meio loucas por aqui.

Olhei em volta, observando o salão e as pessoas que ainda dançavam, me perguntando como de uma hora pra outra eu fiquei sozinha nessa mesa enorme. Sem base umas coisas dessa.

A musica havia mudado para uma musica um pouco mais animada, embora ainda fosse tocada pelas orquestras. Sinceramente? Eu estava esperando a hora que os DJ's iriam entrar e interromper toda essa musica clássica – porque por mais que eu ame, depois de se ouvir mais de duas dezenas delas com mais de seis minutos cada, você acaba não suportando mais – e começarem a tocar algo realmente agitado para a gente sacudir o esqueleto, como dizem as pessoas mais velhas.

Meu olhar vagou pra uma das enormes janelas do salão, a lua brilhava sutilmente no céu, e como hoje era lua nova, que significa renovação, mudanças, então todos esperavam que coisas boas viriam e por isso essas cerimônias sempre eram quando lua era nova. Antigas tradições e crenças wiccas que a maioria das pessoas gostam de seguir, mesmo nos dias atuais.

—Sozinha? – uma voz grossa e um pouco rouca me despertou dos meus pensamentos. Pisquei me livrando dos meus pensamentos e procurei com o olhar o dono da voz e encontrei a ultima pessoa que eu esperava vir conversar comigo de livre e espontânea vontade.

Anthony estava parado perto de onde eu estava sentada, ele estava vestido impecavelmente com um terno e gravata como pede a ocasião, embora o seu cabelo esteja desarrumado e rebelde como sempre, mas isso não quer dizer que atrapalha o visual dele de alguma forma, muito pelo contrario....

Olhei para os lados algumas vezes, observando o local e depois me virei pra ele o respondendo:

—A não ser que tenha um homem invisível sentado em alguma dessas cadeiras, eu estou absolutamente sozinha.

Anthony pareceu confuso com a minha resposta e, eu acho que sem ele perceber ele inclinou a cabeça para o lado e me observou fixamente franzindo a testa.

—Você esta falando serio? – questionou depois de algum tempo em silencio.

Eu ri, colocando a mão na frente da boca antes que eu soltasse uma gargalhada constrangedora – Ai meus Deuses, claro que não!

Sua expressão se suavizou e ele abriu um pequeno sorriso repuxando o canto do lado esquerdo da sua boca, e balançou a cabeça de um lado pro outro como se só agora percebesse a pergunta idiota que havia feito.

—Então nesse caso, Srta. Moore, me concederia a próxima dança? – perguntou ele me estendendo uma de suas mãos, enquanto um olhar divertido surgia no seu rosto – A não ser que seu amigo invisível se importe, não quero irritar ele de modo algum.

Ri novamente, tentando disfarçar o pequeno pânico que cresceu dentro de mim com a sua pergunta, mas depois me virei pra ele e disse entrando na sua brincadeira:

—Eu acho que ele não se importaria, mas...

—Mas...? – incitou me a continuar quando eu hesitei, ainda com a mão estendida no ar, parecendo não ter pretensão de abaixar enquanto eu não a aceitasse.

Olhei em volta observando os casais dançarem mais uma quadrilha ensaiada antes de voltar meu olhar pra ele, que aguardava a minha resposta me olhando fixamente com uma de suas sobrancelhas erguidas.

—Eu não sei dançar assim – gesticulei na direção dos casais que dançavam perfeitamente, sem cometer nenhum erro, bom, pelo menos nenhum que eu perceba. Ele pareceu entender o dilema em que eu estava presa e abaixou a sua mão enquanto pensava, sua testa se franzindo novamente, até que de repente a musica mudou e sua expressão se suavizou.

—Acho que não vai ter esse problema agora.

—Continuo não sabendo dançar, muito menos uma valsa – afirmei ao ouvir o tipo de musica que tocava agora.

Ele soltou uma baixa risada balançando a cabeça em descrença antes de se aproximar de mim e tomar minhas mãos na sua.

—Então eu te ensino.

Seus olhos verdes esmeralda estavam presos no meu, me passando tanta confiança que eu me vi levantando e o seguindo pra pista, enquanto uma de suas mãos que ainda segurava uma das minhas me guiava pela pequena multidão que há na pista. Os casais que ainda permaneciam na pista, já dançavam tranquilamente ao som dos violinos, violoncelos e outros instrumentos que eu não conseguia identificar.

Lentamente ele se aproximou de mim, seus olhos me questionando se ele poderia prosseguir, assenti com a cabeça e ele chegou mais perto, enquanto pegava uma de minhas mãos e guiava pro seu ombro e a outra ele pegou a gentilmente e segurou contra a sua e logo depois sua outra mão segurou na minha cintura, me puxando mais pra perto, e então começamos a dançar, lentamente no ritmo da musica, e a atmosfera parecia bem diferente de todas as outras vezes em que nós nos encontrávamos, mais leve e mais calma sem nenhum estranhamento de nenhuma das partes. Seus olhos não se desgrudaram dos meus e eu tive a impressão de vê-los brilhar com alguma emoção que eu não conseguia identificar, quando ele me puxou mais perto e começamos a balançar de um lado para o outro, seguindo o ritmo da musica.

Desviei meus olhos do seu e passei eles mais uma vez pelo salão, tentando assimilar alguns movimentos que eu via os casais executando e tentando fazer o meu melhor pra não passar uma vergonha completa com ele, quando meus olhos pausaram sobre um casal familiar, e eu me peguei rindo ao ver a cena.

—O que foi? – Anthony perguntou curioso, seguindo o meu olhar e parando no casala que eu observava.

—Ela parece estar mais preocupada que eu por causa dessa dança – comentei, enquanto olhava Skye dançar com meu irmão que parecia divertido com algo, enquanto minha amiga olhava para os seus pés provavelmente com medo de pisar no pé de Elric – Eu me pergunto como ele conseguiu convencê-la a dançar.

Ele deu de ombros, indicando que também não fazia a mínima ideia e eu sorri – parece que eu venho sorrindo e rindo muito essa noite – observando eles mais uma vez antes de voltar a prestar atenção na nossa dança dessa vez. Nós balançávamos lentamente de um lado pro outro, e quando ele percebeu que eu estava conseguindo acompanhar ele arriscou começar a dar alguns passos, realmente se movendo em vez de só ficarmos parados balançando.

—Viu? Não é tão difícil assim – comentou ao ver que eu conseguia acompanha-lo facilmente, claro, eu estava observando todos os casais a minha volta pra conseguir fazer isso direito, o bom é que eu aprendo rápido quando o assunto é dança.

—Verdade – concordei dando uma risada – Mas não é o tipo de dança que eu to acostumada.

Ele pareceu surpreso com o que eu falei e eu logo esperei pela pergunta obvia que eu sabia que ele iria fazer, o que não demorou:

—Você dança? Pensei que não soubesse dançar – falou confuso.

—Eu danço, mas geralmente são danças individuais e não em casais. Qualquer dança que você imaginar que não precise de um parceiro eu danço, nem que seja um pouco.

—E que tipo de danças são essas?

—Acredite ou não, eu já fiz ballet, durante anos por insistência da minha mãe – contei vendo sua cara de surpreso ao ouvir minha revelação – E a partir daí eu desenvolvi uma paixão por dança e não parei mais.

Ele assentiu sua expressão pensativa, e depois de um tempo em silencio eu ri novamente.

—Está me imaginando em roupa de bailarina, não é mesmo? Toda vestida de rosa e com aqueles tutus de bandeja, um clássico, embora quase ninguém use aquilo mais – tentei adivinhar e ao vê-lo corar discretamente, eu pude perceber que havia acertado – Desista, eu era péssima, por isso procurei outros tipos de dança com o qual eu me senti mais confortável, e acho que minha mãe esperava que eu seguisse algo assim e com certeza ela ficou surpresa ao me ver escolher me tornar uma Guardiã.

—E porque não fez isso, se gosta tanto assim?- questionou, enquanto me soltava e me fazia girar, saindo dos seus braços e depois voltando pra eles, de modo que eu estava de costas e meus braços cruzados em frente ao meu corpo ainda segurando suas mãos.

Não há duvida nenhuma que eu tenha corado nesse momento, com a súbita aproximação de nossos corpos, e fico grata por estar de costas, pois assim ele não poderia ver minhas bochechas coradas – porque eu já podia sentir o sangue subindo pra elas.

—Bom... Não sou tão boa Ra conseguir seguir uma carreira, só faço isso como um hobby, porque eu gosto e é bom para relaxar e extravasar – expliquei, enquanto balançávamos lentamente de um lado pro outro – E esse sempre foi um dos meus sonhos, além de que eu queria ficar perto do meu irmão, juntei o útil ao agradável fora que eu sempre quis entrar pra Ordem, ajudar pessoas, viver aventuras...

Antes que eu terminasse de falar ele soltou uma de minhas mãos e me fez girar novamente, esticando ambos os nossos braços, e quando eu voltei, acabei batendo contra o seu peito, e fiquei preocupada por um momento imaginando se eu poderia ter machucado ele de alguma forma, como ter pisado ou seu pé ou qualquer outra coias, mas ele não pestanejou, nem praguejou, nem me xingou e muito menos cambaleou, ele apenas me segurou entre os seus braços, que estavam firmes a minha volta.

—Anth...

—A vida não é um mar de rosas, farfalla – sussurrou no meu ouvido, me fazendo arrepiar ao seu sentir seu halito em uma parte sensível, ainda mais usando o tom que ele usou...

Ele se afastou, um sorriso maroto no rosto que se alargou ao me olhar no rosto, provavelmente pelo fato deu estar corada, eu desviei o olhar, constrangida pela primeira vez perto dele, e o fato de estarmos tão perto não ajudava muito, ainda mais ao perceber que eu me sentia estranhamente confortável perto dele e no calor do seu abraço.

Devagar ele mudou suas mãos dos meus braços para sua cintura, e eu permaneci com as mãos no seu peito, sentindo os batimentos do seu coração sobre a palma da minha mão, olhei pra elas por um momento, como se elas tivessem as respostas das duvidas que eu tinha rondando na minha cabeça nesse momento, mas como eu sabia que elas não podiam falar comigo e nem me dar conselhos eu resolvi encontrar o olhar daquele que havia me deixado fora dos eixos em poucos minutos, embora eu ainda esteja tentando entender como e por que.

Seus olhos esverdeados me encaravam com um misto de curiosidade e felicidade, e eu acabei não me aguentando e abri minha boca pra perguntar o que aquela frase significa e o por que dela tão de repente e qual o significado de farfalla e o porque dele ter usado esse apelido – porque eu acho que é um apelido, ou pelo menos algo haver com isso – para se referir a mim desse jeito ainda mais em outra língua – a qual eu não tinha conhecimento de que ele sabia outras línguas que não a nossa.

—O que...? - fui interrompida novamente, embora dessa vez não tenha sido por Anthony, porque se ele me interrompesse de novo eu ia bater nele, e sim por um barulho extremamente alto que surgiu do nada e que fez todos os vidros se quebraram, explodindo em milhões de pedaços, e me fazendo proteger as orelhas com as mãos, tamanho foi o barulho, que pareceu aumentar quando o barulho do vidro se quebrando e se chocando no chão se juntou a ele.

Foi algo automático e todos se abaixaram se protegendo e tampando os ouvidos tentando abafar o barulho alto que ainda soava alto por todo o salão. A frequência do som era tão alta e aguda que meus ouvidos estavam palpitando de dor, e eu sentia que há qualquer momento eles iriam começar a sangrar. Anthony se abaixou me levando com ele pra baixo e ele me protegeu com o seu corpo enquanto milhares de cacos de vidro caiam em direção ao chão, como os conformes da gravidade, mas ele impediu que qualquer um deles me atingisse me protegendo com o seu corpo. Ele também mantinha fortemente as mãos nas suas orelhas. O barulho foi cessando aos poucos, mas eu ainda conseguia ouvir um forte zumbido no meu ouvido.

Anthony lentamente retirou as mãos das orelhas e assim como eu, ele ainda parecia estar meio zonzo por causa do barulho. Calmamente ele se levantou e me estendeu uma mão para me ajuda a levantar também e ambos olhamos em volta, analisando a situação.

Algumas pessoas estavam machucadas no chão por conta dos cacos de vidro, outras eu suspeitava que não estavam mais entre nós. A situação estava bem critica, e eu vi vários Guardiões machucados no chão, por terem protegido um civil ou outro aqui e ali. Os Nobres, apesar de estarem no chão e aos poucos estarem se levantando, estavam todos bem, e seus ternos ainda continuavam impecáveis e eu me pergunto se algum deles tem alguma habilidade que serviu para protegê-los ou algo assim, mas nenhum poder de nenhuma Casa passou pela minha cabeça e eu logo decidi não me preocupar com isso.

Foi como se um estalo estivesse ecoado na minha cabeça e eu rapidamente virei na direção de Anthony e o fiz virar, e apesar dele ser bem maior que eu, eu consegui fazer isso com facilidade por conta da surpresa. Eu vasculhei suas costas, procurando algum machucado muito serio que ele poderia ter ganhando ao me proteger da explosão de cacos de vidro, mas graças a tudo que é mais sagrado ele estava bem, e não tinha nenhum machucado aparente nele. Seu terno estava quase tão impecável quanto antes com exceção de alguns pequenos cacos de vidro – nada que o ferisse, talvez um arranhão ou outro se ele não estivesse protegido pela roupa – mas que eu rapidamente passei a minha mão nas suas costas, tirando-os.

—O que foi? – ele perguntou alarmado, me olhando por sobre os ombros.

—Estou vendo se está tudo bem com você – respondi seria, e permiti que ele se virasse pra me encarar quando terminei de retirar os cacos de vidro do seu paletó.

—É claro que es...

Ele foi interrompido novamente, por uma horda de criaturas diferentes e estranhas irromperam pelas janelas quebradas, gritando furiosamente coisas que eu não entendia e que pra mim, parece ser uma língua estranha, se é que eles estão falando algo conexo. Quase todos empunhavam algum tipo de arma na mão,seja ela uma espada, uma clave ou até mesmo pedaços de madeira ou de metal que provavelmente eles devem ter achado em um canto qualquer e pegado, e assim que chegavam ao chão eles começavam a correr, ainda gritando e a brandir seja lá o que fosse na mão deles, atacando a tudo e a todos que tentassem detê-los, e na maioria das vezes, que eram cidadãos comuns eles acabavam os matando com um único golpe. E em um instante toda a calma e tranquilidade da festa se transformou em um completo caos.


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